Os Green Project Awards lançaram na sua 9ª edição o Prémio Inovação Social Sociedade Ponto Verde, e o grande vencedor foi o projecto “EcoPontas&PapaChicletes – Redução e Valorização de Resíduos”. A iniciativa do Laboratório da Paisagem de Guimarães diferencia-se pela “consciencialização para a necessidade de transformar e valorizar”. Os projectos “Vestida para Matar” e Cozinha com Vida” foram distinguidos com menções honrosas. O VER conversou com os três laureados
POR GABRIELA COSTA

No âmbito dos Green Project Awards (GPA), a Sociedade Ponto Verde (SPV) distinguiu o Projecto “EcoPontas&PapaChicletes – Redução e Valorização de Resíduos”, desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem de Guimarães, com o Prémio Inovação Social. Lançado nesta 9ª edição dos GPA, este prémio reconhece projectos, produtos, serviços ou iniciativas que contribuam para o desenvolvimento e fortalecimento da sociedade civil, apresentando soluções criativas e sustentáveis para fazer face aos actuais desafios societais – através, por exemplo, da melhoria das condições de trabalho, saúde e educação, da protecção ambiental, da criação de emprego, do combate à exclusão social ou da promoção da qualidade de vida dos cidadãos.

[su_youtube url=”https://youtu.be/bvRVwAH5HRQ” height=”200″] © Laboratório da Paisagem de Guimarães

Permitindo a recolha e valorização de resíduos de pontas de cigarros e pastilhas elásticas, o projecto vencedor recebeu o galardão, no valor monetário de cinco mil euros, no passado dia 23 de Janeiro, na Fundação de Serralves, no Porto. Foram ainda entregues duas menções honrosas aos projectos “Vestida para Vencer”, da Associação Dress for Success Lisboa, e “Cozinha para a Vida”, da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra.

O Prémio Inovação Social dirige-se a organizações da sociedade civil e cidadãos, tendo sido uma das categorias mais concorridas dos Green Project Awards, “o que demonstra a consciencialização da sociedade para a necessidade de transformar e de valorizar”, nas palavras do director-geral da Sociedade Ponto Verde. Como sublinha Luís Veiga Martins, os projectos distinguidos “já fazem a diferença, transformando hábitos e criando soluções criativas que dão resposta a necessidades reais da nossa sociedade”.

É o caso da iniciativa do Laboratório da Paisagem de Guimarães, que cria uma solução inovadora para reduzir a acumulação dos resíduos de pontas de cigarros e pastilhas elásticas, através de estruturas urbanas com design apelativo que contribuem para alterações comportamentais, naquela cidade. Criado em Novembro de 2015, em apenas dois meses o projecto permitiu recolher mais de 15 mil pontas de cigarro e 2 mil pastilhas elásticas, através da colocação de oito estruturas no centro de Guimarães. Para além da vertente de redução do impacto ambiental, este projecto possui um cariz de I&D, promovendo a valorização dos resíduos e reforçando a importância da economia circular.

Já o projecto “Vestidas para Vencer” foi criado em 2013, trabalhando de forma integrada em duas vertentes: imagem e procura activa de emprego e desenvolvimento de carreira. A iniciativa ajuda mulheres desempregadas e empregadas com recursos económicos limitados, através da doação de roupas profissionais (Boutique) e do desenvolvimento de competências para prosperarem no trabalho e na vida pessoal (Espaço Carreira). Com este projecto a Dress for Success pretende quebrar o ciclo da pobreza, reforçando a confiança das mulheres através da imagem e de ferramentas profissionais especializadas.

[quote_center]A segunda fase do EcoPontas&PapaChicletes visa a valorização dos resíduos[/quote_center]

Por seu turno, e inserida numa região com 23 instituições de acolhimento de jovens em risco, a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra desenvolve, desde 2012, o projecto Cozinha para a Vida, envolvendo os seus alunos em acções de voluntariado que visam preparar jovens institucionalizados para uma maior autonomia doméstica, através de uma formação de 28 horas que inclui a confecção de refeições nutricional e economicamente equilibradas, a gestão de sobras, a gestão de compras e a manutenção e limpeza de espaços, utensílios e equipamentos.

O VER conversou com os responsáveis pelos três projectos – Carlos Ribeiro, director executivo do Laboratório da Paisagem, Teresa Durão, presidente da Dress for Success Lisboa e Ana Paula Pais, directora da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra –, a respeito das suas causas sociais e do que ambicionam para as mesmas, depois de terem sido distinguidas, pela sua inovação, naquele que é o mais reconhecido prémio de sustentabilidade do País.

© DR

Como surgiu a oportunidade de se candidatarem ao Prémio Inovação Social?

