Independência patronal e realização pessoal são os factores mais aliciantes para a criação de negócios próprios, segundo o Relatório Mundial de Empreendedorismo 2013 que, nesta 4ª edição, põe em relevo o potencial desta área no actual contexto global, avaliando os principais obstáculos à criação de auto-emprego. Portugal segue a tendência dos mais de vinte países analisados em todo o mundo e, apesar de ter motivação e desejo para empreender, arrisca muito pouco, por receio de falhar A maioria dos portugueses mostra uma atitude positiva para empreender, mas 83% não arrisca, porque tem medo de falhar. Esta é uma das principais conclusões, a nível nacional, do Relatório Mundial de Empreendedorismo 2013, conduzido pela Amway Europa. Em declarações ao VER, Monica Milone comenta os resultados em Portugal deste estudo que foca as principais tendências mundiais na área do empreendedorismo. A General Manager da Amway Portugal e Espanha sublinha que nesta edição se pretendeu, essencialmente, “perceber o potencial do empreendedorismo a nível global”, bem como “os receios das pessoas em criar o seu próprio emprego”. Desenvolvido pela responsável por um dos maiores negócios de venda directa a nível mundial, em cooperação com o Instituto de Estratégia, Tecnologia e Organização, da Universidade de Munique, o Amway Global Entrepreneurship Report teve por base um estudo de mercado realizado no segundo trimestre de 2013 pelo instituto GfK Research, de Nuremberga, o qual inquiriu cerca de 26 mil pessoas, em 24 países, incluindo pela primeira vez alguns países emergentes e potências fora da comunidade europeia, como a Austrália, o Japão, a Colômbia, o México e os EUA. Na sua 4ª edição consecutiva (e segunda em que Portugal participa), o relatório centra-se, em 2013, na temática “Encouraging Entrepreneurs – Eliminating the Fear of Failure”. O objectivo é motivar os empreendedores a ultrapassarem o seu receio de falhar, o qual tem sido um dos maiores obstáculos a que invistam no seu próprio negócio, de acordo com os resultados das edições anteriores deste estudo anual. Os resultados globais do relatório divulgado recentemente comprovam que este receio se mantém, com mais de 2/3 dos inquiridos a assumir efectivamente o medo de falhar como a principal condicionante para iniciar o seu próprio negócio.E porquê? Principalmente devido aos encargos financeiros inerentes e à ameaça da crise económica.
Jovens qualificados com mais potencial para empreender Na opinião de Monica Milone, estes resultados são assertivos, porquanto “a criação do próprio negócio frui de uma reputação muito positiva em todos os 24 países participantes do estudo, principalmente junto dos novos países emergentes e potências fora da comunidade europeia”. Analisando os resultados dos diferentes grupos demográficos, é de notar uma atitude mais positiva entre os entrevistados com menos de 30 anos de idade (75%) e aqueles que têm formação académica (81%). Já os inquiridos com mais de 60 anos de idade manifestam, em 47% dos casos, uma atitude menos positiva perante o empreendedorismo. Quanto aos resultados por região, a zona centro de Portugal e o Algarve são as que encaram o empreendedorismo de forma menos positiva, com apenas 50% e 37% dos inquiridos a considerá-lo positivamente, respectivamente. A região de Lisboa e o Litoral Norte são as que apresentam uma atitude mais positiva para querer empreender. De uma forma geral os portugueses revelam um fraco potencial empreendedor, considerando os 39% de respostas negativas a esta questão. Apenas 32% dos inquiridos imagina iniciar o seu próprio negócio, o que representa um decréscimo de 8%, face aos resultados do relatório de 2012. Contudo, os jovens entrevistados com idade inferior a 30 anos garantem que se imaginam a criar o seu próprio negócio, em 45% por casos (mais 8% que em 2012), assim como os que têm um grau académico superior (47%). Independência patronal é a maior motivação
A oportunidade de atingir “realização pessoal e possibilidade de concretizar as suas próprias ideias” é outro dos aspectos mais valorizados pelos portugueses no que respeita a criarem o seu negócio (31%). Para os licenciados, este é mesmo o aspecto mais atraente para iniciar um negócio próprio, identificado por 48% dos respondentes. Relativamente ao potencial do empreendedorismo perante o emprego, os portugueses encaram-no positivamente enquanto “um regresso ao mercado de trabalho e uma alternativa ao desemprego”, em 31% dos acasos, o que representa um registo acima da média internacional: 20%. Já as “perspectivas de obter uma segunda fonte de rendimento” não merecem tanto entusiasmo, alcançando apenas 17% dos inquiridos – valor inferior à média internacional, de 29%. Querer ser empreendedor para ter uma “melhor compatibilidade de horários com a família, lazer e carreira” também não é uma opção muito estimada pelos portugueses: apenas 14% dão valor a esta vantagem, percentagem que se situa abaixo da média registada no total de países – 24%. Ao VER, a General Manager da Amway Portugal e Espanha sublinha que o facto de “o dinheiro não ser o mais importante na criação de um negócio próprio, mas sim a independência patronal, que se manifestou como a principal razão para as pessoas empreenderem” constitui “uma importante conclusão a nível global e nacional”.
