Há 5 anos consecutivos que a DECO PROTESTE publica um barómetro anual com vista a avaliar a capacidade das famílias portuguesas no que respeita ao pagamento das despesas do dia-a-dia em seis áreas por excelência: alimentação, habitação, educação, mobilidade, saúde e lazer. Sem grandes surpresas, os resultados referentes a 2022 (num universo de quase 5 mil inquiridos em Dezembro último) são os piores desde 2018, com 74% das famílias a defrontarem-se, todos os meses, com dificuldades financeiras substanciais e oito por cento a encontrarem-se numa situação ainda mais crítica. A alimentação, a habitação e a mobilidade são as áreas mais afectadas e poupar passou a ser uma miragem
POR HELENA OLIVEIRA

De acordo com o Barómetro da DECO PROTESTE (apresentado pelo 5º ano consecutivo) e comparativamente a 2021, os custos com a alimentação, as despesas com a habitação e a mobilidade estão no topo das dificuldades sentidas pelas famílias portuguesas, com um aumento significativo face ao ano transacto de 15%, 5% e 4%, respectivamente, sem contarmos com o asfixiante aumento das taxas de juro nos primeiros meses de 2023, bem como com o aumento da inflação que, e como sabemos, se reflecte em particular nos preços dos bens essenciais e nos combustíveis. 

O barómetro anual da DECO foi publicado a 15 de Março, data que assinala o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, sendo que os direitos parecem estar cada vez mais “tortos”, na medida em que as famílias do continente e das ilhas têm cada vez menos condições para enfrentar a realidade da crise que se vive em Portugal (e não só).

Os números divulgados pela DECO PROTESTE são, no mínimo, preocupantes, com cerca de três quartos (74%) das famílias a defrontarem-se, todos os meses, com dificuldades financeiras substanciais e oito por cento a encontrarem-se numa situação ainda mais crítica. As despesas com a mobilidade, a alimentação, a saúde, a habitação, o lazer e a educação – ou o que corresponde àquelas que que são consideradas como essenciais – entram na categoria da “dificuldade de pagamento”, não sendo difícil aferir que para além de se apertar cada vez mais o cinto, há que fazer escolhas quase impossíveis, na medida em que, e na generalidade, são muitas as famílias que já não conseguem arcar com todas estas despesas, em particular com as mais prementes.

De acordo com o comunicado emitido pela DECO PROTESTE, “as principais parcelas que geram constrangimentos na gestão orçamental dos consumidores dizem respeito às despesas com o carro – combustíveis, manutenção e seguros (67%) –, alimentação – carne, peixe e alternativas vegetarianas (59%) –, férias grandes – viagens e estadias (57%) –, cuidados dentários (55%) e manutenção da casa – obras, remodelações (54%)”. Todavia e como comenta a sua Directora de Comunicação e Relações Institucionais, Rita Rodrigues, estas dificuldades não são novas, apenas se agravaram com as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando “ a nu todas as fragilidades da nossa economia e a debilidade económica da maioria dos agregados familiares”, afirma. 

Alimentação e habitação no topo dos constrangimentos financeiros

A DECO PROTESTE analisa igualmente, e há mais de um ano, os aumentos sofridos no cabaz alimentar e as flutuações das taxas de juro e alerta para o facto de que em Fevereiro de 2022, o valor do cabaz alimentar era de 185 euros, registando um aumento de 20% no mês homólogo em  2023, chegando assim aos 222 euros. A mesma entidade sublinha ainda que no ano transacto, 44% das famílias declararam sentir dificuldades em pagar a sua alimentação, tendência que tem vindo a piorar desde o ano em que deflagrou a pandemia (2020). 

No que respeita ao cabaz alimentar, mercearia, carne, peixe, vegetais e frutas são os produtos que os consumidores portugueses maiores dificuldades têm em adquirir, com mais de 50% dos agregados a assumir que o aumento dos preços nestes itens em particular os coíbe de os comprar com a regularidade a que estavam habituados. 

Por seu turno, a habitação – cujo custo, seja na compra ou no arrendamento é, como se sabe, dos mais elevados a nível europeu – está a tirar o sono a inúmeras famílias portuguesas, as quais, com os sucessivos aumentos das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu, sentem cada vez mais dificuldades em conseguir cumprir o seu pagamento. De acordo com a análise da DECO PROTESTE, “quase metade das famílias portuguesas (44%) assume ter dificuldades em pagar a sua renda ou o seu empréstimo”, com as respectivas despesas de manutenção a pesar igualmente no orçamento, o que está a contribuir, de forma colossal, para diminuir o dinheiro remanescente no final do mês.

Poupança? Nem vê-la

Consequentemente, e como alerta o comunicado, também a capacidade de poupança está a atingir números preocupantes, com quase 75% das famílias a assegurarem que é quase impossível, ou verdadeiramente inexequível, esticar o seu rendimento para poupar nem que seja uma pequena quantia. De acordo com o Barómetro em causa, apenas 7% das famílias portuguesas tiveram facilidade em aumentar as suas poupanças e, para 2023, estima-se que mais de 80% não consigam amealhar nem um cêntimo.

Como comenta Rita Rodrigues, “a incerteza da duração da guerra e os seus efeitos, a ausência de medidas que protejam os consumidores e a crise financeira que vem asfixiando a classe média na última década fazem antever uma evolução pouco auspiciosa da qualidade de vida em Portugal”. E apesar de considerar positivos os mecanismos do Estado para ajudar os portugueses, Rita Rodrigues alerta igualmente para o facto de estes terem de ser “rápidos e estruturados”, fazendo um alerta para que os governantes estejam verdadeiramente atentos “à realidade e às dificuldades concretas que a maioria dos portugueses tem de enfrentar diariamente”.


Açores com piores resultados, Coimbra, Beja, Lisboa e região autónoma da Madeira com os menos maus

O Barómetro em causa apresenta um índice que avalia a capacidade financeira das famílias em 2022 – o qual atingiu o valor mais baixo dos últimos cinco anos (42,1 numa escala de 0 a 100, em que o valor mais elevado traduz-se em melhor capacidade financeira) – e é no arquipélago açoriano que se regista os mais preocupantes resultados (37,2), com os distritos de Vila Real (38) e Aveiro (39,4) a ocuparem também as piores posições. Os distritos de Coimbra (47,1) Beja (43,5), Lisboa (43,5) e a Região Autónoma da Madeira (45,1) são aqueles que se apresentam como aqueles que maior capacidade financeira usufruem no que respeita à avaliação por áreas geográficas. 


Fonte: DECO PROTESTE

Nota: 18 soluções para sobreviver à crise

Editora Executiva