O MAIS é um programa para executivos do sector social que alia formação, consultoria e sessões de Task Force, em áreas como Gestão e Planeamento Estratégico ou Sustentabilidade Financeira. Nesta rede incita-se à criação de valor partilhado e “promove-se a concretização da mudança” nas organizações sociais. O consórcio que gere o MAIS realiza a 2 de Junho o seminário da 2ª edição do projecto, que irá debater soluções para os desafios da gestão sustentável
POR GABRIELA COSTA

No próximo dia 2 de Junho a Universidade Católica do Porto acolhe o seminário “Somos o que partilhamos”, que irá reunir organizações do sector social numa tarde de conversas abertas dedicadas a temas chave para a sua sustentabilidade, como “Modelos de governo adequados ao crescimento da organização”, “A promoção da organização como meio de angariação de fundos”, “A decisão de fecho de uma resposta social”, “O poder do recrutamento no sucesso da organização” e “O valor da partilha”.

O encontro, que visa debater e partilhar soluções para os desafios actuais que se colocam às organizações sociais, é dinamizado pelo MAIS – Melhor Acção e Inovação Social, projecto que conta com um Comité de Gestão constituído pela Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Montepio (ambas a integrar esta iniciativa desde o seu arranque, em 2012/13), TESE – Associação para o Desenvolvimento, UDIPSS-PORTO, UDIPSS-SANTARÉM, Universidade Católica do Porto, Accenture e Impulso Positivo. O objectivo desta rede é contribuir para a capacitação em Gestão das organizações sem fins lucrativos, através de três valências distintas: Formação, Consultoria e sessões de Task Force.

No seminário da próxima semana, o consórcio responsável pela presente edição do MAIS (que, para além das entidades referidas, inclui o Programa Cidadania Activa – EEA Grants) garante que as organizações que usufruíram de uma consultoria gratuita após participação num dos quatro módulos formativos do projecto – Gestão e Planeamento Estratégico, Sustentabilidade Financeira, Marketing e Angariação de Fundos, e Gestão das Pessoas -, “terão presença garantida, trazendo para o debate as questões que foram surgindo ao longo desse processo”.

Em destaque estarão também as soluções apresentadas nas Task Forces do MAIS – sessões dinâmicas com exercícios práticos “que contribuíram para superar os principais desafios de cada uma das organizações nos processos de implementação dos conteúdos da formação”, de acordo com os promotores do evento. Os participantes que foram melhor sucedidos nestas Task Forces vão apresentar ideias e soluções “adequadas ao sector e que funcionam”.

Numa antevisão do seminário “Somos o que valorizamos”, Joana Mendonça, responsável na TESE do projecto MAIS, sublinha que o programa “valoriza métodos participativos e representativos das organizações”. Razão pela qual as quatro conversas abertas propostas no encontro “são a forma ideal de partilhar casos exemplares de gestão das organizações da economia social e de promoção da troca de ideias e experiências. Trata-se de casos específicos reais pelos quais passaram as próprias organizações”, conclui.

Os temas seleccionados para debate “correspondem a desafios enfrentados pelas organizações que usufruíram da consultoria, e identificados como relevantes para outras organizações da economia social” que estarão presentes, reflectindo assim “as preocupações e necessidades de gestão das organizações, e que estas consideram determinantes para a sua sustentabilidade”, adianta Joana Mendonça.

Este é “um evento de organizações para as organizações”, sintetiza a responsável da TESE: as organizações da rede MAIS são “as protagonistas do evento”, lado a lado com “as organizações do sector social e as suas equipas, que enfrentam diariamente os desafios da criação de valor”, num evento onde os oradores convidados são os representantes das entidades desta rede “que se destacaram quer pela avaliação na formação, quer pela partilha nas Task Forces”.

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Dinâmicas de partilha e criação de valor sustentável

O MAIS é um programa para executivos do sector social que é mais do que um programa de formação ou de consultoria: “é todo um processo de mudança e transformação das organizações”. Nesta rede, “promove-se a concretização da mudança através da aplicação de uma metodologia inovadora e ambiciosa, que se diferencia por dinâmicas e momentos de provocação e desafios aos participantes”, explica a responsável na TESE pelo projecto.

Destinado a quadros de topo de organizações sem fins lucrativos, como membros dos Órgãos Sociais, directores executivos, directores técnicos e técnicos superiores, o MAIS lança candidaturas institucionais a um programa que se realiza, de momento, em Santarém e no Porto, e cuja formação é certificada pela Católica Porto Business School.

A formação, que pode ser frequentada em versão integral ou por cursos individuais, permite aos formandos e às suas organizações candidatarem-se a um Prémio em Consultoria no final de cada curso, o qual consiste numa intervenção gratuita de consultoria cirúrgica na área temática frequentada, como gestão estratégica ou sustentabilidade financeira.

O Prémio será atribuído à organização que melhor cumprir os critérios definidos pelo Comité de Gestão do MAIS. Na opinião de Joana Mendonça, “a motivação para aceder a uma consultoria à medida, premiando as organizações mais empenhadas, suscita o alcançar dos melhores resultados, baseando-se numa concorrência saudável”.

