A sede da Bluepharma, em Coimbra, foi o palco de uma sessão do ciclo de Conferências ESG, organizado pela ACEGE e com o apoio da Fundação Santander. Paulo Barradas, presidente do Núcleo de Coimbra da ACEGE e CEO da Bluepharma, acolheu três palestrantes: Ricardo Zózimo, Investigador e Professor na NOVA SBE; Cristina Melo Antunes, Green Finance no Santander; e Ana Assis, da Systemic, uma consultora na área da sustentabilidade. Perante a informação que nos chega em catadupa e também perante a necessidade imperiosa da sustentabilidade, os testemunhos esclarecem e mostram o caminho que terá de ser feito para que haja caminho de todo
POR PEDRO COTRIM

Ricardo Zózimo – «A realidade atropela os reguladores»

Para o professor de sustentabilidade e empreendedorismo, decorre uma mudança muito importante na sociedade. Afirma que o lugar do ser humano está a sofrer mudanças – o ser humano já foi inventor, transformador de ideias, trabalhador, guerreiro, mas agora exige-se o melhor dos seres humanos.

Prossegue: «A indústria farmacêutica vai sofrer uma grande transformação. Elon Musk tem a Tesla e o X, mas a empresa que trará a maior transformação ao mundo será a Neuralink. Há duas semanas introduziu um chip para controlar as funções cerebrais. Estará ligado ao chatgpt – imaginem um ser humano com uma ligação. No fim de contas, acredita-se que o regulador é que vai salvar tudo, só que o regulador está dez anos atrasado. A realidade atropela os reguladores. À empresa permite-se fazer isto com a aprovação da FDA americana e um sabe-se que um dos filhos do Elon Musk tem um. Parece ficção científica, mas não é.»

O professor prossegue, afirmando que tudo isto está a fazer-nos repensar o lugar dos seres humanos. Afirma que há um lugar natural, que é a família, mas que agora somos a sociedade mais conectada de sempre, mas também a mais isolada.

Conta-nos que esteve num encontro com o Papa Francisco, a propósito da Economia de Francisco, e que Sua Santidade abordou o tema da Economia da Solidão – as empresas e os aparelhos que nos permitem estar sozinhos, mas sentindo-nos bem. Ricardo Zózimo diz que vivemos num mundo super-tecnológico, em que podemos utilizar essa tecnologia para fazer mil e uma coisas, mas temos um mundo em que temos dois mil milhões de pessoas na pobreza.

Confessa-se perturbado. Afirma que vivemos num mundo com uma ideia de incerteza há já muito tempo. «O traço na nossa sociedade nos últimos 20 anos, que tinha sido de paz, de progresso, mas nos últimos anos tem sido incerteza. No fim de contas, a crise do Lehman Brothers não foi uma crise bancária, foi uma crise de valores. A empresa, que elaborava produtos financeiros para venda a terceiros, começou a mentir aos clientes. Depois mentiu internamente e acabaram a mentir-se a si próprios. Destruíram milhares de empregos com esta situação.»

O professor conta que há uns anos houve uma interrupção na Bolsa de Londres devido ao algoritmo que gerava as compras e as vendas, que causou padrões muito estranhos. Quando perguntaram ao programador se não se sentia mal pelo sucedido, que tinha originado muitas perdas, limitou-se a dizer que tinha feito o que lhe era pedido. O ser humano devia estar no centro, mas faz a sua função e deixa rastilhos assim, considera Ricardo Zózimo.

O palestrante prossegue para o tema da sustentabilidade, onde considera haver vários desafios, sendo o primeiro o da temperatura. Acredite-se ou não, é real, diz. Conta que o presidente chinês, Xi Jinping, visitou a China inteira, e escreveu numa carta em que revela um grande desgosto, descrevendo que zonas outrora verdejantes eram agora um deserto. «Há muita discussão sobre se isto é ou não antropogénico, se é uma questão de ciclos, mas neste momento não há espaço para tal. Há grande urgência no que fazemos.»

Ricardo Zózimo afirma acreditar muito no poder das empresas para a solução e diz que na nossa educação, nos habituámos a confiar nos governos, só que o problema é tão complexo que os governos não têm capacidades nem instrumentos para o resolver.

