O BCSD Portugal lançou o Observatório de Sustentabilidade Empresarial, a primeira estrutura institucional de observação, monitorização e comunicação do desempenho sustentável das empresas. Em entrevista, Luís Rochartre, secretário geral do BCSD Portugal, explica o papel deste Observatório no actual contexto de crise, que “apresenta um número alargado de oportunidades que podem impulsionar o País para um nível mais avançado de sustentabilidade empresarial”. Matéria cujo desempenho será avaliado, em 2010, por mais uma edição do ISE
O Observatório de Sustentabilidade Empresarial é uma plataforma dirigida às empresas associadas do BCSD Portugal que visa a gestão de um sistema de monitorização e o desenvolvimento do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), cuja edição referente a 2010 será lançada a 15 de Setembro, devendo os resultados ser conhecidos em 2012. A nova estrutura tem ainda por objectivos “a reflexão sobre as dificuldades e sucessos da operacionalização da sustentabilidade nas organizações, e a comunicação sobre o impacto económico, social e ambiental dos nossos associados no desenvolvimento sustentável do País”, sublinha, em entrevista, o secretário geral do BCSD Portugal, Luís Rochartre. Ao cabo de uma década de actividade em prol do desenvolvimento sustentável, o BCSD Portugal lança o Observatório de Sustentabilidade Empresarial. Como surge esta iniciativa e que necessidades visa colmatar ao nível da sustentabilidade empresarial? Até agora, a ferramenta mostrou-se particularmente relevante enquanto possibilitou a identificação das áreas de sustentabilidade mais e menos exploradas, indicando as maiores lacunas e, como tal, riscos e oportunidades ao nível da actuação empresarial. Obviamente, o surgimento e a concretização desta iniciativa dependeram não só da adesão dos associados, mas da colaboração do Grupo de Investigação em Abordagens Estratégicas ao Ambiente e Sustentabilidade (SENSU – Stratigic Environmental and Sustainability Approaches) do Instituto Superior Técnico (IST), que tem os conhecimentos técnicos necessários à elaboração de uma metodologia eficiente e capaz de traduzir os resultados das empresas; e da Novabase, que tem os conhecimentos técnicos necessários à elaboração de uma metodologia eficiente e capaz de traduzir os resultados das empresas. Este projecto não teria avançado sem a ajuda dos nossos parceiros. Para a próxima edição, para uma maior transparência perante todas as partes interessadas, contaremos ainda com o apoio da Deloitte na verificação do processo que envolve a estimativa do Índice de Sustentabilidade Empresarial. Como é que esta nova estrutura irá promover a competitividade para a sustentabilidade, objectivo central do OSE? Internamente, as empresas poderão, por recurso aos resultados individuais do Índice, identificar melhor as áreas a precisar de mais ou menos trabalho, bem como o maior ou menor sucesso da respectiva estratégia de sustentabilidade. Embora isso só seja conhecido para cada empresa singularmente, os resultados identificarão com precisão o posicionamento de uma empresa no mercado e no respectivo sector. As empresas preocupadas com o desempenho na sustentabilidade sentir-se-ão, no mínimo, pressionadas a melhorar continuamente e a registar resultados superiores aos dos seus concorrentes. Na prática, como irão funcionar as três componentes – estrutura de observação, sistema de monitorização e Índice de Sustentabilidade Empresarial – do OSE? O Índice de Sustentabilidade Empresarial é um instrumento de agregação e comunicação da informação habitualmente reportada pelos associados do BCSD Portugal sobre o desempenho, práticas e projectos em matéria de sustentabilidade empresarial. Analisando o desempenho em cinco indicadores de topo, o Índice permite obter anualmente três tipos de resultados:
O sistema de monitorização do Observatório destina-se a fornecer informação objectiva, fiável e comparável para a elaboração do Índice. Apoia-se em três subsistemas de indicadores independentes: os indicadores de topo, os indicadores descritivos e os indicadores singulares. Os indicadores singulares destinam-se a assegurar um referencial de comparação com indicadores estruturais definidos a nível nacional em termos macroeconómicos, sociais e ambientais. Como e quando será implementado o programa de benchmarking a partir dos resultados sectoriais do ISE? Face à realização desses estudos de benchmarking, complementarmente a toda a actividade do Observatório, de que importância se reveste este projecto para dar ao país uma perspectiva mais real do seu desenvolvimento sustentável e, nomeadamente, do impacto da gestão sustentável na riqueza nacional?
