“A economia agrária durou oito mil anos. A economia industrial foi dominante ao longo de 150 anos. A economia da informação emergiu há cinco décadas. Qual é a próxima força motriz económica? O propósito”. É assim que Aaron Hurst, um reconhecido empreendedor mundial, define a próxima vaga evolutiva da economia. Os pioneiros da mesma já constam de um ranking “made in USA”, que será extensível também à Europa e à Ásia
Começou por ser uma nova “buzzword” da gestão, aparecendo nas páginas da Harvard Business Review e nas suas congéneres, dando o mote para algumas conferências e a inspiração para a criação de comunidades em seu torno. Hoje assume-se como um movimento, com cada vez mais adeptos e novos princípios organizacionais para a inovação e crescimento. Estamos a falar da cruzada em busca do propósito e do primeiro ranking que alberga, para já, 100 indivíduos ou organizações, que estão comprometidos em alterar a face da economia neste momento particular da história, caracterizada por uma nova cultura, valores, educação, competências tecnológicas, organizações sociais, realidades políticas e o estado do nosso ambiente natural. A selecção para este ranking – The Purpose Economy 100 (PE100) – o qual, em termos gerais, distingue 100 pioneiros que estão a alterar a economia para melhor servir as pessoas e o planeta, teve em conta critérios diversos, como modelos, filosofias e invenções inovadores, em sectores e geografias diversos, todos unidos por um propósito literalmente comum. Os 100 eleitos – representativos de toda a economia norte-americana, desde start-ups, a empresas, passando por instituições académicas e governamentais e organizações sem fins lucrativos – constituem exemplos desta nova economia global na qual o “propósito” suplanta a “informação” como o principal propulsor. O ranking nasceu da inspiração de Aaron Hurst, autor do livro que será lançado no mercado a 2 de Abril, “The Purpose Economy”, o qual, como base numa extensa pesquisa, articula o crescimento pessoal, os relacionamentos e o impacto social como os factores primordiais que afectam a “próxima” economia. E, para Hurst, estes 100 pioneiros são a prova viva desta nova cruzada em marcha: “tal como Steve Jobs e Bill Gates foram cruciais no estabelecimento e reconhecimento da Economia da Informação, os PE100 serão os catalisadores desta nova fase da economia nos Estados Unidos e no resto do mundo”,afirma Hurst, que é também CEO da Imperative, uma plataforma de desenvolvimento de carreiras que liga profissionais ao propósito que sentem no trabalho que executam. “Estes pioneiros comprovaram que novos modelos, baseados no propósito, não são apenas vantajosos e desejáveis, mas necessários”, acrescenta. Para já, o ranking reconheceu apenas 100 “fazedores da mudança” sedeados nos Estados Unidos, mas o convite estende-se já a mais dois continentes, com candidaturas abertas para o PE 100 Ásia e para o PE 100 Europa, desde o passado dia 10 de Fevereiro. O VER resume, de seguida, as raízes, objectivos e os propósitos subjacentes a esta nova economia, cujos sinais extravasaram já fronteiras e cujos pioneiros podem ser encontrados em qualquer que seja o canto do mundo.
