O Movimento “Mulheres pelo Clima” reconhece que as mulheres e as meninas são um dos grupos mais afetados pelas alterações climáticas e que estão na linha da frente dos seus impactos. Tem como missão promover o papel das mulheres dos países de língua portuguesa como agentes ativos das comunidades e empresas na proteção dos oceanos e na ação climática e luta contra a discriminação de género, tendo lançado o seu Manifesto em Setembro de 2022. E é importante que saibam que o Movimento “Mulheres pelo Clima” não é só das mulheres. É de todos. Já somos muitas, mas podemos ser muitos! SEJAMOS TODOS!
POR MARIA JOÃO RAMOS
Sim, a COP27 começou. O Secretário-geral das Nações Unidas diz que o mundo ruma para o “inferno climático” e o “suicídio coletivo”. Multiplicam-se artigos que falam em catástrofes e que nos deixam em depressão “climática”. Ainda por cima chove “a potes” lá fora à hora que escrevo isto e passou um tornado de baixa intensidade por Lisboa que provocou o caos e diversos estragos. Mas há três dias, a 7 de novembro, estavam 23 graus em Lisboa. Quem é que ainda acha que não se passa nada?
O nosso primeiro-ministro, no entanto, deu-me um bocadinho de esperança quando afirmou no seu discurso na COP27, no Egito, que Portugal está no bom caminho. Valha-nos isso. E eu acredito, também acho que está.
Mas logo a seguir vem a pergunta. O que interessa que Portugal esteja no bom caminho se quase todos os outros países não estão? O que interessa falarmos em cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com uma guerra aqui à porta que começa a ficar esquecida nos media mas lembrada sempre que vamos ao supermercado ou pagamos a renda da casa? O que interessa estarmos no bom caminho se as desigualdades continuam a ser tão marcadas e vincadas de país para país? A mim parece-me irónico e que estamos a caminhar ao contrário.
Na COP27 estão muitos temas em cima da mesa. Neste caso, “em cima da Agenda”. Todos eles importantes. Aliás, qual deles o mais importante? Mais ambição, maior compromisso; cenários de redução de emissões que respondam à questão fundamental de justiça e equidade; perdas e danos climáticos; financiamento da adaptação; a guerra na Ucrânia e o mix energético internacional; a ajuda internacional climática aos países em desenvolvimento; 1.5 ºC? 1.8 ºC? 2 ºC? 2.8 ºC? Em que é que ficamos? Onde é que estamos? Para onde caminhamos? Porque não sei quanto a vocês, mas eu preciso de algumas respostas porque não quero ir parar ao inferno, nem ao climático nem a nenhum.
Há muitas respostas para estas questões, mas há uma que não me sai da cabeça: AÇÃO. Todos e cada um de nós. A fazer a parte que nos compete e a ajudar a fazer a parte que compete a todos.
E o que vos quero falar é de um tema que está presente nas Agendas das COP há muitos anos: a ligação entre as mulheres e o clima. Parece irrelevante depois das questões acima? Não é. E vejamos porquê. Não vou falar de uma forma sexista ou feminista. Nada disso. Quero falar como um apelo à Ação. Porque temos de começar por algum lado, porque temos de defender o que acreditamos, porque sabemos que o clima e a ação climática (ODS 13) é transversal a todos os outros ODS. E, por isso, está diretamente e intrinsecamente ligado às desigualdades e à forma como as mulheres e as meninas são afetadas pelas alterações do clima. Basta apenas pensar que estamos a realizar uma COP em África, um continente que contém dos países mais pobres e vulneráveis às alterações climáticas. E é também em África que as alterações climáticas não são vividas da mesma forma por homens e mulheres. Os impactos das alterações climáticas são desproporcionados. Enquanto as nações africanas estão entre as menos responsáveis por contribuir para as emissões globais, as populações africanas correm um risco significativamente maior de sofrer os efeitos negativos das mesmas, devido à sua dependência generalizada do ambiente natural.
Mas não é só em África. A verdade é que normas e leis sociais explícitas e implícitas impuseram poderes, papéis e responsabilidades diferenciados a homens e mulheres em todos os aspetos da vida. As meninas e as mulheres têm uma responsabilidade desigual em garantir alimentos, água, energia e outros recursos vitais, bem como em cuidar dos jovens e dos idosos – o que as coloca em maior risco de sofrer impactos climáticos prejudiciais. Por exemplo, as meninas e mulheres são frequentemente as que mais sofrem quando ondas de calor, secas, tempestades ou outros eventos climáticos extremos ocorrem. Enfrentam complicações físicas e mentais, suportam o fardo de viajar mais longe para recolher alimentos escassos, água e lenha, e são muitas vezes obrigadas a ficar para trás em zonas propensas a catástrofes para cuidar dos mais vulneráveis.
