Não temos forma de saber se a velocidade que imprimimos às transformações vai ser suficiente para evitar a catástrofe a nível climático. Mas o acelerar dos Estados Unidos em direcção ao endereçamento das alterações climáticas e à chamada “Economia Verde” vem-se consolidando como uma nova tendência: recentemente, os cinquenta maiores empregadores privados do país não só assumiram publicamente a sua preocupação com as alterações climáticas, como também apresentaram estratégias para reduzir as suas emissões de carbono e de gases com efeito de estufa No passado mês de Outubro de 2012 era publicada por Ron Loch (Managing Director da unidade de Sustentabilidade da consultora de comunicação Gibbs & Soell) uma análise, na qual se dava conta de um facto algo surpreendente: 49 dos cinquenta maiores empregadores privados dos Estados Unidos assumiam publicamente a sua preocupação com as alterações climáticas. De facto, a análise dos relatórios de Sustentabilidade e websites institucionais destes cinquenta gigantes, revelou que os mesmos – à excepção da holdingBerkshire Hathaway – não referiam apenas essa preocupação, como também apresentavam estratégias para reduzir as suas emissões de carbono e de gases com efeito de estufa (GEEs). Deste grupo de empresas analisadas, quarenta apresentavam planos concretos de mitigação das alterações climáticas, bem como o progresso anual dos respectivos resultados nos seus relatórios de Sustentabilidade. Adicionalmente, 34 referiam-se às alterações climáticas como um “desafio chave” em termos ambientais e económicos a enfrentar. Um mês mais tarde, um grupo de redes internacionais de investidores institucionais emitia uma carta aberta conjunta endereçada aos governos das maiores economias mundiais sobre o mesmo tema. Este grupo, de que faziam parte o Institutional Investors Group on Climate Change (Europa), a Investor Network on Climate Risk (América do Norte), o Investor Group on Climate Change (Austrália e Nova Zelândia), o Asia Investor Group on Climate Change e o United Nations Environment Programme Finance Initiative, representavam, à data, investidores institucionais responsáveis por activos no valor de 22,5 triliões de dólares americanos. Nessa carta aberta, lançada em antecedência à Conferência sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas em Doha, os investidores destacam a manutenção do aumento das emissões de GEEs a nível global e o aumento da frequência de eventos climáticos extremos a que se vem assistindo, tendo como consequência efeitos nefastos dramáticos nas comunidades e economias locais, nas empresas e nos investimentos. Consideram que as políticas actuais dos governos onde as maiores reduções de emissões de GEEs são necessárias são insuficientes para responder aos impactos das alterações climáticas, e que demoras adicionais nessas respostas representam risco acrescido para os investimentos e poupanças de milhões de cidadãos. Nesta carta, os investidores apelam a:
Os investidores referem estarem já a agir no que toca a esta problemática, nomeadamente ao considerar os riscos climáticos nos seus investimentos, ao privilegiar investimentos em tecnologias limpas e energias renováveis e de baixo carbono, ao encorajar as empresas a reduzir as suas emissões de GEEs e aumentarem a sua eficiência energética, ao medir e divulgar as emissões dos seus portfolios de investimentos, e ao persuadir as entidades reguladoras a exigir às empresas a divulgação dos impactos das alterações climáticas nos negócios. Baseando-se na sua experiência, este largo grupo de investidores avança ainda alguns pontos que consideram ser chave para uma política de alterações climáticas e energia limpa bem sucedida, que leve à atracção de investimentos de baixo carbono:
O consolidar de uma tendência Os governos e os partidos políticos, prisioneiros habituais dos processos e ciclos eleitorais, não têm manifestado a inquietação e o foco nas questões da Sustentabilidade e alterações climáticas que a sua importância para a sociedade humana global justificava plenamente. Na Europa, seguimos concentrados na crise económica (e bem, embora o pudéssemos fazer de forma não exclusiva), enquanto na campanha presidencial americana pudemos, por exemplo, assistir a Mitt Romney a defender o aumento de centrais energéticas a carvão enquanto se dirigia aos mineiros desempregados. Ecos a Oeste e a Este da nova arena competitiva
Já reeleito, no discurso sobre o estado da união de Fevereiro deste ano, Obama abordou claramente a questão das alterações climáticas, sublinhando que se haviam conseguido progressos, tais como a duplicação da eficiência de combustível dos motores dos automóveis e da quantidade de energia gerada por fontes renováveis no país, criando milhares de empregos no processo. Apesar de mencionar também o decréscimo das emissões de carbono nos últimos quatro anos, o presidente reforçou que era necessário fazer mais – pelas gerações vindouras – para combater as alterações climáticas, apontando o aumento da frequência e intensidade dos fenómenos extremos recentes como sintomáticos. Exortando à acção antes que seja tarde demais, o presidente propôs-se a tomar acções que reduzam a poluição, preparem as comunidades para as consequências das alterações climáticas e acelerem a transição para fontes de energia e tecnologias mais limpas. Culminou com a proposta de utilizar parte das receitas geradas pelos combustíveis fósseis para financiar a investigação de soluções energéticas para automóveis que libertassem estes – bem como as famílias e empresas americanas – da dependência do petróleo; e com o objectivo ambicioso de reduzir para metade o desperdício energético dos lares e empresas americanas nos próximos vinte anos. Obama destacou também que, há alguns anos atrás, outros países lideravam o mercado das energias limpas, mas que os Estados Unidos estavam já a mudar essa realidade, salientando ainda que a China estava a investir nestas áreas. De facto, também a nova liderança chinesa declarou já o “progresso ecológico”, onde se inclui a mitigação das alterações climáticas, como prioridade, e indicou o caminho do investimento de baixo carbono. Apesar do uso de carvão para fins energéticos continuar a aumentar na China, segundo o Center for American Progress,a quota das energias não geradas por combustíveis fósseis no país situou-se acima dos 9% em 2012, estando planeado que atinja os 11,4% em 2015. Do discurso do presidente Obama e do comportamento das maiores empresas americanas descrito no primeiro parágrafo deste texto, sobressai aquela que se vem consolidando também como uma nova tendência: o acelerar dos Estados Unidos em direcção ao endereçamento das alterações climáticas e à chamada “Economia Verde”, definida pelas Nações Unidas como uma economia em que o crescimento dos rendimentos e do emprego é impulsionado por investimento público e privado – bem como reformas políticas e regulamentação – que conduzem à redução das emissões de carbono e GEEs, ao aumento da eficiência energética e no uso dos recursos naturais, prevenindo e evitando a degradação e a perda da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas naturais. Esta é apontada pela organização como o caminho para a competitividade através de serviços de alto valor acrescentado, para a conservação do Capital Natural e para uma maior inclusão social e emprego. Uma questão de velocidade Como cidadãos deste planeta único, não temos forma de saber se a velocidade que imprimimos às transformações vai ser suficiente para evitar a catástrofe a nível climático. Apenas sabemos que sistemas complexos, não lineares – como o Clima – aguentam sofrer pressões consecutivas em determinado sentido, até que um ponto crítico é atingido, e uma mudança irreversível ocorre no sistema. Metaforicamente, a dinâmica é por vezes ilustrada como um frasco de ketchup, em que o ketchup vai sendo acumulado na boca do frasco, até que sai de repente. A impressão final que fica é que as notícias e a acções, apesar de positivas e oriundas de actores cada vez mais diversos e insuspeitos, continuam a ter lugar de forma demasiado paulatina. |
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Consultor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Organizações. É fundador e Managing Partner da Big Marble Consulting, empresa especializada em consultoria estratégica nestas áreas de actuação