Prossegue com um exemplo concreto: «Portugal e Espanha nunca discutem sobre nada, com exceção dos rios. Os espanhóis, no século passado, desviaram rios, mas nós não o fizemos. Queremos agora a água do lado de cá, mas é claro que eles querem a água do lado de lá. Mas os governos não têm instrumentos. Como é que regulamos o caudal de um rio? A solução terá de vir das empresas. Um governo fica 4 ou 8 anos, uma empresa tem a ambição de durar séculos. Os empresários têm essa ambição são eles que têm a solução. Se a solução tem de vir das empresas, tem de vir das suas pessoas. Não são os eleitores, que hoje votam num partido e amanhã noutro. As pessoas que trabalham nas empresas não são indecisas».

Prossegue, afirmando que nos ODS, os primeiros quatro são o típico da ONU (pobreza, fome, saúde e educação), mas que o 6, o 7, o 8, o 9, o 11 e o 12 são todos económicos, convidando-nos a fazer a leitura dos objetivos.

Ricardo Zózimo afirma que há vários movimentos, sendo um deles o do capitalismo consciente. Uma empresa tem de servir a comunidade, tem de a cuidar. «Uma das coisas que o regulador percebeu foi de que as pessoas tinham de servir a finança e a finança tem de servir as pessoas. Têm de estar juntas.»

Diz que o Papa Francisco lançou uma ideia há dois anos, a do capitalismo inclusivo. Não deixa ninguém para trás, diz o professor. «Tem feito um caminho muito interessante. Também nos deu um recado sobre o trabalho digno e tudo isto configura e que economia está a mudar. As pessoas estão efetivamente no centro».

Termina: «E como é que materializámos tudo isto? Nos critérios ESG, que a Cristina (Melo Antunes) abordará a seguir. Há duas partes importantes na governança: transparência e coragem ética. Esta mudança está em andamento, há pressão financeira e as entidades financeira querem empresas que cumpram a sustentabilidade. Isto não é uma revolução verde, ao contrário do que afirmava o presidente Obama, é uma revolução da forma de fazer negócio. É muito além».

 

Cristina Melo Antunes: «A principal pressão para a transição climática vai chegar pela cadeia de valor»

A gestora começa por explicar que os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) deram caminho ao ESG, que são uma forma de medir o ‘andamento’ dos primeiros. «As empresas escolhem os ODS mais relevantes para o seu negócio e para a transição ecológica. Nesses ODS definem uma estratégia, nessa estratégia vão definir métricas KPI, que permitem medir a evolução dessa estratégia. O mundo ESG é um mundo de reporting – se não se conseguir medir, não se consegue avaliar se se está a fazer bem ou mal.»

Cristina Melo Antunes prossegue, afirmando que este mundo ESG é complexo e cheio de regulamentação. «Para as PME, e para as empresas que não exportam, é complicado. Diz-se muitas vezes que Portugal está mais atrasado que outros países e a razão principal é o facto de a maior parte das empresas não emitirem no mercado de capitais: se o fizessem, teriam a pressão dos investidores, tal como nós, a banca, temos. Se não estivermos a fazer o nosso caminho, o nosso financiamento sai-nos mais caro ou é mais escasso. Vai passar para as PME mais rapidamente do que se julga».

A gestora prossegue, explicando o impacto na cadeia de valor. Diz que no acordo de Paris se definiu a meta da neutralidade carbónica para 2050. «Neutralidade carbónica significa que as minhas emissões são as que eu consigo absorver. Tenho de reduzir o que emito e de aumentar a capacidade de capturar as emissões emitidas. Não haverá empresas 100% verdes, pois há sempre uma parte insustentável, mas esse caminho tem de ser feito para reduzir a nossa pegada ambiental para que ela fique equilibrada com aquilo que tempos, mas também podemos aumentar a captura de GEE».

Cristina Melo Antunes diz que quando foi feito o acordo de Paris, se pensou numa transição justa, que significa permitir que todos os agentes económicos consigam fazer esta transição. Não só as empresas que têm dinheiro e departamentos jurídicos para analisar a regulamentação, mas que todas as outras consigam entrar neste mundo e sejam puxadas por aquelas que conseguem liderar o movimento.