Por definição, os estudos de benchmark promovem a competição empresarial numa área específica. Os resultados agregados que se obtêm com uma ferramenta deste tipo são, por sua vez, uma representação importante daquilo que é a contribuição e o empenho do nosso tecido empresarial para os objectivos de desenvolvimento sustentável. No que toca aos impactos de uma gestão sustentável, esses não podem ser directamente aferidos por recurso ao Índice. O que a ferramenta nos dá é o desempenho e não os resultados. Obviamente, não temos dúvida de que quanto melhor o desempenho (mais iniciativas, preocupações ambientais e sociais mais abrangentes, entre outros), maior é a contribuição para a riqueza nacional. Posso dar um exemplo: um dos cinco indicadores de topo é a Biodiversidade. Ora, quanto maior for a intervenção empresarial para a protecção da biodiversidade, melhor será a utilização de recursos, entre outras coisas e necessariamente, maior será também a nossa riqueza. Isto, claro está, terá tanto mais relevância quanto maior seja o peso das empresas em causa e a respectiva actividade. Que contributo dá um instrumento como o ISE à construção dessa perspectiva? O que traduzem os resultados do ISE 2009, que envolveu 41 empresas? Face aos resultados, como sumariza o actual estado-da-arte da sustentabilidade empresarial em Portugal? Dos resultados do ISE 2009 resultaram claras tendências relativamente às áreas mais e menos focadas pelas estratégias das empresas envolvidas. Ficou também clara a existência de alguma indefinição sobre as potencialidades dos impactos empresariais em áreas específicas. Portugal não tem um mau desempenho naquilo que à sustentabilidade diz respeito. Há, contudo, muitas oportunidades por desvendar e muito trabalho a fazer. O actual contexto económico-financeiro, em particular, apresenta um número alargado de oportunidades que podem impulsionar o país para um nível mais avançado de sustentabilidade empresarial. O ISE 2010 será lançado a 15 de Setembro. Quando serão conhecidos os seus resultados? Que balanço faz dos dez anos de intervenção do BCSD Portugal no desenvolvimento sustentável do país? Há dez anos atrás, apesar de conhecidos os problemas, a temática do desenvolvimento sustentável não tinha a importância que hoje lhe é atribuída. O esforço cada vez mais empenhado e mais consistente por parte das empresas é reflexo da maior consideração que o tema passou a ter por parte de governos e instituições internacionais, organizações não governamentais, enfim, da sociedade globalmente considerada. O papel do BCSD Portugal neste processo tem sido reconhecido pelos associados e por um grande número de parceiros, assim como tem sido relevante o papel do WBCSD para dar maior visibilidade ao tema, a nível internacional, e junto das mais altas instâncias. É importante que se perceba que o Conselho trabalha com e para as empresas. O nosso objectivo último é o de orientar a liderança empresarial em matéria de sustentabilidade. Não nos cabe avaliar as empresas, mas ajudá-las a perceber os assuntos que mais interessam em determinado contexto e que marcam a tendência, nacional e internacionalmente. Os eventos que promovemos são direccionados para as necessidades das empresas e do país, naquilo em que as empresas possam, por meio da sua actividade e dos seus recursos, ajudar. O BCSD Portugal tem sido particularmente bem sucedido na tentativa de juntar empresas concorrentes e com objectivos diversos em prol de um ideal comum e do progresso humano. Isto não é para dizer, claro está, que esteja tudo feito. Muito pelo contrário. O conceito de desenvolvimento sustentável é um conceito complexo e que está sempre a ser desafiado: os esforços no sentido de conceber práticas e hábitos cada vez mais saudáveis têm sempre continuidade. O caminho que temos vindo a percorrer é um motivo de orgulho para o BCSD Portugal e reconhecemos que fazer parte desta causa, podendo fazer a diferença junto de actores tão relevantes como o são as empresas, é um privilégio.
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Jornalista