Estagnação económica prolongada, fluxo crescente de refugiados, ataques terroristas e uma União Europeia criticada e fragilizada. Em termos muito gerais, este é o estado “complicado” que caracteriza o perfil da Europa. Numa análise aos sentimentos mais comuns que dominam um considerável universo de europeus inquiridos, em conjunto com a visão de especialistas sobre a caixa de Pandora aberta pelo referendo britânico, é um dois-em-um que se propõe neste artigo. E se a Europa há muito que não é o que era, poucas certezas existem sobre o que poderá vir a ser
POR
HELENA OLIVEIRA

De acordo com um novo e extenso relatório publicado há uma semana pelo Pew Research Center, o sentimento de “umbiguismo nacional” está a caracterizar vários países europeus. Apesar do estudo em causa ter inquirido apenas os habitantes de 10 países-membros da EU – Grécia, Hungria, Itália, Polónia, França, Reino Unido, Holanda, Suécia, Alemanha e Espanha – os mesmos são responsáveis por 80% da população da EU a 28 e por 82% do seu PIB, o que significa que este universo é suficientemente representativo para ilustrar a visão que os europeus têm de si próprios, do mundo que os rodeia e, em particular, das ameaças que pairam sobre o Velho Continente. Na altura em que este artigo está a ser escrito, ainda não existem certezas sobre o Brexit mas, e independentemente do resultado do referendo em causa, a União Europeia poderá não voltar a ser mesma (v. Caixa). As divisões no continente são mais do que visíveis, com muitos dos inquiridos a favorecerem o enfoque nas políticas domésticas, enquanto outros questionam se os compromissos relativamente aos aliados deverão ter precedência face aos interesses nacionais.

[pull_quote_left]As divisões no continente são mais do que visíveis, com muitos dos inquiridos a privilegiarem o enfoque nas políticas domésticas, enquanto outros questionam se os compromissos relativamente aos “aliados” deverão ter precedência face aos interesses nacionais[/pull_quote_left]

Vários dos países auscultados apontam também para uma perda de influência do seu papel no mundo face à última década, ao mesmo tempo que, na sua totalidade, os inquiridos apelam a uma União Europeia mais activa no futuro. No que respeita ao envolvimento global, as divisões ideológicas espelham bem as diferenças de opinião. Na maioria dos países sondados, a direita “mais à direita” defende com muito maior agressividade o enfoque nas questões de interesse nacional face à esquerda e em detrimento de”ajudar os outros”. Os sentimentos “França primeiro” ou “Inglaterra primeiro”, apesar de serem uma realidade indiscutível, não significam, contudo, que os europeus estejam desatentos aos desafios internacionais. A esmagadora maioria dos respondentes considera o autoproclamado Estado Islâmico como a maior das ameaças aos seus países, apesar de existir muito pouco apoio para aumentar as despesas de defesa nacionais – com apenas cerca de 33% dos inquiridos nos 10 países a favor das mesmas e 41% a demonstrarem relutância na utilização de forças militares para combater o terrorismo.

Em termos de isolacionismo, os alemães e os suecos são os que mais comprometidos se mostram com “o que se passa lá fora”, ao contrário da França, Grécia, Hungria, Itália ou da Polónia. E, face a uma pergunta feita há seis anos para um relatório similar ao actual e relativa ao sentimento “ a nação primeiro”, as diferenças são quase inexistentes. Todavia, e apesar de todos os países demonstrarem uma compreensível preferência pela resolução dos seus problemas internos antes de tudo o mais, sete dos 10 países inquiridos apoia o aumento da ajuda aos países em desenvolvimento, com o mesmo número a declarar que o compromisso económico global é positivo para o seu próprio desenvolvimento.

As grandes ameaças: Estado islâmico e alterações climáticas

Entre as várias nuvens negras que pairam sobre os europeus, não será surpresa o facto de o autoproclamado Estado Islâmico – comummente referido, nos últimos meses, na comunicação social portuguesa através do seu acrónimo em árabe “daesh” – constituir a tempestade mais temida pelos cidadãos de nove dos 10 países inquiridos, apenas com a Grécia a destoar e a eleger a instabilidade económica global como a sua mais premente ameaça. No geral, e tendo em conta que o relatório identificou oito grandes ameaças, ao alerta vermelho face ao terrorismo segue-se, com alguma surpresa, as alterações climáticas globais, que se posicionam à frente da instabilidade económica global e dos ciberataques provenientes de outros países. O crescente número de refugiados originários da Síria e do Iraque, as tensões coma Rússia, a emergência da China como potência mundial e o poder e influência dos Estados Unidos constam na “metade de baixo” das ameaças identificadas.

