POR MÁRIA POMBO
Foi com o objectivo de transmitir aos jovens, “de forma pedagógica e descomplicada”, conceitos como as alterações climáticas, os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a economia circular, a reciclagem, a cadeia de valor, os ecossistemas, os plásticos nos oceanos e as florestas sustentáveis, que o BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável lançou recentemente o livro “O Mundo muda contigo”.
Enquadrado no projecto “Ser ou consumir? Transformar um planeta com vida” e focado nos adolescentes mas acessível a todas as faixas etárias, esta banda desenhada conta a história de quatro jovens europeus – a portuguesa Inês, a espanhola Oriana, o francês e filho de senegaleses Abdou, e a holandesa Anna – que viajam até Copenhaga com o objectivo de participarem no fórum da ONU “Young Minds for a Sustainable Future”. Com um comboio como cenário de fundo, esta é a aventura de jovens comuns e curiosos que, entre momentos mais sérios, episódios mais divertidos e variadas questões importantes que se vão colocando, apenas pretendem fazer aquilo que qualquer jovem também deseja: mudar o mundo.
O livro que está disponível online, em versão PDF, e que tem sido distribuído gratuitamente em papel a professores de geografia e ciências naturais de diversas escolas, poderá ainda ser utilizado como um auxiliar pelos docentes, ajudando-os a estimular o interesse das novas gerações em torno de temas como o respeito, a ética e a sustentabilidade, sensibilizando-os para a sua crucial importância e promovendo o debate.
Para Sofia Santos, não existem dúvidas de que é importante que “as escolas encontrem tempo e recursos para desenvolverem competências humanistas nos alunos”, tendo em conta que, “ao trabalhar o tema do humanismo, trabalha-se também o tema da sustentabilidade”.
Em entrevista ao VER, a directora geral do BCSD Portugal acredita que “mudar o mundo” pode ser visto como “mudar para algo mais humano e justo a nível humano e ambiental”, sendo necessário “incutir no processo de crescimento a capacidade crítica de analisar o presente e pensar o futuro”.
Sofia Santos explica ainda que este livro pode ser o ‘presente ideal’, principalmente para os mais novos, porque “apela à existência daqueles momentos únicos em que, sendo jovens, a curiosidade é urgente, o tempo é rápido mas infinito, e a vontade de ser diferente e de ter um papel activo em prol de um mundo melhor é um sonho e uma angústia”, sublinhando ainda que “os jovens têm de crescer sabendo gerir os sonhos e as angústias”.
Em que consiste o projecto “Ser ou consumir? Transformar um planeta com vida”, no âmbito do qual foi elaborado o livro “O Mundo muda contigo”? E de que modo é que este tem vindo – e pode continuar – a sensibilizar esta nova geração de professores e alunos para as temáticas da neutralidade carbónica, da valorização do território e dos ODS?
O projecto pretende transmitir de forma pedagógica e descomplicada conceitos como as alterações climáticas, ODS, economia circular, reciclagem, cadeia de valor, ecossistemas, plásticos nos oceanos e florestas sustentáveis. Para isso, o BCSD criou uma banda desenhada para os alunos dos 7.º, 8.º e 9.º anos, um filme de um minuto em jeito de trailer sobre a banda desenhada, materiais de apoio a professores para dinamização em sala, e implementou duas sessões de formação a professores com o apoio da Comissão Nacional da UNESCO, do Comité Nacional para o Programa Internacional de Geociências, da Cátedra UNESCO da UTAD, da Associação Geoparque Arouca, da Câmara Municipal de Arouca e da Junta de Freguesia dos Olivais em Lisboa.
Uma vez que os materiais estão todos disponíveis online, e que os professores com quem interagimos manifestaram um grande agrado pela banda desenhada e seus conteúdos, acreditamos que as escolas e professores irão encontrar formas de dinamizar, com base na banda desenhada, actividades nas escolas e bibliotecas que possam perpetuar a discussão saudável sobre estes grandes desafios.
