POR HELENA OLIVEIRA
“A propaganda dá ao homem, em abundância, aquilo de que ele precisa: uma raison d’être, o envolvimento pessoal e a participação em eventos importantes, um escape e uma desculpa para os seus impulsos mais duvidosos, em conjunto com uma justificação. E se todas as ilusões são, na verdade, falsas, ele bebe-as a todas e pede sempre mais”
Konrad Kellen, no Prefácio de Propaganda: The Formation of Men’s Attitudes, de Jacques Ellul (1973)
Uma das muitas questões que se afiguram mais incompreensíveis no que respeita ao autoproclamado Estado Islâmico (EI) é a sua capacidade para persuadir e, consequentemente, recrutar indivíduos – em particular os nascidos e/ou criados no Ocidente – para as suas fileiras, a partir de uma narrativa de brutalidade sem precedentes. Mas, e tal como acontece com as muitas histórias de fanatismo e extremismo presentes na nossa História, a manipulação e a denominada “lavagem cerebral”, quando eficazmente cometidas, constituem as melhores formas para levar pessoas supostamente sãs a cometer actos profundamente irracionais.
E a propaganda, quase tão velha também quanto a história da Humanidade, continua a ser o veículo mais “fácil” para atrair, recrutar e reter “simpatizantes” para determinada causa e/ou ideologia. O Estado Islâmico teve noção desta realidade desde o seu início e, aproveitando o acesso fácil e imediato aos diferentes media sociais, não só apostou forte na “digitalização” das suas mensagens, como “revolucionou a narrativa jihadista, menosprezando a segurança operacional em prol do dinamismo, de forma a produzir uma propaganda que conta uma história, excitante ou chocante, dependendo de quem é o seu público-alvo”.
Quem o afirma é Charlie Winter, um reconhecido especialista britânico em Estudos Árabes – em particular no que respeita a movimentos jihadistas – e actualmente investigador principal da organização sem fins lucrativos Quilliam, um think tank de contraterrorismo sedeado no Reino Unido.
Na actualidade, os estrategas digitais fiéis ao EI não só conseguem fazer produções próximas das realizadas por Hollywood, como não precisam de duplos para as protagonizar. E longe vão os tempos em que eram divulgados vídeos, de péssima qualidade e com mais grão do que definição, de Osama bin Laden.
Assim, e entre Junho de 2014 e Junho de 2015, Winter levou a cabo a talvez mais extensa e intensa pesquisa de monitorização, diária, das actividade do EI, nos media sociais, em árabe e em inglês. O que não é coisa pouca, dado que, em média, a organização publica, por dia, cerca de 3 vídeos e pelo menos 15 reportagens fotográficas, que visam chegar a audiências distintas e que fazem parte daquela que é considerada por muitos como a mais bem planeada estratégia de propaganda – extremista – digital de sempre.
Desta monitorização diária resultou o paper “The Virtual ‘Caliphate’: Understanding Islamic State’s Propaganda Strategy”, publicado em Julho de 2015 e que ajuda a compreender de que forma é que o EI consegue, com tanto sucesso, indignar e chocar as audiências que lhe são hostis e, em simultâneo, gratificar os seus apoiantes, permitindo um reabastecimento constante das suas fileiras e disseminando as suas mensagens, “multi-propósitos”, continuamente.
Para o autor do paper, sem se compreender as motivações e os objectivos da organização terrorista mais sangrenta da actualidade, não será possível desenvolver uma contra-narrativa capaz de a atingir, travar e, idealmente, extirpar. Assim, é imperativo que académicos, investigadores, decisores políticos e sociedade civil percebam de que forma é que as mensagens de doutrinação são semeadas e divulgadas e o que contribui para que tantos indivíduos estejam dispostos a morrer em nome de uma fantasia ultraviolenta com base na criação de uma “autoridade islâmica”, autoproclamada como um “califado” e que, desde exactamente Junho de 2014, passou a intitular-se somente como “Estado Islâmico”.