[pull_quote_left]Apenas alguns meses depois do acordo (alegadamente) histórico em Paris relativo ao clima, cerca de 66% dos europeus entrevistados elegem as alterações climáticas globais como uma significativa ameaça, um nível de percepção que, face a 2013, aumentou consideravelmente[/pull_quote_left]

Apenas alguns meses depois do acordo (alegadamente) histórico em Paris relativo ao clima, cerca de 66% dos europeus entrevistados elegem as alterações climáticas globais como uma significativa ameaça, um nível de percepção que, face a 2013, aumentou consideravelmente em sete dos países auscultados e com a Espanha a dominar esta preocupação, que “subiu” de 64% para 89% em 2016. Uma nota ainda para as diferenças “políticas” existentes quando se encara este problema: em seis dos países, são os eleitores de esquerda que maior apreensão confessam face a esta temática – em particular na França, na Espanha e na Grécia, com apenas a direita italiana a demonstrar níveis mais elevados de preocupação.

Já no que respeita à terceira ameaça identificada – a instabilidade económica global – não é de estranhar que seja a Grécia (95%) a considerá-la como o seu maior temor, sendo seguida pela Espanha (84%). De estranhar também não será o facto de a Alemanha e a Suécia serem os países que menos preocupações demonstram face a esta inconstância.

Refugiados dividem a Europa geográfica e politicamente

Em termos de mediana, são 49% dos europeus que olham para o imparável fluxo de refugiados provenientes da Síria e do Iraque como uma grande ameaça. Todavia, esta mediana – que não significa, como é sabido, o mesmo que “média” – mascara diferenças substanciais no interior dos países auscultados face ao número crescente de pessoas que fogem da guerra e tentam chegar ao interior das fronteiras europeias. Como seria de esperar, a Polónia e a Hungria são os que manifestam uma atitude mais agressiva face a esta “ameaça” – com 73% e 69%, respectivamente –sendo que não é possível deixar de sublinhar que o nível de preocupação dos polacos entrevistados iguala ao que têm relativamente ao autoproclamado Estado Islâmico. Ou seja, na Polónia, terroristas e refugiados são indiferenciadamente colocados no mesmo saco das ameaças. Já a Holanda (36%), Alemanha (31%) e Suécia (24%) apontados, pelo relatório em causa, com os países que mais crianças migrantes acolheram, são também aqueles em que este “nível de ameaça” é mais reduzido. Uma nota também para o Reino Unido, onde 52% dos respondentes também consideram a entrada de refugiados como uma significativa dor de cabeça, um dado que não é, de todo, novo.

[pull_quote_left]Na Polónia, terroristas e refugiados são indiferenciadamente colocados no mesmo saco das ameaças[/pull_quote_left]

O relatório sublinha também que a questão dos refugiados vai bem além das fronteiras geográficas, invadindo também o espectro político. Em oito dos 10 países inquiridos, são os cidadãos de direita os que mais incomodados se sentem com esta “invasão”, com as maiores discrepâncias a revelarem-se em França – 69% vs 29% (da esquerda) – e com as diferenças inferiores a dois dígitos a manifestarem-se só na Hungria e na Polónia. Como também seria de esperar, e com base nas divisões ideológicas, são os partidos de extrema-direita, eurocépticos e anti-imigração que maior peso têm nestas percentagens. Um outro dado sublinhado pelo relatório diz respeito também às diferenças de escolaridade entre os entrevistados: por exemplo, no Reino Unido e entre os que completaram apenas o ensino secundário, 62% consideram a questão dos refugiados como uma ameaça substancial, comparativamente apenas a 30% entre os que têm níveis académicos mais elevados.

