Os portugueses construtivos, os que querem prosperidade para Portugal, questionam muitas vezes o que podem fazer para dar resposta aos constantes desafios. Perguntemos, portanto, quem se quer juntar a um Portugal com o espírito empreendedor, que ousa sair em busca de algo melhor, que quer ampliar horizontes ao invés de mirrar nas voltas e revoltas de uma atmosfera corrosiva?
POR PATRÍCIA LIZ
A democracia é um sistema político no qual pessoas de diferentes sensibilidades, visões de vida e até crenças lutam por chegar ao poder. De quatro em quatro anos, ou mais cedo, partidos de diferentes áreas lutam por ter a oportunidade de aplicar aquilo em que acreditam ser o melhor para todos.
Ter a possibilidade de resolver problemas, tentando não criar outros tantos, e assim concorrer para o bem legítimo de toda a comunidade é talvez um dos aspetos mais nobres do serviço público daqueles que se dedicam à governação.
Uma das perguntas mais importantes a fazer a cada um dos partidos que se lançam a eleições é: para que querem afinal governar? Para fazer o quê? Para contribuir com quê?
Considero ser cada vez mais crítico para Portugal uma profunda e estrutural reforma do país, para que este se torne mais sustentável e solidário. Vi, assim, com agrado a criação de um Ministério da Reforma do Estado, com peso político, pois em teoria, deverá traduzir a vontade de ir a fundo numa reestruturação desta máquina que há muito pesa aos portugueses.
Tenhamos em conta, no entanto, que muitos bloqueios terão de ser ultrapassados. A resistência à mudança vai, naturalmente, aparecer nas mais variadas formas e contar com isso é não só uma forma inteligente de abordar o tema, mas imprescindível para encontrar a melhor estratégia de “navegar esta onda”.
Essa estratégia deve significar estabelecer medidas e pensar o país, não para calar reivindicações mediáticas e ruídos sem substância, mas para permitir que o país olhe de frente para os seus problemas estruturais e os resolva, com foco no essencial, com coragem para dizer não quando assim for necessário, mas também dizer sim a dialogar com real capacidade de escuta.
Um país sustentável aproveita os seus recursos de forma atenta e criteriosa. Ora, tudo isto não se faz com ideias e medidas isoladas adivinhando o caminho, faz-se através de um processo bem coordenado em conjugação com os vários fatores e realidades que se devem interligar, ainda que resolvidas dentro de cada especialidade.
Há ainda que escolher as pessoas certas na liderança dos processos, com capacidade de os conduzir, mas também abertura para auscultar quem está no terreno, como sejam os parceiros sociais, as empresas e sobretudo as famílias e as suas necessidades.
Mas se por um lado o Estado tem de ser o precursor de um plano de mudança estrutural, sob o princípio da subsidiariedade, todos nós devemos ser também participantes ativos na execução desse plano.
O bem comum requer esforço comum e se queremos distribuir mais, temos de produzir mais. É em comunidade que prosperamos. Contudo, a iniquidade dos esforços tem vindo a provocar uma taxa de esforço altamente desequilibrada. Somos hoje uma sombra do que podemos de facto conseguir como sociedade.
Mas como mobilizar os portugueses a participar nesta renovação que tanta falta faz a todos nós?
Há muito que admiro o empreendedorismo, diria mesmo o estoicismo de muitos empresários que montaram os seus negócios. Das micro às grandes empresas, há exemplos de sucesso da iniciativa privada, que pratica a justiça e a responsabilidade social.
Empresas que pagam rigorosamente os seus impostos, que fazem a sua gestão financeira de forma equilibrada, que motivam as suas equipas a trabalhar, investindo na sua formação e bem-estar, oferecendo salários justos e prémios de produtividade, para que as suas talentosas pessoas desenvolvam projetos de sucesso com ânimo e sentido de pertença.
Estas empresas prosperam, crescem e fazem prosperar quem nelas trabalha, mesmo quando a carga de impostos, regulamentações e muitos bloqueios burocráticos se fazem sentir. São essas que devem ser inspiração para um Estado mais capacitado, com uma gestão mais eficiente, que consequentemente fomente a geração de riqueza.
Os portugueses que querem realmente trabalhar e contribuir para um Portugal melhor são admiravelmente resistentes, pacientes e com espírito de Missão. Há que encontrá-los, pois são mais do que parecem, embora, no meio de tanto ruído a que hoje assistimos, talvez não os consigamos todos ouvir.
Ruído este provocado por muitos que destroem e reclamam constantemente, que chamam diariamente a miséria para os seus monólogos, mas que nunca apontam soluções.
Mas os portugueses construtivos, os que querem prosperidade para Portugal, questionam muitas vezes o que podem fazer para dar resposta aos constantes desafios. Perguntemos, portanto, quem se quer juntar a um Portugal com o espírito empreendedor, que ousa sair em busca de algo melhor, que quer ampliar horizontes ao invés de mirrar nas voltas e revoltas de uma atmosfera corrosiva.
A nós, empresários e líderes cristãos, cabe-nos uma responsabilidade extra. Devemos ser “semente na terra”, crentes, peregrinos de uma esperança sem fim, aquela que vem de Deus. Pelo que, temos enraizada uma força que nos faz caminhar com espírito positivo e confiança reforçada, ampliando a nossa mente para abrir caminhos alternativos ao invés de estagnar no queixume, porque tudo é dádiva, até mesmo os sacrifícios que tenhamos que fazer em busca de algo melhor, pois nada se consegue sem esforço.
Por tudo isto, deixo o meu apelo, agora em tom mais personalizado, não só ao novo governo, não só aos portugueses que preferem olhar para um copo meio cheio, não só aos empresários e gestores cristãos, mas a todos: que todos caminhemos para o processo de transformação necessário e, ao invés de perguntarmos “o que é que fica para mim?”, perguntemos “de que forma posso contribuir?”.
Contribuir para um país em saída rumo a um destino melhor, uma nação com futuro, que se mostre em toda a sua capacidade, e aí sim, que a riqueza gerada se possa distribuir de forma equilibrada e justa por todos os que para ela contribuem.
Quando falamos de país falamos das pessoas, falamos dos cidadãos que a cada eleição dão a sua confiança aos diversos governos para nos governar.
No momento em que começamos um novo ciclo, um novo governo, deixo uma pergunta em jeito de lembrança: Governar para quem?
Nota: © Artigo originalmente publicado no Observador. Republicado com permissão.
Presidente da ACEGE