As ideias, os projetos, os movimentos que marcarão o futuro da nossa Igreja vão nascer ou ser transformados por estes dias de agosto de 2023. Aqueles dias em que todo o país, mas também o mundo inteiro, vê a alegria de ser cristão, sente o fervor da fé, experimenta de perto a felicidade de seguir Cristo
POR JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Para nós, portugueses, a Jornada Mundial da Juventude é uma confusão. Multidões de jovens, sempre ruidosos e turbulentos, que nos vêm ocupar as casas, os pavilhões, as estradas, os transportes. Além disso temos muitos estrangeiros, obras grandiosas, mudanças de rotina, despesas inesperadas, ruas cortadas, problemas de abastecimento, greves oportunistas. Enfim, uma confusão.

Por outro lado, concebido para os jovens do mundo inteiro, o programa da Jornada fica alheio à maior parte da população. Há muitos festivais, muitas celebrações, muitos movimentos, mas o povo de Lisboa é anfitrião, vizinho, mirone, não protagonista do evento.

É verdade que o Papa estará em Portugal, mas para falar a outros. Vem à Jornada, não ao país. Talvez só o tenhamos mesmo para nós nas duas horas em Fátima. Porque aí a Senhora é nossa. No resto, porém, são os jovens, sobretudo estrangeiros, que o ocupam.

Sendo assim, é compreensível que tanta gente local fuja de Lisboa nestes dias, desligue a televisão e o computador, tentando continuar a sua vida com o mínimo de interferência possível desta enorme confusão. Mas esse é o pior dos erros.

A Jornada Mundial da Juventude é uma das maiores graças que a Igreja portuguesa recebeu na sua história; e todos sabemos as gigantescas maravilhas com que o Senhor nos tem abençoado ao longo dos séculos, desde a vinda do apóstolo São Tiago à visita de Sua Mãe Santíssima, e depois. Temos justo orgulho e humildade nessa história única. Mas a Jornada não é história, é presença. É outra vez como estar na Cova da Iria em 1917.

Os olhos de toda a Igreja, a Igreja da Terra, do Céu e do Purgatório, estarão fixados no nosso país, como nunca antes. Os jovens são os protagonistas, é verdade, mas protagonistas de uma evangelização que se dirige a todo o mundo. Todos nós, como portugueses, somos anfitriões, mas também destinatários de toda esta graça. Receberemos aquilo que «os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem a mente conseguiu imaginar» (1Co 2, 9).

Além disso, a Jornada, tal como a vinda de São Tiago ou a visita de Maria Santíssima, vai, com a sua dinâmica, marcar todo o futuro da presença cristã neste território durante décadas. As ideias, os projetos, os movimentos que marcarão o futuro da nossa Igreja vão nascer ou ser transformados por estes dias de agosto de 2023. Aqueles dias em que todo o país, mas também o mundo inteiro, vê a alegria de ser cristão, sente o fervor da fé, experimenta de perto a felicidade de seguir Cristo.

A Jornada vai acontecer, o que quer que façamos. Ela é uma iniciativa de Deus através de toda a Igreja. Não a podemos evitar. E quando ela acontece, muda tudo. A não ser que não a deixemos entrar. Cada um de nós só controla o seu coração. E por isso pode impedir a Jornada de acontecer aí. Podemos fechá-la fora, fugir de Lisboa, desligar a televisão e computador, continuar a vida igual. Mas se a deixarmos entrar, ela transforma-nos. No grande vendaval do Espírito.

Esta última pista dá-nos, finalmente, a compreensão da confusão. Porque multidões ruidosas e turbulentas, estrangeiros, mudanças de rotinas e ruas cortadas são, há séculos, o símbolo do dia de Pentecostes. Quando o Espírito Santo sopra sobre o povo, depois da primeira vez há dois mil anos, naquela praça de Jerusalém, os sintomas são sempre iguais: «partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» (Act 2, 9-11). A Jornada é, simplesmente, o dia de Pentecostes, desta vez em agosto, e aqui no nosso bairro.

O segredo da Jornada é o fogo do Espírito. Assim, a única questão que vale a pena levantar estes dias, aquela que cada um de nós deve seriamente confrontar no seu coração, é esta: «No dia de Pentecostes, eu que faço?»

Economista, professor catedrático na Universidade Católica e Coordenador do Programa de Ética nos Negócios e Responsabilidade Social das Empresas

3 COMENTÁRIOS

  1. Obrigada João César das Neves. Tenho-o lido desde que me lembro, mas este texto parece um culminar de uma vida de testemunho de um caminho em Deus, para Deus. Sou muito grata por este seu dom oferecido a todos nós. Deus o abençoe a si, a todos os seus e a todos nós que nos levantamos apressadamento e vamos a caminho.

  2. Gostei imenso deste texto. Na verdade estes dias da JMJ é isso tudo que vai acontecer ,uma reviravolta, nas nossas cidades ,principalmente na de Lisboa,nas ruas, nas nossas paróquias ,nas nossas casas. Muita gente está revoltada, vão para longe,vão fugir de Lisboa porque vai ser uma confusão. Para mim vale a pena esta confusao, o Santo Padre o nosso querido Papa Francisco “o representante máximo de Cristo,que vem até nós ” acolhamo-lo abramos o nosso coração. Sejamos bons, façamos o bem,sem olhar a quem. Amemo-nos como Ele nos amou ,o resto vem por acréscimo. Obrigada João Cesar das Neves, a quem hoje tive o prazer de lhe dar a comungar o “Corpo de Cristo” na Igreja da Ameixoeira. Venha sempre. Obrigada e um abraço.

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