Para oferecer a si mesmo ou para embrulhar como presente, o livro continua a ser um dos itens favoritos para constar debaixo da árvore de Natal. O VER oferece cinco sugestões para a quadra natalícia, com temas tão díspares como a batalha entre a OpenAI e a Deep Mind, personificada pelos seus fundadores, a empresa do século XXI e a desmaterialização dos produtos, os mistérios do crescimento/abrandamento económico, a vida rica e nem sempre decorosa do multimilionário Bill Gates e as políticas necessárias para lidar com o fenómeno demográfico da longevidade
POR HELENA OLIVEIRA
Supremacy: AI, ChatGPT, and the Race That Will Change the World
Parmy Olson
De todas as tecnologias que emergiram nos últimos anos, a mais promissora quanto polémica é, de longe, a inteligência artificial (IA).
Aumenta a eficiência, personaliza as experiências e resolve problemas complexos, desde a previsão do impacto das alterações climáticas até ao avanço dos cuidados de saúde. No entanto, os seus perigos são igualmente significativos. O desenvolvimento descontrolado da IA suscita preocupações quanto à deslocação de postos de trabalho, à parcialidade na tomada de decisões, à violação da privacidade e à utilização ética de sistemas autónomos. Encontrar um equilíbrio entre inovação e responsabilidade é crucial para garantir que a IA sirva a humanidade de forma positiva, promovendo oportunidades equitativas e mitigando riscos como a desinformação e o exagero tecnológico.
E é tudo isto que faz com que o novo livro da colunista da Bloomberg, Parmy Olson, – a grande vencedora do melhor livro do ano da 20ª edição do The Financial Times and Schroders Business Book of the Year 2024, seja tão oportuno. “Supremacy: AI, Chat GPT, and the Race That Will Change the World” é um livro que traça a corrida entre a OpenAI e a Deep Mind para lançar os seus produtos de IA, centrando-se nos seus fundadores, Sam Altman e Demis Hassabis. A jornalista Parmy Olson explora o início da carreira destes dois fundadores na indústria tecnológica, o interesse pela AGI (inteligência artificial geral) e, em simultâneo, a corrida entre as duas empresas (e os gigantes tecnológicos que as apoiam) para terem o melhor produto de IA do mercado nesta era da IA generativa.
O livro aborda as manobras empresariais subjacentes ao desenvolvimento da IA na actualidade, que consiste sobretudo numa batalha entre Demis Hassabis, o fundador do laboratório DeepMind, agora propriedade da Google, e Sam Altman, responsável pelo mais do que falado ChatGPT da Open AI, tendo actualmente como investidor-chave a Microsoft.
O núcleo de “Supremacy” é uma espécie de biografia dupla de ambos os empresários de IA. O primeiro, Hassabis, fundador da DeepMind, é um designer de jogos e campeão de xadrez nascido em Londres que sonhava em criar um software “tão poderoso que pudesse fazer descobertas profundas sobre a ciência e até sobre Deus”, escreve a autora. Altman, da OpenAI, cresceu em St. Louis e foi-se deixando conquistar pela cultura empreendedora de Silicon Valley, em grande parte através da sua relação com a Y Combinator, uma aceleradora de start-ups da qual foi co-fundador.
Em Supremacy, Olson, jornalista especializada em tecnologia, conta a história surpreendente da batalha entre estas duas empresas de IA, as suas lutas para utilizar a sua tecnologia para o bem e a direção perigosa que poderão seguir ao servirem dois monopólios tecnológicos cujo poder não tem precedentes na história.
Como escreve o Los Angeles Times, “Os leitores deslumbrados pelas manobras empresariais de alto risco encontrarão muito para os manter fascinados no relato de Olson sobre os altos e baixos da relação entre a Google e a DeepMind, por um lado, e a Microsoft e a OpenAI, por outro. Em ambos os casos, essas relações são afectadas pelo conflito entre os engenheiros de IA que se dedicam ao desenvolvimento seguro deste tipo de tecnologias e o desejo das grandes empresas de as explorar para obter lucros o mais rapidamente possível.
Em suma, o livro de Olson explica por que motivo a batalha pelo domínio da IA entre a OpenAI e a Google DeepMind pode muito bem moldar o curso da humanidade e que esta corrida para desenvolver a inteligência artificial geral (AGI) – uma IA que se aproxima ou atinge os níveis humanos de função cognitiva – é impulsionada não por governos ou estados, mas por empresas privadas apoiadas por um capital considerável.
