POR GEORG DUTSCHKE*
Saber como ter colaboradores felizes é fundamental para o sucesso das organizações. Está provado que trabalhadores felizes são mais produtivos e que, desta forma, organizações com colaboradores mais felizes conseguem melhores resultados e são mais sustentáveis. Por esta razão, o estudo da felicidade organizacional teve um grande desenvolvimento a partir do ano 2000, sendo actualmente suportado por muitos estudos académicos e procurado pelas empresas.
Em Portugal, o projecto Happiness Works tem como missão medir a felicidade organizacional e a sua relação com a produtividade. Realizado desde 2011, no acumulado, conta com a participação de 12 mil profissionais e 200 organizações. Este projecto, inicialmente um estudo académico, permite dar resposta a directores gerais e de recursos humanos que pretendem saber como ter equipas felizes e qual o seu impacto na produtividade da organização.
No início do projecto Happiness Works, em 2011, realizámos um primeiro estudo, qualitativo, com o objectivo de saber quais as razões pelas quais um profissional é feliz na sua organização e função. Através de entrevistas a mil profissionais foi possível identificar os factores pelos quais um colaborador se sente feliz em trabalhar numa organização:
- Ambiente interno: este factor é composto por oito variáveis e contribui em 20% para a felicidade;
- Reconhecimento e confiança: este factor é composto por cinco variáveis e contribui em 18% para a felicidade;
- Desenvolvimento pessoal: este factor é composto por oito variáveis e contribui em 16% para a felicidade;
- Remuneração: este factor é composto por duas variáveis e contribui em 12% para a felicidade;
- Envolvimento pessoal: este factor é composto por três variáveis e contribui em 11% para a felicidade;
- Sustentabilidade e Inovação, Envolvimento com as Chefias e Organização, Definição de Objectivos, Equilíbrio entre a Profissão e Vida Pessoal são os restantes factores e, no total, são compostos por 19 variáveis, contribuindo em 23% para a felicidade.
É muito relevante observar que a Remuneração apenas contribui em 12% para a Felicidade Organizacional. Ou seja, 88% das razões não estão dependentes do salário, mas sim de factores relacionados com a liderança e cultura organizacional.
Sabendo quais são os factores que promovem a felicidade organizacional, passou a ser possível medir este constructo nas organizações em Portugal, que é o que fazemos desde 2012.
[quote_center]A Remuneração apenas contribui em 12% para a Felicidade Organizacional[/quote_center]
Numa escala que varia entre 1 (muito infeliz) e 5 (muito feliz) os portugueses sentem-se quase felizes (3,8) nos últimos três anos. Estes valores são superiores aos de 2014 (3,4), 2013 (3,7) e 2012 (3,5). Esta “retoma” de felicidade organizacional deve-se, principalmente, a duas razões: a retoma económica e um maior cuidado das organizações em terem colaboradores felizes. Numa altura em que a taxa de desemprego tende a baixar e é mais difícil captar e reter talento, ser uma organização feliz é um ponto de diferença importante para atrair novos colaboradores e ter a capacidade de os manter na organização.
Desde o início deste estudo que temos a preocupação de procurar a relação entre profissionais felizes e mais produtividade. Com base nas 12 mil respostas já obtidas, e sendo difícil correlacionar directamente com o resultado operacional (devido ao elevado numero de variáveis que contribuem para tal), é possível verificar que:
- Os colaboradores mais felizes faltam menos 24%;
- Os colaboradores mais felizes têm menos (38%) vontade de mudar de organização;
- Os colaboradores mais felizes sentem-se 18% mais produtivos.
As duas primeiras métricas – absentismo e rotação – são facilmente quantificadas em euros. A terceira, sendo uma percepção do próprio colaborador, é mais difícil de quantificar, mas, é razoável admitir que quem se sente mais produtivo, realmente o seja.
Com base no que foi anteriormente referido, sabemos hoje como medir o nível de felicidade organizacional e avaliar o seu impacto na produtividade de uma organização. Tal é fundamental para que este tema possa ser cada vez mais considerado pelas organizações. Como, efectivamente, o tem sido.
Da nossa experiência, as organizações aplicam o estudo Happiness Works por três razões: para obterem visibilidade e um novo eixo de comunicação interna e externa (somos uma organização feliz); para identificarem pontos fortes, fracos e poderem implementar, no imediato, acções que minimizem os fracos e potenciem os fortes; e para implementarem, com base numa visão estratégica, uma cultura de felicidade organizacional.
O número de empresas que participam no estudo Happiness Works tem aumentado todos os anos. Complementarmente, o número de empresas que aproveitam o diagnóstico recebido para desenvolverem culturas de felicidade organizacional tem vindo a crescer. Acreditamos que este é o caminho correcto. Queremos não apenas procurar novos eixos de comunicação ou implementar acções de curto prazo, muito tácticas, mas também pensar estrategicamente como ter profissionais mais felizes de forma sustentada.
O estudo Happiness Works é realizado todos os anos entre Janeiro e Abril. Este ano, para além de avaliar o estado de felicidade organizacional em Portugal e a sua relação com a produtividade, pretendemos, também saber se as razões pelas quais um profissional se sente feliz são as mesmas, ou diferem, entre os profissionais mais e menos jovens; e se empresas familiarmente responsáveis têm colaboradores mais felizes e são mais produtivas.
O Happiness Works é um projecto aberto a todas as pessoas e organizações que pretendam contribuir para um maior conhecimento sobre este tema.
Georg Dutscke - Partner e fundador Happiness Works