No que respeita ao cuidado com as suas pessoas, a EDP parece estar sempre um passo à frente das suas congéneres. Numa conversa com Carla Barros e João Estanqueiro, da People & Organizational Development Global Unit, foram focados temas como a crescente importância da saúde mental dos colaboradores, o lançamento de “regras de ouro” para o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e ainda a revisão da estratégia de bem-estar global que a empresa está a preparar. Igualmente em discussão esteve a aprovação da transição para um modelo híbrido de trabalho, os desafios do mesmo tanto para colaboradores como para gestores de equipas, e o novo papel do escritório, o qual privilegiará, muito provavelmente, o encontro entre as pessoas, com o trabalho individual a ser realizado a partir de casa. Um caminho já traçado para o futuro
POR HELENA OLIVEIRA
Penso que é unânime afirmar que pandemia trouxe à luz a questão da saúde mental, algo que, pelo menos no geral, não constituía preocupação no mapa das empresas. A EDP cedo percebeu que a dimensão da saúde, física e mental, teria de ser endereçada. “Quando e porquê” tiveram esta noção, o que foi feito para a abordar e que continuidade terá a mesma no período pós-pandemia, e numa empresa presente em geografias tão diversificadas?
CARLA BARROS (CB)
Cuidar das suas pessoas e garantir que estas estejam em segurança sempre foi uma preocupação da EDP, algo instituído há muito tempo e que remonta, em particular, à altura da construção das barragens. Assim, e quando a pandemia deflagrou, a EDP colocou de imediato as suas pessoas com funções compatíveis em teletrabalho, mesmo antes da imposição do próprio Governo. Ao longo de todo esse período, fomos lançando diversas iniciativas para as nossas pessoas, como as Well-Being Talks – sobre temas tão diversos como o “Bem-estar e gestão de stress em isolamento social”, “Corpo em movimento dentro de casa” ou “Dormir para viver melhor”. Ou seja, o tema “cuidar das pessoas” tornou-se ainda mais crítico e o nosso objectivo foi o de tentar ajudar as nossas pessoas a cuidarem de si mesmas e a cuidarem dos seus.
Adicionalmente, reconhecendo a importância do tema da saúde mental, surgiu em Outubro do ano passado o programa Mind Your Mind. Lançado no dia 10 de Outubro pelo nosso CEO, Miguel Stilwell, para assinalar o Dia Internacional da Saúde Mental, este programa estendeu-se ao longo de todo o mês, através de um ciclo de conversas com pessoas internas e externas à empresa, com a partilha de testemunhos reais que muito sensibilizaram os colaboradores do Grupo EDP. É importante reforçar a ideia da expressão “it’s okay to not be okay”, sensibilizar as pessoas para esta temática que continua muito escondida e trazê-la, com transparência, para cima da mesa. António Raminhos, um humorista de sucesso, foi um dos convidados do Mind Your Mind e partilhou um lado seu que nem todos conhecemos sob o mote “Ninguém sabe o que nos vai na cabeça”.
A saúde mental e o bem-estar geral dos colaboradores sempre esteve na agenda da EDP, que tem há vários anos uma linha de apoio psicológico para as nossas pessoas que necessitem deste apoio, com uma equipa especialista a dar este suporte. Surpreendentemente, e comparativamente com anos anteriores, não sentimos nenhum aumento significativo no volume de pessoas a pedirem ajuda, talvez por estarmos a viver uma pandemia ou porque a saúde mental não é de facto ainda um tema “confortável” para muitas pessoas. Pretendemos apoiar as nossas pessoas, comunicando as respostas que temos e estando presentes quando elas necessitam.
JOÃO ESTANQUEIRO (JE)
Neste futuro – ou neste presente mais flexível – consideramos que todas as empresas no geral, e a EDP em particular, têm de prestar uma atenção redobrada ao bem-estar e à saúde mental, tendo em conta que, e na esmagadora maioria dos casos, este era um tema muito pouco falado antes da pandemia. Com a chegada do vírus SARS-CoV-2, a EDP reforçou a sua preocupação no que respeita a esta área, em particular com o Programa Mind Your Mind, já anteriormente referido. Este programa terá continuidade no futuro e será encarado como uma prioridade, no sentido de garantir uma boa performance das nossas pessoas, mas também assegurar que estão bem, quer física, quer mentalmente, algo a que o pós-pandemia irá obrigar. Acredito que, ao contrário do que acontecia no período pré-pandémico, a saúde mental deixará de ser um tabu e dizer-se que “não se está bem” no mundo organizacional será mais fácil. Para a EDP esta é e será, genuinamente, uma prioridade que vai ser levada muito a sério.
O que são as “regras de ouro” anunciadas por Miguel Stilwell e quais os seus principais objectivos?
CB – Estas “regras de ouro” foram lançadas pelo nosso CEO e a ideia é que tenham continuidade. Neste momento, já lançámos duas relacionadas com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A primeira tem que ver com o respeitarmos o horário de trabalho para alcançarmos essa conciliação tão necessária. No entanto, e como sabemos, estar em casa em teletrabalho pode ser sinónimo para se estar disponível a todas as horas. Assim, esta “regra de ouro” incentiva a desfrutar do merecido descanso após o dia de trabalho. Ou seja, reservar tempo para as tarefas profissionais, mas também aproveitar as horas de tempo livre. A segunda, e como estamos a entrar em período de férias, visa aproveitar o tempo livre, mas com uma desconexão “obrigatória”, ou seja, sem aceitar chamadas de trabalho e activando o modo out of office no Outlook, para que se saiba que não se está disponível. Após o Verão, continuaremos a partilhar as Regras de Ouro nos nossos canais internos, abordando os desafios relacionados com a gestão de reuniões e como comunicar de forma mais eficaz, por exemplo.
