Não tardará muito e o Facebook atingirá os mil milhões de utilizadores. Consciente do seu gigantesco poder, a empresa de Mark Zuckerberg introduziu, mais uma vez, alterações na maior rede social do mundo e lançou um conjunto de novas aplicações que permitem ampliar a partilha de “vidas inteiras” online. E aumentar também a sua borbulhante fonte de receitas, através de uma publicidade cada vez mais direccionada para o alvo certo
É já conhecida como a Lei de Zuckerberg. Ou seja, o conceito promovido pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, de que a quantidade de material partilhado pelos utilizadores da maior rede social do mundo duplica por cada ano que passa. Com mais um redesenho de funcionalidades, apresentadas no passado dia 22 de Setembro, a ideia é que as pessoas dêem a conhecer, ainda mais, a sua história de vida e os seus interesses relacionados com música, filmes, cozinhados ou qualquer que seja o assunto. No dia em que o Facebook anunciou as novas funcionalidades e aplicações ao dispor dos utilizadores, as críticas dos analistas foram, no geral, positivas. Há muito que Mark Zuckerberg tem vindo a ser acusado de abusar da privacidade dos utilizadores, mesmo sem esquecer o facto de que ninguém é obrigado a “postar” a sua vida no ecrã mais próximo. Todavia e alguns dias passados sobre o lançamento das novidades, novas e velhas questões têm surgido na imprensa mais especializada. Com a rede social próxima de atingir os mil milhões de utilizadores – de acordo com os últimos números, pelo menos 800 milhões de pessoas estão ligadas a esta rede – e com a provável cotação em Bolsa prevista para o próximo ano, Mark Zuckerberg tem de convencer os possíveis interessados de que as suas receitas de publicidade vão de vento em popa. Sim, porque como não há ponto sem nó, às novas funcionalidades estão subjacentes várias parcerias e o objectivo é elevar ainda mais o estatuto da publicidade direccionada. Para além do mais e antes que o Google+ se coloque em bicos de pés – depois de ter anunciado que as suas portas já estão abertas depois de um período de “beta testing”, há que atrair e reter os viciados nesta “Rede Mãe”. O VER oferece aos seus leitores a perspectiva de alguns analistas sobre as mais recentes aventuras do Big Brother do século XXI. Estará o Facebook a ir longe de mais? Em simultâneo, a empresa está a promover uma nova geração de “social apps”, que servem para partilhar tudo o que lemos, ouvimos, vemos ou fazemos no Facebook. Para John D. Sutter, editor na CNN, isto significa que o Facebook não se limita a “estar sempre a olhar para nós, por cima do ombro, como o mesmo acontece com os nossos amigos, que também nos observam… e julgam”. E, para os mais desconfiados (ou realistas), o mais perturbador são as alegações crescentes de que o Facebook regista tudo o que os seus utilizadores estão a fazer online, através das cookies do browser, mesmo quando não se está a utilizar a rede social em causa. A pergunta que os analistas fazem é se realmente o Facebook está, tal como um imenso Big Brother, constantemente a observar o que fazem os seus utilizadores. Num artigo publicado na ZDNet, é citado um engenheiro da empresa, chamado Arturo Bejar, que à pergunta responde: “bem, não exactamente”. O que não é uma resposta muito tranquilizadora. Bejar reconhece que o Facebook regista e arquiva as visitas efectuadas aos sites que possuem o botão “Like” do Facebook, mas apenas por 90 dias e nunca para propósitos publicitários. E acrescenta ainda: “o Facebook utiliza esta informação para proteger a informação dos utilizadores dos spammers e phishers”. Todavia e como já vem sendo habitual, não existe nenhuma declaração oficial por parte da empresa que assegure que estas declarações são verdadeiras. Estas apps sociais, que encorajam o utilizador a reportar, em tempo real, o que está a fazer, permitem aos amigos, por exemplo, clicar e ouvir a mesma música que outro utilizador está a escutar (e a publicitar). E, como refere o The Economist, a empresa tem vindo a trabalhar e a fechar parcerias com um grupo de empresas, que inclui a Spotify, uma firma de música online, a Netflix, que presta serviços de video-streaming , a par de um conjunto de outras organizações, como o The Washington Post e o próprio The Economist. Ou seja, quanto mais o Facebook conseguir “aprender” sobre as vidas e interesses das pessoas, mais bem posicionado fica para lhes enviar publicidade direccionada e a persuadir as empresas a utilizar este valioso manancial de informações para venderem os seus produtos e serviços. Como afirma Sutton, da CNN, “o Facebook nunca escondeu o seu objectivo de levar as pessoas a partilharem o mais possível a sua informação, sendo que os benefícios para a empresa são óbvios: mais dólares provenientes da publicidade, dado que os anunciantes pagam mais por uma publicidade direccionada, a qual, de uma forma muito mais provável, poderá levar a acções concretas por parte dos consumidores”. O problema, alerta Sutton, é que “os benefícios para os utilizadores do Facebook são menos claros”. Com milhões de pessoas a partilharem automaticamente toneladas de novos dados sobre o seu quotidiano, “quem sabe que tipo de utilizações poderá a empresa encontrar para toda essa informação?”, questiona-se no editorial em causa. Ben Parr, do site sobre media sociais Mashable afirma, por seu turno, que “enquanto utilizadores, podemos sentir algum consolo com a ‘ilusão’ que podemos controlar com quem partilhamos os mais distintos aspectos das nossas vidas”. Mas para este analista, esta alteração para uma partilha passiva (na medida em que é automática) é “uma espada que atravessa o coração da privacidade”. De acordo com as indicações do próprio Facebook, é possível controlar os destinos das partilhas efectuadas. As novas aplicações não partilham nada sem permissão, mas basta dar permissão uma única vez para o efeito, quando as subscrevemos, para durar “para toda a vida”. Justin Brookman, do The Daily Beast, alerta para o facto de o Facebook “ter de assegurar que os seus utilizadores compreendem, na totalidade, as implicações destas novas aplicações antes de as subscreverem”. Brookman acrescenta, contudo, que se as pessoas tiverem consciência daquilo que estão a partilhar, então é possível considerar que existe “um valor potencial e real” nas aplicações agora lançadas. Ou seja, é uma questão de perspectiva. Mas a verdade é que, com tantas mudanças, existe já uma legião considerável de pessoas que se está a cansar de “viver” na rede social. O remédio pode parecer simples, mas não é tão fácil assim de tomar: a afeição por algo que mudou as nossas vidas já se transformou, para muitos, numa verdadeira dependência. E, como sabemos, nos casos em que tal acontece, não é de um dia para o outro que a cura acontece. |
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Editora Executiva