A Fundação Montepio mantém-se em estreita articulação com organizações da economia social, nomeadamente combatendo a solidão entre os idosos, prevenindo a violência financeira e apoiando as famílias que enfrentam a questão da demência. O “Prémio Voluntariado Jovem Montepio” privilegiará, este ano, o diálogo entre gerações e a Fundação está ainda envolvida no lançamento do “Prémio Envelhecimento Activo”, adianta, em entrevista, Paula Guimarães. Para a responsável pelo Gabinete de Responsabilidade Social do Montepio, “em tempo de escassez só a colaboração pode vencer os desafios”, razão pela qual há que “induzir parcerias e rentabilizar recursos”. Sempre para ajudar a construir
POR GABRIELA COSTA
A Fundação Montepio apoiou recentemente a realização do estudo “Pegada de Carbono e Consumo Energético em cinco IPSS do Concelho de Seia”, no âmbito do projecto eco2SEIA. Que papel assume uma grande organização como a vossa, face às matérias de responsabilidade ambiental?
A Fundação Montepio estabeleceu uma parceria com a autarquia de Seia e com a consultora CAOS, no sentido de sensibilizar as instituições para a importância da responsabilidade ambiental e para as vantagens decorrentes da redução da sua factura energética. Nesse sentido, o contributo da Fundação Montepio foi o de suportar financeiramente o diagnóstico efectuado e acompanhar os desenvolvimentos subsequentes.
Não sendo a área de intervenção prioritária da Fundação, a protecção ambiental é um desafio incontornável e, nesse sentido, temos vindo a investir cada vez mais neste domínio, quer ao nível interno, quer no que respeita ao apoio a projectos da comunidade.
Que outros projectos de cariz social planeiam desenvolver em 2012, nomeadamente no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, e do Ano Internacional de Energia Sustentável para Todos?
A Fundação Montepio vai manter a sua actividade apoiando muitos projectos desenvolvidos por outras organizações da economia social, que se destinam a intervir junto das pessoas idosas, nomeadamente combatendo a solidão, prevenindo a violência financeira e apoiando as famílias que enfrentam a questão da demência, em estreita articulação com a Fundação Calouste Gulbenkian e com a Associação Alzheimer Portugal.
O “Prémio Voluntariado Jovem Montepio” privilegiará, este ano, o diálogo entre gerações e estamos envolvidos no lançamento do “Prémio Envelhecimento Activo”, em parceria com a Associação de Psicogerontologia e com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
A Fundação Montepio foi lançada em 1995 com a missão de promover o mutualismo, a economia social e a solidariedade, através do estabelecimento de parcerias estratégicas e da concessão de apoios ao Terceiro Sector. Que balanço faz destes onze anos de actuação em prol da sociedade, em geral, e das comunidades, em particular?
O balanço é francamente positivo, alicerçado num crescimento gradual, discreto e baseado em parcerias duradouras. Defendemos uma política de apoio perene, que invista na capacitação dos actores da economia social, promova o associativismo e a partilha de responsabilidades e estimule o voluntariado e a cidadania activa.
Temos permitido a realização de centenas de iniciativas e contribuído para a formação dos recursos humanos e para a melhoria da qualidade da intervenção social. Os resultados do nosso investimento são sólidos e visíveis.
“Defendemos uma política de apoio que investe na capacitação dos actores da economia social, promove o associativismo e a partilha de responsabilidades e estimula o voluntariado e a cidadania activa” |
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Dos inúmeros projectos que vêm dinamizando em valências tão distintas como a educação, a saúde, o apoio social a jovens em risco e população sénior e o voluntariado (a Frota Solidária, o Prémio Escolar, o G.I.R.O., o Re-food, o eco2SEIA) quais destaca, e porquê?
Distinguiria dois: a “Frota Solidária”, porque permite colmatar uma enorme lacuna das instituições no domínio da mobilidade através da oferta, pela Fundação Montepio, de viaturas adaptadas; e o “Programa de Educação Financeira”, que abrange cada vez mais crianças e adultos e é fundamental para formar consumidores de produtos financeiros mais esclarecidos e responsáveis.
