POR MÁRIA POMBO
Há uma Terra onde os sonhos são possíveis. Há um lugar onde a imaginação não tem limites e os braços nunca serão curtos demais para abraçar a vida. Há um espaço onde é possível sorrir, mesmo quando a existência está em risco e tudo se imagina efémero. E onde é possível acreditar no futuro, apesar de este poder ser tão breve como um suspiro. Há uma Terra onde crianças e jovens com doenças crónicas ou em estado avançado podem pedir um desejo e esquecer, mesmo que por breves instantes, as dores que carregam e as patologias de que padecem. É a Terra dos Sonhos e nasceu a pensar nas crianças que “só” precisam de um pouco de magia nas suas vidas.
Surgiu em 2007 e desde então não parou de “oferecer sorrisos” a crianças e jovens com doenças graves ou crónicas, transmitindo-lhes uma mensagem de esperança e ajudando-os a encarar a vida com optimismo. Concretizar desejos como conhecer artistas e ídolos do futebol, visitar o mundo da Disney ou ter um tablet ou um smartphone é a sua principal actividade, a qual revela ser muito mais que apenas oferecer objectos e saciar caprichos. É, antes, proporcionar um momento de conforto que ajuda a esquecer os problemas, mostrando que o importante, afinal, é acreditar na vida e não parar de sonhar.
Sob o lema “um sorriso vale tudo”, a missão desta IPSS é transmitir a estas crianças e jovens a ideia de que qualquer pessoa pode alcançar os seus objectivos, se acreditar neles e nas suas próprias capacidades. Desta forma, e através de ferramentas emocionais que por vezes faltam (caso da auto-estima, optimismo ou resiliência), os doentes sujeitos a perturbações psicológicas como depressão e ansiedade, por padecerem de cancro infantil, doenças neurológicas, mentais ou psicossomáticas (asma ou obesidade, por exemplo), entre outras, e respectivas famílias, podem encarar os momentos difíceis de uma forma mais positiva. Isto porque ganham competências que os ajudam a procurar um ambiente confortável e sereno que origina, consequentemente, uma melhoria significativa da qualidade de vida.
[pull_quote_left]A missão da Terra dos Sonhos é mostrar a crianças e jovens com doenças crónicas ou graves que podem alcançar os seus objectivos[/pull_quote_left]
Não se trata, portanto, de um apoio material ou superficial, mas sim de um acompanhamento que pode ser “invisível” para uns, mas que faz a diferença na forma de encarar a vida e os seus contratempos, para aqueles que dele beneficiam. Ver os sonhos realizados permite ter uma nova e mais animadora perspectiva sobre o mundo, agilizando o processo de superação de barreiras e resolução de problemas. Esta motivação impede (ou reduz) o medo da mudança, dando a estes jovens, pelo contrário, um maior sentido de auto-confiança e de auto-estima, e originando uma aceitação mais fácil da sua condição ou doença. Numa outra “fase” da vida, o objectivo é que sejam estes doentes os próprios a terem vontade de ajudar, de forma voluntária, outros doentes, para que também esses possam encarar o mundo com optimismo.
Como os sonhos não têm limites, a equipa de “sonhadores” desta Terra continua o seu caminho para que a felicidade bata à porta de um número crescente de crianças, e agora também idosos, com doenças graves ou dificuldades económicas. Alargou-se o público-alvo, quer em idade quer no que respeita à condição económica, o que faz deste um projecto mais inclusivo mas sem desvirtuar o fim a que se propôs, aquando da sua formação.
O riso: um recurso terapêutico poderoso
Se um sorriso vale mesmo tudo, a equipa desta associação acredita que os sorrisos que já foram rasgados e aqueles que ainda não foram descobertos valem o esforço de procurar continuamente novas formas de os fazer nascer. A criação de uma Unidade de Cuidados Intensivos de Felicidade (UCIF) é uma proposta inovadora da Terra dos Sonhos para crianças com doenças graves e em risco, e suas famílias. A denominação é curiosa e animadora, e o seu conteúdo afasta-se de qualquer tendência isotérica ou espirituosa, como poderão pensar os mais cépticos.