Todavia, o autor chama a atenção para o facto de e obviamente, a propaganda da organização não ser a única responsável pela radicalização de indivíduos. Mas e depois de ter analisado mais de um milhar de campanhas de propaganda individuais, Charlie Winter assegura que a mesma catalisa a passagem de extremistas islâmicos de apoiantes tácitos a membros activos da organização. O material propagandista “personalizado” que utilizam para uma ampla gama de audiências consiste numa das suas mais bem-sucedidas estratégias, na medida em que, para além de procurar atrair novos apoiantes e intimidar os seus “inimigos”, contribui também para polarizar a comunidade internacional, sustentar a relevância global da organização (tanto nas esferas jihadistas como nas que não o são) e apresentar aos seus simpatizantes as “evidências” necessárias para os transformar em membros activos.
O VER resume as principais peças constituintes da poderosa máquina virtual de propaganda do EI, através das seis narrativas eleitas por Michael Winter como as que mais força e poder têm na construção da “marca” do Estado Islâmico.
Os media sociais são as mesquitas radicais da era moderna
De acordo com Winter, a “marca” construída pelo EI assenta em seis narrativas chave: brutalidade, misericórdia, vitimização, guerra, sentimento de pertença e utopia. E, depois de analisar criteriosamente estes seis temas, foi-lhe possível determinar também para que audiências por excelência são orientadas as diferentes campanhas: adversários activos, comunidade internacional, membros activos, potenciais recrutados, disseminadores, proselitistas e alistados.
A juntar às gigantescas dificuldades de se vencer esta guerra a nível militar e político, uma batalha ainda maior poderá ser a de neutralizar as poderosas armas da informação e da propaganda que o EI maneja com mestria e que, até agora, faz pender a balança da vantagem para o grupo extremista. E é também por isso que se torna imprescindível conhecer – e reconhecer – que para causar baixas no jihadismo digital do século XXI, é necessário formas de luta que pertençam a este mesmo século. A recente ameaça proferida pelo colectivo de “piratas hackers e activistas” conhecido como Anonymous , e que se seguiu aos ataques de Paris, pode ser um bom começo mas, e naturalmente, não chega.
Mas e de regresso à investigação de Charlie Winter, um dos erros mais comuns em que se incorre relativamente à propaganda do EI é o de que a mesma começa e acaba com brutalidade. Como escreve o autor, “seja um vídeo que retrata a execução de um grupo de homens por um esquadrão de fuzilamento no meio do deserto, uma decapitação em massa, ou ambos, a violência extrema é apenas uma parte de uma fotografia muito maior”. Como se irá explicar de seguida, a brutalidade é apenas um dos seis grandes temas que a organização utiliza para reforçar a sua presença e promover os seus objectivos estratégicos. E, tal como os mecanismos através dos quais são divulgados, estes temas não são “distintos”, mas sim e na maioria das vezes, empregues em simultâneo.
Brutalidade, triunfalismo e supremacia
[pull_quote_left]É impossível negar o lugar de destaque que a brutalidade extrema protagoniza nas mensagens do EI e, mais chocante ainda, a satisfação que gera nos que apoiam a sua “ideologia”[/pull_quote_left]
É impossível negar o lugar de destaque que a brutalidade extrema protagoniza nas mensagens do EI e, mais chocante ainda, a satisfação que gera nos que apoiam a sua “ideologia”. Na verdade e acima de tudo, sublinha Winter, a mesma suporta o aspecto-chave da sua propaganda: o triunfalismo. Sempre que uma execução é cometida, documentada e publicitada, o EI está a recordar a supremacia autoproclamada do grupo terrorista e a sua “competência” no exercício da vingança em nome dos que professam o islamismo sunita. Apesar desta propaganda brutal servir como veículo através do qual se transmite tanto a ideia de vingança como de supremacia, os seus conteúdos não têm como destinatários apenas os seus apoiantes declarados. Na verdade e neste caso em particular, e como assegura o investigador britânico, estes nem são, sequer, o seu alvo primordial. Ao invés, este material é destinado, por excelência, aos seus opositores, potenciais ou activos. Winter exemplifica: em Novembro de 2014, o grupo terrorista documentou a execução de três membros do exército sírio de Bashar al-Assad e, a 29 de Janeiro, publicou o vídeo da morte do jornalista japonês Kenji Goto. E se ambos os vídeos eram brutais e chocantes, por razões óbvias, só o segundo tinha um “alvo internacional”. Em paralelo, quando o EI retrata a horrível execução de homens os quais alega serem “espiões”, tem como principal objectivo avisar potenciais dissidentes locais da inevitável crueldade de que serão vítimas caso decidam abandonar a “causa”.