Propósito + pessoas + planeta É assim que o website dedicado à economia do propósito introduz a sua razão de existência. Para os que nela acreditam, a economia do propósito está a emergir como a 4ª era económica da nossa história e descreve o novo contexto no qual as pessoas e as organizações estão concentradas em criar valor com novos significados. Representa igualmente uma nova cruzada traduzida numa busca de propósito para as nossas vidas, mas também para as vidas de colaboradores e clientes – através da oferta de serviços que vão ao encontro de necessidades que são mais importantes que as nossas, que encorajam o crescimento pessoal e a construção de comunidades. Adicionalmente, a economia do propósito nasce para responder às transformações radicais que caracterizaram, em particular, a última década e que estão agora a convergir para uma mudança na forma como a nossa sociedade opera. Estas alterações são expressas em todas as dimensões da sociedade em que vivemos, desde aquilo que comemos às lojas onde fazemos compras; está a acontecer na forma como vivemos e como trabalhamos e a conferir poder às pessoas que procuram carreiras que as preencham através da criação de valor com significado, para si mesmas e para os demais. “A Economia do Propósito apresenta oportunidades sem precedentes para a criação de valor económico e para melhorar a vida das pessoas e a saúde do nosso planeta. Não existe ainda nenhum Steve Jobs ou Bill Gates na Economia do Propósito – sendo nosso dever abrir caminho para os pioneiros que se seguem, criando e expandindo novos mercados de formas inimagináveis”, pode ainda ler-se na plataforma que reúne os adeptos deste novo movimento. Criado pela já mencionada Imperative, e em a parceria com a CSRWire, para celebrar os pioneiros que estão na linha da frente da evolução de uma economia baseada na informação para uma outra com base nas pessoas e na sua cruzada em busca do propósito, esta lista foi compilada depois da recepção de centenas de “nomeações” provenientes de todos os cantos dos Estados Unidos. Tal como se pode ler na plataforma criada para este “propósito”, e dado que este movimento está ainda numa fase de incubação, a Imperative considerou que a melhor forma de capturar o “significado” latente destes pioneiros seria através das suas próprias histórias, narrando-as e inspirando novos líderes para a adesão a esta nova economia emergente. A Imperative assegura ainda que, até ao final do ano, serão lançadas edições internacionais do PE100. Para ter uma ideia do trabalho realizado por estes pioneiros, dos sectores que representam e dos negócios ou ideias com paixão que criaram, consulte esta infografia. Os nomeados deste ano foram avaliados com base no grau de envolvimento que demonstraram no que respeita ao desenvolvimento de um trabalho com propósito, a nível individual, organizacional ou societal. A nível individual, privilegiou-se o trabalho que criou um impacto mensurável e “visceral” nas vidas das pessoas; a nível organizacional, os eleitos foram as organizações ou empresas que, através do trabalho, alteraram as regras do jogo no que respeita à forma como operam nos mercados; por último e a nível societal, a preferência foi para o tipo de trabalho que deu origem a uma nova ordem com impacto social devidamente avaliado. Os vencedores deste primeiro PE 100 foram igualmente considerados com base no seu domínio de enfoque e nos sectores em que conseguiram imprimir mudanças positivas: na área académica, do desenvolvimento, educação, energia, finanças, alimentação, governo, cuidados de saúde, media, imobiliário, retalho, serviços sociais, tecnologia e transportes. Uma história com propósito Uma versão abreviada da história antes da história de Hurst merece figurar nas páginas que se seguem. Afinal, existirão decerto muitas pessoas e organizações no nosso país que poderão constar neste novo ranking do propósito, já com candidaturas abertas, e conhecer os caminhos que levaram à sua criação poderá encorajá-las a fazer parte desta lista. Mergulhemos então nos anos que antecederam o lançamento desta “4ª era da economia”. Trinta e cinco anos depois de o seu tio, Marc Porat, ter cunhado o termo “Economia da Informação” e de ter previsto a ascensão de Silicon Valley, Aaron Hurst , um empreendedor mundialmente (re)conhecido, considerou que chegara a sua vez de cunhar um novo termo que espelhasse a “próxima” onda evolutiva do mundo económico. Enquanto CEO da Imperative, uma plataforma tecnológica que permite que as pessoas descubram, se relacionem e ajam de acordo com aquilo que consideram ser o propósito do trabalho que desenvolvem, Hurst foi compilando histórias, ideias, modelos e novas formas de encarar o trabalho e o mundo, ao mesmo tempo que, enquanto orador convidado para inúmeros eventos e cronista para um sem número de meios de comunicação social de prestígio, ia desenvolvendo o seu conceito de economia com propósito. Aaron é igualmente o fundador e conselheiro da Taproot Foundation, uma fundação dedicada a profissionais que, de forma estratégica, queiram investir o seu tempo em projectos de voluntariado, em regime de pro bono, ligando-os a organizações sem fins lucrativos com necessidades de competências específicas de expertise. Ao longo deste processo, Hurst ajudou inúmeras pessoas a encontrarem um sentido de propósito renovado ao colocar as melhores competências profissionais ao serviço de causas sociais cruciais. Este extenso mercado de serviços gratuitos está avaliado em mais de 126 milhões de dólares (valores retirados do site a 19 de Fevereiro último e que estão constantemente a “subir”).