Além disso, as meninas e mulheres têm sido impedidas de participar plena e equitativamente no movimento global de ação climática. Continuam a enfrentar violência e assédio específicos de género como resultado do seu ativismo climático, permanecem sub-representadas nas negociações climáticas globais, e os grupos liderados por mulheres não recebem financiamento suficiente para as suas soluções climáticas.
É neste cruzamento, equilíbrio e aproximação entre os direitos humanos e a ação climática que nasce o Movimento “Mulheres pelo clima [Women 4Our Climate], dos países de língua portuguesa para o mundo” (v. vídeo) promovido pela Business as Nature, que junta mulheres de todas as geografias e das mais diversas áreas e que dá resposta aos compromissos assumidos pelas Partes na COP 20, em Lima, através do Lima Working Program on Gender (LWPG) – (artigos 17º e 18º), que aprovou a necessidade de promover a igualdade de género nas ações de resposta às alterações climáticas. Vai também ao encontro da Resolução 76/300 de 2022 da Assembleia Geral das Nações Unidas relativa à declaração do meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito humano onde se enfatiza que todos sofrerão os efeitos agravados das crises ambientais, se não cooperarem agora para evitá-los.
O Movimento “Mulheres pelo Clima” reconhece que as mulheres e as meninas são um dos grupos mais afetados pelas alterações climáticas e que estão na linha da frente dos seus impactos e tem como missão promover o papel das mulheres dos países de língua portuguesa como agentes ativos das comunidades e empresas na proteção dos oceanos e na ação climática e luta contra a discriminação de género.
É preciso agir. Temos de começar por algum lado. Começámos por construir um Manifesto e envolver os diferentes países de língua portuguesa porque estes estão presentes nos diferentes continentes e conseguimos desta forma abranger diferentes culturas e promover esta união através da língua. Desta forma ampliamos o Movimento em diferentes geografias na concretização dos seus objetivos.
Suportamos o nosso Manifesto e a nossa Ação nos diversos ODS porque todos eles se interligam e são muito transversais. Entre os ODS mais diretamente associados aos objetivos do Movimento, estão naturalmente o ODS 5 Igualdade de Género e o ODS 13 “Ação Climática”, mas também o ODS 4 “Educação de Qualidade” ODS 6“Água Potável e Saneamento; ODS 7 “Energias Renováveis e Acessíveis, ODS 11 “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, ODS 12 “Produção e Consumo Sustentáveis”, o ODS 14 “Proteger a Vida Marinha e o ODS 17 “Parcerias para a implementação dos Objetivos”, fundamental para ampliar e fazer crescer este Movimento que é de todos e para todos.
Por fim, atuamos suportados em 6 pilares que podem ser consultados no Manifesto: Política e Ativismo Climático; Empoderamento e capacitação; Empreendedorismo sustentável; Ciência, tecnologia e conhecimento; Divulgação, Comunicação e Participação; Cooperação e Criação de Redes.
Voltamos à palavra-chave: Ação! Colocar ações no terreno que contribuam para a concretização dos objetivos do nosso Manifesto. É esta a pretensão, a intenção, a ambição.
E voltamos à COP, porque para além de todos os temas em “cima da Agenda” é preciso cada vez mais promover a participação ativa das mulheres nos momentos relevantes da política e diplomacia climática a nível internacional, nomeadamente nas Conferências das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, para a Biodiversidade ou para a Água e incentivar os países, as cidades, e as organizações a contribuírem para um maior envolvimento das mulheres na tomada de decisões para enfrentar a crise climática e para identificar e implementar as ações necessárias aos processos de adaptação e de construção de um futuro neutro em carbono;
E é importante que saibam que o Movimento “Mulheres pelo Clima” não é só das mulheres. É de todos. Já somos muitas, mas podemos ser muitos! SEJAMOS TODOS!
Nota:
Este Movimento foi lançado pela Business as Nature no passado dia 28 de setembro e tem vindo a recolher subscrições de diversas personalidades que se juntaram desde a primeira hora, nomeadamente diversas embaixadoras acreditadas em Portugal, cientistas, académicos, jornalistas, entidades oficiais, como o MAAC, a CPLP, a UCCLA, a CIG a PpDM, municípios (Cascais, Ovar, Gouveia, Fundão, Matosinhos) e empresas (Navigator, AON, GET2C, ISQ, CTT, Grupo Nabeiro, etc), ONGs (Casa Comum da Humanidade, Zero). Temos já representados mais de 20 países diferentes, contando com todos os países de língua portuguesa, e já mais de uma centena e meia de subscritores.
Assinatura online do Manifesto em nome individual ou institucional:
Consultora de Estratégia e Comunicação para o Desenvolvimento Sustentável