Pouco ambicioso para uns, suficientemente promissor para outros, o novo plano de combate às alterações climáticas anunciado por Barack Obama na passada terça-feira será a última oportunidade para cumprir uma das suas promessas eleitorais. Resistindo aos bloqueios republicanos e aos senhores do carvão, Obama tem também de convencer o resto do mundo que, desta vez, a América joga a sério na cruzada contra o aquecimento do planeta
Assim, Obama concentrou-se num conjunto de medidas executivas que podem ser implementadas sem a ajuda do Capitólio e foi na Georgetown University, em Washington D.C. que, na terça-feira passada, apresentou o seu novo plano para o combate às alterações climáticas. A nova estratégia identifica três objectivos por excelência: a redução das emissões de carbono nos Estados Unidos, a preparação da nação para os efeitos provocados por um planeta em aquecimento e a liderança dos esforços globais para o combate às alterações climáticas. O VER apresenta as principais medidas unilaterais anunciadas em conjunto com algumas reacções que já se fizeram sentir face ao plano anunciado.
O corte nas emissões de carbono Sob as ordens directas de Obama, a EPA deverá propor a regulamentação para as centrais já existentes até 2014 e implementá-la até Junho de 2015. Para muitos dos observadores, é este é o principal eixo do plano apresentado pelo presidente norte-americano, o qual, contudo, não deixa de gerar polémica e críticas, nomeadamente por parte dos republicanos e dos grupos lobistas da indústria. Um dia antes do anúncio do plano, sete senadores enviaram uma carta ao presidente pedindo para abandonar a ideia, que consideram como “uma perfeita maluquice” numa iniciativa patrocinada por uma organização denominada “Count on Coal” [Conte com o Carvão]. Os críticos argumentam eu as novas regulamentações propostas servirão apenas para aumentar os preços da energia para os consumidores e reduzir postos de trabalho. Como se queixava um senador republicano do Kentucky, Mitch McConnell, “declarar uma guerra ao carvão é o mesmo que declarar uma guerra aos empregos” [os Estados Unidos possuem mais de 6500 centrais termoeléctricas]. Grande parte deste objectivo não é mais do que a continuação dos progressos levados a cabo no primeiro mandato de Obama, incluindo a aceleração do licenciamento das energias renováveis em terras públicas (com aposta particular na energia solar e eólica), a modernização da rede eléctrica e a implementação de normas mais rígidas de economia de combustível para os veículos. Se os ambientalistas aprovam estas novas medidas, a verdade é que criticaram o facto de Obama não ter estabelecido um “preço” para o carvão, algo que reivindicam há vários anos. Ainda neste eixo em particular, Barack Obama comprometeu-se a investir oito mil milhões de dólares em iniciativas inovadoras relacionadas com combustíveis fósseis e em projectos de eficiência que apoiem mais investimentos em tecnologias limpas. O plano do presidente estabelece ainda como meta a redução da poluição de carbono em pelo menos 3 mil milhões de toneladas, cumulativamente até 2030, com a implantação de parâmetros de eficiência para vários tipos de instalações e prédios federais. Como comentou Nicholas Stern, presidente do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment na London School of Economics, o discurso de Obama foi extremamente claro no que respeita à escala dos perigos provenientes das alterações climáticas e da responsabilidade dos Estados Unidos e dos demais países para agirem o mais rapidamente possível. Para Stern, “os Estados Unidos, com a sua tecnologia e empreendedorismo, têm toda a capacidade para liderar esta nova ‘história de crescimento com base em baixos níveis de carbono’”, afirmando também que o presidente esteve certo em colocar uma enorme ênfase na nova regulamentação para centrais termoeléctricas mais limpas, acelerar as renováveis, as normas de eficiência energética nos edifícios, veículos e aparelhos eléctricos, em conjunto com a importância da liderança, por parte do sector público, na implementação destas normas. O especialista da London School of Economics afirmou ainda que a visão do presidente para o papel do gás natural – enquanto projecto de médio prazo – está correcta e que poderá constituir a ponte necessária para as tecnologias limpas. Para os políticos e media norte-americanos que têm por hábito limitar a questão das emissões de carbono a uma “guerra” entre duas facções opostas – a promoção do crescimento e do emprego versus a protecção do ambiente – Obama tem também resposta: a criação de novos postos de trabalho está assegurada pela aposta nas tecnologias limpas e mais eficientes e as oportunidades de investimento em todo o mundo são igualmente muitas. “A economia pobre em carbono pode criar um enorme potencial de crescimento para o sector privado nos Estados Unidos e em todo o mundo”, assegura Nicholas Stern.
