POR GABRIELA COSTA
“Para gerir os outros é necessário saber gerir-se” – Peter Drucker
A Porto Business School realiza em Março a 1ª edição do Programa de Formação para Executivos “Resiliência para Resultados”. Esta formação na área da Liderança e Desenvolvimento Pessoal, destinada a todos os gestores – independentemente da sua área funcional e nível hierárquico – que querem desenvolver a sua capacidade de análise e de tomada de decisões, visa ajudar os participantes a criar rotinas que os permitam treinar a atenção, a cognição e as emoções.
O objectivo é “abraçar os desafios e as adversidades com uma paixão transformadora, associada a elevados níveis de engagement”, com vista a alcançar uma melhoria do desempenho e do bem-estar, a nível profissional. Para tanto, o Programa da escola de negócios da Universidade do Porto baseia-se numa abordagem que tem como matriz “a harmonização da ‘psicologia positiva’ com práticas contemplativas, assentando no estudo da Neurociência”.
Segundo divulga a instituição, a geração de valor “surge pela vivência de experiências e pelo desenvolvimento da atenção, da inteligência emocional, do optimismo realista e da resiliência”, competências que “aumentam os níveis de conforto a lidar com a ambiguidade”, com impacto comprovado no bem-estar e na performance dos gestores.
Esta metodologia estrutura-se em seis fases distintas: Psicologia Positiva e Práticas Meditativas, que combina o conhecimento mais recente da psicologia positiva com insights das tradições contemplativas do oriente, sublinhando pontos comuns entre ambos os ramos de conhecimento; Cognição e Optimismo, que trabalha a importância de treinarmos a nossa percepção como uma ferramenta-chave na visão que criamos das nossas experiências, o papel do ‘piloto automático’ e o optimismo enquanto força interior que podemos alavancar; Atenção e Multitasking, fase dedicada simultaneamente à “viagem ‘por detrás da cortina’” sobre quais são, como funcionam e porque é que funcionam as práticas de desenvolvimento atencional que vamos treinar, às práticas de atenção focada (como melhorar a concentração) e práticas de atenção aberta (o potencial criativo) e à ineficiência do multitasking; Emoções e Neurociência, modelo neuronal de auto-regulação emocional que elucida o que acontece no nosso cérebro perante um episódio emocional, e aplica um método prático de gestão de momentos de alta carga emocional; Resiliência e Propósito, que dá formação sobre como treinar os nossos níveis de confiança, de networking, de flexibilidade e de propósito, “dimensões que ampliam a nossa resiliência”; e, por último, Integração e Engagement, fase em que se treinam as práticas de gestão para uma organização mais resiliente, e se potencia, no dia-a-dia, o envolvimento com as práticas trabalhadas ao longo do programa.
A primeira edição do Programa realiza-se nos próximos dias 3, 10 e 17 de Março, num total de 24 horas de formação, sob a coordenação de Diogo Rolo, responsável no BPI pelo desenvolvimento das competências de resiliência e liderança e instrutor certificado dos programas Cultivating Emotional Balance e Search Inside Yourself, e Isabel Paiva de Sousa, consultora em Gestão de Pessoas, professora e investigadora na área da Felicidade no Trabalho e formadora nas áreas comportamentais de negociação e liderança. As inscrições estão abertas, com condições especiais para associados e antigos alunos da Porto Business School, onde terá lugar esta formação.
Atenção fragmentada por imprevisibilidade e multitasking
No actual mercado de trabalho – e já desde há vários anos, pelo menos desde a crise económica mundial – a única certeza é a imprevisibilidade. Constantemente, os líderes de gestão e os seus colaboradores são confrontados com desafios inesperados, objectivos mais e mais exigentes, necessidades crescentes de multitasking e processos de mudança organizacional para os quais muitas vezes não estão preparados.
A esta imprevisibilidade associam-se as distracções próprias da era digital, com os seus múltiplos dispositivos tecnológicos e redes sociais, e todos estes factores – por si só e principalmente quando somados – fragmentam, quase a tempo inteiro, a nossa atenção. O que condiciona, naturalmente, os níveis de bem-estar e os resultados laborais.
[pull_quote_left]O novo programa de Liderança e Desenvolvimento Pessoal da Porto Business School visa criar rotinas que permitam aos gestores treinar a atenção, a cognição e as emoções[/pull_quote_left]
Na perspectiva dos coordenadores do Programa “Resiliência para Resultados”, “por mais turbulento que seja o mundo, a nossa atenção, as nossas emoções e os nossos pensamentos são dos únicos aspectos, na nossa experiência, cuja gestão pode sempre depender apenas de nós”.
E é aqui que entra o conceito de mindfulness, naquilo que concerne a gestão da atenção. Tal como foi analisado a 27 de Janeiro, no seminário “Mindfulness: o potencial do treino da atenção”, realizado na Porto Business School no âmbito do seu novo programa de Formação para Executivos, a gestão da atenção assume um papel preponderante na forma como organizações – e indivíduos – criam as condições para se manterem em equilíbrio, “num mundo marcado por graus de mudança, complexidade e pressão crescentes”.