No geral e de acordo com Winter, a selvajaria utilizada no fabrico das mensagens do EI tem quatro motivações: para além da simples satisfação que oferece aos seus apoiantes, procura intimidar os inimigos, avisar as populações locais dos castigos associados à espionagem ou dissidência, provocar a revolta e o repúdio nos media internacionais e causar reacções apressadas e, consequentemente, não estrategicamente pensadas, por parte dos decisores políticos que lhes são hostis. E, muitas vezes, assegura o investigador, todas estas quatro motivações são eficazmente conseguidas numa só “exibição”.
Misericórdia, arrependimento e obediência
[pull_quote_left]“Resistam e serão mortos, ou submetam-se de boa vontade, reneguem crenças passadas e serão recompensados com a clemência”[/pull_quote_left]
A narrativa da misericórdia é regularmente apresentada em paralelo com a da brutalidade. E está estreitamente relacionada com a ideia de arrependimento, perante “Deus” e o próprio Estado Islâmico. Conteúdos que mostram “antigos” inimigos do EI a renegarem as suas crenças anteriores e a juntarem-se ao novo “califado” são muito comuns na propaganda da organização terrorista. E, depois do arrependimento, os vídeos publicados mostram, invariavelmente, estes indivíduos a serem recebidos de “braços abertos” pelos jihadistas. A mensagem é clara: o Estado islâmico perdoa a afiliação passada, desde que a mesma seja totalmente rejeitada e a obediência ao “califado” garantida. Se estas condições forem cumpridas, então qualquer individuo poderá passar a ser “um dos nossos”.
Mas esta “misericórdia” não se estende apenas aos que lutam, mas também a civis e a funcionários outrora governamentais. Winter dá o exemplo do primeiro “ano escolar” do califado, em que professores do ensino primário e secundário foram filmados a arrependerem-se em massa, sendo de seguida reinseridos no “sistema educativo”. O vídeo foi feito como se de um documentário se tratasse, com a duração de 30 minutos. No seu conjunto, a narrativa da misericórdia possui uma relação de quase simbiose com a da brutalidade. As duas ideias estão sempre interligadas e são apresentadas às populações sob ataque por parte do EI que têm de fazer uma escolha difícil: resistam e serão mortos, ou submetam-se de “boa vontade”, reneguem crenças passadas e serão recompensados com a clemência.
Vitimização, intimidação e instrumentalização
De acordo com Winter, a narrativa em causa é comum na propaganda de todos os grupos jihadistas: neste caso em particular, a da vitimização dos islâmicos sunitas às mãos de uma suposta guerra global contra o Islão. Tal como a misericórdia, a ideia da vitimização é também usada em paralelo com a da brutalidade.
[pull_quote_left]Bebés sem vida e crianças mutiladas são instrumentalizados e integrados de forma rotineira num catálogo de crimes sempre perpetrados pelo “inimigo”[/pull_quote_left]
Um vídeo publicado na Internet em Junho deste ano oferece um bom exemplo desta ideia. O mesmo abre com a imagem de um combatente a segurar um braço desmembrado de uma criança num local onde terá explodido uma bomba. A imagem a seguir mostra três grupos de alegados “espiões” a serem queimados vivos num carro atingido por um foguete-lança-granadas, afogados numa gaiola de aço e decapitados. A imagem do braço da criança no início do vídeo tem como objectivo retratar a vitimização dos sunitas iraquianos bem como o de justificar o que se segue. A nível local, o vídeo tenta intimidar os sunitas que consideram abandonar ou lutar contra o EI; a nível internacional, tem como intenção ser transmitido pelos meios de comunicação ocidentais e chocar os “públicos” hostis. E, na verdade, mais uma vez os propagandistas atingiram os seus objectivos: alguns meios de comunicação publicaram imagens “em modo pausa” dos “espiões” a serem executados, as quais foram partilhadas dezenas de milhar de vezes em poucas horas.
Adicionalmente, os danos colaterais que os conteúdos possam provocar funcionam como os melhores amigos da sua propaganda: bebés mortos e crianças mutiladas são instrumentalizados e integrados de forma rotineira num catálogo de crimes sempre perpetrados pelo “inimigo”.
