Portugal caiu quatro posições no ranking mundial da competitividade do WEF, divulgado recentemente na AESE. Esta tendência de queda “mostra claramente que se trata de uma ultrapassagem por quem está a ser mais eficiente, e não um recuo absoluto”, já que o país mantém, desde 2007, o seu score de 4,40 (em sete) nesta matéria. Em entrevista ao VER, o professor da Escola de Direcção e Negócios, Luís Lynce de Faria, defende que negócios competitivos “precisam de investimentos” e que “as fontes de financiamento têm de mostrar sinais de apoio às iniciativas dos empresários”
POR GABRIELA COSTA

.
.
© DR
.

Os resultados do Relatório Global de Competitividade (2012-2013) do World Economic Forum (WEF), divulgado recentemente na AESE – Escola de Direcção e Negócios, em Lisboa, revelam que Portugal piorou em competitividade, tendo descido quatro posiçõs no ranking, face a 2011 – do 45º para o 49º lugar.

Embora tenha mantido o seu score (de 4,40 em 7,00) “num enquadramento financeiro crítico, em plena intervenção da ‘troika’, com um rígido plano de austeridade e perante perspectivas negativas” a prazo, a competitividade portuguesa foi ultrapassada pela de países como o Brasil, Turquia, Malta, Panamá e Azerbeijão, relativamente ao ano passado.

Portugal mantem uma tendência de queda nesta avaliação do WEF desde 2005, descendo, neste período, da 22ª para a 49ª posição  (excepto em 2011, ano em que subiu do 46º para o 45º lugar). De referir, no entanto, que entre 2001 e 2005, melhorámos continuamente o nosso desempenho neste Relatório Global de Competitividade (passado do 25º para o 22º lugar).

Na sessão pública promovida na AESE pela PROFORUM, Associação para o Desenvolvimento da Engenharia e pelo Fórum de Administradores de Empresas (FAE), que decorreu em simultâneo com a apresentação dos resultados deste Global Competitiveness Report 2012-2013 (GCR) a nível  mundial, foi ainda divulgado que, no quadro dos 27 países da União Europeia, Portugal caíu para o 19º lugar, após ter sido ultrapassado por Malta, com a Grécia na última posição.

Note-se que mesmo tendo sido ultrapassado por nações como a Malásia, Porto Rico, Estónia, Panamá, Azerbeijão e Brasil, o País pontua à frente de nações como a África do Sul, a Rússia, a Argentina e a Grécia.

“Modelos de desenvolvimento” como EUA afectados pela crise
Quanto aos resultados globais, a Suiça lidera a tabela enquanto a melhor nação do mundo em termos de competitividade, seguida da Singapura, Finlândia, Suécia, Holanda, Alemanha, EUA, Reino Unido, Hong Kong e Japão.

Pelo contrário, no fim da cauda da competitividade posicionam-se, na última posição do ranking, o Burundi, seguido da Serra Leoa, do Haiti, da Guiné, do Iémen, do Chade, de Moçambique, do Lesoto, de Timor-Leste e da Suazilândia.

Ao nível das tendências de desempenho das várias nações, e como sublinhou, no Seminário de Análise e Discussão da Competitividade em Portugal que se seguiu, no dia 5 de Setembro, à Conferência de Imprensa de apresentação dos resultados do GCR realizada na AESE, Jaime Esteves, da PriceWaterhouseCoopers, os resultados dos líderes nesta tabela revelam que os factores inovação, mercado laboral, e educação são cruciais à competitividade.

Por outro lado, a crise económica e as políticas fiscais associadas à instabilidade financeira e macroeconómica sentida em países como a Grécia, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal são alguns dos principais constrangimentos para o seu desenvolvimento.
Certo é que países como os Estados Unidos, a Espanha ou a Irlanda, até há poucos anos considerados modelos de desenvolvimento, “foram significativamente afectados na sua competitividade pelos efeitos da crise. As razões prendem-se, como explicou o Tax Services e  Government & Public Services Lead Partner da PwC, a redução da confiança nas instituições públicas e nos políticos (principalmente nos EUA), a instabilidade macroeconómica e financeira, as dificuldades de acesso ao crédito, e a rigidez do mercado de trabalho (em Espanha).

