Com algumas contas já feitas, parece que os ganhos superam as perdas, quando o tema é relativo à transição súbita e sem pré-aviso que as organizações foram obrigadas a fazer na altura em que o país foi forçado a fechar portas pela primeira vez. Colocar, de um dia para o outro, largos milhares de trabalhadores em regime de trabalho remoto representou uma verdadeira odisseia e ninguém acreditaria que iria correr tão bem. Mas, e como testemunham algumas empresas ouvidas pelo VER, doze meses passados, há que destacar a excelente capacidade de adaptação e o esforço partilhado em prol de um bem que se quis comum
POR HELENA OLIVEIRA
Quando, há um ano, milhões de trabalhadores em todo o mundo receberam, por parte das suas chefias, a indicação de que iriam trabalhar para casa, deverão ter sido muito poucos aqueles que tiveram noção de que esta situação atípica se iria prolongar por mais do que uns poucos de dias. No meio do desconhecimento geral que existia sobre a disseminação e comportamento de um vírus que teria aparecido num mercado da cidade chinesa Wuhan, a notícia poderá até ter sido bem-vinda pois, e até então, o sonho de muitos trabalhadores em experimentarem as supostas delícias do trabalho remoto nunca tinha sido realizado. Ninguém imaginaria, portanto, que uma das promessas da revolução digital e do denominado “trabalho do futuro” estivesse, ainda que de forma forçada, a acontecer e, menos provável ainda, que passasse a ser regra para tantas pessoas nos meses seguintes e, para muitas outras, se transformasse no novo normal e com carácter “vitalício” enquanto modelo laboral.
Um ano depois, muito já se escreveu sobre os prós e os contras do teletrabalho, sobre as formas como as empresas se reorganizaram para o implementar, sobre os sentimentos, muitas vezes ambíguos, dos trabalhadores que foram forçados a reinventar o seu espaço físico e mental para acomodar exigências laborais e familiares em simultâneo, sobre ganhos ou perdas de produtividade, sobre dificuldades de gestão à distância, sobre a eficiência da flexibilidade ou, em suma, sobre o tema que, tal como as moedas, parece ter sempre duas faces.
Todavia e ao longo destes longos 12 meses, a verdade é que empresas e trabalhadores empenharam-se num louvável esforço de adaptação e, tendo em conta os vários fenómenos resultantes da pandemia provocada pela Covid-19, talvez o trabalho remoto seja aquele que um impacto mais duradouro terá na nossa sociedade, com a enorme probabilidade de a vida no escritório ter mudado para sempre e com ela também o futuro de vários sectores, como o das viagens, o da restauração, o dos eventos, o do imobiliário e até o das utilities.
Apesar da fadiga provocada pelas reuniões Zoom, da falta de contacto e de “olhos nos olhos” que propicia a partilha de ideias e a criação de novos projectos, das saudades das conversas em torno da máquina de café, das queixas relativas ao prolongamento de horários e à inexistência de fronteiras definidas entre vida profissional e pessoal, da falta de acompanhamento e feedback sentidos por alguns trabalhadores, em particular dos que mais recentemente integraram as empresas, entre outros pontos negativos do trabalho remoto, a verdade é que esta “experiência social e laboral” tem corrido bem melhor do que alguma vez se poderia pensar.
Não é por isso de estranhar que, em muitos inquéritos realizados em vários pontos do globo, sejam muitos os trabalhadores que esperam poder vir a optar, caso tenham essa possibilidade, por manter o teletrabalho e não voltar ao escritório, se bem que a maioria esteja a apostar num modelo híbrido, que passa por alternar o trabalho presencial com o remoto. Para as empresas, e com a poupança de custos que tal acarreta, este mesmo modelo está igualmente a ser encarado com bons olhos, mesmo que para tal seja necessário clarificar alguma “zonas cinzentas” que ainda existem, incluindo a própria legislação laboral. No entanto, e até lá, a incerteza continua a reinar, não sendo ainda possível prever quando é que deixaremos de viver de acordo com a imprevisibilidade do vírus, sabendo, contudo, que o regresso a uma normalidade possível não será para já.
Tendo em conta esta alteração súbita na forma como empregadores e trabalhadores reagiram e agiram face ao deflagrar da pandemia, o VER pediu a algumas organizações que partilhassem o que mais se ganhou e/ou perdeu um ano passado sobre o dia em que o país fechou portas e decretou aquele que seria o primeiro de vários estados de emergência.