Preparar os Estados Unidos para o impacto das alterações climáticas Obama prometeu igualmente a construção de hospitais sustentáveis e resilientes para fazer face às condições climáticas extremas através de uma parceria público-privada com a indústria da saúde. Um “toolkit” centralizado que ofereça as ferramentas e a informação necessárias para os líderes estaduais, locais e do sector privado poderem trabalhar junto das comunidades é outra das iniciativas, em conjunto com a denominada Climate Data Initiative, que visa o acesso à partilha de “informação transparente” que possa estimular o empreendedorismo, a inovação, a descoberta científica e os benefícios públicos.
Liderar os esforços internacionais numa luta que é de todos No palco internacional, e de acordo com os observadores, um dos pontos mais substantivos das intenções da administração é negociar o fim das barreiras comerciais com vista a estimular o livre comércio de bens ambientais, incluindo as tecnologias de energias limpas como a solar e a eólica. Por outro lado, Obama fez saber que os Estados Unidos não planeiam financiar qualquer empreendimento movido a carbono fora das suas fronteiras, com excepção para os países mais pobres e sem alternativas e, em paralelo, apostar em instalações que sejam capazes de capturar o carbono emitido. Por outro lado, o interesse de Obama em dedicar uma grande parte do seu plano climático ao envolvimento internacional (e ter os Estados Unidos a liderar os esforços – depois da vergonhosa posição da América nos protocolos e cimeiras climáticas anteriores) deve-se à verdade dolorosa de que, sem a cooperação dos países mais poluidores do mundo, nenhum esforço realizado pelo seu país servirá de muito. A China, cujo poderoso crescimento económico tem vindo a ser literalmente estimulado por quantidades gigantescas de carvão, é agora responsável por mais de um quarto das emissões mundiais de acordo com a US Energy Information Administration. Os Estados Unidos foram responsáveis por “apenas” 17% das mesmas. Ou seja, convencer a China, bem como outras economias de rápido desenvolvimento como a índia, por exemplo, a limitar as suas emissões, é tão crucial para combater o aquecimento global como é a tarefa de convencer o resto do mundo desenvolvido a desistir da sua dependência face ao petróleo e ao carvão. E se Obama realmente deseja ficar na história como o presidente norte-americano que mais contribuiu para a mitigação dos danos ambientais, a sua última hipótese será a de o fazer na próxima cimeira climática das Nações Unidas que terá lugar em 2015, em Paris. O papel da China é, como habitualmente, dúbio nesta questão. A gigantesca nação tem vindo a defender uma maior margem de manobra para os países em termos de emissões, comparativamente com as nações ricas da Europa e da América do Norte. Adicionalmente, e apesar de Beijing já se ter comprometido a diminuir a intensidade do carbono na economia chinesa, o responsável pelas negociações climáticas, Su Wei, já veio rejeitar qualquer compromisso, anunciando que as emissões de carbono por parte do seu país continuarão a crescer até que o seu produto interno bruto per capita atinja uma dimensão cinco vezes superior à que tem na actualidade. O mundo precisa que a China se comprometa com reduções significativas o mais rapidamente possível, o que nos leva de volta ao plano de Obama para os Estados Unidos. Como é sobejamente conhecido, os esforços já efectuados para se chegar a um acordo internacional sobre as alterações climáticas descarrilaram sempre devido a uma substancial falta de confiança (e de vontade) entre os países e, em particular, devido à total ausência de empenho por parte de América de refrear os seus próprios excessos. Mas, a não ser que os Estados Unidos cumpram realmente as intenções anunciadas pelo seu Presidente, não parecem existir razões para que o governo de Beijing ou de outras nações potencialmente emissoras contribuam para um sucesso que só assim poderá ser denominado se for realizado a nível global. |
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