POR JORGE LÍBANO MONTEIRO
Em Portugal, segundo números da informaDB, 80,5% das empresas pagam fora dos prazos acordados com os fornecedores.
Um número impressionante em si mesmo, mas que toma uma dramatismo especial quando associamos ao atraso nos pagamentos o impacto real que este tem na empresa, no ecossistema económico, na sociedade em que vivemos e, particularmente, no sofrimento pessoal que cria em tantos empresários e trabalhadores.
Segundo dados da União Europeia, 25% das falências a nível europeu é devido ao atraso nos pagamentos e à incapacidade de as empresas aguentarem esse impacto na sua tesouraria e nos investimentos necessários.
Já de acordo com um estudo da ACEGE com o Professor Augusto Mateus, o agravamento de 12 dias nos prazos médios de pagamento tem um impacto de cerca de 75 mil desempregados em cinco anos, o que representa cerca de 15 mil novas famílias que são afectadas por este sofrimento.
É por isso essencial olharmos de frente para esta questão, procurando encontrar antídotos para reverterem esta realidade cultural, sensibilizando os líderes empresariais e decisores públicos para a necessidade de mudar, para a necessidade de travar este ciclo vicioso de pagamentos atrasados, criando um ciclo virtuoso de pagamentos a horas.
É essencial que cada líder tenha a consciência que cada vez que atrasa o pagamento ao seu fornecedor, não cumprindo os prazos acordados, está a provocar sofrimento a outras pessoas, e está a limitar o desenvolvimento da nossa economia e, por consequência, o da sua própria empresa.
[quote_center]O pagamento a horas não é uma decisão pessoal ou de gestão[/quote_center]
Mas o pagamento a horas, tendo a empresa capacidade para o fazer, não é uma decisão pessoal ou de gestão, o pagamento a horas é uma obrigação. Uma obrigação Ética que eu assumo quando contrato qualquer produto ou serviço.
Nesse sentido, pagar ou não pagar a horas não pode ser uma decisão pessoal, mas deve ser entendida como uma obrigação que tenho que cumprir. No fundo, assumindo a mesma postura que hoje em dia assumimos para o cumprimento das nossas obrigações perante o Estado, as quais podem custar mas têm de ser cumpridas.
É por isso fundamental não sermos coniventes com esta realidade, mas assumirmos uma postura activa de renúncia a este tipo de práticas, cumprindo os nossos prazos de pagamento e exigindo o cumprimento desses prazos pelos nossos clientes.
Ao afirmarem publicamente, perante os seus fornecedores e clientes, que querem pagar a horas, as mais de 850 empresas presentes no Compromisso Pagamento Pontual promovido pela ACEGE, CIP, IAPMEI e APIFARMA são um sinal claro que é possível fazer a diferença, que é possível assumir este compromisso em Portugal, que a mudança é possível.
As 20 câmaras municipais que aderiram publicamente a este compromisso simbolizam a transformação na gestão autárquica em relação a este tema e a liderança de uma transformação comportamental nas suas regiões. Segundo dados da DGAL de 2012 a 2015, as câmaras passaram de um prazo médio de pagamento de 129 dias para 50, uma redução de 79 dias em 3 anos. Uma realidade que poucos acreditávamos que seria possível mas que graças a lideranças responsáveis e a uma legislação eficaz foi possível alcançar, e que trouxe enormes benefícios para cada autarquia e para as suas regiões.
É por isso a hora de assumirmos com coragem esta luta pelos pagamentos a horas. Colocarmos nas nossas empresas este indicador como um referencial essencial da nossa e sua responsabilidade social, como um sinal de boa organização e funcionamento da empresa, como um critério claro dos Valores e da Honra com que cada um está nos negócios.
Secretário-geral da ACEGE