Competitividade, liderança e responsabilidade social: pontualidade nos pagamentos! Portugal precisa de assegurar definitivamente uma trajectória de convergência real com os países mais desenvolvidos da União Europeia e, sobretudo, de estar preparado para acompanhar o processo de retoma de níveis de crescimento mais expressivos e ambiciosos. Contudo, sabemos que só será possível cumprir esta ambição através de um aumento significativo e sustentado da produtividade e da competitividade da economia portuguesa. Vivemos hoje num contexto especialmente difícil no que respeita às condições de financiamento da economia onde as tradicionais desvantagens das PME no acesso ao financiamento tendem a agravar-se. Esta circunstância traduz-se, inevitavelmente, numa penalização adicional ao seu esforço de desenvolvimento ou consolidação. Mas, seria um erro pensar que, sem resolver a macro questão do acesso ao financiamento, pouco ou nada se pode fazer. É nesta perspectiva que se configuram as duas grandes prioridades que inspiram o foco das políticas públicas empresariais: dinamizar a inovação e aumentar as exportações. A experiência diz-nos que a melhor resposta no apoio aos grandes desafios que ameaçam, sobretudo, as empresas de mais pequena dimensão, deve ser encontrada através de iniciativas abrangentes, flexíveis e mobilizadoras de toda a sociedade. É certamente importante que estas iniciativas captem o envolvimento das empresas a que se destinam mas, por questões de eficácia e eficiência, devem também assegurar a participação das suas diversas instituições de suporte. Assim, no âmbito da sua missão como agência pública de suporte às PME e à inovação, o IAPMEI procura identificar as reais necessidades das empresas e responder com a disponibilização de produtos/soluções úteis para o reforço da sua capacidade de interpretação dos mercados e, em consequência, da definição de estratégias empresariais mais competitivas e, a prazo, mais sustentáveis. Neste caso, a colaboração no projecto AconteSer traduz um exemplo de uma actuação pró-activa e concertada, numa lógica de valorização de sinergias, que contribui não só para minimizar as falhas de mercado, como também para acelerar as dinâmicas positivas emergentes na sociedade. O projecto AconteSer apresenta como principal objectivo a melhoria da competitividade das micro, pequenas e médias empresas nacionais e define, desde logo, três compromissos fundamentais: pagar a horas aos fornecedores, ter em especial atenção o projecto de vida dos colaboradores e promover as condições necessárias para um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Estes compromissos surgem, claramente, alinhados com o trabalho diário que realizamos no sentido de promover a Responsabilidade Social como um dos vectores da inovação, da competitividade e da sustentabilidade das estratégias de desenvolvimento empresarial. A esta vertente acresce ainda, pela sua relevância, a atenção conferida aos processos de reforço das capacidades endógenas das empresas de uma forma cada vez mais consistente e qualificada. Pela sua dimensão e acrescido impacto nas actuais circunstâncias de mercado, quero destacar a abordagem à promoção da pontualidade nos pagamentos. Desde logo é de salientar a oportunidade que o projecto proporciona para uma ampla divulgação dos resultados do estudo recentemente realizado no âmbito do projecto [sob a coordenação da Augusto Mateus e Associados]para caracterização da situação e quantificação dos principais impactos da prática corrente de incumprimento nos prazos de pagamento. Será, certamente, mais difícil ficar indiferente e insistir na prática de atrasar os pagamentos muito para além do razoável, quando se é confrontado com informação quantificada do tipo: “a prática de incumprimento dos prazos de pagamento em Portugal destrói anualmente catorze mil postos de trabalho (…) Portugal, perde por ano, cerca de seiscentos milhões de euros, equivalentes a 0,4% do PIB, já que circulam com atraso, entre as empresas, montantes da ordem dos 48 mil milhões de euros”. Nesta matéria, pela metodologia e configuração que apresenta, o projecto AconteSer contribui para promover esse movimento de sensibilização e de mudança de atitudes. Contribui também para consolidar, nos actuais líderes e gestores, uma visão mais responsável e inovadora, nomeadamente, através da proposta de vinculação ao compromisso com as boas práticas de mercado, da proposta de adesão a um “código de conduta” específico e de um amplo processo de divulgação de diversas ferramentas de apoio à gestão. Para além dos benefícios financeiros óbvios e imediatos, temos ainda a percepção da relevância do impacto (da regularização nos prazos de pagamento) na qualidade das estratégias empresariais. É cada vez mais consensual reconhecer que a qualidade das estratégias empresariais e as suas probabilidades de sucesso estão directamente relacionadas com a capacidade de desenvolver bens (ou serviços) de características inovadoras e alto valor acrescentado. É, também, cada vez mais evidente a percepção de que os valores associados à “Responsabilidade Social” corporativa devem ser devidamente incorporados nestas estratégias empresariais – inovadoras e competitivas – sob pena de se comprometerem os resultados esperados. As práticas socialmente responsáveis são sempre desempenhos diferenciadores que contribuem para uma notoriedade mais positiva junto do mercado e para o acréscimo de competitividade das empresas. São sobretudo indispensáveis para aquelas que actuam (ou que pretendam actuar) nos mercados externos mais sofisticados e mais atentos ao impacto da actividade dos seus fornecedores numa sociedade mais equilibrada e sustentável. É justo referir que, em termos gerais, ao longo dos últimos anos, temos registado alguns progressos nesta matéria. Estes progressos traduzem-se, sobretudo, no aumento do número de empresas que – em Portugal – aderem, monitorizam e reportam as suas boas práticas de “Responsabilidade Social”. Mas, a verdade é que a grande maioria das Pequenas e Médias Empresas permanece pouco sensibilizada e exibe défices de aderência muito significativos. Sabemos que, para as empresas de menor dimensão, esta circunstância está normalmente associada à fragilidade dos seus modelos de negócio, às competências de gestão disponíveis e a diversas lacunas em matéria de informação/conhecimento. Esta situação traduz-se numa vulnerabilidade acrescida para este tipo de empresas e apela ao desenvolvimento de acções que contribuam para uma melhor apropriação das diversas dimensões da sustentabilidade e para uma consequente definição de estratégias de desenvolvimento mais competitivas e sustentáveis. A nossa experiência confirma a necessidade de se continuar a investir recursos e conhecimento para ampliar a base de empresas portuguesas que se mostram sensíveis a estes temas. Valorizamos, por isso, a disponibilidade de metodologias e instrumentos que permitam às PME adoptar e desenvolver processos e práticas de responsabilidade social. Estou certo que a metodologia, o esforço e o empenho colocados na dinamização do projecto AconteSer asseguram, para além de um efeito demonstrador significativo, um forte contributo para acelerar o processo de generalização de uma liderança bem mais informada, responsável, inovadora e competitiva. |
|
Presidente do Conselho Directo do IAPMEI