Acima de tudo, o que desejamos é empoderar as nossas pessoas para que elas próprias cuidem de si mesmas, olhem para si próprias e que interiorizem que é importante desconectar para cuidar, para carregar baterias e para estarmos bem. Nesta fase de vida tão acelerada e tão digital, é fundamental compreender a importância da rotina e do saber parar. Estas regras são boas práticas comunicadas na EDP Renováveis e que foram partilhadas com a nossa equipa de Portugal, pelo que resolvemos replicar e daremos continuidade logo a partir de Setembro, pois é algo que não termina.
Mais uma vez, sublinho que a ideia é querermos sempre sensibilizar as nossas pessoas e as nossas equipas para a importância de cuidarem de si, de olharem para si, e isso é algo que deve permanecer no tempo, porque se as pessoas estiverem bem, vão dar também o seu melhor. Todos nós queremos potenciar as nossas pessoas, sermos a nossa melhor versão de nós próprios, e só estando bem é possível atingir esse equilíbrio. Por fim, diria que as palavras-chave para o futuro serão a empatia e a tolerância, as quais ganharão ainda mais importância no período pós-pandemia.
No sentido de gerar um equilíbrio saudável entre as responsabilidades profissionais e as rotinas pessoais, assegurando o bem-estar de todos, o que nos pode dizer da estratégia de bem-estar global que a EDP está também a desenvolver?
CB – Estamos a redesenhar a estratégia de bem-estar global para as nossas pessoas, no sentido de olharmos para o tema com um foco estratégico. Iremos organizar todas as nossas medidas, olhando para a pessoa de forma holística, e tendo como base cinco dimensões do bem-estar: o emocional (onde o tema da saúde mental se enquadra); o físico; o social; o profissional e o financeiro.
Em Outubro, vamos realizar a 2ª edição do programa Mind Your Mind, com foco naquilo que é importante para as nossas pessoas e trazendo, uma vez mais para cima da mesa, exemplos externos e internos, com práticas e experiências que permitam prosseguirmos com a desmistificação destes temas.
Apesar de muitos ajustamentos que terão ainda de ser feitos, a abordagem de um modelo híbrido de trabalho parece ser o caminho a trilhar por muitas empresas, na medida em que não só oferece a flexibilidade e liberdade que os trabalhadores aprenderam a prezar – e que não estão dispostos a abandonar – como beneficia também os próprios negócios. Como está a EDP a preparar-se para este cenário e que maiores desafios esperam encontrar?
JE – Em relação ao teletrabalho e ao modelo híbrido, já antes da pandemia a EDP estava a estudar essa possibilidade, com a realização de um projeto-piloto, o qual conferia a possibilidade de se testar o teletrabalho uma vez por semana, para um grupo restrito de funções em Portugal e a ter início em Março de 2020.
Com a pandemia, o piloto acabou por se tornar “obrigatório”, com teletrabalho cinco dias por semana. Portanto, aproveitámos esta oportunidade inesperada para avaliar a experiência. Ou seja, como tinha corrido esta fase de teletrabalho – a qual revelou resultados positivos tanto para colaboradores como para gestores de equipas – analisando questões relacionadas com as várias dimensões da colaboração, a produtividade, entre outras.
Com base nessa mesma avaliação, aprovámos um compromisso em Setembro de 2020, e já para o período pós-pandemia, que estabelece a possibilidade de dois dias de teletrabalho por semana para todas as funções compatíveis.
Um alerta que tem vindo a ser feito pelos “estudiosos” do futuro do trabalho está relacionado com a necessidade de, com o modelo híbrido, existirem alterações na forma como se vai gerir este novo modelo. Quase todos os executivos inquiridos um pouco por todo o mundo, reconhecem que a gestão remota difere da que é feita de forma presencial, mas outras subtilezas podem não ser tão aparentes. Qual a sua opinião sobre esta “nova forma de gestão” e que principais obstáculos e medidas considera serem cruciais para os ultrapassar?
JE – Neste momento, aguardamos pelo período pós-pandemia para conseguir testar e implementar este modelo híbrido. Uma das nossas principais preocupações está relacionada precisamente com a transição para uma gestão que privilegie os resultados e não tanto a presença no escritório ou as horas que as pessoas trabalham.
Outro desafio será a preparação dos managers, que passará por um foco grande na sua capacitação no que respeita à gestão das equipas híbridas, que é diferente da gestão de equipas totalmente remotas, como aconteceu agora durante a pandemia.
Por outro lado, e no que respeita ao regresso ao escritório, a preocupação será também a de assegurar uma transição para uma política de hot desk, ou seja, sem que as pessoas tenham um lugar marcado, a qual permitirá optimizar a eficiência dos lugares e permitir às pessoas uma maior flexibilidade.
Será igualmente necessário repensar o papel do escritório que, no futuro, não será propriamente o mesmo a que estávamos habituados. Ou seja, muito provavelmente, o escritório será mais um lugar onde as pessoas vão querer estar umas com as outras, a colaborar e a interagir, guardando o seu trabalho individual para ser feito em casa.
Obviamente que tudo isto também implica uma adaptação da experiência do colaborador a este formato, o que coloca questões ao nível, por exemplo, do recrutamento e integração de novos colaboradores na empresa em formato híbrido ou mesmo do seu desenvolvimento.
Por fim, será importante existir uma avaliação e auscultação contínua da experiência do colaborador face a todos estes novos aspectos.
Editora Executiva