POR SOFIA SANTOS
O Acordo de Paris exige uma diminuição das emissões de CO2 das economias, de forma a que a economia mundial caminhe para uma economia neutra em carbono (net zero) na segunda metade do século. Com a sua ratificação por mais de 55 países que representam mais de 55% das emissões mundiais de CO2 (incluindo USA e China), o Acordo passa a ser vinculativo a partir de dia 4 de Novembro de 2016.
Neste contexto é necessário que as empresas pensem estrategicamente este tema, de modo a poderem posicionar-se de forma competitiva no mercado a médio e longo prazo. Ou seja, é necessário que as empresas consigam identificar de que forma este enquadramento irá afectar o seu negócio, e que processos de inovação poderão ser desenvolvidos para que consigam manter e aumentar a sua competitividade no futuro.
[quote_center]É fundamental que o sector financeiro consiga incorporar informações ambientais na sua análise de risco[/quote_center]
Para que isso aconteça é também fundamental que as empresas compreendam os riscos e as oportunidades que este novo contexto traz, a vários níveis:
- Na gestão de projectos com as comunidades e no relacionamento com os stakeholders: com a necessidade de se desenvolver uma actividade económica neutra em carbono, e no contexto dos Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável, o diálogo com os stakeholders locais vai ganhar cada vez uma maior relevância nas empresas, sendo necessário utilizarem-se as técnicas de envolvimento apropriadas;
- Na cada vez maior incorporação dos temas ambientais na valorização das empresas, quer ao nível da inclusão destes temas na sua contabilidade (capital natural), quer nas análises realizadas pelos analistas de risco e fundos de investimento. O papel do mercado financeiro nestes processos é actualmente híbrido: por um lado temos o mercado dos fundos socialmente responsáveis a crescer, mas por outro as empresas com melhores práticas não conseguem spreads mais vantajosos aquando dos empréstimos ou outros tipos de investimentos, parecendo não existir uma discriminação positiva generalizada por parte do sector financeiro. Surgem no entanto algumas boas notícias nesta matéria: o Financial Stability Board (uma organização internacional que emite recomendações ao G20 e que emite pareceres em prol da estabilidade dos mercados financeiros, liderada pelo Governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney) criou uma “Task Force on Climate-related Financial Disclosures” que irá apresentar no final deste ano um relatório ao G20 com recomendações sobre a informação que os gestores de fundos, bancos e empresas devem reportar relativamente aos riscos que as alterações climáticas podem trazer ao negócio. Talvez desta forma o sector financeiro consiga incorporar novas informações na sua análise de risco;
- Na identificação de novos modelos de negócio e novos produtos onde a eficiência energética e a inovação têm um papel fundamental na promoção de um novo crescimento económico. Neste âmbito, por exemplo, o papel das florestas como sumidouro de carbono pode constituir uma nova área de valorização para toda a fileira florestal.
Para tudo isto é essencial adquirir novas competências que terão de ser aprendidas, ou na escola, ou nas empresas. As equipas transversais terão de conseguir juntar pessoas de áreas distintas e encontrar uma linguagem comum que permita compreender os desafios e as suas interligações e, acima de tudo, encontrar soluções. Estas competências são usualmente chamadas de Green Skills. E de acordo com a Comissão Europeia, até 2020 poderiam ser criados cerca de 20 milhões de postos de trabalho verdes na Europa.
[quote_center]No Plano Junker, uma das prioridades é o investimento em projectos que promovam a descarbonização[/quote_center]
O Plano Junker para o investimento europeu enfatiza como uma das prioridades o investimento em projectos que promovam o Acordo de Paris, ou seja, a descarbonização. Este plano reconhece também que uma completa implementação deste Acordo implicará um investimento de 12 mil milhões de euros em eficiência energética e em tecnologias de baixo carbono entre 2015 e 2030, chamando a atenção para a necessidade de se alinhar o sistema financeiro com o desenvolvimento sustentável.
Em Portugal, um dos países europeus mais ricos ao nível do capital natural, faz todo o sentido incorporar estes desafios na estratégia de crescimento e pensar quais os modelos de negócio e tecnologias que se poderão desenvolver neste contexto. A conferência anual do BCSD pretendeu contribuir para esta discussão e para a potencial identificação de caminhos que a economia portuguesa, e as suas empresas, poderão vir a desenvolver numa escala temporal até 2030.
CEO da Systemic