O livro conta a história de “quatro adolescentes europeus – Inês, Oriana, Abdou e Anna – que fazem um InterRail pela Europa para assistirem a um evento internacional de jovens que querem mudar o mundo”. Para os jovens de hoje em dia, o que significa “mudar o mundo”? Quais são as principais preocupações que estes devem ter e quais são as maiores dificuldades que enfrentam?
Eu não sei o que significa para os jovens mudar o mundo. Eu já não sou jovem… com pena minha. Mas gosto de acreditar que “mudar o mundo” seja visto como mudar para algo mais humano e justo a nível humano e ambiental. E é necessário incutir no processo de crescimento a capacidade crítica de analisar o presente e pensar o futuro. Os jovens de hoje vão enfrentar os desafios do século XXI: seja a robotização e a mudança que isso implicará nas vidas e nos empregos, o aquecimento global e a mudança que isso implicará nos produtos alimentares disponíveis, a mobilidade e a dinâmica social entre as comunidades. É importante iniciar uma conversa estruturada com os jovens, de forma a que percepcionem o futuro e consigam ter as competências necessárias para lidar bem com essas possíveis realidades, que vão ser muito diferentes das vivenciadas pelos seus pais.
E de que modo é que cada uma das personagens desta história consegue inspirar os jovens portugueses a fazer a diferença?
Pretendeu-se que as personagens representassem jovens comuns, com curiosidades diversas e de vários países. Viajar e conhecer o mundo e pessoas de diferentes culturas é essencial para se pensar o futuro, respeitar as diferenças e conseguir consensos.
[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=-tiNAm_dQvw” width=”660″ height=”220″]Como é que se educam estas novas gerações para temas como economia circular, consumo sustentável, preservação da natureza e alterações climáticas? Como é que os desafios globais podem ser trabalhados de modo a cativar o interesse dos jovens?
Estes temas já são falados nas aulas de Biologia e Geografia. O que falha é, por um lado, a não inclusão de forma explícita destes temas nas aulas de economia, e, por outro, a sua ausência nos 11º e 12º anos. Mudar currículos é muito difícil, mas talvez as actividades das escolas pudessem estar concentradas na promoção dos Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável. Desta forma conseguir-se-ia colocar as várias áreas do saber em volta de um tema suficientemente amplo que promova o pensamento interdisciplinar e holístico.
Como comenta a eventual falta de preparação e/ou abertura das escolas, no geral, para trabalharem estes temas junto dos alunos? De que modo perspectiva o novo projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, que valoriza a formação cívica dos alunos, mas que tem um carácter voluntário?
Não sou perita nos temas da educação, pelo que não posso comentar de forma fundamentada a pergunta. No entanto, e de forma genérica, faz sentido que as escolas encontrem tempo e recursos para desenvolverem competências humanistas nos alunos. Ao trabalhar o tema do humanismo, trabalha-se também o tema da sustentabilidade. Mas para tudo funcionar são necessários meios, recursos e processos que permitam e incentivem estas mudanças. E isto é uma questão estrutural.
Tendo em conta que os programas escolares não abordam de forma aprofundada as questões da sustentabilidade, ética, entre outros tema conexos, em que medida é que este livro pode ser útil, principalmente para os docentes que pretendem levar estes temas para a sala de aula e trabalhá-los de uma forma mais ‘séria’?
A ideia é precisamente essa, ou seja, dotar os professores com ferramentas que apoiem o desenvolvimento de actividades sobre os temas da sustentabilidade, ética, respeito e futuro, em sala ou na escola. Achamos que desta forma os professores terão os materiais necessários para promoverem momentos de reflexão que serão muito úteis ao crescimento dos jovens.
Por que é que este livro pode ser o ‘presente ideal’, neste Natal, para os mais novos e não só?
Porque é uma história simples, bonita e actual. É uma história que apela às viagens, ao conhecimento, ao convívio, à descoberta… Apela à existência daqueles momentos únicos em que, sendo jovens, a curiosidade é urgente, o tempo é rápido mas infinito, e a vontade de ser diferente e de ter um papel activo em prol de um mundo melhor é um sonho e uma angústia. E os jovens têm de crescer sabendo gerir os sonhos e as angústias… Fazem parte da vida e é bom que durem sempre.
Jornalista