Crise alimenta medo de falhar Monica Milone não tem dúvidas: o empreendedorismo “deveria ser encorajado por pessoas mais experientes e que tenham tido sucesso nos seus negócios”. Na sua perspectiva, é fundamental “as pessoas perderem o receio de falhar e, tendo role-models a seguir, poderem tornar-se potenciais empreendedores”. Admitindo que um dos resultados-chave deste relatório é exactamente o medo de fracassar, a responsável nota que este, que é o principal obstáculo ao empreendedorismo, “curiosamente foi assinalado por países que mostraram uma atitude muito positiva” perante o mesmo, mas que “não se imaginam a começar o seu próprio negócio”. O medo de fracassar está presente em todos os grupos demográficos analisados e resulta de diversos factores, entre os quais a “ameaça da crise económica” é o mais preponderante, reunindo 61% de respostas a nível nacional, contra uma média internacional de 31%. Seguem-se os “encargos financeiros até ao fracasso da empresa”, com 39%, face aos 41% da média internacional; e a “ameaça de desemprego”, preocupante para 23% dos portugueses inquiridos (e para 15% do total de respondentes, globalmente). Registando quase o dobro do receio de que a crise económica seja um obstáculo para se tornarem empreendedores do que a média global registada nesta questão, os inquiridos portugueses identificam-se assim com os espanhóis e os italianos, no que às perturbações e preocupações relacionadas com a actual situação económico-financeira diz respeito. De sublinhar que os potenciais empreendedores portugueses com idades abaixo dos 30 anos revelam ainda mais receio do que os restantes participantes em Portugal. Neste grupo a identificação desta ameaça cresce para 87%. Factores como “ser forçado a assumir responsabilidades” (17%, face à média internacional de 13%), “consequências legais como leis e ações judiciais” (16%, contra 13%), “não ter uma segunda oportunidade” (8%, contra 6%), “desilusão pessoal” (8%, contra 14%), “desiludir a família” (6%, contra 9%) e, “prejudicar a reputação perante os amigos” (3%, contra 6%) foram também apontados pelos participantes do estudo como razões para o seu medo de fracassar. Financiamento público e apoio a start-ups são indispensáveis Menos burocracia relacionada com a criação de novos negócios é o segundo factor mais relevante para os portugueses inquiridos, com 46% de respostas, valor também superior à média internacional (29%). A terceira condição para a criação de negócio mais votada pelos participantes, com 32%, é o desenvolvimento de formações relacionadas com empreendedorismo e o aumento de competências para o negócio. Seguem-se a criação de modelos de negócio de baixo risco, com 28% (face à média internacional de 23%) e, por último, mentoring e apoio em diversas redes de negócio, com 25% (face à média de 24%).
Considerando o sector político, os meios de comunicação e a população em geral, a maioria dos participantes no Relatório Mundial de Empreendedorismo 2013 afirma que a sociedade em geral é pouco receptiva e apoiante, no que toca aos assuntos relacionados com empreendedorismo. Cerca de 47% dos portugueses inquiridos assinala esta condição, a qual se verifica na maioria dos países em que se vive uma situação económico financeira menos favorável. Sobre este aspecto, as opiniões a nível global são bastante dispersas, com 46% dos participantes a assumir o oposto, isto é, que a sua sociedade encara o empreendedorismo de forma positiva. Na análise de Rui Baptista, professor catedrático em Empreendedorismo Internacional na Brunel Business School, em Londres e, membro do Departamento de Engenharia e Gestão do Instituto Superior Técnico, “a cultura empreendedora não se adquire de um dia para o outro. A sociedade tem de encorajar as pessoas a empreender, valorizando a ousadia dos que empreendem, ensinando os jovens a empreender, facilitando o financiamento daqueles que arriscam, e protegendo aqueles que não têm sucesso”. Segundo o investigador e especialista na área do empreendedorismo e inovação, que esteve em Lisboa, para participar na apresentação de resultados do relatório da Away, “os jovens podem estar muito motivados para o empreendedorismo mas, para criarem um negócio rentável e consistente, para investirem num projecto pessoal, é essencial terem role-models, mentores que os guiem e ajudem a criar uma rede de contactos”. Em suma, “é essencial investir na educação e desburocratizar o processo de start-up”. Para o professor, o Estado deve ter um papel relevante para o desenvolvimento de potenciais empreendedores, “facilitando a obtenção de financiamento e estendendo aos empreendedores os benefícios sociais dos trabalhadores por conta de outrem”. E o potencial económico “de indivíduos com educação superior e espírito empreendedor” deve ser encorajado, “ajudando-os a colocar os seus planos em prática e, reduzindo a sua percepção de risco.”
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Jornalista