Sara Dias
Resp. Qualidade SGI e SST
AVELEDA
Em contexto de pandemia, 2020 foi um ano desafiante para todos e o projeto efr [empresas familiarmente responsáveis] na Aveleda revelou-se ainda mais importante para garantir o bom funcionamento de toda a organização. Nunca foi tão necessário manter uma boa gestão corporativa, com medidas rigorosas estabelecidas num plano de contingência de forma transparente e responsável. De destacar assim que todas estas medidas permitiram atingir resultados de excelência, sem paragens na produção, sem roturas no abastecimento de materiais. No eixo social, foram contratados em plena pandemia 31 novos colaboradores.
O teletrabalho foi ainda uma prática bem aceite e que se tornou também uma medida com muito impacto nas famílias das pessoas na Aveleda.
Finalmente e como evolução positiva, de destacar a flexibilidade e capacidade de adaptação de todas as equipas. Na generalidade, os colaboradores mantiveram-se motivados e tranquilos.
Edgar Sabino
Senior HR & Communications Manager
BEL PORTUGAL
Parece incrível, mas esta “série” nunca mais acaba. Infelizmente as “temporadas têm-se sucedido” e ainda não se sabe como vai acabar (bem, espero!). Parece ficção, mas não é. Esta pandemia já se arrasta há mais de um ano e mesmo com alguns sinais positivos (redução do número de novos casos, redução de hospitalizações, vacinação), ainda nos acompanhará por mais algum tempo. Resta-nos acreditar na ciência, na boa gestão política da crise, na competência e espírito de missão dos nossos profissionais de saúde e na responsabilidade individual de cada um de nós enquanto cidadãos.
Nas empresas a vida continuou, com mudanças, alterações, sobressaltos, mas também com inovação, casos positivos, empatia, compreensão. O que mais se ganhou e reforçou na Bel Portugal foi a vivência dos nossos valores corporativos (cuidar, ousar, comprometer), pois a preocupação com a saúde e segurança de colaboradores e familiares foi, é e será, uma prioridade, bem como o apoio às comunidades mais carenciadas; a inovação e adaptação interna foi uma constante, é possível ousar, fazer diferente e melhor em todas as áreas da empresa!; e o compromisso em fazer cumprir a nossa missão de disponibilizar produtos saudáveis e responsáveis para todos, pelo bem, neste contexto, foi digno de nota 20!
Por outro lado, sentimos falta de algumas coisas. Perdeu-se temporariamente o toque, o olhar nos olhos, a química, os rituais matinais, as interrupções (que saudades!), as reuniões presenciais, os eventos, os almoços com colegas, o contacto humano! Em alguns casos misturou-se ainda mais a vida pessoal e familiar com a vida profissional, com o PC a 2 metros do sofá e a chamar só para mais um email fora de horas. É preciso organização e disciplina.
Esta crise pandémica é mais uma vicissitude nas nossas vidas. Vai deixar marcas profundas em todos nós. Dobrado “o cabo das tormentas”, há que aprender com tudo o que se fez de bom e menos bom e projectar um futuro mais risonho, saudável e sustentável.
Paula Carneiro
Directora da People Experience Unit (Recursos Humanos Corporativos)
EDP
Março de 2020 ficará para sempre na História e na história das nossas vidas! Este foi o mês em que o mundo parou. Num momento em que o medo e a dúvida pairaram sobre todas as sociedades, mais de 70% dos nossos colaboradores foram colocados em teletrabalho. Milhares de colaboradores da EDP tiveram de alterar a sua rotina, a sua forma de trabalhar, de comunicar e de se relacionar.
O contexto vivido em 2020 obrigou-nos a transformarmo-nos nas melhores versões de nós próprios, do dia para a noite, exigindo enorme resiliência e rápida adaptação a novas realidades e trabalhar, ainda mais e melhor, em conjunto.
Ganhámos a consciência de que perante as adversidades conseguimos reagir de forma ágil, colaborativa e dando resposta às necessidades das nossas pessoas, do nosso negócio e das nossas comunidades.
