Angela Braly nunca teve intenções de entrar no carrossel da gestão. Advogada, entrou no mundo dos cuidados de saúde devido a um caso em que teve de fornecer aconselhamento jurídico a uma organização sem fins lucrativos, a Blue Cross Blue Shield, que pretendia alterar a sua personalidade jurídica para empresa com fins lucrativos
POR PEDRO COTRIM

Angela Braly nasceu em Dallas dois anos antes do assassinato de Kennedy. Administrou a maior empresa de cuidados de saúde dos EUA. Dando assistência a mais de 34 milhões de utentes, a sua empresa, a WellPoint, Inc., foi uma das poucas empresas pertencentes à Fortune 35 a ser geridas por mulheres.

O seu sucesso não se deve ao desejo habitual de ganhar a medalha de ouro da gestão. Pelo contrário, a ascensão de Braly esteve relacionada com o facto de querer alcançar algo de significativo na sua vida e que tivesse um impacto positivo nas pessoas. Queria fazer a diferença.

Na verdade, Braly nunca teve a intenção de entrar no carrossel da gestão. Advogada, entrou no mundo dos cuidados de saúde devido a um caso em que teve de fornecer aconselhamento jurídico a uma organização sem fins lucrativos, a Blue Cross Blue Shield, que pretendia alterar a sua personalidade jurídica para empresa com fins lucrativos.

Era um assunto aborrecido para Angela, mas sentiu-se atraída pelas complexidades legais do caso e, mais tarde, pela missão da empresa em querer fornecer serviços de cuidados de saúde a todas as pessoas.

Este trabalho apresentou a Braly uma oportunidade na forma de uma encruzilhada. Um dos caminhos conduzia ao mundo familiar da advocacia; o outro direccionava-a para um futuro incerto numa área de negócio que representava, cada vez mais, uma vertente muito significativa para ela. Qual dos caminhos deveria escolher? A sua opção permitiu-lhe começar uma viagem que a levou, não só ao extraordinário mundo do sucesso empresarial como, e mais importante que isso, a um lugar onde sentia que fazia a diferença ao contribuir de forma positiva para o bem-estar de milhões de norte-americanos. 

Sempre pensou que seria advogada. Estudara numa excelente faculdade e trabalhava numa grande firma de advogados do Missouri e estava quase a tornar-se sócia. Fazia aconselhamento jurídico em vários casos. Um deles foi o da Blue Cross Blue Shield, do Missouri. Foi convidada a resolver algumas questões legais que tinham surgido pela conversão da figura jurídica da empresa.

Tratava-se de uma situação complicada que demorou dois anos a resolver. No âmbito desse trabalho convidaram-na a fazer parte da empresa. Respondeu que não pretendia abandonar o escritório de advogados, mas que aceitava ser a conselheira geral interina. Assim poderia continuar na enorme Lewis, Rice & Fingersh.

Na altura, um dos seus mentores no escritório de advogados advertiu-a para não se ausentar por mais de um ano; se o fizesse, perderia o contacto relacional com os clientes. Se tal acontecesse, seria mais difícil o regresso. Angela colaborou com a Blue Cross Blue Shield durante um ano. Quando a data da decisão chegou, sentiu-se desafiada e inspirada pela complexidade e importância dos serviços de cuidados de saúde, em particular a oportunidade de fazer algo realmente importante – fornecer a garantia da prestação de serviços de saúde às pessoas.

Angela precisou de fazê-lo porque estava muito empenhada em fazer as coisas bem e o trabalho ainda não terminara. Teria de fazer com que resultasse, e por isso decidiu ficar. Era realmente a coisa certa a fazer. Foi a decisão determinante da sua carreira.

Havia riscos em desistir de uma posição de sócia numa empresa de advocacia de destaque, mas essa decisão colocou-a no caminho extraordinário da direcção de uma organização dedicada a melhorar a saúde de muitas pessoas e das comunidades.

A fasquia era alta. Estava a sair de uma firma de advocacia onde tinha conseguido chegar à posição de sócia para abraçar uma função da qual pouco sabia. Trabalhar como conselheira interina é muito diferente de fazer aconselhamento. Estava confortável com o seu papel na empresa de advocacia e sabia com o que podia contar. Abandonar essa zona de conforto e envolver-se mais com os aspectos do negócio da organização criou riscos e oportunidades. No final, o empate entre as oportunidades e os desafios conduziu-a à decisão.

No seu começo, o plano de saúde do estado do Missouri enfrentava desafios bastante complicados, e o seu papel seria auxiliar a direcção da empresa a lidar com estes desafios, incluindo a difícil transição de estatuto de organização sem fins lucrativos para empresa (com fins lucrativos). Felizmente, foi capaz de auxiliar o programa de saúde a lidar com tais desafios e, ao mesmo tempo, tratou da criação de uma fundação no valor de mil milhões de dólares. Tornou-se na segunda maior fundação na área dos serviços de saúde dos EUA e dedicava-se à melhoria da acessibilidade à prestação de cuidados de saúde e da qualidade da saúde em geral para os cidadãos norte-americanos mais carenciados.

Da sua função de directora da WellPoint surgiu essa decisão de se tornar conselheira do plano de saúde geral do Missouri. Depois de se tornar conselheira interina, o papel e as responsabilidades continuaram a crescer e a modificar-se. Foi nomeada Presidente do Plano de Saúde do Missouri e, subsequentemente, tornou-se consultora geral da WellPoint, acumulando a responsabilidade da política pública de organização e das suas formas de comunicação. 

Quando se tornou presidente e CEO da WellPoint, adquiriu um conhecimento e uma percepção ainda mais aprofundadas das implicações das decisões diárias – e da forma como essas decisões afectavam os clientes, as comunidades e a organização.

Nas suas palavras, seguiu três princípios que a acompanhavam e guiavam há anos. Primeiro, fazer as coisas certas: era o princípio fundamental, a base de tudo o que se faz. Em segundo, fazê-lo pelos clientes. Nas reuniões com os sócios sublinhava que os clientes eram a razão da existência da empresa. Pretendia-se que tivessem a melhor experiência possível em relação aos cuidados de saúde. E terceiro, fazê-lo bem à primeira. Angela tinha consciência que nem sempre era possível, mas é o que os clientes esperam. Se não se fizer bem à primeira, haverá que melhorar os processos para que na próxima vez seja possível.      

Admite que gostaria de ser recordada como alguém que teve um impacto positivo na qualidade e no acesso aos serviços de cuidados de saúde nos EUA. Na WellPoint desenvolveram-se programas e serviços que efectivamente melhoram a saúde dos membros – seja através de programas inovadores de gestão de cuidados de saúde ou pela postura da empresa em termos de políticas públicas que incentivam reformas responsáveis e sustentadas. 

Angela acredita que a colaboração entre seguradoras, hospitais, médicos, empresas e governo poderá conduzir a um melhor sistema de saúde nos EUA – para que a qualidade dos serviços prestados e o acesso esteja ao alcance de todos.