Apostar na criatividade e na inovação, investindo em boas ideias para projectos sociais e de criação de emprego, é o desafio a que se propõe o Banco de Inovação Social, que a Santa Casa lança a 30 de Abril. Em entrevista, a directora do Departamento de Empreendedorismo da SCM de Lisboa diz que é nos momentos críticos de maior incerteza que as instituições devem redobrar incentivos. E nesse sentido, o BIS “é uma resposta qualificada de oportunidades”
No próximo dia 30 de Abril, 32 parceiros assinam os protocolos da Rede do Banco de Inovação Social (BIS), uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que junta organismos públicos, câmaras municipais, entidades financeiras e empresas numa plataforma agregadora de activos e de conhecimento que impulsiona projectos de Empreendedorismo Social. Criado pelo Departamento de Empreendedorismo e Economia Social da Santa Casa, numa “aposta clara na promoção da criatividade e da inovação”,com o apoio de parcerias nacionais e europeias”, o BIS assenta numa ideia simples: recolher todos os activos necessários – conhecimento, experiência e recursos (humanos, financeiros, logísticos) – para investir em projectos de inovação social e empreendedorismo. Em entrevista ao VER, Maria do Carmo Marques Pinto sublinha que a construção de parcerias com as instituições, entidades e empresas “que possuem, por vocação, por estatuto ou pela acção que desenvolvem, esses activos”, se revelou “uma ideia muito potente” que funcionou como um rastilho aceso, reunindo em menos de dois meses uma rede ampla e coerente de parceiros. Com esta iniciativa, a SCM de Lisboa visa ajudar a concretizar projectos geradores de valor para a sociedade e, para tanto, está a mobilizar desde já novos empreendedores, dinamizando um debate público na plataforma do BIS, em torno de temas prioritários face à realidade do País, como a promoção do emprego, o envelhecimento activo, o combate ao desperdício (alimentar e de todo o tipo de recursos – naturais, energéticos, etc.) e o combate ao abandono escolar. Nesta fase de “Call for Ideas”, a Santa Casa espera um debate participado, com contributos ao nível da partilha e discussão de ideias empreendedoras. Maria do Carmo Pinto acredita que existem muitas pessoas com excelentes ideias e respostas inovadoras e sustentáveis”. O BIS quer convocá-las para, com o apoio da sua rede de parceiros, abrir, a partir o próximo dia 1 de Maio, a fase de apresentação formal de projectos a concurso. Dela sairão as 30 melhores ideias, que este Banco irá ajudar a concretizar. A finalidade é através de ferramentas de apoio a projectos socialmente inovadores e economicamente sustentáveis desenvolvidas pelo BIS, ampliar o conjunto de soluções disponibilizadas à comunidade. Sublinhando que a rede de parceiros do BIS, está “empenhada em colocar a inovação social na agenda do país”, a directora do DEES da SCM de Lisboa defende que é nos momentos de maior incerteza que as instituições devem redobrar incentivos e abrir portas. O desafio passa por “mobilizar as pessoas e as entidades para encontrarem, nesta situação difícil, uma oportunidade a não desperdiçar” e, nesse sentido, “o BIS é uma resposta qualificada de oportunidades”, conclui Maria do Carmo Pinto.
Como surgiu a oportunidade e quais são os objectivos do Banco de Inovação Social da SCM de Lisboa, que será lançado a 30 de Abril? E o conceito é simples – assim como um banco possui activos e precisa deles para investir, também o BIS está assente na ideia de recolher todos os activos necessários para investir na inovação social e no empreendedorismo. A partir desta ideia singela, mas muito potente, construímos parcerias com as instituições, entidades e empresas que possuem, por vocação, por estatuto ou pela ação que desenvolvem, esses activos: conhecimento, experiência, recursos humanos, técnicos, financeiros, logísticos e outros. Devo dizer que a iniciativa foi como um rastilho aceso. Os parceiros aderiram com grande entusiasmo, o que nos permitiu, em menos de dois meses, construir uma rede ampla e coerente de activos para apoiar os projectos de inovação social. No difícil contexto socioeconómico do País, de que importância se reveste o reforço da aposta nesta área, no âmbito da actuação do vosso Departamento de Empreendedorismo e Inovação Social?
