No âmbito das eleições para o Parlamento Europeu que terão lugar em Junho próximo, a Associação Internacional de Empresários Cristãos divulgou uma “carta aberta” tendo como destinatários os futuros eurodeputados. No comunicado em causa, destacam quatro aspectos de crucial importância para o futuro comum: Ecologia Integral, Era Digital, Trabalho Digno para os Migrantes e a necessidade de uma Europa Unida
Traduzido e adaptado por HELENA OLIVEIRA

“Os interesses geopolíticos em mudança e o risco de uma gigantesca crise climática pesam no futuro da Europa, reforçando o risco de mais guerras, de migrações forçadas, instabilidade e pobreza. Adicionalmente, enfrentamos o risco da dependência energética e das novas tecnologias. São as nossas escolhas que moldarão o futuro das novas gerações”.

A UNIAPAC, composta por líderes empresariais cristãos de 11 países, em representação de mais de 5 mil empresas de diferentes dimensões e sectores, que empregam mais de 100 mil pessoas, dirigiu-se, em comunicado e tendo em conta as próximas eleições europeias que têm lugar a 9 de Junho próximo, aos membros do Parlamento Europeu exortando-os a focarem-se na importância de se colocar a economia ao serviço da pessoa humana e do bem-comum.

Como escrevem, “a nossa fé ensina-nos que as nossas empresas servem um propósito maior: a oferta de bens e serviços bons, trabalho bom e riqueza boa”. Para os responsáveis da UNIAPAC, os líderes empresariais precisam de ter um papel mais significativo no que respeita a ajudar a enfrentar os grandes desafios do presente e do futuro, numa tentativa de promoção conjunta do sonho europeu.

Tendo em conta a aproximação das eleições para o Parlamento Europeu, os empresários cristãos partilham neste mesmo comunicado a sua visão para um futuro da Europa assente numa economia que sirva as pessoas e o planeta, focando-se em quatro aspectos de crucial importância: a Ecologia Integral, a Era Digital, O Trabalho Decente para os Migrantes e uma Europa Unida.

Vejamos mais em pormenor cada um dos tópicos identificados.

Ecologia Integral

Para enfrentar a complexa crise socioambiental transformando-a numa oportunidade, a UNIAPAC recorda a inovadora encíclica do Papa, a “Laudato sí – Sobre o Cuidado da Casa Comum”, na qual Francisco afirma que é necessário escutar o grito da Terra e o grito dos pobres. Sem acção, afirmam, assistiremos a consequências trágicas, em particular para os mais vulneráveis. É necessário trabalhar no sentido de um novo significado para as empresas e só um empreendedorismo criativo alimentado por acções coordenadas por parte de actores públicos e privados poderá ultrapassar esta crise.

O sector privado em particular deverá direccionar os seus esforços para esta transição. Reiterando o seu apoio ao objectivo da COP 21 [Acordo de Paris], os empresários cristãos apoiam também a ideia de que em determinados sectores, serão necessárias soluções particulares por parte da União Europeia para financiar investimentos e os custos dessa mesma transição. De uma forma mais concreta, dizem, apoiam a abordagem europeia que prevê um reporte “financeiro extra” da denominada “materialidade dupla” para as grandes empresas. [A dupla materialidade visa demonstrar como os riscos e as oportunidades podem ser materiais tanto do ponto de vista financeiro, como do impacto, ou seja, questões ou informações relevantes do ponto de vista ambiental e social podem ter consequências financeiras no presente ou no futuro das organizações]

Sempre que possível e necessário, a avaliação do impacto deverá constituir uma parte relevante das políticas europeias e das suas escolhas de investimento. Politicas fiscaise/ou financeiras deverão apoiar os objectivos dessas mesmas políticas.

Adicionalmente, os esforços da Europa no sentido de investimentos ambiciosos, formação e emprego para preservar o clima, a biodiversidade e os recursos hídricos são igualmente cruciais, nunca perdendo de vista a preservação da dignidade humana, especialmente a dos mais frágeis. Os trade-offs, acrescentam, devem servir o bem comum. A Política de Ecologia Integral deverá ser construída tendo como base os pilares da solidariedade, responsabilização, humanidade e suficiência.