Explica-nos que a neutralidade carbónica foi definida em três âmbitos: 1, 2 e 3. As de âmbito 1 e 2 são as emissões que as empresas fazem dentro seu perímetro, na sua de atividade e as que são geradas pelas compras de energia a terceiros. São aquelas que se conseguem controlar com a estratégia normal da empresa e que estávamos habituados a fazer, porque influenciam os custos, melhoram a frota, etc. No fundo, diz, é tudo o que está dentro da empresa.

Afirma seguidamente: «No âmbito 3, entra a cadeia de valor. Uma empresa apenas atinge a neutralidade carbónica se os seus fornecedores e os seus clientes também forem neutros em carbono, e aqui assenta a beleza deste sistema que foi criado. Uma empresa grande tem obrigações de reporte, e as obrigações de reporte estão a ficar cada vez mais transparentes, mas também cada vez mais exigentes. As empresas terão de reportar o que fazem a nível de âmbito 1 e 2, mas também o que os seus fornecedores e clientes fazem de âmbito 3. E os fornecedores são habitualmente empresas, enquanto os clientes são muitas vezes pessoas particulares».

Cristina Melo Antunes prossegue: «Se uma empresa entra na nova diretiva de reporte (CSRD), e as grandes empresas já estão a abrigo da diretiva – nós, bancos, já estamos – vamos ter de ter informação dos nossos fornecedores sobre a sua transição, pois isso vai ter impacto nos nossos objetivos. Se nós estivermos a arrendar um espaço, ter uma certificação energética ‘F’ será muito diferente de ter uma ‘A’. Isto terá impactos enormes na habitação».

A gestora diz que em Lisboa se assiste a uma saída das empresas do centro da cidade, onde os escritórios não têm certificações «A» ou «B». Ou há melhoria dos espaços ou há alteração de local. A principal pressão para a transição climática vai chegar pela cadeia de valor.

Conta a gestora: «No outro dia, um cliente que deverá entrar na CSRD em 2025 chamou-nos porque estava preocupado com o seu atraso na transição e com o impacto que isso teria nos custos do financiamento. Os sectores mais nocivos são os que já se veem obrigados a cumprir caminho, e o cliente fazia parte dum deles. Disse-lhe que sentiria primeiro a pressão na cadeia de valor, tendo ele concordado e confirmado as exigências. O que vejo nas empresas em 2024 nada tem a ver com o que sucedia em 2023».

Dá mais um exemplo: «No ano passado visitei uma empresa relativamente grande em que se tinha recebido um email de um fornecedor estrangeiro advertindo que se em três meses não tivesse a certificação X no produto, deixaria de lhe comprar».

Ainda acrescenta mais um, também revelador: «Ouvi há tempos de uma PME que exportava para um cliente alemão e que tivera (há dois anos) de preencher um questionário de sustentabilidade. Nem se fazia a mínima ideia do que era pedido. Para se manter nessa cadeia de valor, teve de fazer o caminho e agora é esta própria empresa a exigi-lo aos seus fornecedores. Já está em andamento. As empresas que já fizeram o caminho, podem ir a concursos lançados por empresas estrangeiras. É um caminho feito de certificações, e é curioso que quando começamos a medir é que começam as oportunidades. Em algumas empresas verifica-se que no ‘S’ e no ‘G’ já têm portfolio»

Cristina Melo Antunes diz que a sustentabilidade é uma oportunidade e que tem de ser rentável. «As empresas querem estar cá nos próximos 400 anos, e, para tal, têm de ser lucrativas. O lucro é necessário para os investimentos em inovação e para a redução da pegada ecológica. É um erro pensar que a sustentabilidade é um custo».

Prossegue: «O problema, em Portugal, é o de estarmos à espera que nos obriguem e apenas quando nos obrigam é que fazemos. Está errado. Eu digo aos meus comerciais: ‘quando vocês vão ter com um cliente, reparem se ele está a financiar alguma coisa relacionada com a sustentabilidade ambiental e social (o ‘S’). Pensem nisso, ponham-se em perspetiva e falem com o cliente sobre o assunto’. Se pusermos o assunto na estratégia das empresas, fazemo-las adiantarem-se ao processo de certificação. O risco reputacional é enorme e uma empresa que não cumpra perde imediatamente rating ESG».