A par da realização de sonhos, os promotores deste projecto querem contribuir para a manutenção da alegria por um período mais alargado, considerando que “o riso pode ser um recurso terapêutico poderoso”. Assim, sem que seja necessária a existência de um sonho específico a realizar, este modelo pode chegar a mais pessoas, tendo em conta que a saúde emocional é fundamental para esta “não desistência”, e que ser (ou estar) feliz pode apenas significar que se “vive melhor com aquilo que se tem”.
Trata-se, portanto, de trabalhar a aceitação da realidade de uma forma intensiva e continuada, com profissionais da psicologia que olham para as emoções como um complemento do acompanhamento clínico e como parte fundamental do tratamento, focando a sua acção na construção do futuro e afastando os medos inerentes à condição do doente. Adicionalmente, esta equipa de “sonhadores” dá aos pacientes e familiares a convicção de que as patologias são “acontecimentos externos”, que surgem sem culpas, podendo ser ultrapassados ou contornados. Desta forma, os utentes ficam dotados de capacidades que lhes permitem ter uma vida mais digna e feliz.
A implementação das UCIF tem sido feita em pequenos passos, tendo em conta que se trata de um conceito inovador a nível mundial. O modelo tem sido testado em ambiente hospitalar, mas o intuito da equipa da Terra dos Sonhos é difundi-lo pelo sistema de saúde, para que se torne normal ir a uma Unidade de Cuidados Intensivos de Felicidade com o objectivo de aprender a viver com mais qualidade. E só “quando todos os cidadãos forem agentes de felicidade” é que estes passos deixarão de ser dados, como comentou Frederico Fezas Vital à imprensa.
Os impossíveis ficam “lá fora”
Por último, e como não há mesmo limites quando é a criação de sorrisos que define a meta, os responsáveis por essa tarefa estão empenhados na criação da Casa dos Sonhos, em Lisboa. Este é o mais recente projecto da associação e funcionará como o local onde os desejos se desenham e a magia acontece. As várias salas desta casa terão funções distintas, mas o fim será o mesmo: criar possibilidades onde antes apenas existiam impossibilidades.
[pull_quote_left]Exaltar as emoções é a palavra de ordem, para que as ameaças sejam transformadas em oportunidades e as fraquezas convertidas em forças[/pull_quote_left]
Para além de ser a sede da associação e o espaço onde a equipa vai trabalhar, haverá uma UCIF, na qual serão trabalhadas a auto-estima e a resiliência, de forma individual. Haverá igualmente espaço para sessões de terapia em grupo, que reúnem os núcleos familiares com o objectivo de, em conjunto, encontrarem formas de entender e aceitar as doenças e aprenderem a lidar com as frustrações do dia-a-dia. Esta casa irá, ainda, acolher empreendedores sociais com projectos que possam ser complementares à missão da Terra dos Sonhos, para que sejam criadas sinergias. A investigação não foi esquecida, e também para os seus agentes haverá espaço, considerando a importância de não parar de procurar novas formas de evoluir, de crescer e de testar constantemente o modelo que está a ser utilizado.
Todos os espaços desta casa serão dinâmicos e estarão preparados para serem facilmente convertidos e alterados. Serão salas “transformadoras”, abertas e com bastante claridade, e a equipa acredita que só desta forma se garante que as impossibilidades ficam “lá fora”. Exaltar as emoções é a palavra de ordem, para que as ameaças sejam transformadas em oportunidades e as fraquezas sejam convertidas em forças.
Frederico Fezas Vital considera esta Casa uma “verdadeira fábrica”, onde se projectam e realizam os sonhos de todas as crianças, mesmo os daquelas que cada adulto tem dentro de si. E a missão da sua associação terminará quando todos os cidadãos forem “agentes de felicidade” ou, em último caso, quando deixarem de existir desejos para concretizar e sorrisos para despertar.
Jornalista
Realidades, concretizações que nós fazem sonhar e pensar que é possível fazer mais e melhor por este nosso mundo. Parabéns pela excelente reportagem e por nós revelar estas realidades que dão vida a vida de todos os que tocam.
que maravilhoso! Parabéns 🙂
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