A Era Digital: o foco na IA

Para se manter competitiva e relevante no mundo do amanhã, a UNIAPAC defende que a UE precisa de um quadro político adequado para a era digital. Tal é tão fundamental quanto os investimentos na Ecologia Integral, mas a realidade é que ainda estamos longe desse desígnio. Afirmando-se conscientes dos pilares éticos para uma IA confiável constantes nas Orientações Éticas da União Europeia – (1) deve ser legal, cumprindo todas as leis e regulamentos aplicáveis ​​(2) deve ser ético, garantindo a adesão aos princípios e valores éticos e (3) deve ser robusto, tanto do ponto de vista técnico como social, uma vez que, mesmo com boas intenções, os sistemas de IA podem causar danos não intencionais. Cada componente por si só é necessário, mas não suficiente para alcançar uma IA confiável. Idealmente, todos os três componentes funcionam em harmonia e se sobrepõem na sua operação. Se, na prática, surgirem tensões entre estes componentes, a sociedade deverá esforçar-se por alinhá-los – a UNIAPAC recomenda ir mais longe, identificando seis princípios éticos para debate futuro:

  • Transparência: a IA precisa de ser compreendida por todos;
  • Inclusão: A IA não pode dar aso a qualquer tipo de discriminação;
  • Responsabilização: os indivíduos precisam de ser responsabilizados pelos feitos das máquinas;
  • Imparcialidade: julgamentos preconceituosos não podem fazer parte de qualquer que seja a ferramenta de IA;
  • Confiança: uma confiabilidade comprovada deverá ser de importância cimeira para qualquer comercialização de IA; e,
  • Segurança: a compliance no que respeita aos sistemas de protecção de dados (RGPD) e segurança de dados deverá ser comprovada.

As pessoas deverão saber sempre quando é que estão a interagir com uma máquina, sendo que a IA deverá desenvolver autonomia e não exploração e, eventualmente, contribuir para a preservação do planeta.

Trabalho decente para os migrantes

Através do trabalho, homens e mulheres desenvolvem as suas competências, aplicando nele a sua inteligência e vontade. O trabalho representa uma dimensão fundamental da existência humana. Ao nível colectivo, o trabalho reveste-se de dever e responsabilidade, sendo igualmente um dever moral e uma fonte de direitos no que respeita ao próximo, à família, mas também à sociedade enquanto um todo. A UNIAPAC Europa considera a dignidade da pessoa que trabalha como um valor primordial.

Desta forma, os empresários cristãos encorajam fortemente a União Europeia a contribuir, e também em conjunto com os esforços das Nações Unidas, para o desenvolvimento económico dos países emergentes e para África em particular. E, caso as pessoas decidam migrar, que sejam bem recebidas, acompanhadas, promovidas e integradas nas sociedades que as acolhem.

A UNIAPAC acredita igualmente que os princípios da justiça e dignidade humana deverão orientar as políticas da EU.

Um desses princípios diz respeito à promoção do trabalho digno para todos (ODS 8) e à integração através da promoção de condições para se identificar o potencial profissional dos trabalhadores migrantes. Para alcançar o ODS 8, as empresas dependem dos Estados-membros da UE no que respeita à aplicação do princípio da reciprocidade, requerendo que os migrantes adoptem a língua e as leis do país anfitrião, em conjunto com um sentimento/sentido de responsabilidade para integrarem adequadamente o seu tecido social.

De acordo com a UNIAPAC, o sector privado depende igualmente da diplomacia da UE no que respeita à existência de condições para um regresso [dos migrantes] pacífico e sustentável, e das políticas europeias que apoiem os investimentos das empresas nos países que possam contribuir para o desenvolvimento económico das economias emergentes.

Uma Europa unida

A UNIAPAC alerta ainda que a população europeia e o seu peso económico no mundo está a decrescer. Até 2050, as economias emergentes irão representar entre 65 a 75% do PIB global. O mundo tornar-se-á bipolar. Para que as empresas europeias possam ser bem-sucedidas nos mercados globais, será necessária uma Europa politicamente unida com dois pulmões (ocidental e oriental) que respirem em conjunto, uma Europa que preserve a sua influência no mundo. A UNIAPAC declara ainda apoiar fortemente uma Europa baseada num desenvolvimento económico complementado pela solidariedade no sentido de assegurar a paz.

“Os pais fundadores da União Europeia desejavam assegurar uma paz duradoura na Europa”, pode ler-se no comunicado. Os empresários cristãos afirmam-se comprometidos a viver de acordo com esse legado e sonho, através do seu contributo e parceria e à medida que o futuro Parlamento Europeu aborda estas importantes e urgentes prioridades. “O que poderá induzir alguém, nesta altura, a agarrar-se ao poder, apenas para ser recordado pela sua incapacidade de agir quando era necessário e urgente fazê-lo?”, questionam.

Editora Executiva

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