Outra tendência a registar é a evolução dos BRIC nesta matéria: enqunto o Brasil mantém a tendência de subida, conseguindo este ano alcançar o Top50 do ranking, graças a uma subida de cinco posiçoes (da 53ª para a 48ª posição), a Rússia e a Índia têm vido a +erder terreno – respectivamente do 66º para a 67º lugar e do 56º para o 59º lugar. Já a China desceu três posições (do 26º pra o 29º lugar) na tabela, depois de ter melhorado continuamente o seu desempenho nos cinco anos anteriores.

Portugal competitivo em infraestruturas e inovação
O GCR assenta numa avaliação baseada em doze pilares com diferentes ponderações, dependendo da fase de desenvolvimento da economia de cada país. São eles, ao nivel de Requisitos Básicos (fase 1) Instituições, Infraestruturas, Estabilidade Macroeconómica e Saúde e educação primárias; na fase 2 – Potenciadores de Eficiência – Educação superior e formação, Eficiência do mercado de bens, Efciência do mercado de trabalho, Desenvolvimento dos mercado financeiros, Maturidade tecnológica e Dimensão do mercado; e, por último, no que concerne Inovação e Sofisticação (para os países cuja economia se situa na fase 3), o indicador Sofisticação dos negócios e o indicador Inovação.

Segundo o relatório de 2012-2013, em Portugal – que integra, em conjunto com outros 34 países, a fase mais avançada em termos de desenvolvimento económico – os pilares que mais contribuiram para a descida de posição no ranking terão sido o acesso ao financiamento (de 70º para o 109º lugar), a solidez dos bancos (de 98º para o 122º lugar), os mercados financeiros (de 78º para o 99º lugar) e a dívida pública (de 128º para o 138º lugar).

A situação portuguesa é ainda agravada por um dos maiores níveis de rigidez do mercado de trabalho (de 122º para 123º lugar em 144 países) e pelos custos de despedimento (de 127º para 129º lugar), ainda que se verifiquem ligeiras melhorias no despedimento e contratação (de 140º para 131º lugar) e na participação de mulheres no mercado de trabalho (de 36º para 30º lugar).

Já os factores que contribuiram para uma melhoria do desempenho nacional, entre 2011 e 2012, foram a inovação (de 32º para 31º lugar) e a qualidade das infraestruturas (de 12º para 11º lugar), particularmente ao nível das estradas (de 5º para 4º lugar), portos (de 42º para 40º lugar) e aeroportos (de 39º para 35º lugar). O País melhorou ainda em saúde e educação primárias ((passando da 34ª para a 30ª posição) e em educação superior e formação (do 35º para o 30º lugar).

Ainda a  nível nacional, os factores mais problemáticos para os negócios são, na análise da PwC, as condições de acesso ao financiamento e a incerteza face ao aumento dos impostos. Neste aspecto, também a nível global as principais ameaças apontadas pelos CEO’s foram a instabilidade e o aumento da carga fiscal.

De sublinhar que nesta edição, o Inquérito de opinião dos Empresários (Executive Opinion Survey) organizado pela PROFORUM e pelo FAE a nível nacional atingiu um novo record de participação, com um total de 136 respostas entre as 15 mil que chegaram ao WEF a partir do mundo inteiro, num total de 144 países participantes.
Ao VER,Luís Lynce de Faria, professor da AESE, sublinha que ocrescimento económico de Portugal “depende de uma melhoria da produtividade, que passa pela profissionalização da gestão e por uma maior flexibilidade no acesso ao financiamento, em muito dependente da recuperação da solidez e da credibilidade da banca”.

.
.
Luís Lynce de Faria, professor
na AESE
.

A que se deve a tendência de queda de Portugal no ranking mundial da competitividade? Mesmo em contexto de crise económica, como se justifica que o país tenha duplicado a sua descida no ranking, desde 2005, caindo da 22ª para a 45ª posição?
Em primeiro lugar, há que esclarecer que a 22ª posição indicada em 2005 foi obtida com um número muito limitado de critérios e de países avaliados. A partir de 2006, com critérios idênticos aos actuais, Portugal ocupava a 43ª posição. A posição é obtida a partir de um número que se baseia nos 111 indicadores definidos pelo World Economic Forum.

