2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo podem beneficiar de energias limpas e renováveis através de parcerias entre governos e o sector privado. Em 2010, o investimento mundial em energias “limpas” cresceu 30% face a 2009, atingindo “um nível histórico”, diz a ONU. Mas, apesar de só os EUA poderem “mobilizar um esforço mundial para preservar o futuro”, cada vez menos americanos acreditam numa mudança do clima antropomórfica
No ano passado, o investimento mundial em energias “limpas” atingiu “um nível histórico”, na ordem dos 243 mil milhões de dólares (cerca de 177 mil milhões de Euros). Entre 2009 e 2010, o investimento no sector cresceu trinta por cento, anunciaram as Nações Unidas, ao divulgar os valores avançados, a 14 de Setembro, pelo PNUD – Programa da ONU para o Desenvolvimento. Só a União Europeia, os Estados Unidos e o Japão despendem anualmente perto de trinta mil milhões de dólares (21,9 mil milhões de euros) para ajudar os países em desenvolvimento a combater os efeitos das alterações climáticas. No total, existem hoje mais de cinquenta fundos internacionais e 45 mercados de carbono que disponibilizam milhões de dólares para as acções climáticas de âmbito nacional. Estes valores foram avançados ontem pelo (Pnud), no lançamento do guia “Blending Climate Finance through National Climate Funds”. O guia visa melhorar o aproveitamento dos financiamentos climáticos atribuídos por fundos ou por doadores, por parte dos países mais pobres. Em comunicado, Olav Kjorven, do Pnud, explicou que “estamos a dar aos Governos uma receita sobre como aceder a mais financiamento e como melhorar a gestão das actividades para minimizar os efeitos das alterações climáticas”. Já Cassie Flynn, autora do relatório, prevê a criação “de numerosos fundos, nos próximos anos, para ajudar os mais pobres a investir em energias limpas”. Considerando que “este é o melhor meio de obter e distribuir os recursos”, a coordenadora do guia sobre financiamentos climáticos sublinha a importância de os investimentos mundiais nas energias “limpas” terem atingido níveis “históricos”. Economia verde na Rio+20
O debate foi convocado pelo então presidente da Assembleia Geral da ONU, Joseph Deiss, para melhorar o entendimento sobre o papel da comunidade internacional e dos Estados-Membros face à economia verde, numa discussão que antecede a 4ª Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 -, que terá lugar no Rio de Janeiro, em Junho de 2012. Deiss sugeriu, no seu discurso, que “quando o desenvolvimento sustentável é o destino, a economia verde é o caminho”. Um caminho que parece passar pela adopção de medidas como o financiamento da área da investigação, o desenvolvimento e a utilização de tecnologias de energia limpa e medidas para melhorar a capacidade do sector privado no que toca à oferta de capital através de formas alternativas de financiamento para projectos eléctricos, passíveis de serem implementadas e mantidas a prazo, como propõe o relatório. De resto, o acesso à energia não está exclusivamente relacionado com o crescimento económico, mas é decisivo para o desenvolvimento humano, como defendeu no evento o diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável do Departamento da ONU para os Assuntos Económicos e Sociais: “se não há energia não é possível levar água potável à população. Se não há água potável não é possível salvar crianças da morte. A mortalidade infantil está, em parte, relacionada a falta de serviços energéticos”, completou”. Uma campanha inconveniente? A iniciativa apelidada de “24 Horas de realidade” assenta numa apresentação multimédia que mostra como os acontecimentos climáticos extremos, caso de inundações, tempestades, incêndios e terramotos, estão fortemente relacionados com as alterações do clima. Testemunhos de todo o mundo comprovam o impacto destas mudanças no dia-a-dia de milhões de pessoas, particularmente nos países pobres. A campanha, que arrancou no México e terminou em Nova York com uma apresentação do Prémio Nobel da Paz em 2007, incluiu apresentações difundidas a partir de diversas metrópoles mundiais, como Dubai, Istambul, Jacarta, Londres, Nova Deli, Nova York, Pequim, Seul e Rio de Janeiro, que se mantém disponíveis no site da organização, sob o mote “milhões de pessoas já viram”. O projecto divulga ainda informação específica sobre as consequências económicas e ambientais em vários países.
Recentemente, Al Gore criticou as políticas para o clima adoptadas por Barack Obama. Num ensaio publicado na revista Rolling Stone, o activista insistiu que o que está em causa é a própria sobrevivência da civilização, acusando o presidente norte-americano de fracassar na sua política contra o aquecimento global, “que está em curso”, disse, dirigindo-se aos mais cépticos. Afirmando que “o presidente Obama jamais expôs os americanos à magnitude da crise climática”, Gore reconheceu a dimensão dos desafios que o Partido Democrata enfrenta, mas não deixou de criticar as grandes empresas, os financiadores dos partidos, os meios de comunicação e o próprio Congresso, pela não adopção de medidas ambiciosas contra as alterações climáticas: “Os Estados Unidos são o único país que podem mobilizar um esforço mundial para preservar o nosso futuro. E o presidente é a única pessoa que pode mobilizar os Estados Unidos”, concluiu. Mas, apesar de todos os esforços do autor do documentário “Uma Verdade Inconveniente” – por exemplo, só no projecto Alliance for Climate Protection, Gore já investiu mais de cem milhões de dólares -, cada vez menos americanos acreditam numa mudança do clima antropomórfica. De acordo com um estudo recente, a percentagem de americanos que acredita que as emissões de dióxido de carbono estão a provocar o aquecimento do planeta decresceu trinta por cento, desde 2007.
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Jornalista