Guerra, desinformação e coreografia
A máquina de guerra consiste numa proeminente parte da “marca” criada pelo EI. De forma rotineira, os estrategas da propaganda optam por um “zoom in” das suas “vitórias” militares, com retratos cuidadosamente filmados dos seus campos de treino, das suas paradas de peças de artilharia variada, como tanques e veículos blindados, em conjunto com as operações de martírio através de fotografias e vídeos.
[pull_quote_left]Na verdade e de forma inteligente, os mestres da propaganda jihadista documentam, de forma intensiva, uma luta numa determinada frente ao mesmo tempo que impõem um blackout total para os media numa outra qualquer[/pull_quote_left]
Adicionalmente, exibem uma preocupação particular no que respeita à pilhagem das armas e munições dos seus “inimigos” – o que funciona de forma eficaz para assegurar a intenção dos propagandistas de retratar a sua supremacia e momentum. Toda esta parafernália é combinada com a exibição dos seus uniformes, da disciplina e de verdadeiras coreografias bélicas que visam alimentar a ideia de que o EI é um “estado” real com um exército verdadeiro.
Mas e para além de terem como objectivo instilar o medo nas forças hostis e aumentar a moral das suas tropas, este tipo de conteúdo, como assegura Winter, serve também um propósito táctico. Para além de exibirem, aos seus apoiantes e simpatizantes, uma ideia distorcida dos seus sucessos, esta proliferação de imagens permite à organização “ofuscar” a sua verdadeira realidade ao disseminar desinformação para os seus inimigos. Mas, e como sublinha o autor do paper, apesar de dar a impressão que o faz, o EI não publicita a sua guerra “por inteiro”. Na verdade e de forma inteligente, os mestres da propaganda jihadista documentam, de forma intensiva, uma luta numa determinada frente ao mesmo tempo que impõem um blackout total para os media numa outra qualquer. A ideia é produzir, criteriosamente, a informação disponível através do cultivo de um monopólio de reportagens nos campos de batalha.
Sentimento de pertença, irmandade e a jihad do-it-yourself
[pull_quote_left]Esta camaradagem criteriosamente veiculada serve para mostrar o quão “agradável” é viver no interior do EI, sendo que na maioria dos vídeos publicados em várias línguas, a ideia de laços de amizade profundos, em conjunto com imagens de serenidade, conferem uma ideia de realismo inabalável[/pull_quote_left]
Apesar de relacionada com as demais, a narrativa do “sentimento de pertença” é particularmente distinta na estratégia de propaganda do EI. E é esta ideia que exerce um poderoso fascínio para os novos recrutados, em especial para os que são provenientes de países ocidentais. O EI publica regularmente vídeos onde os combatentes são mostrados a relaxar, a beber chá e a cantarem em conjunto, enfatizando a ideia da existência de uma saudável “irmandade” no interior do “califado”. Esta camaradagem criteriosamente veiculada serve para mostrar o quão “agradável” é viver no interior do EI, sendo que na maioria dos vídeos publicados em várias línguas, a ideia de laços de amizade profundos, em conjunto com imagens de serenidade, conferem uma ideia de um realismo inabalável.
Para Charlie Winter, não é difícil reconhecer os motivos devido aos quais esta narrativa é cuidadosamente explorada: se o Estado Islâmico precisa, continuamente, de reabastecer as suas fileiras, o recrutamento de combatentes estrangeiros é por demais importante. Ao perceberem a radicalização melhor do que ninguém, os propagandistas reconhecem que a oferta de amizade, segurança e de um sentimento de pertença consistem em “chamamentos” poderosos para os seus apoiantes fora de portas, apesar de servirem também para seduzir potenciais recrutas nas proximidades.
O objectivo de uma “democratização” do envolvimento com a “causa” é eficazmente alcançado através de uma “jihad do-it-yourself”. E, em conjunto com os elementos temáticos já descritos, esta ideia poderosa de “pertença” é incorporada no elemento final da “marca” do EI: a utopia.