Em 2007, Portugal situou-se na 40ª posição (4,48) e foi caindo para a 43ª, 45ª e, neste ano, decresceu para 49ª. A tendência da queda mostra claramente que se trata de uma ultrapassagem por quem está a ser mais eficiente e não um recuo absoluto do índice de competitividade de Portugal, que se mantém estável em 4,40, desde 2007.

Em resumo, estacionámos enquanto outros países com performances piores no passado melhoraram. São disso exemplo o Brasil, Turquia, Malta, Panamá e Azerbeijão, em 2012.

O que significa para o potencial de crescimento económico do País pontuarmos, entre 144 países, em 123º lugar em termos de Rigidez do Mercado de Trabalho, em 129º lugar no Custo de Despedimento, e em 131º lugar em Despedimento e Contratação?
Na economia global em que vivemos, estes factores são muito importantes e vão, com certeza, melhorar no próximo ano face a reformas que o Governo aprovou neste sector há relativamente pouco tempo (em Julho). Contudo, deve considerar-se que a Alemanha, por exemplo, tem, nestes mesmos critérios, classificações semelhantes que, no entanto, compensa com outros factores.

Ainda assim, Portugal posiciona-se no Top 50 do ranking e no grupo de economias que estão na última fase de desenvolvimento. Que comentário lhe tece o facto de termos melhorado em pilares como a inovação, a tecnologia e a qualidade das infra-estruturas (com destaque para a rede rodoviária, uma das mais avançadas da Europa), descendo, contudo, em pilares como a eficiência do mercado de trabalho e a instabilidade macroeconómica e dos mercados financeiros?
A inovação, a tecnologia e as infra-estruturas foram objecto de investimento por parte do Governo anterior, facto que se traduz na pontuação obtida. No que se refere à média europeia situamo-nos com índices equivalentes, no que se refere a Infra-estruturas e a Cuidados de Saúde. Os restantes indicadores apresentam um desvio negativo consistente em cerca de 15%.

Nesta conjuntura, que valor adquire a melhoria do País em pilares estruturais como a saúde e a educação?
Ao ocupar o 30º lugar no ranking do The Global Competitiveness Report 2012-2013 do WEF, Portugal posiciona-se entre os melhores países da Europa em matéria de educação. Este sinal é positivo, na medida em que estamos mais avançados em relação a outros países auscultados no mesmo estudo. Este é um facto honroso, que nos coloca num patamar em que o nível de qualidade é um requisito inerente.

Há muito capital disponível entre os privados, que demonstram estar abertos a apostar nas boas oportunidades que as crises sempre oferecem” – Lynce de Faria, professor na AESE .
.

Em relação às escolas de negócios nacionais, os dirigentes e executivos consideram-nas positivamente, o que faz com que neste indicador o nosso país seja projectado para a 22ª posição, num universo de 144 países avaliados.

Para Portugal melhorar os resultados nesta matéria, é fundamental que as empresas confiem mais na formação profissional e de gestão e alterem o seu mindset, optando por encarar a formação como uma aposta no futuro, ao invés de um custo. Ou seja, a formação deve ser entendida como um investimento, designadamente em jovens talentos, num horizonte de dez anos, a fim de as organizações obterem um retorno mais rápido em matéria de inovação e eficiência. Só desta maneira conseguiremos fazer face aos desafios actuais, por via de novos modelos, uma vez que as respostas do passado têm vindo a revelar-se inadequadas.

Face à estagnação do país em termos de competitividade, de que importância se reveste apoiar, com estímulos, as PME? Quais são os factores mais críticos face ao desenvolvimento de negócios competitivos em Portugal?
Os estímulos actualmente mais importantes estão relacionados com a função financeira. Para termos negócios competitivos precisamos de investimentos nas diferentes áreas e as fontes de financiamento, bancos e outras instituições de crédito têm de mostrar sinais de que podem apoiar mais as iniciativas dos empresários, o que hoje parece ter-se retraído, à semelhança de outros países europeus. Contudo, há muito capital disponível, entre os privados, que demonstram estar abertos a apostar nas boas oportunidades que as crises sempre oferecem.