Posicionamento global e crise de identidade

Afirma o Pew Research Center e de acordo com os resultados do inquérito, é claro, que são vários os países europeus que estão a enfrentar uma crise de confiança no que respeita ao papel que representam no mundo. Assim, e face aos resultados auferidos há uma década, apenas a Alemanha e a Polónia – 62% e 45% respectivamente – acreditam que a sua influência global aumentou. Em contrapartida, 65% dos gregos, 52% dos italianos, metade dos espanhóis e 46% dos franceses consideram que os seus países têm agora um papel mais secundário no palco internacional. Por seu turno, os holandeses e os suecos não registam grandes discrepâncias face ao papel que têm agora e aquele que ostentavam há uma década.

[pull_quote_left]83% dos gregos, 77% dos húngaros, 67% dos italianos e 65% dos polacos acreditam que os seus países devem lidar com os seus problemas internos e deixar os vizinhos desenvencilharem-se o melhor que puderem com as suas próprias dificuldades[/pull_quote_left]

Esta percepção de declínio em termos globais constitui uma das razões que levam muitos países europeus a privilegiar um “olhar para o seu interior”: 83% dos gregos, 77% dos húngaros, 67% dos italianos e 65% dos polacos acreditam que os seus países devem lidar com os seus problemas internos e deixar os vizinhos desenvencilharem-se o melhor que puderem com as suas próprias dificuldades. E também a França (60%), o Reino Unido (52%) e a Holanda (51%) tendem a concordar com a primazia das questões nacionais em detrimento do que se passa com os demais Estados-membros (e com o resto do mundo).

Em termos etários, são os mais velhos europeus que consideram imprescindível lidar com as questões nacionais, sendo visíveis alguns fossos consideráveis entre a sua opinião e as dos mais jovens, com o Reino Unido a liderar este gap, seguindo-se a Suécia e a Holanda.

Insatisfação com a UE e exigências de um papel mais activo na arena global

Não é novidade que os sentimentos dos europeus face às instituições de Bruxelas têm-se vindo a degradar consideravelmente, em particular nos últimos dois anos, sendo que os seus níveis de desaprovação face ao papel da União Europeia, interna e externamente, não deixam margem para dúvidas face a este descontentamento. Os gregos, os franceses, os ingleses e os espanhóis são os que mais “reclamam”, sendo que comparativamente a sondagens realizadas em 2015 e já em 2016, as doses de insatisfação são manifestamente mais pronunciadas.

As críticas à forma como a UE tem vindo a lidar com a questão dos refugiados, como aborda o seu relacionamento com a Rússia e como continua a gerir os problemas económicos que continuam a persistir encabeçam a lista de “queixas”.

Apesar de as razões diferirem, uma esmagadora maioria dos cidadãos destes 10 países auscultados desaprova a gestão da crise dos refugiados, sendo visíveis dois patamares distintos no que às críticas dizem respeito: 94% dos gregos, 88% dos suecos, 77% dos italianos e 75% dos espanhóis mostram-se significativamente descontentes com as abordagens europeias a esta questão delicada, ao mesmo tempo que cerca de sete em cada 10 húngaros, polacos, britânicos e franceses se juntam às fileiras do mesmo descontentamento.

[pull_quote_left]A abordagem dos problemas económicos por parte da União Europeia junta oito dos 10 países inquiridos num coro afinado de críticas[/pull_quote_left]

As sempre complexas relações com a Rússia figuram igualmente na lista das “más prestações” das principais instituições europeias. As críticas mais fortes vêm da Grécia (69%), sendo que nove em cada 10 gregos acreditam ser mais importante, pelo bem das relações económicas, agradar aos russos do que ostentar uma posição de força com Moscovo no que respeita às disputas em matéria de política externa. Por seu turno, 67% dos húngaros, 58% dos alemães e 54% dos italianos concordam com esta abordagem. Apenas os suecos se demarcam mais fortemente desta posição, com 71% dos inquiridos a clamar por um endurecimento de posições face a Moscovo.

