O V Congresso do Empreendedorismo Social debateu a criação em Portugal de uma Social Business School, bem como a necessidade de desenvolvimento de uma rede lusófona de boas práticas e investigação no sector da Economia Social. Em entrevista ao VER, Miguel Alves Martins, presidente do IES, defende que este é o momento para melhorar a competitividade do sector social português, o que “só é possível com uma dinâmica intersectorial”
POR GABRIELA COSTA
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© IES
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A criação em Portugal de uma Social Business School é “uma certeza firmada” depois da realização do V Congresso de Empreendedorismo Social, promovido pelo IES nos passados dias 30 de Setembro e 1 de Outubro. Foi no Centro de Congressos do Estoril, no âmbito do Green Festival (onde o evento foi integrado este ano), que o professor do INSEAD e director pedagógico do IES reiterou a sua intenção de avançar com o projecto, adiantando que o mesmo conta já com o apoio da Câmara Municipal de Cascais.
Do congresso saiu ainda uma nova parceria com a assinatura do protocolo para o lançamento da rede ESLIDER, ramificação portuguesa da EUCLID Network desenvolvida em colaboração com a União das IPSS do Porto. Actualmente na fase de arranque, esta rede reúne já 32 líderes, que visam criar uma plataforma “que permita estreitar ligações entre pessoas que partilham responsabilidades, criar sinergias e resolver problemas de fundo do Terceiro Sector”.
Cooperar em rede na lusofonia
A ESLIDER Portugal, dirigida a empreendedores sociais, agentes de mudança e líderes do Terceiro sector que “através do trabalho em conjunto, conseguem entregar bens públicos à sociedade de forma profissional”, ou seja, “sem infra-estruturas e burocracias associadas”, ambiciona “acrescentar valor através do trabalho em rede, e assim resolver problemas e alavancar soluções de carácter mundial”.
Uma iniciativa que vai ao encontro da ambição do Governo face à Economia Social, sector a que o Governo “está particularmente atento porque, se por um lado nos vemos instigados a pedir reforço extra, por outro torna-se inadiável o encorajamento de todas as formas de solidariedade particular e voluntária”, como admitiu na abertura do V Congresso de Empreendedorismo Social, o ministro da Solidariedade e Segurança Social.
Na opinião de Pedro Mota Soares, “uma economia mais competitiva e um estado mais eficaz são perfeitamente compatíveis com uma sociedade mais solidária”, desde que o empreendedorismo social (ES) e o Terceiro Sector actuem “como uma via fundamental para a ética”, e sejam traçadas “soluções de cooperação entre os vários players”.
Dando resposta a este desafio, os empreendedores sociais presentes defenderam a necessidade de criação de uma rede lusófona do sector, capaz de encerrar o que de melhor se faz e se investiga nesta área. Representantes de Portugal, Brasil e Moçambique deixaram os seus testemunhos, numa mesma língua e convergindo numa ideia comum: a importância de se discutir o ES em português, como veículo para ajudar a “mudar o mundo através de causas”.
Mas, inerente a qualquer acção, esteve a ideia de que o ES se assume como “plataforma de criação de valor e ética num mundo em mudança”. No primeiro dia do evento, dedicado às questões do Ecossistema do ES, o presidente da ACEGE, António Pinto Leite, o vice-presidente da Brisa, Pedro Rocha e Melo e o partner da Accenture, João Pedro Tavares, foram unânimes na defesa “de empresas mais humanizadas e socialmente justas”, próximas dos valores praticados pelo Terceiro Sector.
A adopção em Portugal da figura jurídica e legislativa de “empresa social”, já existente em países como o Reino Unido, é um caminho possível, mas o País está a falhar nessa matéria porque “não há legislação e se calhar falta vontade política”, concluiu Pedro Pais de Almeida, sócio da Abreu Advogados.
Para Celso Grecco, promotor da Bolsa de Valores Sociais, o desafio da criação de valor dos projectos é decisivo para o auto-financiamento das instituições e para uma visão mais social do sector corporativo, onde “não basta empreender, há que saber vender”.
Nos dois dias da conferência, mais de 400 pessoas aprofundaram e debateram o estado da arte do ES em alguns países de língua oficial portuguesa, e contactaram com ferramentas para colocar em prática os seus projectos.
Que balanço faz do V Congresso de Empreendedorismo Social? Quais são as principais conclusões a retirar, no que concerne o estado-da-arte do Empreendedorismo Social em Portugal?
Faço um balanço muito positivo, já que atingimos os objectivos a que nos propusemos: trazer ao evento oradores de excelência que permitam levar o Empreendedorismo Social aos diferentes sectores da sociedade, sempre gerando outputs.