Considerado como um dos maiores economistas do Reino Unido, colaborador há muito reconhecido do Financial Times e professor na London Business School e na Oxford University, o mais recente livro de John Kay (supostamente o primeiro de uma trilogia) debruça-se principalmente sobre a história do capitalismo empresarial desde o final do século XIX e, de forma muito mais pormenorizada, no século XX. Mas não só. De acordo com o próprio, este livro é particularmente dedicado aos que ainda estão a aprender sobre o lançamento de um negócio e não a veteranos da economia empresarial. E a sua questão de partida é a seguinte: o que é que acontece quando passamos, como passámos, de um mundo onde se fabricam sobretudo coisas para um universo onde muitos produtos são essencialmente digitais, imateriais ou serviços?
Na medida em que os produtos e a produção estão a desmaterializar-se, “os bens e serviços fornecidos pelas empresas líderes do século XXI aparecem no seu ecrã, cabem no seu bolso ou ocupam a sua cabeça”. Como afirma, a propriedade dos meios de produção é um conceito redundante: “os trabalhadores são os meios de produção e levam, cada vez mais, a fábrica para casa”. Por seu turno, o capital é um serviço comprado a um fornecedor especializado com pouca influência sobre as empresas clientes e os gestores profissionais que dirigem as empresas modernas não exercem autoridade porque são ricos, sendo, pelo contrário, ricos porque exercem autoridade”.
O ator explica de forma convincente por que razão o capitalismo tem agora menos a ver com o capital financeiro e físico (ambos abundantemente disponíveis e, por conseguinte, pouco susceptíveis de constituir uma fonte de vantagem competitiva) e mais com a forma como os empresários reúnem diferentes tipos de capital humano. E, a seu ver, é a capacidade do empresário em combinar os talentos de diversos grupos de pessoas na criação de um produto ou serviço coeso que está no cerne do modelo empresarial “capitalismo sem capital” que sustenta o mundo moderno.
Fazendo parte da short list dos melhos livros de negócios publicados em 2024, The Corporation in the Twenty-First Century descreve igualmente como a procura de valor para os accionistas destruiu algumas das principais empresas do século XX. Incisivo e provocador, o livro redefine a actividade comercial e a liderança de sucesso, a economia do conhecimento e o que poderá ser o futuro da empresa moderna.
Growth: A History and a Reckoning
Daniel Susskind
Daniel Susskind estuda o impacto da tecnologia, nomeadamente da inteligência artificial, no trabalho e na sociedade. É professor de Economia na Universidade de Oxford e investigador no King’s College de Londres, no Departamento de Economia Política. É co-autor do best-seller The Future of the Professions [traduzido em português] e autor de A World Without Work: Technology, Automation, and How We Should Respond, descrito em 2020, ano da sua publicação, pelo The New York Times, como “leitura obrigatória para qualquer potencial candidato presidencial que esteja a pensar na economia do futuro”. No seu mais recente livro, também na lista dos melhores livros de 2024 da revista New Yorker e na short list do Finantial Times, Susskind escreve sobre o talvez mais importante tema económico da actualidade: o mistério do crescimento (ou abrandamento) económico e o que é necessário fazer para o enfrentar.
Como escreve, nos últimos dois séculos, o crescimento económico libertou milhares de milhões de pessoas da pobreza e tornou as nossas vidas muito mais saudáveis e longas. Consequentemente, a busca desenfreada do crescimento define a vida económica em todo o mundo. No entanto, esta prosperidade teve um preço enorme: o aprofundamento das desigualdades, a criação de tecnologias desestabilizadoras, a destruição ambiental e as alterações climáticas.
Assim, e para o autor, vivemos numa época onde a confusão reina, numa era de progresso económico anémico, em que a principal preocupação é o abrandamento do crescimento – no Reino Unido, na Europa, na China e em vários outros países.
Desta forma, e numa altura de incerteza sobre o crescimento e o seu valor, o premiado economista faz um balanço essencial. Numa análise abrangente e cheia de perspicácia histórica, Susskind defende que não podemos abandonar o crescimento, mas mostra como devemos redireccioná-lo e reflectir melhor sobre aquilo que realmente valorizamos. Com uma escrita clara e incisiva, o livro explora o que realmente impulsiona o crescimento económico e oferece ideias originais para combater o seu abrandamento.
