A integração de pessoas com deficiência no mercado laboral é um tema cada vez mais atual, mas ainda pouco debatido. Tal como na esfera pessoal, nas oportunidades para a compra de uma casa, na atribuição de créditos bancários, de acessos físicos a espaços culturais e até de aceitação em núcleos familiares, também queremos que pessoas com deficiências se sintam incluídas no local de trabalho. Queremos acima de tudo que os seus líderes sejam genuinamente inclusivos, que haja espaço para mostrarem o seu potencial, que isso lhes seja permitido e, acima de tudo, que se sintam reconhecidos
POR LUCÍLIA QUEIRÓS

Formar, informar e comunicar a deficiência no seio laboral para fomentar a inclusão”

Baseado na expressão de Verna Myres, a inclusão existe quando somos convidados para uma festa, mas só existe integração quando nos convidam para dançar. Assim, as empresas devem garantir que todos os colaboradores, apesar das suas diferenças, têm a mesma experiência e oportunidades no seu local de trabalho. Uma tarefa difícil, mas possível.

Difícil porquê? Porque a falta de formação e consciencialização são a principal causa da sua exclusão. É importante olhar mais de perto a deficiência e considerar o que nos contam os números globais: 15% da população mundial tem uma deficiência, mas também muitas competências. Em Portugal existem 1,7 milhões de pessoas com deficiência, representando 17% da população. De acordo com o Observatório da Deficiência, em 2017 existiam quase 13.000 pessoas com deficiência inscritas em centros de emprego e apenas 11% encontraram trabalho.

Imagine todo o talento que está a ser desperdiçado se não pudermos olhar para além das limitações. Na Fundação Eurofirms sabemos disto e, felizmente, como resultado dos nossos esforços, só em 2021 conseguimos ajudar mais de 1.445 pessoas com deficiência, 110% a mais que no ano anterior, com o início da pandemia. Um número de que nos orgulhamos face à época vivida nos últimos anos ter sido particularmente desafiante. Estas integrações são o resultado de uma grande colaboração entre os nossos colaboradores e a equipa da Fundação Eurofirms. Demonstram o quão produtivo pode ser formar, informar e sensibilizar equipas para um mesmo fim, sendo que 51% das integrações de pessoas com deficiência resultaram do suporte dos nossos colaboradores. Atualmente, considerando apenas o primeiro semestre de 2022, já atendemos mais pessoas com deficiência do que o total de 2021.

Por tudo isto, hoje sabemos o quão importante é formar, informar e comunicar sobre o que pode ser considerado uma deficiência. Nem todas são visíveis, nem todas são motoras e nem todas são sinónimo de incapacitar alguém de trabalhar, de mostrar as suas capacidades no mundo laboral.

Considera-se que uma empresa é inclusiva quando desenvolve um programa formativo e de sensibilização para potenciar a liderança inclusiva e quando realiza campanhas internas de sensibilização. Uma empresa pratica a inclusão quando forma colaboradores para lidar com pessoas com deficiência e quando existe uma equipa que intervém no processo de contratação para realizar uma seleção inclusiva. O facto de existirem programas de acessibilidade cognitiva, digital ou física também torna uma empresa inclusiva, bem como, a presença de pessoas com deficiência na equipa, a par do cumprimento da Lei Geral de pessoas com deficiência.

Felizmente, as empresas começam a despertar para esta realidade e integram, orgulhosa e verdadeiramente, pessoas com deficiência. E nós, Eurofirms, um grupo de RH com a nossa própria responsabilidade social corporativa, temos como objetivo fundador o mote “as pessoas primeiro” e com base nele ajustamos o trabalho da nossa Fundação para trabalhar especificamente na inclusão da deficiência.

Em dezembro próximo, coincidindo com o Mês Internacional das Pessoas com Deficiência, comemoramos 15 anos da constituição da Fundação em Espanha. Ao longo destes anos adquirimos o conhecimento e a experiência que nos permitiram desenvolver um trabalho sólido na área da inclusão de pessoas com deficiência no mercado laboral, trabalhando para a geração de ambientes de trabalho inclusivos, através de ações de formação, assessoria às empresas para cumprimento LGD e desenvolvimento de projetos de RSE.

A iniciativa #IguaisDiferentes #IguaisProfissionais, lançada no final de 2021, pretende também em Portugal, dar visibilidade ao talento e às capacidades que existem para além de uma deficiência e que, muitas vezes, ficam escondidos atrás de um estereótipo. Porque todos necessitamos de ser reconhecidos como profissionais para crescermos, apresentamos sob o formato de ilustrações, retratos reais sobre o tratamento que, às vezes, é dirigido às pessoas com deficiência (v. site da Fundação Eurofirms)

Com o ano de 2023 à porta, a dois meses de terminar o prazo dado a empresas acima dos 100 colaboradores para integrarem nas suas equipas cerca de 2% de colaboradores com deficiências, verificamos, com pesar, que ainda há muito trabalho a fazer, mas com um otimismo crescente, para o esforço que muitas empresas têm feito para não só implementar, como estimular as boas práticas, ensinar e inspirar a sociedade partilhando o seu exemplo. Se cada um fizer o seu papel, juntos tornamos possível um mercado laboral com equidade, sério e sustentável para todos.

Lucília Queirós

Sales Leader & Pivot Specialist, Eurofirms Group Portugal