Naturalmente que as principais perdas neste contexto referem-se às vidas humanas que sofreram e algumas (muito poucos na EDP, felizmente) que não resistiram ao vírus. Neste aspecto, a EDP colocou a segurança das pessoas sempre em primeiro lugar e foi com agrado que vimos mais de 86% das nossas pessoas dizerem-nos que a estratégia da EDP para responder à pandemia estava a ser eficaz1.
O contexto pandémico também acabou por acelerar a nossa transição para um modelo híbrido de trabalho, levando-nos a avançar para a aprovação de uma política global que irá permitir aos colaboradores (com função compatível) trabalhar remotamente alguns dias por semana depois da pandemia, permitindo uma maior flexibilidade: aqueles/as que preferem trabalhar no escritório têm essa possibilidade e aqueles/as que privilegiam o teletrabalho também o poderão fazer.
Os desafios que temos neste momento prendem-se com o desenho destes novos modelos de trabalho e como agilizamos um regresso aos escritórios neste modelo híbrido, cuidando das nossas pessoas e das suas necessidades – sabendo a importância de as pessoas estarem juntas presencialmente, por forma a fomentar uma cultura e espírito de grupo.
Passados 12 meses do desafio das nossas vidas, todos na EDP estamos diferentes. É com orgulho que olho para os desafios superados em 2020 e sei que estamos mais fortes para enfrentar o futuro.
1 Estudo de Clima, respondido em Dezembro de 2020.
Margarida Couto
Presidente do GRACE em representação da Vieira de Almeida & Associados
A pandemia que vivemos constitui um dos maiores testes que o tecido empresarial sofreu nas últimas décadas. Um ano volvido, muitos são os gestores que tentam lidar com a sobrevivência da empresa enquanto gerem equipas à distância. Por sua vez, os colaboradores procuram conciliar o teletrabalho com a vida familiar e com a distância física dos colegas, algo que há um ano seria difícil imaginar.
Entre o muito que se perdeu, o que porventura mais se ganhou foi uma consciência aguda de que os colaboradores devem estar no centro das atenções – é necessário cuidar deles, encurtar a distância física e dar atenção redobrada ao seu bem-estar, incluindo em termos de saúde mental. Por difícil que possa parecer, é também uma oportunidade de reforçar a “saúde” das empresas – rever e adoptar critérios ambientais, sociais e de governance que garantam às empresas um propósito alicerçado em factores de sustentabilidade. Sem isso, o futuro poderá nunca chegar.”
Joana Almeida
Directora de Recursos Humanos
Morais Leitão, Sociedade de Advogados
Perdeu-se o convívio do dia-a-dia, nos corredores, na copa, à porta da sala, à mesa do almoço, o que nos penaliza quer do ponto de vista pessoal, do relacionamento humano, quer do ponto de vista profissional, porque o trabalho em geral e o Direito em particular fazem-se muito da troca de ideias, da partilha de experiências, do testar pontos de vista diferentes.
Em contrapartida, ganhámos em flexibilidade e eficiência: onde antes trabalhávamos no escritório, mais ou menos sossegados, agora trabalhamos entre mil outros afazeres (a casa, as crianças). O facto de estarmos mais dispersos obriga-nos a estar mais concentrados e a resolver os assuntos mais rapidamente e melhor.
Margarida Ruch Perdigão
Gestão de Pessoas | Cultura e Experiência do Colaborador
SANTANDER
“Ganhámos velocidade de decisão e rapidez na transição da forma de trabalhar presencial para virtual. Ganhámos competências de gestão de equipas à distância, o mundo ficou mais perto e cabe todo no nosso computador, em teams ou zoom. Estamos mais online e menos offline. A inovação, a criatividade, a capacidade de gerar valor e de adaptação em momentos de incerteza foram também experiências e aprendizagens vividas por todos.
Somos mais generosos, partilhamos mais as experiências e as boas práticas, somos mais rápidos, mais práticos e mais simples. Habituámo-nos a processos mais rápidos e mais flexíveis, e à necessidade de equipas mais autónomas e responsáveis.
Claro que reconhecemos que o trabalho presencial tem benefícios, e que o remoto pode não ser tão eficaz – na gestão de equipas, no networking, no ritmo de trabalho, no contacto e na motivação das pessoas, para dar alguns exemplos. Mas acreditamos que os modelos mistos serão o futuro, até pela flexibilidade de trabalhar em qualquer local e redução de custos que incorporam.
Editora Executiva