Billionaire, Nerd, Saviour, King: Bill Gates and His Quest to Shape Our World
Anupreeta Das
Poucos bilionários têm sido tão escrutinados durante tanto tempo e sob tantas formas como Bill Gates. Inicialmente anunciado como um visionário da tecnologia, o cofundador da Microsoft transformou-se de seguida num capitalista implacável, apenas para mudar mais uma vez quando se transformou num benfeitor global. Ao longo do seu percurso, Gates influenciou para sempre a forma como pensamos nos fundadores da tecnologia, uma vez que os produtos que fabricam e as ideias que vendem continuam a dominar as nossas vidas. Através da Fundação Bill & Melinda Gates, estabeleceu também um novo padrão para a filantropia bilionária de alto nível. Mas a história de Gates é mais do que isso e, aqui, a reportagem reveladora de Das mostra-nos que os bilionários têm segredos e que a filantropia pode ter também um lado negro.
Com base em centenas de entrevistas e reportagens publicadas, Anupreeta Das, editora financeira do New York Times, centra-se na manipulação do dinheiro e do poder do titã da tecnologia Bill Gates “para se esconder nas sombras ou brilhar no palco”, enquanto persegue os seus objectivos nos negócios, na política e na filantropia.
No centro da sua investigação está a “desigualdade cada vez maior” que afecta a sociedade americana, juntamente com a persistente veneração da cultura dos bilionários. “O sonho americano”, escreve Das, “sustenta vagamente que, numa terra de liberdade, de oportunidades ilimitadas e de livre iniciativa, o mérito individual, o trabalho árduo e uma pitada de sorte são as chaves que abrem a fortuna’”.
A editora do New York Times narra a evolução de Gates, de criador nerd da Microsoft a filantropo benéfico, mostrando que a sua educação em escolas privadas, fortes laços familiares e mais do que uma pitada de sorte foram factores que sustentaram o seu sucesso. Como homem de negócios, era notoriamente arrogante, escreve também, ao mesmo tempo que o seu divórcio com Melinda French Gates revelou a sua vida de mulherengo. Anupreeta Das refere ainda que mais de 2000 pessoas dependem da fortuna de Gates para a sua subsistência, incluindo “um pequeno exército de profissionais de comunicação” que trabalham “para moldar a personalidade pública de Gates de forma a elevar a sua estatura em benefício dos objectivos da sua fundação e para melhorar a sua marca individual”.
This is The Longevity Imperative: Building a Better Society for Healthier, Longer Lives
Andrew Scott
Andrew Scott é o economista que foi co-autor (com Lynda Gratton), há alguns anos, do best seller The 100-Year Life, com enfoque na ideia de que as pessoas que nascem agora, mas também nos últimos 10 ou 15 anos, têm mais hipóteses de viver pelo menos até aos 100 anos. Trata-se de saber como isso afecta o seu comportamento individual, bem como a forma como as empresas, os decisores políticos e a sociedade lidam com essa situação. Neste livro, Scott vai um pouco mais longe, apresentando aquilo a que chama uma agenda perene, ou seja, a forma como várias instituições e indivíduos podem melhorar a sua capacidade de viver bem durante um período mais longo de tempo.
Um dos temas centrais do livro, que também foi abordado no livro anterior, é o perigo de que, se simplesmente permitirmos que esta mudança demográfica aconteça sem tomarmos qualquer medida, corremos o risco de ter uma vida mais longa que, na verdade, não é melhor, podendo inclusivamente ser pior, do que a vida mais curta e saudável que poderia ter existido antes. O que se pretende é ter uma vida melhor, não só do ponto de vista médico, mas também do ponto de vista económico, para que se possa continuar a fazer a diferença até uma idade avançada e saudável.
Para tal são necessárias novas e abrangentes políticas que permitam um envelhecimento digno, “ocupado”, o mais saudável possível, conferindo a possibilidade de uma vida longa não ser sinónimo de sofrimento, mas de novos e promissores desafios.
Imagem: Patrick Tomasso/Unsplash.com
Editora Executiva