Carlos Ribeiro (CR)
O impacto positivo que o projecto tem tido na comunidade em geral, bem como o sucesso que tem alcançado em termos de adesão e, consequentemente, naquilo que é o seu principal objectivo – reduzir a acumulação de resíduos – fez-nos acreditar que o mesmo poderia ser reconhecido através de prémios da especialidade. O “Prémio Inovação Social”, até pelo seu cariz de “incentivar o desenvolvimento de produtos que possam promover a educação e ao mesmo tempo a qualidade de vida dos cidadãos”, era uma boa oportunidade de ver o nosso trabalho reconhecido. Felizmente o júri entendeu que poderíamos ser merecedores do galardão máximo e isso deixou-nos, naturalmente, muito satisfeitos e motivados para o futuro deste projecto.

Teresa Durão (TD)
Tomámos conhecimento do Prémio Inovação Social através do website Geofundos e decidimos apresentar uma candidatura.

Ana Paula Pais (APP)
Em 2012 iniciámos o projecto Cozinha para a Vida, envolvendo os nossos alunos em acções de voluntariado que visam preparar jovens institucionalizados para uma maior autonomia doméstica, designadamente na confecção de refeições nutricional e economicamente equilibradas, gestão de sobras, compras e gestão da despensa, bem como manutenção e limpeza de espaços, utensílios e equipamentos. Considerando os objectivos deste Prémio e o trabalho que os nossos alunos vinham desenvolvendo, percebemos que existia uma conjugação e adequação de propósitos e decidimos avançar com uma candidatura. Procuramos sempre estar atentos a este tipo de distinções, pois acreditamos que o reconhecimento externo é uma das melhores formas de motivar e incentivar os alunos a continuar com estes projectos e agir na mudança social absolutamente necessária.

Em que aspectos foi o vosso projecto distinguido por este Prémio que visa reconhecer iniciativas que geram valor para a comunidade com soluções criativas e sustentáveis?

CR
Atendendo ao objecto do prémio que tem o apoio da Sociedade Ponto Verde, o júri terá tido o entendimento (aliás como se percebe por declarações do próprio director-geral da SPV antes da atribuição do prémio), que este é um projecto diferenciador e que permite a valorização de resíduos e a consciencialização da sociedade para a necessidade de transformar e valorizar. Face à génese do projecto, acreditamos que o que está na base deste triunfo é, no fundo, o facto de o projecto conseguir agregar três componentes muito importantes: a redução da acumulação de resíduos, a sua valorização e a promoção da educação e consciencialização ambiental.

TD
O projecto Vestidas para Vencer ajuda mulheres desempregadas que pretendam obter emprego ou mulheres empregadas que pretendam desenvolver a sua carreira, e que tenham recursos económicos limitados, através da doação de roupas adequadas a um contexto profissional, e do desenvolvimento de competências para prosperarem no trabalho e na vida pessoal. Através da organização de campanhas de recolha de roupa ou de doações particulares conseguimos obter a roupa profissional necessária para ajudar as mulheres que nos procuram. Deste modo, reutilizamos roupa profissional que está em condições de ser usada. A menção honrosa dos Green Project Awards confirmou que o nosso projecto tem um impacto na sociedade, uma vez que contribuímos para a redução do desperdício têxtil, realocando estes recursos (roupa) a um novo propósito, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável.

[quote_center]A Cozinha com Vida gera mudança comportamental e social[/quote_center]

APP
Fomos distinguidos com uma Menção Honrosa, tendo sido destacado o carácter inovador e criativo da tipologia de intervenção social que desenvolvemos, assente num modelo de criação de competências estruturantes e sustentáveis. Trata-se, efectivamente, de uma iniciativa que gera mudança comportamental e social, motivando os jovens para uma aprendizagem prática e contínua, e, sobretudo, para uma mudança que lhes permite assumir com responsabilidade o controlo sobre a sua vida, facilitando a auto-suficiência e autoconfiança.

© Dress for Success Lisboa

De que modo irão aplicar este Prémio no desenvolvimento do projecto?

CR
O prémio é, desde logo, um reconhecimento de que vale a pena promover a investigação e desenvolvimento. Neste sentido, será utilizado para o desenvolvimento deste projecto científico, nomeadamente no que concerne à sua segunda fase, e que visa a valorização destes resíduos. Para além disso, servirá também para continuar a incrementar o projecto e possibilitar, na medida do possível, o desenvolvimento de outras soluções inovadoras que potenciem a adopção de boas práticas e que contribuam para o desenvolvimento sustentável do território.