[pull_quote_left]Com candidaturas abertas, a formação do MAIS é certificada pela Católica Porto Business School[/pull_quote_left]

Com o objectivo de acelerar e potenciar os resultados da formação, de modo a garantir a apropriação e implementação dos conteúdos apreendidos, “assegurando a transferência de know-how”, a consultoria do MAIS integra sempre na equipa de trabalho um ou dois colaboradores da organização, “que são especialmente envolvidos nos momentos de criação de cenários de redesenho estratégico”, sublinha a responsável. E, para garantir “o compromisso da direcção da organização com a mudança”, os seus membros “são ouvidos individualmente no arranque do projecto, participando no desenvolvimento do mesmo, e “conduzidos à tomada de decisão, efectivando a mudança na organização”. Desta forma é garantida a criação conjunta de soluções e a sua apropriação pela organização social, bem como maior celeridade no processo de implementação das mesmas.

Todas as organizações participantes na formação serão paralelamente acompanhadas através das referidas sessões de Task Force, dinamizadas com exercícios e boas práticas pelos formadores MAIS. O objectivo é contribuir para superar os principais desafios nos processos de implementação dos conteúdos da formação. Cada sessão é dedicada a um tema específico e tem objectivos concretos, decorrentes do módulo de formação que cada entidade frequenta.

Nas Task Forces “promove-se a criação de grupos de partilha, criando relações mais próximas entre as organizações e dinamizando a aplicabilidade dos conteúdos da formação”, sintetiza ao VER a responsável da TESE. Nestas sessões cada participante identifica o principal desafio associado à temática em análise que a sua organização enfrenta, e partilha-o com os demais participantes os quais, posteriormente, trabalham em grupos na procura de soluções para ultrapassar os vários desafios, “com base no seu conhecimento e experiência”. As soluções encontradas são então avaliadas pelo ‘detentor’ do desafio.

A abordagem “multimetodológica” que o MAIS apresenta permite, assim, “promover maior trabalho em rede entre ONG participantes e actuar de forma individualizada na resolução de problemas específicos, englobando as três componentes interligadas”, conclui Joana Mendonça.

No final de quatro sessões de Task Force em cada módulo, o participante que tiver apresentado o maior número de soluções benéficas e que funcionem é o vencedor, e ganhará um lugar no palco da sessão pública de encerramento daquela edição do MAIS, podendo apresentar a sua organização e o seu trabalho perante os representantes de todo o consórcio, bem como centenas de outros stakeholders.

O custo de participação no Programa MAIS é, por norma, partilhado pela organização e pelas entidades financiadoras do projecto mas, excepcionalmente, esta edição será totalmente financiada pelas parceiras e pelo Programa Cidadania Activa.

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Reformas estruturais nos m
odelos de negócio e governança

Promover e apoiar a adopção, pelas ONG, de modelos de negócio mais sustentáveis e modelos de governança mais eficientes. Foi este o objectivo proposto, e já alcançado, pelo programa MAIS desde a sua criação, em 2012/13.

Nas duas primeiras edições, realizadas no Norte do país, o MAIS contou com a participação de 128 formandos, “transformados em agentes impulsionadores de mudança junto das suas organizações”, e 11 organizações beneficiaram da sua consultoria, estando já “a implementar mudanças significativas” nos seus modelos de negócio e governança.

Logo na primeira edição, a dinâmica deste projecto inovador contribuiu para a criação de várias dezenas de novos agentes de mudança nas organizações participantes, a partir da elaboração de um diagnóstico dos problemas das várias organizações inscritas, e da criação de redes de contacto e de parceria entre as mesmas, implementando planos personalizados decorrentes das consultorias realizadas e definindo reformas estruturais “ajustadas à mudança de paradigma resultante da crise económica”.

[pull_quote_left]A abordagem “multimetodológica” do programa promove o trabalho em rede entre ONG e conduz à mudança na organização[/pull_quote_left]

No balanço que traça do MAIS, a responsável na TESE pelo projecto destaca que o mesmo tem conseguido “incentivar uma gestão mais eficiente, eficaz e com maior qualidade junto das organizações participantes, assim como uma maior abertura à partilha e aprendizagem entre pares, de forma a que estas ultrapassem os desafios da actual conjuntura socioeconómica e criem valor sustentável para os seus beneficiários”.

Ao longo dos últimos anos, o programa “tem conseguido envolver os diferentes tipos de organizações da economia social, desde associações juvenis e IPSS a Fundações”. Esta heterogeneidade dos participantes “tem-se revelado muito enriquecedora na formação e Task Forces”, adianta Joana Mendonça. Nas suas palavras, o processo de selecção das organizações candidatas “privilegia as organizações com forte motivação e consciência da necessidade de mudança”.

Nesta rede, já participaram organizações sociais como o Banco Alimentar contra a Fome (Porto), a ColorADD, a Cooperativa de Apoio à Integração do Deficiente ou o projecto Transformers, entre várias outras.

As expectativas ao nível da participação, por parte do consórcio que gere o MAIS, é chegar a um número alargado de organizações da economia social, para além daquelas que pertencem já à rede, “nomeadamente às muitas organizações que demonstraram interesse em participar no projecto e que, por limitação do número de vagas, não foi possível acolher”.

Até ao momento, registam-se 455 registos no site do programa, por parte de entidades e profissionais que demonstraram interesse nas ferramentas do MAIS e com quem a equipa coordenadora tem vindo a partilhar alguns conteúdos. Entendendo “que deveria haver um momento privilegiado em que se pudesse estender a todas as organizações as mais-valias do projecto”, o consórcio que lidera a iniciativa realiza a cada edição um seminário que dissemina as boas práticas de gestão estratégica e sustentabilidade promovidas nesta acção. O próximo acontece já, e como anunciado, a 2 de Junho, na Universidade Católica do Porto.

Jornalista