Em que indicadores do GCR tem Portugal de melhorar, para garantir um nível de produtividade que permita o crescimento económico?
Com base nos dados apresentados, o crescimento económico de Portugal depende de uma melhoria da produtividade, que passa pela profissionalização da gestão e por uma maior flexibilidade no acesso ao financiamento, em muito dependente da recuperação da solidez e da credibilidade da banca.

Que comparação se pode tecer entre os resultados nacionais e os restantes países que enfrentam, como Portugal, dívidas externas?
Quanto aos países que enfrentam dívidas externas e que estão mais próximos de nós (os PIIGS), a situação é tão complexa que não se pode resolver sem que a União Europeia acorde no rumo a seguir para tratar o problema destas dívidas. E o processo é demorado. Vamos aguardar.

“Mais austeridade não está em cima da mesa”
© DR

À margem da Conferência de Imprensa de apresentação dos resultados do Relatório Global de Competitividade para Portugal, Miguel Beleza defendeu que as metas do défice negociadas com a ‘troika’ deverão ser aliviadas para os 5,5% do PIB este ano e situar-se em “pouco mais” de três por cento, em 2013.

O ex-ministro das Finanças considera que “nesta altura, mais valia aceitar uma evolução ligeiramente menos favorável, ou melhor, um número não tão bom para o défice orçamental este ano e, por tabela, para o ano”.

Para o economista, “mesmo com o reforço da austeridade”, estratégia que rejeita, “não é evidente que fosse possível chegar a um valor de 4,5 por cento este ano em circunstâncias razoáveis”. Afirmando que não está “”ansioso” por cumprir os três por cento, Miguel Beleza admite que será necessário “uma redução significativa”.

Aos jornalistas, defendeu ainda que “mais austeridade não está em cima da mesa”, ao mesmo tempo que reafirmou a sua posição “contra” o alargamento do prazo para Portugal cumprir o programa de assistência financeira: “este tipo de programas deve ser o mais curto possível e de maneira nenhuma se deve andar a adiá-los”, sob risco de se instalar a “chamada fadiga do ajustamento”. Aí, sim, começa o não cumprimento das metas, concluiu.

Questionado sobre as perspectivas de crescimento da economia, Beleza respondeu: “estou convencido que não podemos dizer que é daqui a amanhã ou daqui a seis meses”, rejeitando, ao contrário do que defende cavaco Silva, a imposição de prazos. Na sua opinião, “as contas com o exterior estão a caminhar no sentido positivo mais depressa do que se pensava e o sector público há-de ir também (nesse sentido), de uma forma mais lenta”. Neste contexto, e embora não possamos ainda descurar a preocupação relativamente aos “efeitos negativos da conjuntura internacional”, já “não há razão para não podermos crescer dentro de um período relativamente curto”.

“Avançar para novos cortes é um desastre”
Na mesma ocasião, João Salgueiro reafirmou, também, o seu posicionamento contra dar mais tempo a Portugal para cumprir o programa de assistência financeira. Peremptório, o economista considerou que “ter mais tempo quer dizer que vamos gastar dinheiro que não temos, vamos endividar-nos mais e convencer os outros países que não se pode investir em Portugal”.

Ironizando, o também ex-ministro das finanças disse aos jornalistas que “é sempre possível” arranjar espaço para mais dificuldades, mas defendeu que avançar para novos cortes ou aumentos de impostos “é um desastre”: “claro que há espaço para mais austeridade. As pessoas morreram à fome durante a guerra, portanto, é sempre possível, mas é um desastre. Não podemos focar as atenções no desastre mas no sucesso”, disse.

Segundo o antigo presidente da CGD e da Associação Portuguesa de Bancos, tornar o país mais competitivo passa pela criação de novos empregos. “Se não criarmos outros empregos o resultado líquido é negativo”, disse o também ex-ministro das Finanças, defendendo um encorajamento do “investimento produtivo que resista à concorrência”.

João Salgueiro lamentou o incumprimento da meta estabelecida para o défice e apelou a uma tomada de decisões mais rápida: “devíamos estar a tomar medidas para ser mais eficientes”, construindo “uma fiscalidade mais amigável, uma justiça que decidisse depressa e bem e um ensino profissional com profissões que fossem necessárias e não fantasias de cursos”.

Jornalista