Centrando a sua intervenção na reinserção profissional, familiar e social de “pessoas sem comunidade que são colocadas perante a falência de si mesmas”, o Vale de Acór tem por missão dar uma resposta efectiva ao problema emergente da toxicodependência, como explica, em entrevista, a directora da Comunidade Terapêutica desta IPSS. A capacitação dos utentes a partir do reforço da sua autonomia foi recentemente distinguida, através de um projecto de formação em cozinha dirigido a doentes com duplo diagnóstico O projecto Vale de Acór “nasceu do empenho da Igreja, nomeadamente do então bispo de Setúbal, D. Manuel Martins”, concretizando-se em 1994, com a constituição da Associação Vale de Acór – que, desde então, actua na recuperação de toxicodependentes. Em entrevista, Filipa Líbano Monteiro explica que a IPSS intervém “com competência e pertinência junto de pessoas dependentes de drogas e álcool, oferecendo-lhes comunidade e (re)educando-as no encontro com a sua humanidade”. No âmbito da sua intervenção, a associação acolhe, recupera e reinsere os “novos pobres” da nossa sociedade, explica a directora da Comunidade Terapêutica do Vale de Acór: toxicodependentes e alcoólicos, incluindo toxicodependentes com problemas psiquiátricos (Duplo Diagnóstico) e toxicodependentes reclusos e ex-reclusos. “Geralmente aqueles que acolhemos são pessoas sem comunidade que são colocadas perante a impotência ou falência de si mesmas e, por isso mesmo, são incapazes de activar os seus recursos pessoais para reagir de um modo construtivo”. A IPPS utiliza o método terapêutico “Projeto-Homem” (ver Caixa), que se baseia numa forma de intervenção fundamentalmente educativa que “procura a redescoberta da vida como oportunidade dada ao Homem para ser feliz”. Segundo Filipa Líbano Monteiro, neste método a atenção “é centrada no homem e não na droga”.
Quais são os objectivos do método terapêutico-educativo do Projecto-Homem, que fundamenta a sua acção na dignidade de cada pessoa? Actuamos na dependência tendo em conta quatro vertentes fundamentais: Como funcionam as principais etapas de Intervenção neste método, da Equipa de Intervenção Directa à Comunidade Terapêutica, até à transição para a fase final de Reinserção Social? Estas equipas funcionam em articulação com o Sector de Primeiras Entrevistas, que realiza com o toxicodependente um trabalho de motivação, com vista à entrada na Comunidade Terapêutica. Paralelamente é tratado todo o processo de entrada do utente no Vale de Acór, nomeadamente ao nível de requisitos médicos e de articulação com a rede de apoio existente. Após o internamento, o programa terapêutico-educativo que propomos é realizado em duas etapas. A primeira é a Comunidade Terapêutica. Aqui é trabalhada a vida de relação, a história pessoal e a área emocional da pessoa toxicodependente, por forma a promover a sua motivação e o sentido para uma mudança de vida. A intervenção terapêutico-educativa realiza-se através de acompanhamento individual, grupos de auto-ajuda, seminários formativos, e grupos de expressão de sentimentos, como terapia pela arte, dramatizações, bonding, acompanhamento familiar paralelo, ou grupos de prevenção de recaída. A estruturação do dia-a-dia é realizada com especial atenção ao desenvolvimento de competências e ao rigor no cumprimento das tarefas diárias. Após esta primeira fase, que dura em média doze meses, é realizada a transição para a Reinserção Social. Esta fase final é composta por um período residencial (com duração média de um a três meses) e por um período em ambulatório, mais longo. Nesta altura, a intervenção tem como objectivo último a plena inserção profissional, familiar e social dos utentes, o que é conseguido através do reforço da sua autonomia e da consolidação de um estilo de vida saudável. Qual é média mensal de utentes em tratamento e de utentes que transitam para a fase de Reinserção Social no Vale de Acór, e quantas pessoas já acolheram no total?
O alcance da nossa intervenção ultrapassa em muito o que conseguimos quantificar. Há muitas histórias que não chegaram ao fim do programa, mas cuja passagem pela nossa comunidade marcou uma diferença no rumo seguido. Há também aqueles que não conseguem recuperar nem à primeira, nem à segunda, mas acabam sempre por nos voltar a procurar. Porque sabem que não desistimos deles. A Comunidade Terapêutica da Quinta de S. Lourenço está licenciada pelo IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência) e tem 77 camas convencionadas. As mensalidades são as estipuladas pelo Ministério da Saúde, mas saliente-se, no entanto, que nenhum utente deixa de entrar na Comunidade Terapêutica por apresentar impossibilidade financeira, sendo cada caso analisado individualmente. Desde que começámos a trabalhar, em 1994, e até ao final de 2012, o Vale de Acór já acolheu na Comunidade Terapêutica cerca de 2900 pessoas, e acompanhou em ambulatório mais de 1600 pessoas. Estão em tratamento uma média mensal de noventa pessoas (setenta na Comunidade e vinte na Reinserção). A Associação desenvolve ainda outros projectos, com destaque para a área da intervenção em meio prisional. Que acções destaca a este nível? O contacto com os reclusos com problemas de dependência devido ao consumo de drogas abre a possibilidade de internamento na Comunidade Terapêutica, desde que a situação jurídico-penal o permita e se verifiquem os requisitos de admissão. Desde o início da nossa presença no EP de Setúbal até à data, inscreveram-se perto de 120 reclusos, tendo cerca de trinta ingressado na Comunidade do Vale de Acór para tratamento. A Equipa de Intervenção Directa também se desloca aos Estabelecimentos Prisionais das zonas de Lisboa e Setúbal sempre que é solicitada, para realizar entrevistas de motivação ao tratamento. O Vale de Acór foi recentemente distinguido com o projecto vencedor da votação online da Visão Solidária. De que modo revela esta distinção o objectivo último para que trabalham – a reinserção social dos vossos utentes?
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Jornalista