Utopia, miraculismo e urgência
A última narrativa identificada por Charles Winter diz respeito à exploração da ideia de uma “utopia apocalíptica” e é considerada pelo autor como a mais poderosa entre as demais. O “califado utópico” está presente, em maior ou menor escala, em todas as mensagens veiculadas pelo grupo terrorista, na medida em que o estabelecimento e a implementação do “califado” consiste no único “ponto de venda” da organização, funcionando como um “lembrete” contínuo – em particular para os grupos jihadistas rivais e para potenciais recrutados – deste imperativo. Quanto mais “evidências” veicular, mais resiliente se torna no que respeita às alegações da sua ilegitimidade.
[pull_quote_left]A mensagem é simples: “junta-te agora ou enfrentarás a eternidade no inferno”.[/pull_quote_left]
A inserção de conteúdos de “normalidade quotidiana”, supostamente benignos, serve para a organização manter as aparências. Em conjunto com a rotulagem dos seus “ministérios”, “departamentos” e “gabinetes, o EI esforça-se continuamente para fornecer evidências de que não se limita a falar de um “califado”, mas que o está a construir realmente. Reportagens de crianças a serem ensinadas a recitar o Corão, o estabelecimento de tribunais que cumprem à risca a lei da shari’a, a implementação de castigos hudud (que incluem a amputação, crucificação e apedrejamento) ou a recolha dos tributos religiosos (zakat) consistem nas formas preferenciais para demonstrar a evidência deste “califado”.
Winter explica que a veiculação diária deste tipo de conteúdos serve propósitos e audiências múltiplos. Para os locais, serve para disseminar a ideia de que, apesar de sofrer ataques de vários lados, o Estado Islâmico tem todas as condições de oferecer segurança e estabilidade. A brutalidade e eficácia que estão presentes na punição de crimes servem, evidentemente, como um aviso para os seus potenciais opositores. Para os apoiantes ideológicos e para os membros activos, as mesmas imagens fornecem a legitimação e gratificação necessárias. Para possíveis recrutados, servem como simples “evidência” para os convencer que o Estado Islâmico é legítimo. E, finalmente, para os não-jihadistas – inimigos potenciais, opositores declarados e públicos internacionais – os terríveis e chocantes castigos que são disseminados funcionam como reforço da narrativa acima sublinhada, evidenciando a sua rejeição das normas internacionais e, em simultâneo, exibindo o desafio “descarado” através do qual o Estado islâmico persegue o seu projecto de “califado”.
Ao declararem o restabelecimento deste “califado”, promovem a criação da utopia, assente também na ideia de que o apocalipse está próximo, aumentando o “sentido de urgência” inerente à sua “missão. E a mensagem é simples: “junta-te agora ou enfrentarás a eternidade no inferno”.
Propaganda digna de Óscar de Hollywood
Ao contrariar muitos dos aspectos da resistência tradicional veiculada por outros grupos extremistas, privilegiando a “propaganda para vencedores”, e através destas seis narrativas, o autoproclamado Estado islâmico alavanca, de forma inteligente e extremamente eficaz, a urgência e a sua “legitimidade” político-religiosa como um acto imperativo de acção imediata.
E, como alerta o investigador e especialista em questões árabes, só através de uma avaliação holística das suas actividades de “media” se torna possível compreender o quão importante é a estratégia de propaganda para o “sucesso” desta organização terrorista. Adicionalmente, convém também não esquecer que a manipulação dos media estrangeiros serve, criteriosamente, as suas ambições. Sem estes “vendedores ambulantes” de propaganda, a organização terrorista teria, decerto, um alcance muito mais limitado.
Para o autor do paper, a propaganda estratégica utilizada consiste num “exercício de branding de proporções épicas”. Com consequências terríveis e profundamente chocantes, as quais começam a fazer parte do nosso quotidiano, numa espécie de “novo normal”.
E, a não ser que a coligação internacional revolucione também a sua arquitectura de informação, a probabilidade de vir a ser derrotada nesta batalha de ideias, por mais cruel e incompreensível que seja, é crescentemente elevada.
FONTE: The Virtual ‘Caliphate’: Understanding Islamic State’s Propaganda Strategy”, por Charlie Winter, © Quilliam 2015
NOTA: Ao longo de todo o paper, o autor apresenta exemplos reais – e devidamente referenciados – dos vídeos, reportagens e demais campanhas digitais veiculadas pela organização terrorista. O VER optou por não os identificar, mas cabe ao leitor decidir a sua visualização ou não (no link acima assinalado).
Editora Executiva