Os riscos decorrentes da perda acelerada de biodiversidade e serviços de ecossistemas são crescentes, mas há inúmeras oportunidades para que as empresas nacionais se posicionem na liderança de um modelo sustentável, com vantagens competitivas. Porque “reduzir o impacto das actividades empresariais no capital natural é crucial para o desenvolvimento económico e social”, o BCSD Portugal traçou um roteiro para a integração da B&SE nas estratégias corporativas O BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável lançou a brochura Integrar a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas na Estratégia Corporativa, que visaconsciencializar as empresas sobre a importância da gestão de risco do capital natural. O documento contém um roteiro base para apoiar as empresas na definição da sua estratégia na área da B&SE, que inclui os passos a dar, os stakeholders a contactar e envolver e as ferramentas a consultar. A brochura enumera ainda riscos e oportunidades de posicionamento do negócio e “de antecipação para os desafios que o sector privado enfrenta e enfrentará neste âmbito”, a vários níveis: operacionais, regulatórios, reputacionais, mercado e financeiros. Desenvolvida pelo grupo de trabalho dos Ecossistemas do BCSD Portugal, que integra a Águas de Portugal, Corticeira Amorim, EDP, ERM, grupo Portucel Soporcel, Instituto Superior de Gestão, Jerónimo Martins, Planbelas e REN, a publicação sintetiza o actual contexto e as tendências potencialmente mais relevantes para a gestão da B&SE pelas empresas, alertando os líderes empresariais para o papel que a biodiversidade assume hoje, no desenvolvimento económico e social.
“As empresas dependem dos ecossistemas” O Índice de Sustentabilidade Empresarial 2010 indagou sobre as práticas de sustentabilidade nas actividades nacionais, tendo como base cinco indicadores: energia e clima; biodiversidade e serviços dos ecossistemas; produção e consumo sustentável; liderança estratégica; e capital humano. O indicador biodiversidade e serviços dos ecossistemas é o que apresenta resultados médios mais baixos e preocupantes. SegundoFernanda Pargana, secretária-geral do BCSD Portugal, é necessário “sensibilizar as empresas para o papel que a biodiversidade tem na competitividade económica, no emprego, na qualidade de vida e na segurança”, já que “reduzir o impacto das actividades empresariais no capital natural é crucial para o desenvolvimento económico e social”. É que, como defende o BCSD, as empresas não só afectam os ecossistemas como também dependem deles – a indústria farmacêutica beneficia dos recursos genéticos da natureza; as agro-indústrias dependem da polinização natural, do controlo de pragas e da erosão; o turismo beneficia do património natural e cultural, as seguradoras beneficiam da protecção a riscos naturais que alguns ecossistemas fornecem. Sabia, por exemplo, que por causa da desflorestação o mundo perde serviços dos ecossistemas avaliados entre 2 e 5 mil milhões de dólares (USD) por ano? Ou que, pelo contrário, as águas interiores (rios e lagos) fornecem produtos e serviços com valores anuais estimados entre 1779 e 13487 USD por hectare? E que os insectos polinizadores contribuem com cerca de 190 mil milhões de USD/ano para a produtividade agrícola? Estes números, publicados em 2010 no relatório TEEB – The Economics of Ecosystems and Biodiversity, são exemplos de uma dinâmica que se estende a todos os sectores de actividade, já que todos eles dependem, directa ou indirectamente, de produtos fornecidos pelos ecossistemas. E causam impacto nos serviços que estes prestam, contribuindo para a sua degradação ou para a sua melhoria, como alerta o BCSD: sejam locais ou globais, quando negativos “tais impactos ambientais prejudicam economicamente outras actividades que dependem desses ecossistemas para operar”. Hoje, é já possível provar que, a prazo, esta situação à escala global ameaçará a sustentabilidade das empresas que mantiverem uma estratégia Business as Usual, conclui a organização de líderes empresariais. Torna-se assim imperativo “promover a alteração dos padrões de produção e consumo, visando a utilização racional e optimizada dos serviços que a B&SE prestam”, objecto do roteiro que integra a brochura agora disponível para o meio empresarial. Demonstrando como os riscos associados à perda de biodiversidade e à degradação dos ecossistemas, sendo reais, podem ser transformados em novas oportunidades, se forem geridos de forma proactiva (ver Caixa), o documento promove ainda a antecipação da integração destas matérias na tomada de decisões e na definição das estratégias das empresas, bem como a sua participação em processos públicos decorrentes da crescente incorporação da B&SE nas políticas e mecanismos de regulação.
