A cimeira dos 20 países desenvolvidos e emergentes mais importantes do mundo terminou em Los Cabos, no México, com um “plano de acção” que teve na mira a crise das dívidas soberanas na zona euro e a vulnerabilidade da economia global
O G20 – grupo dos 20 países desenvolvidos e emergentes – puxou dos galões e disse, em comunicado final, que é “um novo paradigma de cooperação multilateral”. A assunção desta missão geopolítica – acima do papel do G7 e do clube dos BRICS – surge na hora em que a crise das dívidas soberanas na zona euro, os impactos da desalavancagem no sistema financeiro e o risco de uma recaída económica global – como aconteceu em 1938 à escala global, na anterior Grande Depressão – aparecem à cabeça das preocupações do “Plano de Acção para o Crescimento e o Emprego de Los Cabos”, aprovado na cimeira que decorreu esta segunda e terça-feira no México. O tema da crise das dívidas soberanas na zona euro ocupou espaço predominante, a ponto da “fadiga” com esta crise por parte dos membros do G20 fora da zona euro ser evidente. Por seu lado, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, reagiu enervado aos jornalistas falando do início da crise financeira em 2007 com as práticas “não ortodoxas” da finança norte-americana, mas esqueceu a parte seguinte desta longa “cauda” da crise com a emergência da crise das dívidas soberanas na Europa. Pressão construtiva sobre a zona euro Como já tinha sido noticiado, a Alemanha cedeu no ponto do crescimento e, tudo o indica, na questão de “quebrar a cadeia de realimentação (feedback loop) entre as [dívidas] soberanas e os bancos”, como se afirma no comunicado final. A viragem para a tónica no crescimento veio enroupada com um conselho mais global muito explícito no ponto 5 das medidas do Plano de Acção contra os riscos imediatos: “Se as condições económicas se deteriorarem significativamente, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos e Rússia estão disponíveis para coordenar e implementar medidas adicionais de apoio à procura, tomando em consideração as circunstâncias e compromissos nacionais”. Trata-se, naturalmente, de uma formulação de compromisso, que deixa uma margem de interpretação sobre o grau de deterioração. No entanto, o comunicado e o Plano de Acção são explícitos que a consolidação orçamental nos países desenvolvidos deve “ser adequada ao apoio da retoma” no curto prazo. Uma menção especial é feita aos Estados Unidos para que “uma contracção orçamental em 2013 seja evitada”, prosseguindo uma linha de calibração entre consolidação orçamental de médio prazo e crescimento. Os países avançados e emergentes, onde houver margem orçamental, deverão deixar funcionar “os estabilizadores automáticos orçamentais”. No caso da zona euro, o comunicado final fala da “determinação” dos seus membros presentes na cimeira em “avançaram expeditamente com medidas de apoio ao crescimento, incluindo a conclusão do Mercado Único Comum, um melhor aproveitamento do Banco Europeu de Investimentos, obrigações para projectos-piloto, fundos de coesão e estruturais com vista a investimentos mais dirigidos, a par do compromisso de implementar a consolidação orçamental”. Por outro lado, a preocupação com evitar que as crises bancárias e financeiras de desalavancagem na zona euro penalizem as dívidas soberanas ainda mais, o G20 afirma em comunicado: “Apoiamos a intenção [da zona euro] em dar passos concretos em direcção a uma arquitectura financeira mais integrada, incluindo supervisão bancária, recapitalização e resolução e garantia de depósitos”. Uma abordagem que tem sido defendida por Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, e que é apoiada por diversos membros importantes da zona euro, como França e Itália, e especialmente tendo em vista o “convidado permanente” do G20 – Espanha (que não é membro do grupo, mas que ganhou esse estatuto de “convidado”) – que tem estado sobre pressão dos mercados da dívida. Segunda linha de defesa com 456 mil milhões Lagarde conseguiu atingir uma cifra de cerca de 456 mil milhões de dólares (cerca de 362 mil milhões de euros) de reforço, com o particular envolvimento do Japão, com 60 mil milhões de dólares, da Alemanha com 54,7 mil milhões, da China com 43 mil milhões, da França com 41,4 mil milhões e da Itália com 31 mil milhões. Muitos analistas referem que essa “segunda linha de defesa” tem em vista a crise da zona euro, caso os mecanismos europeus se atrasem (o próprio Mecanismo Europeu de Estabilização que deverá entrar em vigor a 1 de Julho ainda não foi ratificado pela Alemanha e pela Itália) ou se revelem insuficientes, dispondo de 500 mil milhões de euros.
* Jorge Nascimento Rodrigues é editor de www.gurusonline.tv, www.janelanaweb.com e geoscopio.tv. É igualmente Editor Executivo da Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão e colaborador do semanário Expresso. Artigo originalmente publicado na edição online do jornal Expresso e republicado com permissão. |
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