“O ES está a afirmar-se como ferramenta que permite a procura de soluções inovadoras e mais eficazes para a resolução de problemas sociais” – Miguel Alves Martins, presidente do IES |
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O ES está a afirmar-se como ferramenta que permite a procura de soluções inovadoras e mais eficazes para a resolução de problemas sociais. Após cinco anos de promoção do congresso, podemos afirmar que Portugal tem projectos, reconhecimento nacional e internacional de boas práticas, uma presença crescente nas universidades, produz conhecimento, as empresas envolvem-se crescentemente, e estruturas de referência assumem-se como investidores sociais.
Temos organizações de referência internacional a operar em Portugal e temos um governo aberto ao tema e investidor no seu desenvolvimento. Temos todas as condições para estar na frente da corrida, tanto a nível europeu como mundial.
De que importância se reveste a presença do Ministro da Solidariedade e Segurança Social na abertura do evento, para o reconhecimento do valor do empreendedorismo e da Economia Social, a nível nacional?
De Elevada importância, na medida em que, para além de ser um privilégio, é uma mensagem forte que demonstra a abertura e aposta governamental no desenvolvimento do empreendedorismo e da inovação Social, fundamentais para se atingir um aumento de competitividade do sector.
Em contexto de profunda crise social e económica, a que se deveu a atenção dada à temática “Ética e Valores” neste Congresso do ES?
Trata-se de uma temática transversal à sociedade. Gestores, empreendedores sociais ou políticos têm conflitos e dificuldades semelhantes. O debate deste tema é profícuo e enriquecedor para todas as partes.
Qual é a viabilidade de criação de uma rede lusófona de empreendedores sociais, para quando se pode esperar uma iniciativa destas e envolvendo que países?
Tal como referiu Erik Charas (empreendedor africano e activista social), a língua portuguesa será sempre um veículo e um meio, nunca um fim. A língua portuguesa pode ser um veículo muito interessante no desenvolvimento de objectivos concretos. O IES é uma das estruturas a utilizá-la e incentivamos outras estruturas a que o façam. Da nossa parte, planeamos o crescimento para alguns dos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa – CPLP já em 2012.
O formato do evento valoriza sempre a partilha de experiências inspiradoras. Num momento tão difícil em matéria de emprego e crescimento económico, que resultados práticos pode esta dinâmica proporcionar?
O empreendedorismo e a inovação social podem e devem contribuir para o desenvolvimento de competitividade do sector social português. Este é o momentum. Devemos encarar o contexto actual como oportunidade de evolução. As condições a nível nacional e internacional estão criadas. No entanto, tal só é possível com uma dinâmica intersectorial.
O IES trabalha com a sua rede de associados e Parceiros no desenvolvimento de projectos e iniciativas multidisciplinares que permitam a implementação de soluções que conduzam à maior eficácia das soluções sociais existentes. O Congresso do ES é uma das montras do conhecimento gerado. Esperamos assim inspirar mais pessoas para este caminho.
Que visibilidade traz ao Congresso do IES a sua integração no Green festival? Este formato irá manter-se nas próximas edições?
Para o IES tratou-se de uma experiência nova. As quatro edições anteriores aconteceram num contexto muito diferente, no Centro Cultural de Cascais – um ambiente mais familiar e menos de massas. Mas, mais do que visibilidade, na relação com o Green Fest houve a preocupação de trabalhar em parceria com outras estruturas existentes. Como todos os projetos-piloto, agora é momento de avaliação.
FORMAÇÃO ISEP PORTUGAL com chancela INSEAD |
A Associação IES – Empreendedorismo Social e o INSEAD realizam, entre 17 e 21 de Outubro, em Cascais, uma formação vocacionada para dirigentes de organizações que visam melhorar o seu impacto social. Esta formação, que replica o modelo de sucesso do programa ISEP do INSEAD, dirige-se a líderes de projectos já implementados, que queiram partilhar ferramentas para acelerar o crescimento do projecto, potenciar a escala, avaliar o impacto e desenvolver competências de liderança e inovação.O ISEP Portugal consiste numa semana intensiva que alia conhecimento académico de ponta mundial e análise de casos práticos sobre a inovação de modelos de negócio, gestão de organizações híbridas, liderança e processos de expansão. O programa desenrola-se de forma contínua e dinâmica, com visita ao terreno, apresentações, painéis com convidados e resolução de casos reais.Os objectivos centrais são a sistematização sobre o que é Empreendedorismo Social validada com a realidade do terreno, a capacitação em áreas chave de gestão, a aprendizagem entre pares de novas ferramentas e a criação de rede. Tem a duração de uma semana e conta com até 32 participantes.
De referir que o INSEAD formou, desde 2005, mais de 250 empreendedores sociais. Estão abertas as pré-inscrições para a Formação ISEP Portugal.
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