O evento reflectiu ainda sobre os destinos do mercado laboral no futuro, numa altura em que se tornam cada vez mais evidentes os custos (em termos de bem-estar e produtividade) associados a ambientes de trabalho “caracterizados por distracções e interrupções constantes”, como um fluxo ininterrupto de emails, chamadas, reuniões e prazos, a execução permanente de multi-tarefas e níveis de stress elevados.
Segundo Diogo Rolo, a situação é, no mínimo, preocupante: “46,9% das vezes os profissionais estão off task, isto é, desfocados da acção que estão a desenvolver a cada momento”. Nas suas palavras, “o fluxo de trabalho actual e o multitasking levam-nos a um jogo de extremos, entre tentarmos estar focados em tudo o que nos rodeia, e não prestarmos atenção a nada.
Mas a capacidade de treinar a atenção permite-nos desenvolver um equilíbrio interno essencial”, sublinha o especialista num comunicado de imprensa divulgado no final do seminário, alertando que a falta de concentração das pessoas equivale a uma “redução evidente na produtividade dos executivos, que contudo pode ser recuperada”.
Mindfulness: encontrar o equilíbrio esvaziando a mente
Face à necessidade de garantir bons níveis de produtividade e de eficácia entre os colaboradores, ingredientes essenciais para o sucesso de qualquer organização, o mindfulness surge hoje, inevitavelmente, como uma solução a considerar pelos líderes organizacionais.
Afinal, as práticas associadas a esta espécie de filosofia milenar oriental originária do budismo, mas que se vem integrando cada vez mais nas práticas ocidentais, permitem melhorar a nossa atenção, optimizam tarefas como a gestão e priorização dos estímulos a que devemos responder, potenciam a nossa escuta activa e diminuem os níveis de stress, “pré-requisitos fundamentais para decisões mais eficientes”, defende ainda o especialista responsável pela co-coordenação do novo programa de Liderança e Desenvolvimento Pessoal da escola de negócios da Universidade do Porto.
[pull_quote_left]A atenção, as emoções e os pensamentos são dos únicos aspectos cuja gestão pode sempre depender de nós[/pull_quote_left]Acredite-se ou não nas vantagens do mindfulness enquanto evidências comprovadas do estudo das neurociências – ou, pelo contrário, como meros resultados de um efeito psicológico –, certo é que a meditação, dantes encarada apenas como uma actividade mística sem fundamentos teóricos, ganhou já o reconhecimento da ciência.
E, nesse contexto, o exercício de nos sentarmos, fecharmos os olhos, sentirmos a respiração e centrarmos a nossa atenção no tempo presente, durante dez ou vinte minutos diários, ajuda a diminuir a ansiedade, a melhorar a concentração e a viver mais e melhor, de acordo com inúmeros estudos científicos – e não segundo qualquer duvidoso manual de auto-ajuda.
A meditação (ou contemplação, no sentido estrito da concentração da mente não associada a um processo mental discursivo) é, historicamente, tão antiga como a própria humanidade. Popularizada na Índia e difundida em toda a Ásia, esta prática terá chegado ao Ocidente pelas mãos do guru Maharishi Mahesh Yogi, considerado o fundador da meditação transcendental e responsável por, no final da década de 60, levar os Beatles a percorrer mundo para aprender a meditar. Da lista de adeptos fazem também parte, como é sabido, o fundador da Apple, Steve Jobs, que consagrou a prática budista no meio empresarial com enorme sucesso, defendendo-a enquanto antídoto para qualquer distracção ao foco nos negócios; o ex-vice-presidente americano Al Gore; Oprah Winfrey, que tendo já sido a personalidade mais bem paga da televisão, admitiu que a meditação foi fundamental para o sucesso de sua carreira; o realizador David Lynch e muitos outros artistas e personalidades da música e do cinema.
Contudo só há poucos anos esta ‘filosofia’ mereceu aval científico. Aparentemente, foi necessário entrar na era da conexão digital, e receber as suas doses desgovernadas de informação e estímulos sonoros e visuais, por todas as vias e equipamentos electrónicos, para que os investigadores reconhecessem os benefícios dos exercícios de contemplação e relaxamento mental, não só para a qualidade de vida como para a própria saúde.
É o caso do neurocientista norte-americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin-Madison, que, após um período de reflexão com monges tibetanos, considerou que a meditação altera as estruturas cerebrais, protegendo contra a depressão e os efeitos do stress.
Este reconhecimento dos efeitos benéficos da meditação inclui a técnica de mindfulness, ou atenção plena, que visa trazer o foco para o presente e “desligar” o cérebro, isto é esvaziar a mente da sua tendência natural para se centrar quer no passado, quer no futuro, e nunca na consciência do presente.
Jornalista