Na conferência anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, dedicada ao tema “Ética e Diversidade Geracional no trabalho”, marcaram presença em mesa-redonda moderada por Alberto de Castro, representantes dos grupos empresariais Nabeiro e Ascendi, o IAPMEI e a academia.
POR RAQUEL CAMPOS FRANCO e PILAR VALINHAS
No âmbito de mais uma conferência anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, desta vez dedicada ao tema “Ética e Diversidade Geracional no trabalho”, marcaram presença em mesa-redonda moderada por Alberto de Castro, representantes dos grupos empresariais Nabeiro e Ascendi, o IAPMEI e a academia.
Para um grupo empresarial que emprega até cinco gerações da mesma família, o Grupo Nabeiro, as diferenças geracionais são reconhecidas e valorizadas. Em sua representação, Ana Damião, responsável de compliance do grupo, testemunhou como o Comendador Rui Nabeiro corporizava esse valor, num espírito tão “para a frente” e inovador que sempre demonstrou. Na prática, gerir as diferenças geracionais no grupo significa ter um cuidado muito próprio quanto aos anseios e ambições de cada geração. A título de exemplo, partilhou como lançaram recentemente dois inquéritos para fomentar esse diálogo – um sobre Ética e Diversidade Geracional e outro sobre clima organizacional que integrou questões específicas sobre ética com o objetivo de fomentar a reflexão em torno deste tema.
A promoção da intergeracionalidade é uma iniciativa transversal, reconhecida como um catalisador da inovação, outro valor pelo qual a empresa se diferencia. De facto, afirmou, o conhecimento e a experiência dos colaboradores mais velhos, reconhecidos como representantes dos valores e princípios da empresa, permitem preservar a Memória do Grupo e alavancar a crescente maturidade e facilidade de adaptação tecnológica dos mais novos. Tudo isto faz parte do reconhecimento da necessidade de adaptação constante das empresas do grupo, que diz “tem de ser reinventar a cada dia” de modo a dar resposta às especificidades de cada geração, com o intuito de reter talento sem esquecer as raízes.
Em tom de alerta geral aos gestores das empresas, Adelaide Martins, em representação do Grupo Ascendi, defendeu como uma oportunidade o tema da transição para um envelhecimento saudável, para manter a motivação dos trabalhadores e controlar a rotatividade. Para o efeito, a gestão da comunicação, a gestão de expetativas e o respeito pelas diferenças geracionais são centrais. A responsável de Recursos Humanos partilhou ainda que resultado da pandemia, ocorreram alterações permanentes na organização do trabalho, como por exemplo a adoção de trabalho não presencial, que impactam várias áreas de responsabilidade social. Nas suas palavras, há novos “desafios no dia-a-dia, na gestão das equipas, devido a diferenças de valores, formas diferentes de comunicar e principalmente de gerir expectativas”. Continuou, alertando para o impacto da tecnologia e em particular da Inteligência Artificial (IA), que vai levantar desafios na velocidade de adaptação da força de trabalho, que consequentemente vai ter de fazer o seu upskiling e reskiling de forma muito mais acelerada. O Grupo está atento à necessidade de comunicação e reflexão sobre a “miscigenação” necessária entre gerações, que acredita conduzir à felicidade e bem-estar dos colaboradores e logo à estabilidade da empresa. Por último deixou o desafio ao Estado relativamente à idade da reforma, motivada por temas como a sustentabilidade da Segurança Social, que deve ser repensada também à luz da IA e o seu impacto em algumas profissões, como por exemplo a dos programadores de software.
Nesta última dimensão encontrou eco nas palavras de Eduardo Paz Ferreira. De facto, num olhar a partir da academia e do Direito, o professor não só partilhou experiências de vida na primeira pessoa, que realçam as capacidades, motivação e dedicação das gerações mais velhas. Salientou também a obsolescência da Lei da Reforma, que sendo de 1929, está completamente desadequada ao tempo presente, assim como políticas corporativas que, na sua opinião, deveriam ser repensadas à luz do talento que é desperdiçado.
Num olhar a partir do setor público, Marisa Garrido, membro do Conselho Executivo do IAPMEI, reforçou a importância da valorização das pessoas, como o talento que estas representam e não como um custo. Ressalvou a Inteligência Emocional e a experiência acumulada dos colaboradores como um fator crítico e insubstituível para o sucesso das organizações. Prosseguiu defendendo a evolução da padronização para a personalização, onde é valorizada a especificidade de cada colaborador, ou seja, a identificação e exploração dos seus talentos únicos, que podem ser colocados “à disposição das organizações” para o seu crescimento.
Apresentou duas vertentes de trabalho no IAPMEI: uma focada na discussão interna sobre o papel das pessoas, integrada no tema da sustentabilidade no pilar do Governance, e outra relacionada com a colaboração com uma associação responsável pela recolocação de profissionais qualificados em empresas. Através de uma adequada gestão de projetos, inclusivamente a tempo parcial, este talento experiente, de perfil altamente empreendedor e conhecedor, permite o apoio a empresas requerentes como start-ups, empresas familiares e PMEs.
Nas suas notas finais, alinhando as diversas intervenções, Alberto de Castro destacou, entre outros, como o idadismo pode ser ultrapassado com o que numa Universidade Católica se chama o “primado da pessoa humana”. O humanismo, a família, aquela predisposição para não olhar as pessoas apenas como custos. E, neste sentido, salientou a capacidade Grupo Nabeiro na criação de um ecossistema, com expressão territorial, mas que o grupo também tem procurado levar ao resto do país. Como contraponto ao idadismo destacou a referência de Eduardo Paz Ferreira à discriminação da “gente mais nova” em contexto de trabalho, que também acontece e que nos deve fazer refletir. Finalmente, e como forma de combater estas expressões de discriminação, destacou o papel que as escolas e as organizações em geral podem e devem ter em ensinar as pessoas a terem uma vida mais plena.
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