Já a abordagem dos problemas económicos por parte da União Europeia junta oito dos 10 países inquiridos num coro afinado de críticas. E, mais uma vez, é a Grécia a encimar a revolta, com nove em cada 10 gregos a desaprovar significativamente a sua abordagem face à persistência das feridas económicas, seguindo-se a Itália, a França e a Espanha. O relatório sublinha também que, em especial, estes dois últimos países são aqueles em que o declínio das opiniões favoráveis ao comportamento das instituições europeias mais se acentuou. Como também seria de esperar, 55% dos britânicos são manifestamente contra a actuação da União em termos económicos e, destes, 84% são apoiantes do eurocéptico UKIP (United Kingdom Independence Party). E, mais uma vez em “dupla”, estão a Alemanha e a Polónia enquanto os países que mais aprovam os esforços económicos de Bruxelas.

Em termos geracionais, os inquiridos entre os 18 e os 34 anos são os que melhor opinião têm do papel de relevo que Bruxelas desempenha na arena mundial, face aos maiores de 50 anos, e com um gap geracional mais evidente na Alemanha, Polónia, Suécia e Reino Unido.

Tendo em conta estes resultados, o relatório do Pew Research Center sublinha o contraste existente entre uma avaliação negativa do comportamento das instituições europeias e um idealismo ainda vigente face ao seu potencial de melhoria no futuro. Os europeus estão, assim, cada vez mais divididos, numa Europa que não consegue promover a “união estreita” entre os seus povos, valor fundamental que deu origem ao Tratado de Roma e que, 60 anos depois, parece ter sido vítima de uma tinta que se tornou invisível para muitos dos seus signatários.


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Brexit: entre o “should they stay” e o “should they go”

O Tratado de Roma, de 1957, enquanto documento “fundador” das bases do que viria a ser a União Europeia, pedia aos seus signatários, iniciais e futuros, que se comprometessem a “(…)a criar os fundamentos necessários para uma união ainda mais estreita entre os povos da Europa”. E, no início deste ano, o primeiro-ministro britânico, David Cameron negociou um acordo com os demais Estados-membros da UE no qual se sublinha que estas “referências a uma união ainda mais estreita não se aplicam ao Reino Unido”.

Independentemente do resultado final do referendo [à hora de fecho da nossa edição, as urnas ainda não tinham sido fechadas], a verdade é que é no desacordo face a uma governação na Europa mais ou menos centralizada que reside o ponto central do Brexit. Se tivermos em mente que, no relatório acima divulgado, seis dos 10 países auscultados preferem uma transferência dos poderes da União Europeia para os seus respectivos governos nacionais, em detrimento do apoio ao seu status quo actual, então o Brexit poderá transformar-se – caso ganhem os apoiantes da saída – num efeito dominó complexo. Mas e por outro lado, e independentemente das posições favoráveis ou não face aos poderes de Bruxelas, a verdade é que a maioria dos europeus concorda que uma “retirada britânica” da UE representa danos significativos para os seus 28 Estados-membros, mesmo que em muitos deles reine um manifesto descontentamento face ao trabalho das instituições europeias, em particular nos últimos dois anos.

Todavia e de acordo com um outro relatório publicado pela Bartelnmann Stiftung, intitulado: “Keep calm and carry on: what Europeans think about a possible Brexit”, esta mesma maioria de europeus que prefere que o Reino Unido se mantenha na UE, não acredita que uma vitória do “sim” signifique o fim da Europa.

Interessantes – e com argumentos distintos – são as visões de um conjunto de especialistas, de vários países europeus, que analisam ambos os cenários, como se pode ler no Carnegie Europe. Apesar de ganhar o argumento para a permanência do Reino Unido na União Europeia, vale a pena ler, sintetizados, alguns dos pontos de vista considerados:

“Ganhe o sim ou o não, o referendo de 23 de Junho irá deixar cicatrizes severas na Europa. Se o Reino Unido se mantiver, são expectáveis posições mais nacionalistas em todo o Continente, a juntar às forças centrípetas e perigosas já existentes. Se ganhar o sim à saída, esperemos que o bebé não seja deitado fora junto com a água do banho. E, em qualquer dos casos, o que ficará irreparavelmente danificado será o Reino Unido” Federica Bindi, Johns Hopkins School of Advanced International Studies

