“Portugal enfrenta grandes desafios”. E “as respostas só podem surgir se o sector empresarial estiver preparado e for capaz de tomar medidas radicais”. Reagindo ao alerta dado pelo presidente do WBCSD, Peter Bakker, no âmbito da Conferência Anual deste Conselho Empresarial em Portugal, um painel de líderes de algumas das mais relevantes empresas a actuar no mercado nacional reconheceu que hoje, só um desenvolvimento sustentável garante vantagens competitivas com uma visão a prazo
Na actual conjuntura socioeconómica, o que podem as empresas fazer pela sociedade? Foi esta a grande questão colocada a uma plateia de quatrocentos participantes pelo BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento sustentável, na sua 12ª Conferência Anual, realizada a 27 de Setembro, no Green Festival, no Estoril. Sob o mote Mudar o Rumo, empresários e decisores das políticas públicas debateram as melhores práticas do Desenvolvimento sustentável, numa altura em que, segundo defende a organização do evento, é necessário evidenciar o compromisso dos líderes empresariais nacionais com esta matéria, e o seu papel nas estratégias de negócio, bem como “mostrar que há já muitas empresas em Portugal a desenvolver uma política sustentável”. Na abertura do evento o presidente da direcção do BCSD Portugal, José Honório, recordou a “oportunidade” que a gestão sustentável representa hoje para as empresas, enquanto factor diferenciador, sublinhando a ideia de que esta constitui uma efectiva “resposta à crise”: “temos de construir um futuro sustentável conscientes de que as empresas têm a melhor resposta para os desafios e que o desenvolvimento sustentável é a oportunidade de as empresas se evidenciarem pela positiva”, disse. Reconhecendo que o país “está muito debilitado do ponto de vista económico, dado que “andámos durante muitos anos a gastar o que não tínhamos”, José Honório defendeu que “a grande vantagem ao nível de sustentabilidade é que sabemos muito mais hoje do que há vinte anos”, disse. Na opinião do também presidente da Comissão Executiva do grupo Portucel Soporcel, face ao papel que o meio empresarial pode e deve desempenhar para inverter a actual situação económica e social, “o futuro do país” depende de empresas mais bem preparadas e com mais conhecimento. “Respostas só com mudanças radicais”
Esta “mudança radical” implica que as empresas sejam reconhecidas como parte activa na resolução dos problemas, reforçando o seu compromisso com a promoção do desenvolvimento sustentável. E implica, igualmente, que encarem o difícil cenário que têm pela frente de um modo “tremendamente optimista”, diz. Para Peter Bakker, a mudança no paradigma empresarial depende de uma evolução “do modelo tradicional de maximização do capital financeiro para um modelo que valorize também a optimização do capital natural e social”. Significa isto, na prática, que a gestão da produtividade tem de se concentrar “em todos os recursos utilizados pela empresa”, “se quisermos tornar o mundo verdadeiramente sustentável”. Até lá, “não chegaremos mais além nesta matéria”, antevê o presidente do WBCSD. Reconhecendo o esforço necessário a tal empreendimento, perante as crescentes pressões económicas associadas à crise, Bakker afirmou acreditar que as empresas portuguesas estão conscientes da importância estratégica do desenvolvimento sustentável para o seu sucesso, e deixou um conselho: “é preciso reflectir, dialogar com os parceiros e agir. Trata-se de um processo extremamente complexo, mas é o único possível”. Na perspectiva do conselheiro de Estado, estender a idade da reforma em Portugal “é a única forma de ajudarmos a geração dos pais, que é a mais entalada”. “O grande problema” de Portugal, diz, é que a realidade do país é feita de desafios económicos de longo prazo que precisam de soluções a curto prazo. As empresas “precisam de lentes de longo alcance”, remata. Como explica, há que considerar sempre duas variáveis quando se fazem previsões a longo prazo: população e recursos. A primeira, sendo a mais determinante, está hoje condicionada por um ciclo de envelhecimento progressivo, um fenómeno gerador de desequilíbrios”. Já quanto a recursos, “outro factor que causa divergências”, Vitor Bento exemplifica com aquele que