A responsabilidade social e ambiental tem vindo a assumir especial relevância sobretudo nos últimos 20 anos. Em parte, como consequência dos esforços volvidos por organizações como a Organização das Nações Unidas que, em 2015, apresentou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e, mais recentemente, pela Comissão Europeia com a publicação da Taxonomia Verde, em 2021 e 2022, que definiu critérios ambientais e sociais com o objetivo de classificar as atividades económicas sustentáveis, possibilitando aos investidores uma tomada de decisão mais informada acerca dos seus investimentos
POR JOANA CORREIA DOS SANTOS

Constatamos, de facto, que a decisão política e regulatória tem vindo a transformar o comportamento das organizações impactando, de igual modo, na consciência coletiva que agora é mais sensibilizada e menos condescendente com determinados comportamentos. Os problemas ambientais tornaram-se um assunto de interesse global. Evoluímos da era da filantropia para a era do investimento social. E a governação organizacional nunca foi tão escrutinada pelos stakeholders!

Continuamos a assistir a diferentes ritmos empresariais e atuações no que diz respeito às dimensões da responsabilidade ambiental e social, é certo, mas ainda assim, com a nova Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (Corporate Sustainability Reporting Directive – CSDR), publicada em 2022, a Europa ganhou um framework mais universal e equilibrado, equivalente ao da contabilidade económico-financeira, no que concerne à monitorização e relato da performance ESG das empresas europeias. Com algum otimismo, quem ainda não dispunha de uma estratégia clara, vê agora uma oportunidade para formalizar compromissos e salvaguardar uma resposta harmoniosa perante tal obrigação. Num primeiro momento poderá não ser totalmente eficaz, mas com o tempo, os números deixarão patentes os benefícios que o investimento integrado acarreta para as organizações.

Verificamos, ainda, que todos estes acontecimentos têm feito crescer os domínios de profissionalização em torno do desenvolvimento sustentável. As tradicionais funções relacionadas com a sustentabilidade ou responsabilidade social nas empresas têm vindo a dar lugar a funções cada vez mais especializadas nas áreas da transição energética, da economia circular, da saúde e bem-estar dos colaboradores, da diversidade e Inclusão, da ética, dos direitos humanos na cadeia de valor, entre muitas outras. A verdade é que a regulamentação e as especificidades são tantas que funções generalistas começam a não fazer face aos desafios diários da gestão, da implementação e do relato ESG! Este progresso tem também estimulado o crescimento da economia ao potenciar a criação de novos produtos e serviços nas áreas da responsabilidade social e ambiental. Este movimento tem colocado o consumo “consciente” ou mais “responsável” nas agendas de muitas organizações que investem na sustentabilidade enquanto estratégia de relacionamento das suas marcas com os consumidores e stakeholders.

Identificamos, portanto, uma relação de interdependência entre política, lei, comportamento empresarial e cívico. A verdade é que sem ação política provavelmente não existiria regulamentação. Provavelmente, muitas empresas continuariam a não considerar determinados requisitos na gestão dos seus negócios e sem a criação de awereness possivelmente muitos consumidores continuariam a menosprezar algumas temáticas. Já para não falar da interferência de outros domínios como a educação e da economia social que têm um papel fundamental nesta abordagem transversal e que, por sua vez, para acompanhar este caminho terão necessariamente que adaptar respostas e instrumentos.

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Joana Correia dos Santos

Licenciada em Sociologia pelo ISCTE-IUL, mestre em Políticas Públicas e Desigualdades Sociais pela FCSH-UNL e pós-graduada em Direito do Trabalho pela FDUL. Foi investigadora no CIES-ISCTE nas áreas das relações de trabalho, cultura organizacional e igualdade de género. Consolidou o seu percurso na Auchan Retail Portugal como coordenadora da área da responsabilidade social, ética, diversidade e inclusão. Atualmente, é Gestora de Sustentabilidade da SUMOL+COMPAL