TD
A menção honrosa que recebemos é a confirmação de que o nosso projecto trabalha de forma séria e com impacto uma vertente ambiental.  Desta forma, para a Dress for Success Lisboa este reconhecimento externo deve ser valorizado junto dos nossos parceiros institucionais e de futuros sponsors e permitir-nos-á consolidar e expandir parcerias: não trabalhamos apenas a imagem e o desenvolvimento de competências, também temos um impacto ambiental. Contudo, esta distinção também nos obriga a ser mais criteriosos com os parceiros que escolhemos, estando assim especialmente atentos às medidas de responsabilidade ambiental que aplicam. Este prémio vem ainda ajudar-nos a defender junto da Dress for Success Internacional a importância de trabalhar a vertente ambiental do projecto, que não tem sido devidamente desenvolvida na comunicação a este nível. Acreditamos que este prémio nos permite chamar a atenção para este aspecto.

[quote_center]A Dress for Success também tem um impacto ambiental[/quote_center]

APP
Esta distinção representa uma maior responsabilidade e, sobretudo, uma motivação adicional para continuarmos a desenvolver o projecto, alargando-o a novas instituições. As três edições do “Cozinha para a Vida” já realizadas abrangeram trinta jovens em idade limite de institucionalização – do Colégio de S. Caetano; Casa do Canto e Comunidade Juvenil S. Francisco de Assis.

Neste momento estamos a planear o alargamento do projecto a outros jovens, de outras instituições, para encontrar novas parcerias que possibilitem, por exemplo, o transporte dos jovens para a nossa Escola, podendo dessa forma chegar a outras áreas geográficas da cidade. 

Quais são as vossas prioridades de actuação a médio prazo?

CR

© DR

Continuar a trilhar o caminho que tem sido trilhado pelo Laboratório da Paisagem de Guimarães, que é uma instituição que nasceu da aposta dos seus sócios constituintes (Câmara Municipal de Guimarães, Universidade do Minho e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). Temos um forte cariz de educação ambiental e de investigação e desenvolvimento e por isso continuaremos a trabalhar em projectos no âmbito da sustentabilidade ambiental e que contribuam de forma decisiva para o desenvolvimento sustentável do território. Neste momento, temos várias iniciativas a decorrer em diferentes áreas (da promoção e preservação da biodiversidade aos recursos hídricos, da leitura da paisagem às acções de educação ambiental), e que servem também de base à Candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia 2020. O caminho continuará por isso a ser o mesmo, educar, consciencializar e inovar.

TD
Neste momento a Dress for Success Lisboa pretende operacionalizar de forma integrada as suas principais valências – Boutique (na qual a organização de campanhas está integrada), Centro de Desenvolvimento de Carreira e Professional Women’s Group -, e medir o impacto de cada uma delas de forma consistente. A correcta articulação destas valências irá permitir-nos consolidar uma rede de voluntários, mantendo-os motivados. Por outro lado, e porque nos encontramos com limitações de espaço que nos obrigaram a reduzir o número de campanhas de recolha, temos como prioridade encontrar um novo espaço para podermos desenvolver o projecto.

APP
As nossas prioridades passam pela diversificação da rede de parcerias de suporte ao projecto, procurando apoios para uma intervenção ainda mais profunda e mais expressiva, trabalhando com mais jovens e com novas instituições, num perímetro geográfico mais alargado. Para que o projecto continue a ser promotor de uma cidadania activa e de responsabilidade social, queremos também promover o envolvimento dos nossos alunos em outras fases do mesmo, envolvendo-os na selecção das instituições e no acompanhamento dos jovens, numa fase posterior. Temos a ambição de criar o conceito do Amigo para a Vida – o desafio de passar de uma intervenção pontual para uma intervenção relacional continuada. Necessitamos de um parceiro com conhecimento científico nas áreas comportamentais, ou seja, uma escola do ensino superior, pois procuramos alunos de outras áreas do saber que se associem ao projecto e lhe confiram novos domínios de intervenção.


 Os oito projectos finalistas do Prémio Inovação Social Sociedade Ponto Verde 

. “Capacitar as guardiãs do mar” – Ocean Alive, Cooperativa para a Educação Criativa Marinha

. “Ciclaveiro” – Ciclaveiro

. “Cozinha para a vida” – Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra

. ”Jogo Educativo – Cidadania 4kids!” – ACEGIS

. “Prato Colorido” – Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Matosinhos

. “EcoPontas&PapaChicletes – Redução e Valorização de Resíduos” – Laboratório de Paisagem   de Guimarães;

.“Uroboro” – Marco Balsinha

.“Vestidas para Vencer” – Associação Dress for Sucess Lisboa


Jornalista

1 COMENTÁRIO

  1. O prémio vencedor carece de criatividade uma vez ser cópia integral do conceito ja criado no Brasil. Dou os parabéns pela iniciativa mas não pela criatividade. Bato as palmas se iniciarem um processo de reciclagem das beatas… Embora sem copiarem… O Brasil tb já é pioneiro nesse campo. Sem duvida o júri deveria ter pesquisado mais o estado da arte. Parabéns na mesma pela disponibilidade em mudar mentalidades em portugal.

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