POR SOFIA SANTOS
Como conseguirão as empresas responder aos desafios lançados pelas Nações Unidas, contribuindo de forma activa para a concretização dos Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS)? Como podemos passar de um mindset baseado na maximização do lucro para os accionistas, para um outro assente no propósito da empresa e no impacto que esta tem na sociedade e na resolução de problemas societais? Como podem as grandes empresas, de certa forma mais constrangidas na sua actuação devido à existência de vários accionistas e à necessidade de concertar os seus interesses, implementar uma gestão mais humanista, empática e emotiva? Será esta gestão utópica? Eu diria que é antes uma gestão desejada e inevitável.
Num século onde as máquinas vão substituir alguns trabalhadores e realizar alguns trabalhos (e ajudar-nos em muitas áreas, nomeadamente na saúde), onde a robotização e a inteligência artificial serão uma realidade, onde as redes sociais se transformam em geradoras de postos de trabalho, o humanismo é a peça fundamental para manter o equilíbrio entre as pessoas.
Como diz António Damásio, “é a conjugação entre os sentimentos e a razão, ou a falta dela, que está na origem de muitos dos actuais conflitos mundiais”. O reconhecido neurologista afirma também que “se não houver educação maciça, os seres humanos vão matar-se uns aos outros” e, no seu último livro, enfatiza a importância dos sentimentos na criação do sistema e da cultura em que vivemos.
Atendendo aos desafios que os empresários e colaboradores das empresas vão enfrentar neste século XXI, vai ser necessária uma aproximação entre os sentimentos e a razão: o bom senso. Para que isso aconteça, precisamos de desenvolver outras áreas do saber, mas acima de tudo temos de estar estimulados e preparados para aprender a ouvir, a ser empático, a trabalhar em conjunto, a ter um sentimento comum perante as coisas, entre outros factores.
[quote_center]Atendendo aos desafios que os empresários e colaboradores vão enfrentar neste século XXI, vai ser necessária uma aproximação entre os sentimentos e a razão: o bom senso[/quote_center]
Na realidade, o século XXI vai trazer-nos de volta o verdadeiro significado da economia – o OIKOS –, ou seja, a gestão da casa em prol de um bem comum. Vai trazer-nos também a essência de Adam Smith que, previamente à “Mão Invisível”, escreveu a “Teoria dos Sentimentos Morais”, onde definiu o agente económico como um ser ético, que sente prazer em ver a felicidade do outro. Foi com base nesta definição de agente económico que o autor construiu depois a teoria que está na base da economia de mercado.
Sem dúvida que o século XXI vai trazer a ética às pessoas, aos empresários, ao Estado e aos políticos. Não vai ser fácil, pois os estímulos vão demorar a fazer efeito. Mas, com recurso à educação, vamos conseguir ajudar-nos uns aos outros, identificando oportunidades de negócio que podem trazer lucro e benefícios a nível ambiental e social.
Esta teoria já começa a revelar-se obrigatória: algumas das grandes empresas são obrigadas a reportar, anualmente, informação não financeira; diversos países estão a impor medidas para se tornarem neutros em carbono; o Financial Stability Board – que reúne os bancos centrais a nível mundial – afirmou que as alterações climáticas são um risco sistémico para o sistema financeiro e que todas as empresas têm de informar os investidores sobre as suas iniciativas e medidas para combater as alterações climáticas.
Por fim, o tema do dever fiduciário é a nova área de interesse de Al Gore. E qual é o dever fiduciário dos CEO? E dos Conselhos de Administração? Como é que esse dever é compatível com os desafios e expectativas sobre o alcance dos ODS e o papel essencial das empresas nesse mesmo alcance?
O Curso de Gestão Sustentável, promovido pela Porto Business School e pelo BCSD, pretende trazer uma visão sobre estes temas, uma reflexão estruturada e, acima de tudo, novas perspectivas de ver, pensar, viver e sentir o mundo. Pretende, essencialmente, juntar os dois lados do cérebro: o lado esquerdo e o lado direito, o lado da razão e o da emoção. Um empreendimento em tudo difícil, mas de grande bom senso.
CEO da Systemic