Um artigo pela Animal Conservation veio novamente agitar as águas do Estuário do Tejo. Sugere-se que o impacto provocado na população de maçaricos-de-bico-direito sofrerá um impacto muito maior do que o inicialmente estimado. A história do «Novo Aeroporto de Lisboa», velhinha de muitas décadas, parece ainda estar longe do fim
POR PEDRO COTRIM

Sucedem-se as controvérsias e as preocupações levantadas sobre o impacto ambiental do novo projecto do aeroporto. Alguns grupos ambientais e de residentes locais suscitaram sempre preocupações sobre as consequências do projecto no ecossistema e na vida selvagem, bem como sobre a poluição sonora e atmosférica que o aeroporto iria gerar.

A operação de um aeroporto implica naturalmente níveis elevadíssimo de ruído, que pode ser uma fonte significativa de perturbação para os residentes locais e para a vida selvagem. Além do dióxido de carbono, os motores das aeronaves emitem poluentes como óxido de azoto, dióxido de enxofre e partículas em suspensão que podem contribuir para a poluição do ar e ocasionar efeitos adversos na saúde humana e no ambiente. O escoamento das superfícies dos aeroportos, como pistas e taxiways, concebidas obviamente para não ficarem alagadas, pode transportar poluentes como combustível jetfuel, produtos químicos de descongelamento e outros contaminantes para as massas de água mais próximas.

Os aeroportos normalmente requerem uma grande quantidade de terra, o que pode levar à destruição e fragmentação de habitats, especialmente se o aeroporto for construído numa área ecologicamente sensível. A aviação contribui significativamente para as emissões globais de gases com efeito de estufa, e os aeroportos também podem gerar emissões de fontes tais como veículos terrestres, mecanismos de geração de energia e sistemas de aquecimento e arrefecimento.

Cabe aos decisores escutarem os cientistas; como sempre, aliás. E o futuro da aviação é tudo menos a suavidade de uma benfazeja viagem intercontinental.

A questão dos aeroportos é obviamente implicada pela dos aviões: há interesse crescente em desenvolver aeronaves eléctricas e híbridas com o potencial de reduzir significativamente as emissões de carbono e a poluição sonora. Empresas como a Airbus e a Boeing já estão a investir nestes desenvolvimentos; talvez se possa esperar ver mais aeronaves diferentes a cruzarem os céus dos próximos anos.

Os avanços na inteligência artificial estão igualmente a tornar possível o desenvolvimento de aviões totalmente autónomos, o que poderá revolucionar a forma como pensamos as viagens aéreas. Há contudo inúmeros desafios regulamentares e de segurança significativos que carecem de tratamento adequado antes que o voo autónomo se torne uma realidade.

Os biocombustíveis e outros combustíveis de aviação sustentáveis estão a tornar-se cada vez mais acessíveis, fornecendo uma alternativa mais limpa aos combustíveis fósseis tradicionais. Governos e companhias aéreas estão a estabelecer objectivos ambiciosos para reduzir as suas emissões de carbono, e os combustíveis sustentáveis para a aviação desempenharão um papel fundamental na consecução destes objectivos.

Há empresas a trabalhar no desenvolvimento de aviões supersónicos que possam viajar a velocidades superiores a mach 1, reduzindo significativamente os tempos de viagem. Após o sucesso com 60 anos do Concorde, por muitos especialistas tido como uma «anomalia tecnológica», a viagem supersónica com passageiros está ainda na sua fase inicial, mas tem o potencial de transformar as viagens aéreas de longo curso no futuro.

Os aviões a hidrogénio também fazem parte desta equação e a esta tecnologia também está a ser explorada como uma alternativa potencial aos combustíveis fósseis tradicionais, uma vez que tem potencial para reduzir significativamente as emissões de carbono e providenciar uma forma mais sustentável e amiga do ambiente de impulsionar as aeronaves. Várias empresas, como a Airbus e a ZeroAvia, estão actualmente a trabalhar no desenvolvimento de aviões a hidrogénio; utilizam células de combustível de hidrogénio para converter o hidrogénio em electricidade, que é depois utilizada para alimentar os reactores. O hidrogénio é um combustível altamente eficiente, com um excelente ratio peso/energia, tornando-o num candidato promissor para a aviação; obviamente que quanto mais leve o avião, mais fácil será pô-lo no ar.

Há, no entanto, muitos obstáculos a contornar antes de os aviões a hidrogénio se tornarem uma realidade. Por exemplo, há necessidade de desenvolver a infra-estrutura para a produção, armazenamento e transporte de combustível , que que representa obstáculos técnicos e logísticos significativos. Embora haja muito trabalho a efectuar para tornar os aviões a hidrogénio uma opção viável para a aviação comercial, representam uma tecnologia promissora que poderia ajudar a reduzir as emissões de carbono e a criar um futuro mais sustentável para as viagens aéreas.

Embora muitas das tecnologias e inovações que estão a ser desenvolvidas para o futuro da aviação sejam auspiciosas, nem tudo é viável ou prático. Algumas ideias podem enfrentar obstáculos técnicos ou regulamentares que as tornam difíceis de implementar em grande escala, enquanto outras podem não ser economicamente viáveis. Há também considerações éticas e sociais que precisam de ser tidas em conta no desenvolvimento de novas tecnologias para a aviação. Por exemplo, a utilização generalizada de aviões autónomos poderia conduzir à perda de postos de trabalho na indústria da aviação; o desenvolvimento de novas tecnologias poderia também ter consequências não intencionais na sociedade e no ambiente. As alterações climáticas são um desafio significativo para a indústria da aviação, uma vez que contribuem de forma significativa para as emissões de gases com efeito de estufa. A indústria da aviação é responsável por aproximadamente 2% das emissões globais de carbono; o número de viagens aéreas ainda tem tendência a aumentar.

É o meio de transporte mais seguro do mundo. A democratização das viagens aéreas é um enorme contribuidor para o conhecimento do mundo e para o contacto com o outro.

Queremos todos andar de avião, mas queremos todos menos poluição. Não se agrada a gregos e troianos; excepto quando somos todos gregos e troianos.