Contribuir para a melhoria da competitividade das empresas nacionais e dotá-las de instrumentos de gestão responsável é o grande objectivo do programa AconteSer, apresentado esta semana em Lisboa e que reúne a ACEGE, a CIP, o IAPMEI e a APIFARMA numa iniciativa conjunta de combate à crise. Em finais de Outubro, o programa será oficializado junto de 750 gestores, numa ambiciosa acção a nível nacional
Foi dado o primeiro passo de uma caminhada que promete ser longa: provocar, nas palavras de António Pinto Leite, presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), “um tsunami de responsabilidade social nas empresas, sendo necessário para tal “rasgar a situação psico-negativa da actualidade” que envolve o país. Lançado na passada terça-feira, sob o nome “AconteSER, Liderar com Responsabilidade”, o programa conjunto liderado pela ACEGE em parceria com a CIP, IAPMEI e APIFARMA, tem como principal objectivo contribuir para a melhoria da competitividade das micro, pequenas e médias empresas nacionais, através de três compromissos fundamentais e de um instrumento “físico” de gestão: pagar a horas aos fornecedores, ter em especial atenção o projecto de vida dos colaboradores e promover as condições necessárias para o sempre desejável, mas cada vez mais complexo, equilíbrio entre vida profissional e familiar. O programa conta ainda com o lançamento, em finais de Outubro, do Kit AconteSER, um conjunto de materiais com vista à implementação de boas práticas nas PME (v. caixa). Para além de António Pinto Leite, o evento contou com a presença de António Saraiva, presidente da CIP, de Luis Filipe Santos Costa, presidente do IAPMEI e de João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA. Se por um lado a presente crise parece não deixar tempo para pensar em nada que não seja a sobrevivência das empresas, para os promotores do projecto é exactamente neste clima de desespero que estas mais precisam dos seus líderes e, consequentemente, de colocar a tónica nos seus colaboradores. Dai que António Pinto Leite tenha explicado que este “aconteSER” é, na verdade, um “fazer acontecer, através das pessoas [dos colaboradores das empresas], no que respeita à competitividade”. O programa, que será oficialmente lançado a nível nacional na semana de 24 a 28 de Outubro, pretende envolver 750 gestores e empresários através da realização de pelo menos 50 seminários, que versarão sobre várias temáticas, em todo o país. Clarificando que para além dos promotores já anunciados, o projecto conta ainda com um conjunto diversificado de parcerias, sendo apoiado por fundos comunitários, António Pinto Leite explicou, em pormenor, os três vectores por excelência deste projecto ambicioso. “Pagar a horas é um mínimo ético das empresas” No que respeita ao compromisso de pagamento pontual aos fornecedores, uma bandeira há muito defendida pela ACEGE, não existem dúvidas para o presidente da Associação: “continua a haver muitas falências, principalmente em pequenas e médias empresas, porque as empresas não pagam ‘entre’ si, exportando o problema de umas para as outras”. Combater esta “chaga” e este “problema congénito” do Estado é absolutamente imperioso. Como defendeu também o presidente do IAPMEI e sendo este um mínimo ético dos empresários, o “exemplo do Estado não pode servir de álibi para ninguém, e muito menos para as empresas que não dependem dele”. Na sua opinião, é mais do que tempo para as empresas interiorizarem a importância dos pagamentos pontuais e do seu cumprimento. Sendo vários os estudos que comprovam que a insolvência das empresas tem como génese “o não se pagar a tempo e horas”, António Pinto Leite anunciou ainda que a ACEGE encomendou, ao economista Augusto Mateus, um estudo sobre esta temática que será apresentado nos próximos 15 dias. A questão de Portugal ter igualmente uma cultura de laxismo e de permissividade no que respeita à pontualidade dos pagamentos é um problema complexo e que urge ser invertido. Em tom humorista, o presidente do IAPMEI afirmou que, para além da fama e do proveito do Estado nesta questão, a questão cultural do “pagar e morrer, quanto mais tarde melhor” tem de ser apresentada como nociva à sociedade portuguesa. Também a ACEGE chama a atenção que, mais grave ainda, é o facto dos pagamentos tardios e a más horas “ser aceite como uma fatalidade pela generalidade do mercado”. Sendo certo que esta realidade tem uma enorme influência na vida e no dinamismo da economia e, em particular, no quotidiano das pequenas e médias empresas, urge assim “contratualizar prazos de pagamentos que sejam exequíveis”, como alertou o responsável do IAPMEI, algo “que não se passa, de forma generalizada, na sociedade portuguesa. Opinião similar tem o presidente da CIP, António Saraiva, que afirmou ser “necessário motivar os empresários para esta causa de responsabilidade nos pagamentos pontuais, sendo que os atrasos estão a gerar um efeito terrível na tesouraria das nossas empresas”. Desta forma, a ideia é substituir este ciclo vicioso por um outro, virtuoso, desafiando o maior número de empresas a comprometerem-se a pagar, atempadamente, aos seus fornecedores. Percorrer a “extra mile” A questão da conciliação entre vida profissional e familiar – sempre presente, mas nem sempre equilibrada – apresenta igualmente novos contornos em tempo de crise. São vários os estudos recentes que comprovam que a crise leva a um maior refúgio dos indivíduos nas suas famílias, em busca de acolhimento e maior segurança. Como lembrou António Pinto Leite, “a maior ansiedade das pessoas na sua incapacidade de gerir trabalho e família tem também efeitos na produtividade”, salientando igualmente que este não é apenas um problema das PME, mas transversal a todas as empresas. Os novos desafios enfrentados pelas famílias prejudicam não só o seu próprio equilíbrio, como podem diminuir os níveis de motivação no local do trabalho. E é por causa deste contexto que o equilíbrio entre vida profissional e familiar se torna ainda mais crucial, sendo necessário “sensibilizar as lideranças empresariais para esta questão e, em conjunto com parceiros de referência, procurar solucionar muitas das situações de conflito família-empresa”. Mais ainda, e para as empresas que assim o desejarem, o AconteSER contempla ainda a possibilidade de as empresas serem certificadas (caso cumpram determinados objectivos, obviamente) como empresas familiarmente responsáveis.
“É preciso fazer AconteSer” O presidente da CIP considerou este programa como “um exemplo de solidariedade no enfrentar das respostas necessárias a esta crise” e realçou que a presença da Confederação no mesmo está intimamente ligada a uma “repartição equilibrada do programa de ajustamento da economia portuguesa”, não se escusando, contudo, a expressar a sua opinião no que respeita à falência dos benefícios sociais. António Saraiva clarificou a tão falada questão do fosso entre ricos e pobres, defendendo que o que se tem de discutir é, ao invés, o acesso de todos ao trabalho e à riqueza, sendo necessário, para tal, criar as condições certas para que tal aconteça na nossa sociedade. “Se tiverem uma atitude sistemática, se acreditarem nas suas capacidades, as empresas não cairão”, defendeu, acrescentando ainda que “não se trata de dividir a sociedade entre ricos e pobres, obrigando os ricos a suportar os pobres e colocando os pobres na posição de dependência face ao apoio dos ricos”. O presidente da CIP terminou a sua intervenção com um convite à acção: “não podemos ficar quietos e não vamos ficar quietos”. Por seu turno, Luís Filipe Santos Costa afirmou que o IAPMEI, enquanto instrumento do governo e do ministério da Economia, não poderia ficar alheado desta iniciativa. Enfatizando a preocupação crescente do organismo no que respeita à crescente dificuldade de acesso ao financiamento das empresas, o responsável focou o recente acordo protagonizado com a banca e com o Banco de Portugal relativamente às linhas de crédito do programa PME INVESTE [que têm como objectivo facilitar o acesso das PME ao crédito bancário, nomeadamente através da bonificação de taxas de juro e da redução do risco das operações bancárias, através do recurso aos mecanismos de garantia do Sistema Nacional de Garantia Mútua], com um período adicional de carência de 12 meses que, apesar de “não resolver o problema de fundo, confere algum oxigénio às empresas”. Daí a importância – sem descurar os outros dois eixos desta iniciativa – dos pagamentos pontuais a fornecedores. Sobre a forma como, na prática, o IAPMEI irá apoiar o programa AconteSER, Luis Filipe Santos Costa explicou que, “no conjunto das seis mil empresas classificadas com o estatuto de ‘PME Líder’, pretendemos adicionar esta insígnia de reconhecimento de responsabilidade social”. Já João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA, chamou a atenção para o final de uma era, com mudanças muito complexas e que “gera angústia e stress, a par de uma dificuldade acrescida em saber como nos vamos adaptar a estes novos tempos”. Relembrando igualmente que “todos somos líderes”, o presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica assegurou ser possível fazer “milhares de coisas, por pequenas que sejam, pelas pessoas, famílias e empresas”. O presidente da ACEGE terminou a apresentação do programa afirmando que espera que o AconteSer tenha “um impacto que pode ser invisível, mas profundo” e que há que manter presente o antigo mas sempre actual princípio de “tratar os outros como gostaríamos de ser tratados”.
|
|||||||||||||
Editora Executiva