No actual contexto socioeconómico, de que importância se reveste o contacto permanente que a Fundação mantém com as comunidades e o conhecimento da diversidade do sector da Economia Social, identificando e promovendo boas práticas de intervenção social?
Tem uma enorme importância e é um catalisador da mudança. Aprendemos todos os dias com o exemplo abnegado, anónimo e generoso das instituições e dos seus dirigentes voluntários e podemos ajudar com o nosso exemplo e experiência.
Procuramos, sobretudo, induzir parcerias e o espírito de rentabilização de recursos, já que, em tempo de escassez, só a colaboração pode vencer os desafios.
Como pode uma instituição ou projecto beneficiar do apoio da Fundação Montepio?
Todas as instituições podem contactar a Fundação Montepio e apresentar um projeto ou uma necessidade. Depois, terão que enviar documentação complementar e preencher formulários de candidatura, consoante o apoio que pretendem.
De qualquer modo, adoptamos uma forma flexível de articulação com as organizações que permite que as ideias fluam com liberdade. Gostamos de ajudar a construir.
Face ao agudizar da crise, prevêem alguma alteração na vossa política socialmente responsável, nomeadamente ao nível da dotação orçamental da Fundação Montepio?
A dotação orçamental da Fundação é garantida pela Associação Mutualista e pela Consignação Fiscal, e não pelo Grupo Montepio, e traduz-se num esforço solidário dos associados e daqueles que acompanham a acção da Fundação e nela se revêem.
A política manter-se-á e terá em conta a urgência de formar os recursos humanos que actuam na linha da frente da intervenção, e de garantir processos de disseminação de boas práticas gestionárias que permitam enfrentar as novas contingências.
IPSS têm boas práticas de eficiência energética |
Um estudo dedicado à Pegada de Carbono e aos Consumos Energéticos de cinco IPSS do concelho de Seia, realizado pela consultora especializada em sustentabilidade CAOS, com o apoio da Fundação Montepio, revela que a energia representará um custo anual de mais de cem milhões de Euros para estas instituições.
A principal conclusão deste trabalho recentemente divulgado indica que as IPSS gastam entre quinhentos e mil Euros por ano em energia por cada utente a que prestam cuidados, o que equivalerá, em termos médios, a mais do valor de uma mensalidade paga por estes.
Em contrapartida, e “talvez surpreendentemente”, nas palavras do Partner da CAOS, Gonçalo Cavalheiro, foram encontradas “muito boas práticas e uma gestão apertada do consumo de energia na maior parte das IPSS, desde o aproveitamento de energias renováveis à atribuição de funções de ligar e desligar equipamentos, de modo a poupar energia”.
Perante as dificuldades que o Terceiro Sector enfrenta, em resultado da crise, as IPSS e todo o sector da economia social “têm um grande peso a nível nacional, que se torna preponderante nos concelhos do interior do País”, defende o especialista em sustentabilidade. Como o estudo revelou, o consumo de energia nas IPSS é elevado, implicando o desvio de recursos financeiros da resposta social para os suportar.
Seia quer ser uma cidade baixo carbono, através do envolvimento de todos os stakeholders do município em iniciativas de eficiência energética, responsáveis por geração de riqueza, na opinião de Cavalheiro. A Fundação Montepio, com “um conhecimento profundo do Terceiro Sector”, afirma, “reconheceu de imediato a importância da iniciativa, em particular numa altura em que os recursos são cada vez menores e as necessidades sociais cada vez maiores e mais agudas”.
Para além do patrocínio à iniciativa, a Fundação envolveu-se directamente no projecto, “fazendo questão de acompanhar e conhecer” as IPSS envolvidas no estudo, sublinha ainda o Partner da CAOS. |
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Entrevista originalmente publicada na edição de 14 de Fevereiro do suplemento OJE Mais Responsável |