Caro colaborador/a: (…) certamente que desejava muito mais do que aquilo que aqui lhe entregamos. Decerto em vez de champanhe preferia esperança; no lugar de queijos e chouriços, seria melhor ânimo e alegria; para lá de vinhos e petiscos precisa de orientação, coragem, segurança. Mas presentes desses não seguem em cabazes. Eles aliás nem sequer vêm de fora, porque é de dentro que nascem. O sentido da vida não está no que nos acontece, mas no que fazemos com o que nos acontece
POR JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Caro/a colaborador/a,

Enviamos junto o habitual cabaz de Natal, que a empresa costuma oferecer aos seus membros nestas Festas. Queremos deste modo participar nas suas celebrações pessoais, como forma de lhe agradecer toda dedicação mostrada ao longo do ano. O nosso sucesso depende do esforço de cada um daqueles que dão a sua vida diariamente neste grande projeto coletivo. Quando na noite especial abrir o cabaz com a sua família, lembre-se daquela outra família que partilha consigo quotidianamente, em tempos tão difíceis, o trabalho e a iniciativa. Por isso lhe desejamos um Santo Natal e um maravilhoso Ano Novo.

Certamente que desejava muito mais do que aquilo que aqui lhe entregamos. Decerto em vez de champanhe preferia esperança; no lugar de queijos e chouriços, seria melhor ânimo e alegria; para lá de vinhos e petiscos precisa de orientação, coragem, segurança. Mas presentes desses não seguem em cabazes. Eles aliás nem sequer vêm de fora, porque é de dentro que nascem. O sentido da vida não está no que nos acontece, mas no que fazemos com o que nos acontece.

Alguns julgam encontrar a razão da sua existência nas festas, prazeres e sucessos. A publicidade, até da nossa empresa, costuma prometer nessas coisas a felicidade que todos procuramos. Mas, cedo ou tarde, todos acabamos por descobrir como é fútil essa ilusão. Para encontrar o significado da existência é preciso ultrapassar o matagal das emoções, rasgar o emaranhado dos sentimentos, romper a nuvem dos êxitos fugazes. Só assim, descendo ao interior de nós mesmos, atingimos o equilíbrio da justiça, a tranquilidade da amizade, a solidez da fidelidade. Por isso, a primeira certeza que este cabaz leva consigo é que o seu valor está, não no conteúdo, mas na forma como o vai usar e nas pessoas com quem o partilha.

Este primeiro passo é essencial, mas não chega. Só quem abandona o rebuliço do quotidiano e a superficialidade das sensações consegue, mergulhando em si, compreender a necessidade de um significado. Mas encontrar a questão não chega para descobrir a resposta. Penetrar no íntimo é reconhecer-se como enigma. No entanto, um enigma, enquanto permanece enigma, mantém-se sempre na frustração. A pergunta clama por uma resposta. E essa solução só pode vir de fora.

O ser humano, entrando dentro de si, sabe-se em busca de um significado. No entanto, depressa descobre que esse significado não pode vir apenas daí. Um problema nunca se resolve a si mesmo. Como uma fechadura, ele precisa de uma chave que, do exterior, o abra. Essa é a segunda certeza que este cabaz, não lhe podendo dar, pode lembrar. Lembra-a, não nas passas e azeitonas, mas noutro local. Porque, além de patés e broas, ele tem consigo um outro elemento decisivo. Um elemento que está no título: Natal.

«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-eterno, Príncipe da paz» (Is 9, 6). Esta é a resposta que os séculos esperavam. Este é o único caminho que deveras conduz à esperança, ao ânimo e alegria, à orientação, coragem e segurança.

Aquilo que o Menino trouxe mudou tudo para sempre. Mesmo na nossa empresa. Porque Ele diz: «Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la.» (Mt 16, 24). Ele afirma «Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.» (Mt 5, 5). «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a própria vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida?» (Lc 16, 26). Aqui está a solução do enigma da humanidade. Assim a vida ganha sentido, mesmo nos tempos difíceis que vivemos.

Esta é a Via Sacra, a via para a felicidade que o Natal nos dá. Se realmente neste Natal reencontrar esse caminho, se o levar consigo para a empresa, então o Ano Novo será verdadeiramente maravilhoso. Assim lhe desejamos um Feliz Natal.

A Administração

Economista, professor catedrático na Universidade Católica e Coordenador do Programa de Ética nos Negócios e Responsabilidade Social das Empresas