Na entrada de mais um ano, desejamos sempre “Feliz Ano Novo”. Uma felicitação que vem carregada de expectativas, de esperança, de novidade sendo que, muitas vezes, não muda nada mais senão um dia que se vai e outro que chega. Ou ainda “ano novo, vida nova” e tudo se mantém porque nada se alterou. É diferente desejar um “Feliz Ano Novo” ou prepararmo-nos para um “Feliz outro Ano”, com mais do mesmo, sem uma proposta lúcida e empenhada de mudança
POR JOÃO PEDRO TAVARES

Que reflexão fazemos do tempo que passou? O que nos propomos mesmo mudar? Para trás fica um “ano novo” que em 12 meses sofreu de envelhecimento rápido e se tornou num “ano velho”. No entanto, nele realizaram-se sonhos e projetos, muitos chegaram, uns nasceram e outros partiram. Viveram-se desafios, frustrações, encantos e desencantos, novas descobertas, novas tensões, novas conquistas. Algumas crianças chegaram a jovens, alguns jovens chegaram a adultos, alguns mudaram de vida, novas vocações, novas missões, novos trabalhos, novos desafios. Mas também surgem outros caminhos, numa vida que avança e não retorna. O que faz de um ano ser, de facto, novo?

Neste ano que agora vivemos celebramos o Jubileu da Esperança, neste contínuo caminhar. Chamados a ser partilha de esperança, nas famílias, nas escolas, nos alunos e professores; a ser lugar onde cresce a esperança, nas empresas, nos colegas e nos líderes; nas comunidades e na Igreja, a ser vínculos de esperança, de entreajuda; na política, nos que servem a causa pública como construtores da esperança no serviço, na retidão e nos valores.

Esta Esperança que, tal como a confiança, não é proclamada, mas testemunhada e vivida, que é uma realidade de cume, de caminho, pois obriga a muitos outros valores, sinais, atitudes, que são prévios e que a confirmam. Não é vã nem uma fezada num futuro melhor, mas é sinal de que o caminho tem sentido, tem propósito. Não é solitária nem despegada da realidade pois é, nas palavras de S. Paulo aos romanos, “uma esperança que não engana” pois sabe, conhece e reconhece onde está enraizada.  É, em si mesma, sinal de vida, de fé, de amor, de serviço, de luz para o caminho, de ânimo para as aflições, para as dificuldades.

O Papa Francisco exorta-nos a ser peregrinos de esperança. Enquanto peregrinos na Terra com a missão de a administrar, cuidando, cultivando e guardando, não nos desleixando, nem abusando em proveito próprio, mas usando-a na justa medida e com vista ao bem comum, num caminho que é longo e onde devemos contemplar a beleza da criação, da relação, e cuidar de tudo, servindo.

No final do dia, o que significa tudo isto no mundo do trabalho e nos líderes em particular? É serem promotores da dignidade das empresas, como agentes do bem comum, no cumprimento do seu propósito e não apenas pensando em gerar lucro, indo para lá deste meio que é importante. Tendo a ambição na criação de valor e na distribuição de valor de forma justa, no contributo para uma sociedade mais próspera, mais desenvolvida em termos económicos e sociais (que é a única maneira sustentável de combater a precariedade e a pobreza), defendendo a família como núcleo essencial da sociedade para a dignidade das pessoas, respeitando todos os outros com quem nos relacionamos, trabalhando em rede e colaborando de forma a conseguir, em conjunto, melhores resultados.

A esperança é algo que se projeta nos outros, é amiga da harmonia e convive com a confiança, no presente e no futuro. Exerce-se na proximidade, na generosidade e no serviço e vem acompanhada de resultados que são construtivos. Se o melhor de mim mesmo não terminar nos outros, não é esperança. E essa, não engana.

Artigo originalmente publicado na RR. Republicado com permissão.

Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores

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