Cristina Melo Antunes conta ainda: «Quando os combustíveis aumentaram, na sequência da invasão da Ucrânia, as empresas alteraram a forma como geriam as frotas, e vinham para estas conferências a afirmar que estavam muito preocupadas com o ambiente, que tinham um camião em que traziam tudo para os hubs e que o resto era tudo elétrico. Era verdade, mas o verdadeiro impulso tinha sido económico. Não está errado! Se nós, nas nossas decisões, pusermos este ângulo económico e este ângulo sustentável, tomamos decisões mais que nos permitem ficar na cadeia de valor.»

A gestora acredita que a perspetiva da sustentabilidade vai mudar os hábitos das pessoas. «Não vão comprar mais caro, mas entre dois produtos com preços semelhantes, vão optar pelo mais sustentável. As decisões dos nossos clientes e consumidores vai mudar porque irão querer mostrar à posteriori que são sustentáveis».

Acrescenta outro caso: «No outro dia ouvi de uma empresa que mudava a frota à medida que era preciso fazer a substituição dos veículos. Fica muito mais barato do que, de repente, ter de mudar totalmente a frota devido a uma disposição legal. A melhor ideia é planear e ir fazendo o caminho, seja em painéis solares, reciclagem ou no que quer que seja. As empresas que fizerem este caminho terão uma vantagem competitiva sobre as outras. Tem de estar na estratégia da empresa, e não no departamento que faz os certificados»

A gestora diz que, perante esta avalanche regulatória, os bancos terão de mencionar, nas avaliações de risco de crédito, a parte do risco físico e de transição. «Nós, bancos, para compensar a remuneração de capital, ou teremos de apresentar um preço mais caro ou disponibilizar menos quantidade de crédito. Nós só seremos neutros em carbono em 2050 se os nossos créditos forem todos sustentáveis».

 

Ana Assis – «Um fornecedor ao qual não seja fornecida ajuda para crescer, perde o seu lugar na cadeia de valor»

A consultora começa por afirmar que a Systemic ajuda as empresas a fazer a transição e para incluírem fatores de sustentabilidade na sua gestão. Segundo Ana Assis: «Evidentemente que uns foram mais observados que outros, mas algumas empresas já têm um grande caminho feito. Já há muitas regulações sobre os resíduos, água e matérias-primas. Também já há muita regulamentação relativamente aos colaboradores e aos recursos humanos. Contudo, é preciso ir um pouco além e desenvolver uma estratégia que seja capaz de abarcar todos estes temas».

Para Ana Assis, os temas típicos tratam de alterações climáticas, biodiversidade, economia circular, poluição, utilização dos recursos hídricos. Há que estabelecer quadros, metas e objetivos, e há que ir medindo esses objetivos ao longo e acompanhar os avanços.

Prossegue, afirmando que ao nível dos colaboradores, um assunto que era visto como filantropia, passa agora a estar integrado nos critérios de gestão. «Temos de olhar para o que produzimos e pensar no que é que o consumidor final vai ganhar com o meu produto. Não é apenas ir ao encontro do que pretende o consumidor final, mas qual o impacto que o meu produto pode ter no consumidor final e qual é o impacto que esse produto terá quando for descartado».

Prossegue: «Em termos de governança, há que desenvolver a cultura empresarial, e fortalecer, na nossa conduta, valores éticos, com clientes ou fornecedores. Habitualmente, estamos mais atentos aos clientes que aos fornecedores, mas um fornecedor ao qual não seja fornecida ajuda para crescer, perde o seu lugar na cadeia de valor».

Ana Assis acrescenta: «Conforme disse o Ricardo (Zózimo), verifica-se, desde a Revolução Industrial, um aquecimento global. Mas não foi apenas isto: não nos preocupámos em repor matérias-primas nem em restabelecer ecossistemas que alterámos e chegámos ao ponto em que não se pode continuar».

A consultora diz que começaram a surgir soluções. «O acordo de Paris de 2015 estabeleceu o limite de 1,5 graus e também uma série de objetivos para alcançar este valor. Ficou a ideia de que o mundo estava repleto de máquinas e processos para aumentar o lucro, independentemente dos recursos que consumissem. Há portanto esta noção de que é preciso financiar a transição, e para tal, tiveram de se impor regras. A Cristina (Melo Antunes) já explicou bem o que sucede em relação à banca. Abre-se realmente um espaço muito grande de inovação graças ao que é imposto».