considera que “é e será dominante”, a energia. É no sector energético que se sentirão “as maiores pressões”, prevê, e “o grande desafio” a este nível será vivido nos países em desenvolvimento. Entre a probabilidade de os investimentos neste promissor recurso serem “canalizados para essa parte do globo” e os problemas no Médio Oriente que, “como toda a gente sabe, se dão pela existência de tantos recursos energéticos e minerais, levantam-se questões geopolíticas muito sérias”. Uma incerteza que não é a única: afirmando-se céptico quanto a versões catastrofistas sobre o futuro da natureza, o economista sabe, contudo, que “a única certeza que podemos ter no futuro é que vai continuar cheio de incertezas”. Sector empresarial é o mais capacitado para a mudança
E porque a sustentabilidade é “um conceito recente para algo muito antigo”, há que manter “um balanço que está constantemente (a ser colocado) em causa”, como afirma Luís Reis, chief Corporate Centre Officer da Sonae. Já António Pita de Abreu, membro do Conselho de Administração Executivo da EDP, considera que “há sempre impactos na relação com o fornecedor (em particular num sector particularmente poluente, como o energético), mas que esta tem de ser sempre uma relação win-win: o segredo está em “produzir electricidade com o menor impacto possível”, uma estratégia que a EDP segue, “muito centrada na lógica da cadeia do negócio”, conclui Pita de Abreu. Actualmente, a produção da empresa distribui-se em 1/3 de energias fósseis e 2/3 de renováveis (hídrica e eólica), recordou. A PT “tem o desígnio da sustentabilidade”, acredita Alfredo Baptista, administrador executivo da empresa, o qual assenta numa “lógica internacional” e num “código de conduta que abrange “todo o ecossistema que nos envolve”. A tecnologia é um diferenciador na inovação. No sector da banca, “a concessão de créditos a alguns sectores têm hoje mais critérios de sustentabilidade”, defende Joaquim Goes, administrador do BES, e o banco tem desenvolvido mecanismos que estimulam esses critérios, diz. Finalmente, e com um impacto directo no ambiente, a líder europeia Portucel Soporcel é a primeira (empresa) certificada ao nível de gestão florestal por uma entidade independente, de acordo com José Honório, e tem um plano de gestão da biodiversidade. As grandes preocupações do grupo são “aumentar a produção” de celulose, papel, energia eléctrica e vapor “com o mínimo de recursos”. “Queremos árvores para amanhã”, conclui o responsável da Portucel Soporcel. O evento reuniu representantes de 111 empresas associadas à BCSD Portugal, e contou com a presença do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho e do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, no Encontro de Presidentes do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento sustentável (Ver Caixa). O BCSD Portugal, que este ano completa onze anos de existência, integra a rede regional do World Business Council for Sustainable Development, com sede em Genebra, organização criada após a conferência do Rio 92, que está hoje presente em sessenta países nos 5 continentes.
“O desenvolvimento sustentável já está nas prioridades dos líderes empresariais”
Que balanço faz da conferência anual do BCSD Portugal? O tema escolhido para a edição deste ano, “Mudar o rumo: o que podem as empresas fazer pela sociedade”, assinala a importância de as empresas serem parte da solução para resolver os problemas que a nossa sociedade enfrenta, aos mais diversos níveis. Quisemos também aqui demonstrar que as estratégias de Desenvolvimento sustentável são vantajosas para as empresas que as adoptam, porque lhes trazem vantagens competitivas e uma visão de médio prazo. Que impacto tem a reunião de vários líderes empresariais em torno do debate sobre Desenvolvimento sustentável? É uma evolução importante: há alguns anos, o Desenvolvimento sustentável era tema de um departamento ou de uma área da empresa; hoje, já integra os objectivos estratégicos de muitas empresas e está nas prioridades do presidente executivo ou de um membro da administração. Em que medida contribuiu o Encontro de Presidentes para um compromisso político com a sustentabilidade empresarial?
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Jornalista