Os alunos do IADE, instituto recentemente distinguido com um prémio internacional pela promoção que faz do ecodesign, desenvolvem projectos simultaneamente criativos e sustentáveis que aproximam o conceito de Design académico do mercado, numa “dinâmica de Agência Escola”. Hoje o ecodesign é “um concorrente do convencional, o qual alimenta o espírito consumista, o que não favorece a felicidade”, diz, em entrevista, o fundador e coordenador do Núcleo de Design para a Sustentabilidade do IADE, Carlos Barbosa
O Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE) foi distinguido com um prémio internacional que valoriza a promoção de iniciativas na área do design sustentável. O Gold Mercury Sustainability Awards 2010 premeia boas práticas ambientais nos sub-sectores da Madeira, desde a utilização de matérias-primas sustentáveis à promoção de acções de consciencialização sobre a sustentabilidade, reconhecendo os indivíduos, as empresas e as organizações mais inovadores e sustentáveis da indústria do mobiliário. Esta iniciativa dinamizada pela ONG Gold Mercury International (GMI), em parceria com a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal, premeia a excelência operacional nas áreas da exploração florestal e serração; painéis de madeira; móveis; e carpintaria e outros produtos de madeira. Empenhado na promoção do ecodesign, o IADE criou em 2005 o Núcleo de Design para a Sustentabilidade (NDS – IADE), procurando consciencializar os estudantes e comunidade para a promoção de iniciativas que divulguem esta vertente sustentável. Entre os projectos mais relevantes desenvolvidos pelos jovens estudantes de design, destaque para o Reklusa, programa desenvolvido pela população reclusa do Estabelecimento Prisional de Tires, que utiliza o burel – tecido artesanal português feito de lã – como matéria-prima para fabrico de malas. Dinamizada pelos finalistas da licenciatura em Design do IADE, que desenham os trabalhos na disciplina de Projecto de Produção Industrial, a marca Reklusa já deu origem à concepção, pelos alunos deste instituto, de 65 malas de senhora diferentes com “execução viável no contexto de produção e know-how da equipa” da Cadeia de Tires. Destas “cinco já foram produzidas e encontram-se à venda” no blog da marca, em www.reklusa.wordpress.com. A prazo, e em função da capacidade do atelier das reclusas, estes exemplares de ecodesign deverão ser comercializados também em lojas. Note-se que as malas desenhadas e concebidas pelos alunos do IADE estão já a permitir a reinserção social e reintegração no mercado de trabalho destas mulheres. Na sequência deste projecto, um outro está a ser desenvolvido em conjunto pelo IADE e pela empresa Saberes e Fazeres da Vila, com vista ao desenvolvimento económico da região de Manteigas e ao apoio à indústria de lanifícios local. Utilizando também o Burel, pretende-se criar novos produtos que acrescentem valor, mas mantenham as características seculares da região da Serra da Estrela. O IADE está ainda a desenvolver um projecto que permite aperfeiçoar o sistema utilizado pelos engraxadores (através de um kit de trabalho e do respectivo vestuário), fomentando o aparecimento de novas funcionalidades para esta profissão tradicional que se quer preservada, a exemplo de outras que se enquadram no programa para a Revitalização das Profissões Tradicionais, lançado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Finalmente, o desafio “The Match Ford Focus” – uma exposição com obras criadas a partir de sucata automóvel – é outro exemplo da actuação do instituto na área da sustentabilidade. A iniciativa consiste na recuperação das peças de carros antigos, mandados abater pelos portugueses com vista a candidatarem-se a ganhar um novo veículo da marca americana. Desmanteladas, as peças de sucata servem então para a criação de objectos de design pelos alunos do IADE, em instalações originais. Para Carlos Barbosa, fundador e coordenador do Núcleo de Design para a Sustentabilidade do IADE, este tipo de acções inserem-se na filosofia do NDS/IADE e “na dinâmica da Agência Escola do IADE”, cumprindo a intenção do instituto de que a “instituição universitária se aproxime, cada vez mais, do conceito de design para o mundo real”. Face à missão do IADE com o design sustentável, como vê a distinção dos projectos desenvolvidos pelos alunos com o prémio “Gold Mercury Sustainability Awards 2010”, na categoria “Design&Decoração”? Inserido na abrangência do conceito exposto por John Elkington na obra “Cannibals With Forks – the triple bottom line of 21st century business”, o projecto é baseado na interacção e na interdependência de três pilares: People/Planet/Profit. O reconhecimento de que as Escolas Universitárias do IADE procuram incutir nos seus estudantes de Design e de Marketing, através do NDS, preocupações relativamente aos processos de desenvolvimento sustentável, à responsabilidade social e à urgência de se mudarem os paradigmas das respectivas actividades profissionais, revela que as instituições empresariais e a sociedade atribuem aos designers a capacidade de dar respostas aos problemas sociais, ambientais e económicos que afectam a humanidade. Desta forma, o IADE tem contribuído para desmistificar a ideia de que as soluções de design só se justificam quando estão ao serviço dos hábitos consumistas – o que, de algum modo, acaba por subverter as suas origens históricas.
Que iniciativas desenvolvem no Núcleo de Design para a Sustentabilidade do IADE e com que objectivos? No ano lectivo de 2009/2010, foram realizados quatro estágios de mestrado na empresa LARGEMIND – Materiais Reciclados de que resultaram trabalhos de investigação aplicada. Em resposta a um desafio do Centro de Congressos do Estoril, e com o apoio da Corticeira Amorim, foram desenvolvidas – durante o corrente ano lectivo e no âmbito da unidade curricular de Design para a Sustentabilidade (mestrado) – propostas de mobiliário em aglomerado negro de cortiça para os terraços das instalações do edifício. Assumindo a sua Responsabilidade Social relativamente à comunidade onde se encontram sedeadas as suas instalações, o IADE tem colaborado com a Junta de Freguesia de Santos num processo de integração social dos idosos da Madragoa. Neste caso particular, e também no âmbito da unidade curricular de Design para a Sustentabilidade, têm sido estudadas soluções para a caracterização e animação de espaços de convívio intergeracional. Na qualidade de coordenador deste Núcleo, como avalia a importância do ecodesign, nomeadamente no recurso que faz de matérias-primas sustentáveis e na aplicação da área de Investigação ao desenvolvimento de projectos com um design “amigo do ambiente”? Por outro lado, o oportunismo faz com que o preço de venda atinja valores despropositados, em particular quando os objectos são concebidos por “designers” de geração espontânea ou que ainda confundem as artes plásticas com o design. Finalmente, uma rápida análise ao seu ciclo de vida faz-nos concluir que, alguns desses produtos não são sustentáveis. Por essas e por outras razões, as preocupações dos designers devem ir no sentido de desenvolverem as suas propostas baseadas nos princípios da sustentabilidade que, por definição, já pressupõem, também, os valores da ecologia. Na sua opinião, qual é o estado de arte do ecodesign em Portugal? Considerando o concurso de ideias que o IADE está a realizar no âmbito da IADE Green Week, quais são os grandes desafios da comunicação nas áreas da sustentabilidade e da RS?
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Jornalista