Denis Duverne é o presidente do Conselho de Administração do grupo segurador AXA, fundado em França em 1816, actualmente presente em 62 países, e que conta com cerca de 160 mil colaboradores e 105 milhões de clientes espalhados por todo o mundo. E é também um homem convicto no que respeita aos compromissos de responsabilidade social e sustentabilidade que as empresas devem ter com a sociedade. Numa conversa com o VER, Duverne alerta para o facto de, na actualidade, uma empresa não poder ser legitimada aos olhos dos seus clientes e empregados se não tiver como objectivo um impacto positivo na sociedade que vá bem mais além dos produtos e/ou serviços que vende
POR HELENA OLIVEIRA

Ao longo dos últimos anos, o Grupo AXA tem vindo a ser reconhecido como um dos líderes globais em questões de sustentabilidade e responsabilidade, ocupando em 2017 o segundo lugar no Dow Jones Sustainability Index (no ranking da indústria seguradora) e pertencendo ao 1% das empresas mais sustentáveis do mundo. Foi um dos primeiros a implementar medidas para o combate às alterações climáticas, desde logo avaliando a “intensidade de carbono” dos seus investimentos e alienando mesmo os activos que possuía relacionados com a indústria do carvão, tendo igualmente dezenas de projectos ligados ao aquecimento global a decorrer através do seu Axa Research Fund. Foi também a primeira seguradora global a fazer corresponder a compensação dos executivos à performance das suas iniciativas de sustentabilidade.

Membro da Coalition for Inclusive Capitalism, o movimento que encoraja as empresas a fazerem as mudanças necessárias para serem boas “cidadãs”e a expandir as suas práticas de investimento e gestão para recuperar a confiança pública, o Grupo AXA tem também caminho há vários anos traçado no denominado investimento responsável, sendo subscritor dos PRI – Principles for Responsible Investment, bem como da Finance Initiative do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP FI), criado para promover as finanças sustentáveis e particularmente dedicado aos bancos, seguradoras e fundos de investimento.

Para além dos programas já habituais de voluntariado – de que é exemplo o AXA Hearts in Action – o Grupo AXA tem-se destacado também em outras áreas, alinhando a sua responsabilidade corporativa com os objectivos do próprio negócio. Apostando na área da prevenção e por exemplo, deixou de financiar a indústria do tabaco – que, como sabemos tem uma enorme fatia de doenças por ele provocado e custos astronómicos para as próprias seguradoras – na qual tinha investido activos no valor de 1,8 mil milhões de dólares. O Grupo organiza ainda anualmente e em todos os locais onde está representado uma “semana da responsabilidade social” ao longo da qual largos milhares de trabalhadores dedicam exclusivamente o seu tempo a causas comunitárias.

No âmbito da sua participação enquanto orador no XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC, o VER teve uma pequena conversa com Denis Duverne, presidente do conselho de administração do Grupo em França. Desde 1995 a trabalhar para a AXA, como Deputy Chief Executive desde 2010 e Chief Financial Officer de 2003 a 2010, Duverne preside ainda à Fondation pour la Recherche Médicale, a qual financia a investigação de vários tipos de doenças, seja cancro, doenças neurológicas ou doenças raras e é igualmente presidente do Insurance Development Forum, o qual junta a indústria seguradora ao Banco Mundial e ao Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNPD) com o objectivo de fornecer seguros a 400 milhões de pessoas que vivem em países em desenvolvimento afectados pelas alterações climáticas.

Tendo em conta a sua experiência e o mundo repleto de desafios em que vivemos, como descreveria “a actividade empresarial enquanto uma nobre vocação”, a temática a ser debatida no XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC?

Tenho muita sorte, porque o sector segurador onde trabalho há 23 anos existe para ajudar as pessoas a viverem uma vida melhor. O negócio dos seguros marítimos teve início no Renascimento para permitir aos investidores que arriscassem financiar as grandes explorações realizadas rumo a locais desconhecidos no planeta. No século XIX e depois do grande incêndio que assolou a cidade de Londres, os seguros contra incêndios tiveram igualmente o seu início para permitir a reconstrução da cidade.

Actualmente, vemos que nos mercados em desenvolvimento são os seguros que permitem que os agricultores não voltem a cair nas malhas da pobreza depois de um período de seca ou de cheias que destrói as suas culturas. A nossa acção vai muito mais além do pagamento dos créditos de seguros, pois inclui também a prevenção, na medida em que o nosso conhecimento dos riscos nos permite oferecer aconselhamento relativamente a comportamentos que irão restringir muitos desses mesmos riscos em que as pessoas incorrem. E nós chamamos a isso o nosso nobre propósito.

Quais são, para si, os passos obrigatórios que ainda têm de ser dados para que este “nice to have” passe a ser uma realidade no mundo dos negócios e para que as empresas possam realmente contribuir para o bem comum?

Para mim, isto não é um “nice to have”, mas um “must have”. A responsabilidade social corporativa não é algo separado da missão e da estratégia de uma empresa. Pelo contrário, tem de estar incorporada na estratégia para que todos os trabalhadores vejam a empresa como “diferente” e criem com ela uma ligação emocional porque compreendem o impacto que eles próprios e a companhia têm na sociedade. Os empregados têm de ser capazes de a ver de uma forma concreta e próxima deles mesmos.

Desta forma e numa grande empresa é necessário combinar acções que realmente tenham significado para a sociedade – por exemplo, desinvestir no carvão para combater as alterações climáticas ou financiar pesquisa académica relativamente às doenças cardiovasculares [tal como mencionado anteriormente] – com acções que são mais próximas de cada um dos trabalhadores – através do apoio e estímulo ao seu envolvimento com instituições de caridade local que apoiam crianças com necessidades especiais através do programa Axa Hearts in Action – em conjunto, por exemplo, com o desenvolvimento de contratos de seguros responsáveis.

Com base na sua experiência, que sugestões ou conselhos poderia partilhar para ajudar outros líderes de negócios a praticarem uma gestão inclusiva, um dos temas também em discussão neste congresso?

Não existe uma resposta simples a essa questão. Em primeiro lugar, há que ser consistente de forma a evitar o cinismo. Um líder de negócios está constantemente “sob vigilância”, sendo que as decisões, acções e prioridades que estabelece precisam de estar alinhadas com os discursos e com as declarações que profere relativamente à responsabilidade social da empresa que lidera. Sendo que estas declarações têm de estar, também, no centro da sua estratégia.

Gostaria de partilhar alguma mensagem inspiradora?

É preciso perceber que, no mundo de hoje, uma empresa não pode ser legitimada aos olhos dos seus clientes e empregados se não tiver como objectivo um impacto positivo na sociedade que vá mais além dos produtos e/ou serviços que vende.

Editora Executiva