“O referendo no Reino Unido está a provocar danos severos na EU e por várias razões. A primeira é porque encoraja a tendência para uma maior utilização de referendos, os quais são geralmente realizados por razões internas ou por razões político-partidárias (…). A segunda é porque os referendos encorajam os exageros, as mentiras e as visões extremistas (…). A terceira é porque os referendos raramente resolvem qualquer que seja a situação. O veneno que infecta a corrente sanguínea política britânica não irá desaparecer, independentemente de quem sair vencedor (…). E a quarta é porque a UE é muitas vezes chantageada para fazer concessões desnecessárias (…). Assim, não é apenas o referendo no Reino Unido que está a prejudicar a Europa, mas todos os demais potenciais referendos. Se for necessário, que se faça um referendo alargado a toda a UE, mas que nos afastemos dos que são nacionais” Fraser Cameron, EU-Asia Centre

“Estou convicto que a vitória do sim no referendo de 23 de Junho e a saída de um dos seus três poderes irá prejudicar seriamente a União Europeia. (…) Se a Europa acordar no dia 24 de Junho com a permanência dos britânicos, é porque sobreviveu a uma experiência de quase-morte. Com os sentimentos anti-UE em crescimento um pouco por toda a Europa, o referendo britânico terá sido um ‘reality-check’ até para os mais entusiastas líderes europeus” Thomas de Waal, Carnegie Europe

“O que a campanha sobre o referendo demonstrou é que a afiliação na União Europeia não pode ser verificada simplesmente através de análises económicas de custo-benefício e a partir de uma perspectiva pragmática e utilitarista. O assassinato trágico de Jo Cox a 16 de Junho último demonstrou, de uma forma brutalmente evidente, que pertencer à UE consiste num dilema de identidade fundamental. Os grupos políticos populistas e anti-Europa têm à sua disposição um momento histórico para desafiar o sistema político europeu, bem como o status quo institucional criado e dominado pelas elites pró-europeias. Se os britânicos saírem, o projecto europeu será simbolicamente desvalorizado em cada um dos seus Estados-membros e um potencial efeito dominó poderá ser devastador na Europa Central, nos quais alguns governos possuem uma relação amor-ódio no que respeita à parte ocidental da UE. (…) Uma voz mais forte das instituições europeias poderá inverter a lógica do pensamento populista: não perguntar o que a EU pode fazer por nós, mas o que podemos nós fazer por ela” István Hegedűs, Hungarian Europe Society

“O Brexit irá matar a Europa. Ponto final. Os analistas ingénuos estavam convencidos que o fracasso de uma Constituição Europeia iria electrificar a Europa, quando na verdade quase que a electrocutou. De seguida, previram os observadores, que um choque saudável seria originário da Grécia, da crise do euro, dos refugiados, da Crimeia, da Ucrânia, de Vladimir Putin, do autoproclamado Estado islâmico e do crescimento do populismo. E, a cada ‘passagem’, os europeus foram-se sentindo cada vez mais desiludidos, descontentes e azedos e cada vez mais dispostos a seguir um tocador de uma qualquer flauta zangada. O Brexit abrirá uma caixa de Pandora, colocando um ponto final nos valores comuns que conhecemos desde o final da Segunda Grande Guerra. O Brexit será um desastre para o Reino Unido e marcará o fim da União Europeia” Gianni Rotta, Council on Foreign Relations

“O referendo no Reino Unido deverá ser encarado como um alerta: se a UE não mudar, irá desmoronar. Existem actualmente duas formas de pensar sobre a UE: os federalistas que a querem transformar numa entidade semelhante a um Estado e os nacionalistas que a querem ver cair. E ambos se alimentam mutuamente. Os nacionalistas não percebem os enormes benefícios que a UE traz aos seus estados-nação, tornando-os mais bem-sucedidos e mais competitivos num mundo globalizado. Os federalistas não percebem que o estado-nação democrático continuará a ser a entidade política central, o local onde reina o poder e a legitimação. Está na altura de existir uma terceira linha de pensamento: se as forças pró-UE pretendem rejeitar os nacionalistas, precisam de (…) começar a descrever o que é a UE e quais os termos do serviço que presta aos estados-nação, bem como pensar de que forma é que estes serviços podem ser melhorados” Ulrich Speck, Transantlantic Academy


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