Muitos países, como Portugal, “fazem depender o trabalho de conservação e gestão da rede Natura 2000 dos fundos comunitários disponíveis”. A BirdLife International avaliou os progressos que a UE está a fazer face aos objectivos traçados na sua Estratégia de Biodiversidade, e concluiu que a falta de recursos financeiros põe em risco o cumprimento das metas na Europa. Para o director executivo da SPEA, os governos “terão que interiorizar que as áreas protegidas são base da economia e que merecem um investimento maior e mais urgente”
A BirdLife International (Divisão Europeia) divulgou recentemente os resultados do relatório “On the Road to Recovery”. O documento constitui, segundo a organização, a única avaliação global sobre os progressos que a União Europeia está a fazer face aos objectivos traçados na sua Estratégia de Biodiversidade, a qual visa travar a perda de biodiversidade e dos serviços de ecossistemas na EU, até 2020. Feita a análise em função das seis metas estabelecidas em 2010 pela EU para a conservação da natureza (ver Caixa), a BirdLife Europa conclui que “a menos que os subsídios nefastos da UE para a agricultura, pescas, transportes e energia cheguem ao fim e o financiamento para a conservação da natureza aumente, os governos europeus arriscam-se a não cumprir o que se encontra na estratégia”. Em entrevista ao VER, Luís Costa, director executivo da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (que representa em Portugal esta aliança de organizações de conservação da natureza), comenta as principais conclusões a retirar do documento, ao nível dos progressos e constrangimentos encontrados pela BirdLife Europe na execução da estratégia europeia para a Biodiversidade. Nas suas palavras, a organização “calcula que seja necessária uma verba bem maior para conseguir gerir eficazmente toda a rede Natura 2000”. A Estratégia de Biodiversidade da EU “é ambiciosa mas tem sido posta em prática de forma relativamente lenta”, afirma. A respeito das medidas mais urgentes recomendadas pela BirdLife International para atingir as metas delineadas, Luís Costa sublinha que nos próximos dezoito meses é necessário que os regulamentos que aplicam os fundos comunitários para o período 2014-2020 “o façam de um modo eficaz e com consequências a favor da biodiversidade e de uma Europa mais sustentável”. “É preciso parar de dar ouvidos a grupos lobistas” A BirdLife Europa propõe uma solução que inclui a reforma da Política Comum das Pescas (PCP) e da Política Agrícola Comum (PAC). Na perspectiva da organização, “a seguir à PAC, o PCP é a outra grande razão do colapso da biodiversidade”. E garante: 75% dos stocks de peixes da Europa são alvo de sobrepesca e a indústria de pesca infringe danos colaterais nos ecossistemas marinhos, como é o caso das aves e da vida selvagem marinha. “Propostas de reforma progressistas encontram resistência que ignoram que o futuro do sector depende de mares saudáveis”, divulga a SPEA, em comunicado. Já ao nível da PAC, a agricultura intensiva e a reconversão do uso do solo são duas das principais razões de perda de biodiversidade na Europa, adianta a organização, explicando: habitats e espécies “encontram-se numa situação alarmante e continuam a deteriorar-se de dia para dia – e com eles solos, água e clima, os pré-requisitos para a segurança alimentar e para o bem-estar humano”. Segundo o comunicado, mais de cinquenta mil milhões de euros arrecadados do dinheiro dos contribuintes são gastos anualmente, na sua maioria, em “subsídios agrícolas prejudiciais, apesar da crise de orçamento público”. Para a SPEA, “é provável” que a actual reforma da PAC “seja a última oportunidade para justificar os subsídios agrícolas, reorientando-os para o fornecimento de bens públicos, incluindo a conservação da biodiversidade”. Por outro lado, a solução para atingir os objectivos estipulados na Estratégia de Biodiversidade europeia passa, inevitavelmente, por “direccionar as actuais negociações do orçamento da UE para o período 2014-2020 para investimentos em biodiversidade e ecossistemas”, defende a BirLife. É que se a estratégia da UE “identificou correctamente as acções que são necessárias para travar a perda de biodiversidade” no velho continente, certo é que “o tempo se está a esgotar e as decisões tomadas pela UE durante os próximos dezoito meses serão cruciais”, conclui.
Para Portugal “este desafio é particularmente importante”, sublinha Luís Costa, exemplificando: “o momento de crise torna crucial a utilização de fundos dedicados à conservação da natureza, para manter resultados tão importantes como a conservação do priolo, nos Açores, ou do francelho ou da abetarda, no Alentejo”. Afinal, estes são “marcos de sucesso a nível europeu”, sobre os quais “é imprescindível” que sejam atingidas as metas de conservação da biodiversidade e bem canalizados os financiamentos europeus, “para acções locais”. Quais são as principais conclusões que retira do relatório “On the Road to Recovery”, nomeadamente ao nível dos subsídios da EU para a agricultura, pescas, transportes e energia, e dos fundos para a conservação da natureza? Que progressos fez a União Europeia face aos objectivos traçados para a Estratégia de Biodiversidade? E que progressos já deveriam ter sido alcançados, nesta matéria?
Quais são os principais constrangimentos à execução desta Estratégia, que levam a BirdLife Europa a concluir que os governos europeus se arriscam a não cumprir as metas estabelecidas, e a caminhar “na direcção do desastre ambiental”?
Quais são as recomendações da BirdLife Europa no seguimento deste relatório, incluindo ao nível da reforma da Política Comum das Pescas e da Política Agrícola Comum, e dos investimentos em biodiversidade e ecossistemas a incluir no orçamento da UE para 2014-2020? No entanto, a fase mais importante e prática apenas vem agora: nos próximos dezoito meses é necessário que os regulamentos que aplicam esses fundos o façam de um modo eficaz e com consequências a favor da biodiversidade e de uma Europa mais natural, saudável e sustentável.
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Jornalista