Tal como a quase esmagadora maioria das pessoas, Hurst procurava, na sua vida ocupada de empreendedor (trabalhou em Silicon Valley nos anos precursores da revolução dos media sociais), um sentido, uma causa pela qual devia lutar, para se sentir melhor enquanto pessoa. Depois de ter enveredado pelo coaching e pelo mentoring ao longo de vários anos, percebeu que este “propósito” era expresso como um substantivo, fosse ele imigração, direitos civis, educação, entre outros. Todavia, este “propósito” nunca tinha sido descrito de forma precisa pelas pessoas com quem se ia cruzando e que dedicavam a sua vida profissional a trabalhos que não defendiam nenhuma “causa” mas aos quais associavam este sentimento de propósito ou por outras que encontravam esse mesmo propósito trabalhando em prol de causas diversas. Assim, começou a ficar claro na mente de Hurst que o problema de definir um propósito pessoal não tinha a ver com o facto de este ser um nome ou um substantivo, mas antes com a ideia de que o mesmo devia ser antes um verbo, no sentido de implicar uma acção. Não era apenas o que se fazia, mas como se fazia qualquer coisa e como esta “coisa” se relacionava com o mundo. “Quando reunimos um grupo de líderes da educação, por exemplo, acreditamos que estes partilham um propósito quando, na verdade, partilham apenas uma causa. E até compreenderem a diversidade de propósitos existentes na sala onde estão reunidos, essa dita causa tem pouco por onde crescer e para se transformar na criação de uma mudança com significado”, diz. Esta “iluminação” levou Hurst a um conjunto de novas questões: o que é o propósito? O que gera este sentimento nas pessoas e o que podem elas fazer para aproveitar o seu potencial de desenvolvimento? E, talvez a pergunta mais importante, de que forma é possível envolver as pessoas de forma a utilizarem o seu propósito para criar uma mudança com significado? No seguimento da sua experiência na Taproot – a qual já tinha ajudado milhares de pessoas a encontrar e a cultivar esse propósito – Hurst chegou a três premissas que se complementam entre si para definiremo conceito em causa: as pessoas ganham propósito quando crescem pessoalmente, quando estabelecem relacionamentos com verdadeiro significado e quando estão ao serviço de algo que as suplanta, que tem um valor superior ao que elas próprias desejam para si. Para Hurst, a parte mais difícil desta sua nova filosofia era perceber o que motivava as pessoas a enriquecer o seu trabalho com este propósito. Depois de muitas observações e pesquisas, Hurst concluiu que, para algumas pessoas, viver com propósito não era uma opção, mas sim uma necessidade. E confessa que foi a geração millenial a responsável por fazer soar o “clique” na sua mente: este conjunto de pessoas que procurava – e encontrava – o propósito em todo o lado e em todas as coisas. Podia ser em negócios como o Etsy, um mercado aberto a pessoas de todo o mundo que se relacionam entre si e que compram e vendem produtos únicos, reimaginando o comércio mediante formas que utilizam o poder do negócio para resolver problemas sociais e ambientais [o Etsy está certificado como uma BCorporation, um novo movimento de “capitalismo consciente”] ou em novos modelos – como os serviços pro bono – ou em novos mercados como o do “car sharing”, serviço já disponibilizado em Portugal. Tal como a maioria das pessoas – e inspirado pela tese de doutoramento do tio em 1977 – Hurst encarava a tecnologia como sinónimo de inovação, emprego, crescimento e futuro. E enquanto a Economia da Informação continuava a ser o engenho dominante em todo o mundo económico, ficou claro para o empreendedor que uma nova economia estava a emergir, centrada nas necessidades dos indivíduos em encontrarem propósito no seu trabalho e na sua vida. Hurst sublinha que esta não foi, de todo, uma visão romanceada do futuro, mas um curso natural na evolução das necessidades das pessoas e dos bens, serviços e tipos de trabalho que estas desejavam. Assim e quando começou a partilhar as suas ideias com amigos, parceiros e colegas, Hurst percebeu que não estava sozinho na sua descoberta. A economia do propósito não era apenas uma tendência ou um nicho: enquanto consumidores, empregadores, líderes de comunidades, decisores políticos e empregados, eram já muitos aqueles que estavam a contribuir com a sua quota-parte para reestruturar a sociedade e a economia para ir ao encontro das exigências crescentes das pessoas e do planeta. Sublinhando que o seu livro sobre a Economia do Propósito não pode ser lido como um tratado, mas como um trabalho em progresso, Hurst garante que, quem o ler e adoptar os argumentos e princípios nele espelhados, terá nas suas mãos a possibilidade de contribuir para a “primeira economia construída para os humanos”. Nota: Se quiser saber mais sobre o que diferencia a economia do propósito das demais economias, espreite o glossário realizado sobre a mesma.
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Todos os direitos reservados. Publicado em 20 de Fevereiro de 2014 |
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