É nestes momentos de incerteza que as instituições devem redobrar os apoios, os incentivos e abrir portas. É a função do Departamento de Empreendedorismo mobilizar as pessoas e as entidades para encontrarem nesta situação difícil uma oportunidade a não desperdiçar. O BIS é uma resposta qualificada de oportunidades. De que modo pretendem mobilizar novos empreendedores para a criação de projectos geradores de valor, através do debate público em torno de temas como a promoção do emprego, o envelhecimento activo ou o combate ao desperdício e ao abandono escolar? Pareceu-nos também que o envelhecimento activo é uma prioridade das sociedades como a portuguesa, que possui um dos níveis mais elevados de idosos da Europa. Tornar a sua vida mais saudável e fazê-los sentir mais integrados na sociedade é uma prioridade. E o que pretendemos é que surjam boas ideias sobre a melhor forma de contribuir para estes quatros objectivos. Qualquer processo inovador é precedido por uma boa ideia. Precisamos de ideias, boas ideias. É o melhor activo no qual o BIS pode investir. Como funcionará a rede de parceiros com a qual a SCM irá iniciar a fase de apresentação de projectos? Os parceiros estão implicados nas grandes orientações estratégicas e também no dia-a-dia do projecto, através de um Conselho Operacional presidido pela Santa Casa, que fará a gestão corrente das acções do BIS. Que serão transparentes e obedecerão às melhores práticas de acesso do público à informação. Conhecemo-nos bem e respeitamo-nos. E acima de tudo, estamos empenhados em colocar a inovação social na agenda do país. Quais serão os critérios de selecção dos 30 projectos que esta rede irá, depois, ajudar a concretizar? O BIS procura pessoas capazes de “pôr mãos à obra e operar a mudança”. Que perfil devem ter estes empreendedores para que, com as ferramentas de apoio dadas pelo Banco, implementem projectos socialmente inovadores e economicamente sustentáveis?
O empreendedor é uma pessoa singular pelo conjunto de características que possui. É inovador, vê soluções onde muitos apenas se deparam com problemas. É determinado e incansável até conseguir o que pretende. É um lutador. Dentro dos vários tipos de empreendedores há os que têm uma aptidão especial para encontrar soluções para problemas que transcendem o seu foro particular. São os empreendedores sociais que, às características que indiquei, aliam uma qualidade que os distingue de todos, a sua vocação de serviço à Comunidade. Procuramos estes dois tipos de empreendedores. E convidamo-los a participar no fórum de ideias, inclusivamente com um projecto concreto. Que projectos sociais destaca entre os vários casos de sucesso que a SCM apoia já? O de Rui Esteves, da Yellow Van, que era professor de Artes Visuais do ensino secundário com contrato a termo, licenciado em Design e com experiência profissional na área. Chegou-nos com a ideia de abrir uma loja de artigos de surf e desportos radicais, e foi encaminhado para a formação em empreendedorismo e gestão de negócios promovida pelo ISCTE – Audax, nosso parceiro. Entretanto, durante a formação alterou o projecto para a área do turismo de surf e criou a Yellow Van, comprando uma carrinha de nove lugares que transporta surfistas com pranchas e todo o material necessário para os melhores locais de surf. Já a Teresa Martins estava em situação de desemprego há pouco mais de um ano. Tinha formação e experiência na área da restauração e, estando à espera do terceiro filho, quis criar uma empresa de cake-design. Frequentou a formação em empreendedorismo e gestão de negócios promovida pelo ISCTE – Audax e abriu as portas da Bolos com Alma, que faz workshops e ateliês de bolos e decoração de bolos, dirigidos a crianças e adultos. Já contratou uma colaboradora em part-time. Por último, o Pedro Aspeçada encontrava-se em situação de emprego precário numa empresa de segurança privada. Com formação e experiência na área de mecânica de motociclos, aos vinte anos de idade quis criar o seu próprio negócio nessa área. Recebeu apoio na elaboração do Plano de Negócios e foi directamente encaminhado para a linha de Microcrédito do Montepio, onde lhe foi concedido um crédito para a abertura da Asa Motos, loja de acessórios de motos, em Abril de 2012.
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Jornalista