Ana Assis prossegue, contando-nos que em 2019, a Europa assinou o European Green Deal, que promove a economia circular, a redução da poluição e a restauração da biodiversidade. «Tem como ideia central não deixar ninguém para trás. Para termos a certeza de que não é só pelos ratings e as taxas de juro, as empresas são obrigadas a reportar aquilo que fazem».

Refere que «Temos os referenciais de sustentabilidade, já destacámos os ODS, o Acordo de paris e o EGD, mas também destacamos a taxonomia verde, que é basicamente uma classificação das atividades de acordo com o seu impacto, e temos as diretivas de reporte».

Para a consultora, é importante levar as empresas a olhar para o impacto que as suas ações têm sobre o ambiente, as pessoas e a economia. «Durante muito tempo apenas se olhou para isso, mas as pessoas, o ambiente e a economia também causam impacto nas empresas, por isso a diretiva de reporte obriga também as empresas quais são as influências a que estão sujeitas».

Prossegue: «A CSRD, desenvolvida pelo European Sustainability Reporting, tem um conjunto de regras sobre as quais as empresas deverão preparar-se para reportar sobre temas transversais, sobre tópicos ambientais, sociais e de governança. Percebemo-las olhando para a cadeia de valor e para onde é que a empresa tem impacto, onde é que os sofre e se são positivos ou negativos e quais são os prioritários».

Ana Assis diz que «A Systemic fez um guia de atuação para as PME onde explica os drivers para que as empresas tomem ações. As PME ainda não são obrigadas a reportar os seus dados não financeiros, mas vão ser obrigadas a mostrar aos seus clientes que estão a cumprir estes critérios ESG, tendo de identificar, dentro deles, quais são os que têm mais impacto e sobre os quais estão a tomar medidas».

Diz haver «um conjunto de 10 passos e 15 ações em que ajudamos as empresas a identificar e a desenvolver. Temos de identificar os stakeholders prioritários, analisar a cadeia de valor e os temas ESG – como é que as matérias-primas nos chegam, que transportes usam, como são geridos, mapeando a nossa cadeia de valor. Analisamos os ODS mais relevantes. Identificamos os temas mais relevantes do ponto de vista da dupla materialidade e fazemos uma análise e uma matriz. Não vai ser possível abordar todos ao mesmo tempo, pelo que há que estabelecer prioridades estratégicas, definir ações e KPI, calendarizá-las, mapeá-las e fazer uma revisão anual».

Ana Assis diz que no terreno, importa a formação. «São temas e conceitos relativamente novos e temos de os trazer para dentro das empresas. Não devem ficar apenas dentro dos departamentos de inovação ou de sustentabilidade, tem de ser um conhecimento alargado. É realmente muito importante que se perceba a mudança de paradigma de que estamos a falar».

Na Systemic, diz, faz-se um diagnóstico para que a empresa perceba os desafios, faz-se a matriz da dupla materialidade e dispõem-se os temas segundo o seu grau de criticidade. «Ainda fazemos uma análise de stakeholders, e a partir daí estamos em condições de desenvolver a nossa estratégia. No fundo, a estratégia de sustentabilidade mais não é do que alargar o âmbito das estratégias que as empresas já têm, e com o propósito de uma empresa que crie valor para os seus accionistas e para a comunidade».

Prossegue Ana Assis: «Em relação ao reporte ao mercado, para as empresas que ainda não estão obrigadas a elaborar um relatório de sustentabilidade que demonstre todas estas metas e este objetivos, pode fazer-se um dashboard com objectivos, metas e compromissos. Aacaba por ser uma poderosa ferramenta de comunicação, não só para os clientes, mas também para a banca e para os fornecedores. É possível elaborar um relatório de práticas ESG ou de sustentabilidade, dependendo do objetivo da empresa. Embora esteja nos passos iniciais, podemos ainda elaborar um rating ESG, que terá influências na taxa de juro e nos apoios financeiros».

Diz ainda: «Defendemos a candidatura à certificação B CORP (governança, colaboradores, comunidade, ambiente e clientes), porque é bastante ampla e é quase um roadmap para chegar a esta estratégia de sustentabilidade. O objetivo é construir uma empresa para um mundo melhor».

Termina, referindo que o IAPMEI tem muitas informações sobre estes temas para as PME. Diz ainda que Systemic a lançou uma academia ara alargar o conhecimento. Convida-nos a visitar o site e a avaliar os recursos da consultora.