O Inquérito Global “Ética no Trabalho 2024” do Institute of Business Ethics, realizado a mais de 12.000 trabalhadores em 16 países, revela uma tendência preocupante no domínio da ética no local de trabalho – um aumento significativo de casos de má conduta comunicados e receios persistentes de retaliação por se manifestarem. O inquérito traça um retrato nítido dos desafios que as organizações enfrentam na promoção de culturas éticas
POR SAMUEL TOSIN LAWAL
Aumento da má conduta e da relutância em denunciar
O inquérito revelou que 25% dos trabalhadores tiveram conhecimento de condutas que violaram a lei ou as normas éticas da sua organização no ano passado, um aumento acentuado em relação aos 18% registados em 2021. O abuso de autoridade (35%) e o bullying e assédio (32%) foram os tipos de má conduta mais comummente observados, tendo o assédio sexual sido relatado por 20% dos entrevistados. Apesar destes números preocupantes, um terço dos trabalhadores que testemunharam uma má conduta optaram por não a denunciar. Os principais fatores de dissuasão da denúncia foram o medo de perder o emprego (34%) e o ceticismo quanto à possibilidade de a organização tomar medidas corretivas (34%).
O preço de falar
Para aqueles que manifestaram preocupações, as consequências foram muitas vezes graves. Cerca de metade (46%) dos trabalhadores que se manifestaram referiram ter enfrentado desvantagens pessoais ou retaliações, enquanto 28% manifestaram insatisfação com o resultado. Este clima de medo e de perceção de inação cria um ciclo vicioso, desencorajando futuras denúncias e permitindo, potencialmente, que comportamentos pouco éticos floresçam sem controlo.
Divisão geracional nas denúncias
É interessante notar que o inquérito revelou um fosso geracional na vontade de denunciar a má conduta. Os trabalhadores mais jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos (70%), mostraram-se mais propensos a manifestar preocupações, em comparação com os seus colegas mais velhos, com idades compreendidas entre os 35 e os 54 anos (61%) e com 55 anos ou mais (54%). No entanto, esta atitude proactiva tem um custo, uma vez que os trabalhadores mais jovens são mais suscetíveis de sofrer retaliações por se manifestarem.
O caso empresarial da cultura ética
Lauren Branston, Diretora Executiva do Institute of Business Ethics, sublinha a importância crucial de uma cultura de denúncia segura: “Uma cultura em que os trabalhadores se sentem seguros para falar conduz a uma maior confiança, a um maior compromisso e, em última análise, a um melhor desempenho global”. As conclusões do inquérito sublinham a necessidade de as organizações não só implementarem mecanismos de comunicação sólidos, mas também de atuarem de forma visível em relação às preocupações manifestadas. No inquérito em causa, 61% dos trabalhadores referiram que a sua organização disponibiliza canais de comunicação confidenciais, o que indica uma clara área de melhoria.
Olhando para o futuro
Dado que os trabalhadores mais jovens recorrem cada vez mais às plataformas de redes sociais para manifestar as suas preocupações, as organizações devem adaptar a sua abordagem à gestão da ética. O inquérito salienta a necessidade premente de discussões mais abertas sobre questões éticas, sendo que apenas três em cada cinco trabalhadores referem que essas conversas ocorrem em reuniões de colaboradores. Numa época em que a reputação de uma empresa pode ser construída ou destruída pela conduta ética, a promoção de uma cultura de integridade não é apenas um imperativo moral, mas uma necessidade para os negócios. As organizações que não abordam estas questões arriscam-se não só a conflitos internos, mas também ao escrutínio público e a potenciais consequências regulamentares.
O Inquérito sobre “Ética no Trabalho 2024” serve de alerta para as empresas de todo o mundo. É evidente que o simples facto de ter um programa de ética não é suficiente. As organizações devem cultivar ativamente um ambiente onde o comportamento ético não é apenas encorajado, mas esperado – onde falar é recebido com apoio em vez de retaliação. Leia o relatório global completo aqui.
NOTA: O Institute of Business Ethics é uma organização sem fins lucrativos dedicada a melhorar o comportamento empresarial ético para profissionais e líderes. Desenvolvemos investigação e oferecemos serviços de consultoria personalizados sobre liderança, cultura e tomada de decisões éticas. Para saber mais, entre em contacto connosco através do endereço [email protected].
Este artigo é parte integrante do Especial “Ética no Trabalho”, do qual fazem parte 4 artigos
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Investigador no Institute of Business Ethics (IBE), lidera projetos de investigação para promover práticas, programas e políticas empresariais éticas, tendo em conta o seu impacto social mais amplo