Financiamento ‘custo-eficiente’ Hoje a importância da B&SE para o desenvolvimento económico e social é reconhecida internacionalmente. Convenções internacionais e políticas públicas europeias e nacionais nesta matéria de B&SE influenciam cada vez mais a actividade das empresas. Em 2010 foi aprovado o Plano Estratégico para a Biodiversidade, a ser implementado pelos diferentes países signatários (Portugal incluído) que participaram na 10ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (CBD-COP-10), em Aichi-Nagoya, Japão. Entre vinte objectivos para 2020, o BCSD Portugal destaca quatro que constituem “potenciais riscos regulatórios futuros”: incorporar os valores da biodiversidade nos sistemas contabilísticos e relatos públicos; eliminar progressivamente ou reformular os incentivos prejudiciais à biodiversidade e às funções dos ecossistemas; restaurar pelo menos 15% de ecossistemas degradados; e reduzir para metade a taxa de perda de todos os habitats, incluindo florestas. Em Maio de 2011, a Comissão Europeia adoptou uma nova estratégia que estabelece o quadro de acção da União Europeia para os dez anos subsequentes, com vista a atingir o objectivo central para 2020 nesta matéria – travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços dos ecossistemas na UE – e, na medida em que seja viável, recuperar essa biodiversidade e esses serviços, “intensificando o contributo da EU” para o cumprimento dos compromissos globais adoptados no Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020. Para tanto, esta estratégia está a ser implementada mediante um quadro que envolve a Comissão Europeia e os Estados-Membros, em parceria com as partes interessadas e a sociedade civil.
A nível nacional, e no âmbito de uma revisão da Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB), deverá existir uma articulação com os objectivos quer da Estratégia global definida em 2010, quer da Estratégia europeia, promovendo a integração da B&SE nas estratégias e nos processos de tomada de decisão empresariais, e implementando meios e métodos de financiamento (como a valoração e pagamento dos serviços dos ecossistemas e a promoção da revisão e actualização de medidas de incentivo à conservação e uso sustentável da B&SE) “eficazes, transparentes, orientados, adequadamente monitorizados, custo-eficientes e não perversos”, tal como recomendou às nações a CBD-COP 10. Todas estas convenções colocam sobre as empresas “uma grande pressão, no sentido de medirem e comunicarem as suas acções para conservar, utilizar e partilhar, de forma sustentável, os benefícios da biodiversidade e dos ecossistemas”, acredita o BCSD. Integração passo-a-passo Passo-a-passo, e por esta ordem, a organização deve desenvolver um Business Case, caracterizando as relações directas e indirectas do B&SE com a actividade da empresa; avaliar a relevância da B&SE para o seu negócio, identificando as questões mais relevantes para a empresa – como “Que políticas, práticas e procedimentos internos podem ajudar a realizar uma gestão de risco mais eficaz?”, ou “Que recursos (financeiros e ao nível de competências e Recursos Humanos) é possível alocar para melhorar a informação interna sobre esta matéria?”; definir uma estratégia, explicitando o compromisso interno e externo da sua política de gestão, e definindo metas e mecanismos de acção, incluindo parcerias; implementar um plano de acção, identificando responsáveis operacionais, formas de financiamento, calendário de execução e indicadores de progresso; e, por último, medir e rever periodicamente o processo, associando o sucesso do mesmo à avaliação de desempenho dos seus responsáveis e avaliando a sua execução, ao mesmo tempo que se implementam medidas de melhoria contínua. Como alerta o BCSD Portugal, só uma mudança de paradigma que introduza boas práticas a este nível na gestão organizacional contribuirá favoravelmente para uma economia de baixo carbono e mais eficiente na utilização de recursos, para liderar na investigação e inovação, para adquirir novas competências e para gerar empregos e oportunidades de negócio.
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Jornalista