A coexistência de várias gerações no local de trabalho, com experiências, valores e ideias distintos, foi o mote para uma conversa com o director de RH da Auchan. Para Jorge Filipe, é necessário que os desafios desta realidade sejam devidamente reconhecidos e que as entidades empregadoras assumam o seu papel fundamental nesta questão. “Não combater as barreiras etárias significa não rentabilizar recursos, sem dúvida uma opção perigosa no actual contexto de oferta de trabalho e num ambiente comercial altamente competitivo”, afirma
Um dos grandes desafios do mercado de trabalho na actualidade consiste na criação de políticas e práticas capazes de integrar pessoas com experiências, ideias e valores diferentes. No geral e a seu ver, enquanto director de RH, que principais benefícios e dificuldades enfrentam as empresas para lidarem com a coexistência de várias gerações no mesmo local de trabalho? As empresas, enquanto entidades empregadoras, sentem directamente o resultado de todas as evoluções às quais a sociedade se encontra sujeita, nomeadamente as transformações originadas pelos fluxos económicos, demográficos ou sociais. Naturalmente que as entidades empregadoras assumem um papel fundamental nesta questão: não só enquanto promotoras de integração, mas também de acompanhamento e motor de progressão profissionais e, por conseguinte, pessoal. A sustentabilidade de uma organização passa pelo equilíbrio das gerações. São precisas pessoas jovens, detentoras de conhecimentos e das tendências mais actuais, criativas, com sede de inovação e empreendedoras; mas também, são fundamentais os profissionais que transmitem a cultura, ou seja, o ADN da organização, portadoras de todo um percurso que inspira, dá confiança e motiva, os (as) novos(as) colaboradores(as) – equivalente a uma socialização “de pai para filho”. No entanto, por vezes, as dificuldades passam exactamente por este equilíbrio, ou seja, a adaptação dos novos colaboradores, sem o pesar da aculturação excessiva, e o trabalho dos mais experientes, apelando à inovação e constante aprendizagem. É fundamental que os accionistas ou os dirigentes estimulem o rejuvenescimento da cultura da sua organização. Deste modo, as entidades empregadoras devem-se munir de estratégias de articulação das “duas populações”, com espaço para a partilha de experiências e de ideias. Não combater as barreiras etárias significa não rentabilizar recursos, sem dúvida uma opção perigosa no atual contexto de oferta de trabalho e num ambiente comercial altamente competitivo. Que principais desafios estão inerentes a esta gestão de pessoas com formas de pensar e trabalhar tão distintas? A seu ver, de que forma é que se pode potenciar a realidade, para bem das empresas e dos seus colaboradores, de se ter duas ou três gerações distintas a coexistir no mesmo local de trabalho? Numa empresa como a nossa, com 40 anos de existência em Portugal, temos trabalhado em diferentes níveis que nos têm permitido potenciar tudo aquilo que foi descrito até aqui. A realçar dois exemplos: Considera que, no geral, as empresas estão bem preparadas para lidar com a nova geração, a dos nativos digitais, que nasceu e cresceu com as novas tecnologias? É certo que hoje a inovação tecnológica é diária e, por vezes, pode haver um desfasamento entre aquilo que um jovem da geração digital tem expectável encontrar como instrumento de trabalho e a ferramenta que lhe é atribuída. Neste sentido, as empresas, se querem aumentar a sua produtividade e ser atractivas enquanto empregadoras, devem adaptar-se e inovar constantemente. Se tal não for feito, em simultâneo com reestruturação de métodos de trabalho, corre-se o risco de se perder produtividade, imagem de modernidade e, como consequência, dificuldade em atrair e reter talentos. E, em contrapartida, o que fazer com a geração mais velha que, em muitos casos, se sente inibida face à mudança tecnológica? Promover uma política de recursos humanos assente em programas de formação contínua e adaptada às novas tendências é por isso fundamental (por exemplo, utilização de tecnologia, das redes sociais). Para além disso, incentivar a participação e o envolvimento destes colaboradores e ir adaptando as respectivas funções às necessidades de uma força de trabalho mais sénior. Os grupos de melhoria contínua – Grupos de Progresso, onde diferentes níveis hierárquicos e geracionais se reúnem para encontrar uma solução para um dado problema; o sucesso destes grupos baseia-se no encontro de diferentes saberes, com diferentes olhares e diferentes experiências vividas; A Coesão de Equipas é outra metodologia utilizada sempre que se criam novas equipas, cujo objectivo é o de proporcionar uma sintonia de actuação e uma melhor e maior integração, numa equipa de direcção ou até no total da equipa (diferentes níveis hierárquicos); E, mais recentemente, a Tutoria/Coaching dos “mais experientes” no desenvolvimento de projectos inovadores propostos por colaboradores empreendedores. Aos mais experientes e seniores conhecedores do métier Humildade – para continuar a aprender e estar aberto a ideias diferentes e sobretudo gostar de ensinar e passar o ADN da organização; deve olhar para um jovem talento na sua equipa como um valor acrescentado e um estímulo para o desenvolvimento da sua secção/departamento/direcção. O presente Ano Europeu do Envelhecimento Activo conta igualmente com o “subtema” da Solidariedade entre Gerações. A Auchan tem já planeadas acções para este Ano? Entrevista originalmente publicada na edição de 14 de Fevereiro do suplemento OJE Mais Responsável . |
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Editora Executiva