Numa altura em que o número de crianças refugiadas, particularmente os menores não acompanhados, não pára de aumentar, quais são as necessidades de protecção desta população tão vulnerável? Quem são estas crianças, de onde vêm e porque é que se deslocam? Questões para reflectir no X Congresso Internacional do Conselho Português para os Refugiados. Em antevisão, a presidente do CPR sublinha a urgência “de assegurar mecanismos de protecção e estruturas de acolhimento dignas”. E alerta: a crise está a condicionar o apoio aos refugiados e, em Portugal, “os subsídios estão já a sofrer fortes reduções”
Preocupado com o facto de as informações existentes sobre a situação das crianças em movimento serem “ambíguas”, o Conselho Português para os Refugiados (CPR) dedica o seu X Congresso Internacional às necessidades de protecção desta população, com o objectivo de esclarecer, “a partir de uma perspectiva dos direitos das crianças”, o que conduz ao seu movimento, quais são as suas condições em trânsito, e que perspectivas futuras encontram nos países de acolhimento. O evento, que conta com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), terá lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no próximo dia 15 de Novembro, com entrada livre. Sob o mote “Os Desafios da Protecção das Crianças Refugiadas”, estará reunido no Congresso um painel diversificado de oradores nacionais e internacionais, incluindo representantes do ACNUR, das organizações Save the Chidren e Separated Children European Programme, e da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, como avança ao VER a presidente do CPR, Teresa Tito de Morais. Em discussão estarão temas como os desafios políticos a enfrentar para garantir uma melhor protecção dos menores não acompanhados, o seu acolhimento e os apoios à construção do seu projecto de vida. De destacar, ainda, o testemunho de um menor não acompanhado residente em Portugal. Para o CPR, que inaugurou em Maio de 2012 um centro dedicado ao acolhimento dos menores não acompanhados, os desafios mais prementes para esta população “centram-se na necessidade de assegurar mecanismos de protecção e estruturas de acolhimento dignas, proporcionando condições materiais para a definição do (seu) projecto de vida”, como explica a presidente da ONGD que representa o ACNUR em Portugal. Extrapolando o âmbito do Congresso para a conjuntura socioeconómica que se vive na Europa e em Portugal, Teresa Tito de Morais reconhece que a crise está a condicionar directa e indirectamente o apoio aos refugiados nos países em desenvolvimento, não só através “do aumento de alguns bens de consumo e das dificuldades em aceder ao mercado de trabalho”, como também devido à redução da ajuda humanitária às populações mais necessitadas.
Face ao aumento exponencial do número de crianças refugiadas, particularmente menores não acompanhados, quais são os principais desafios ao nível da protecção destas crianças? Nesse sentido, os desafios centram-se na necessidade de assegurar mecanismos de protecção e estruturas de acolhimento dignas, proporcionando condições materiais para a definição do projecto de vida dos menores não acompanhados, tendo em conta o seu melhor interesse e bem-estar a longo prazo. Porque foi este o tema escolhido pelo Conselho Português para os Refugiados para o seu X Congresso Internacional? Acresce ainda o facto de o CPR ter inaugurado, em Maio de 2012, um centro dedicado ao acolhimento dos menores não acompanhados, pelo que se impõe uma análise mais conceptual deste fenómeno. Que antevisão faz do evento ao nível dos temas em debate, por exemplo, a vulnerabilidade desta população, o seu acolhimento e assistência, e a acção política para a protecção dos menores? A nível nacional destaco a presença do Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, e também o testemunho de um menor não acompanhado residente em Portugal. Este congresso terminará com a actuação do grupo de teatro do CPR “RefugiActo”, que apresentará a peça “Carlota”, a qual conta a história de uma criança refugiada. Que perspectivas relativamente ao objectivo do Congresso de informar, “a partir de uma perspectiva dos direitos das crianças”, sobre a situação efectiva das crianças em movimento? No que concerne a problemática das crianças refugiadas, é fundamental, antes de mais, assegurar que todas as acções empreendidas a seu favor sejam orientadas pelo princípio do seu melhor interesse. Nesse sentido, estou certa que a intervenção do ACNUR no painel “Identificar soluções duradouras para os menores não acompanhados e separados: integração, retorno e reinstalação” irá cumprir esse objectivo. No seu entender, a que se deve o desconhecimento geral, por um lado, e a existência de informações contraditórias, por outro, quanto à situação destas crianças? Quais são as principais causas que geram este movimento e de que países provêem actualmente as crianças refugiadas?
Acresce ainda o facto de que, em muitas situações, são as próprias famílias que enviam as crianças para outros locais, na esperança de que um dia estas possam ter um futuro melhor, com acesso à saúde, à educação, à assistência social, etc. Actualmente, os países de origem predominantes são o Afeganistão e a Somália. Em que medida são os menores não acompanhados um grupo em crescimento? Na visão do CPR, qual é a situação real em que vivem actualmente milhões de refugiados, em todo o mundo? A maioria dos refugiados vive em campos localizados em alguns dos países mais pobres do mundo. De facto, 80% dos refugiados vive em países em desenvolvimento. A situação é, portanto, bastante preocupante, pelo que é necessário fortalecer os mecanismos de solidariedade entre Estados, como a reinstalação e a recolocação de refugiados. A comunidade internacional tem que ter um papel fundamental na prevenção dos conflitos e no apoio às populações deslocadas. De que modo está a crise Europeia a condicionar o apoio aos refugiados nos países em desenvolvimento, bem como o seu acolhimento e integração nos países europeus? Como se reflecte essa conjuntura negativa no apoio e acolhimento prestados em Portugal? Por outro lado, o acesso ao mercado de trabalho torna-se cada vez mais difícil, num país com uma taxa de desemprego galopante, em que os refugiados enfrentam grandes dificuldades de comunicação e aprendizagem da língua portuguesa, reconhecimento das suas competências e qualificações académicas, o que dificulta a sua integração. Que actuação tem o ACNUR, a nível internacional, e o CPR, a nível nacional, no apoio logístico, psicológico, educativo ou da integração sócio-profissional dos refugiados e deslocados? O Conselho Português para os Refugiados tem como principal missão defender e promover o direito de asilo em Portugal através de actividades que visam o apoio jurídico e social aos requerentes de asilo, refugiados, beneficiários de protecção humanitária, deslocados e apátridas, desde a fase do acolhimento até à sua integração na sociedade portuguesa. Com esse objectivo, administramos um Centro de Acolhimento para Refugiados, um Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas e uma Creche/ jardim-de-infância, que permitem assegurar condições de acolhimento dignas a todos aqueles que necessitam de protecção internacional e disseminam uma série de acções no âmbito da informação, formação e organização dos tempos livres desta população e da comunidade local. O número de refugiados da Síria triplicou nos últimos três meses devido à guerra, como o ACNUR já alertou. O que é necessário fazer para dar resposta a esta situação de emergência? O Alto Comissário alertou igualmente para as limitações da capacidade de acolhimento dos países vizinhos. É urgente que a comunidade internacional assuma as suas responsabilidades.
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Jornalista